“O menos que se pode dizer da
operação que levou António Costa a secretário-geral do PS e a
candidato a primeiro-ministro é que não foi “elegante”.
Nessa altura, muita gente desculpou ou
justificou a grosseria e a brutalidade da coisa, porque esperava de
António Costa uma nova oposição ao governo lúcida e compreensível
e, sobretudo, com princípio, meio e fim. A discrição e as
meias-frases na Quadratura do Círculo davam a impressão de esconder
um pensamento sólido e um plano político original, que nos tirasse
do lugar-comum e da pura irrelevância do debate instituído.
Infelizmente, não aconteceu nada disso. Nem nos rituais do Congresso
Socialista, nem a seguir em meia dúzia de entrevistas de uma
“prudência” claramente exagerada e de uma ambiguidade extrema,
António Costa saiu da mastigação das velhas lamúrias da esquerda
e da extrema-esquerda.
Esperança não trouxe nenhuma; e
extinguiu depressa o entusiasmo das “primárias” do PS, em que
não se sabe ao certo quem votou. Apareceu então um putativo
salvador que se calava ou, quando se mexia, era como se andasse a
pisar ovos. O que, de resto, não o salvou de erros sem desculpa.
Prometeu baixar o IVA da restauração para 13% (como se os 23% não
tivessem também o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços
prestados); prometeu a “reposição total” dos salários (do
Estado, claro) e das pensões, sem explicar onde iria buscar o
dinheiro para essa extravagância; prometeu que os municípios
passariam a reter uma indeterminada percentagem do IVA, gerado
localmente; e prometeu um “programa nacional” de “requalificação
urbana”, aparentemente financiado pela “Europa”. Ora isto por
um lado é muito, e por outro lado muito pouco. Meia dúzia de
medidas não faz um plano estratégico; e um plano estratégico
precisa de uma inspiração unificadora, capaz de ser adoptada e
compreendida pelo cidadão comum.
Mas, para nossa desgraça, António
Costa, talvez por falta de inspiração própria, não mostrou até
agora capacidade para inspirar ninguém. No governo foi um razoável
ministro; na câmara um administrador sofrível; e no partido um
ambicioso hábil. O que não chega para um país sem futuro certo ou
destino visível. Tropeçando de papel em papel e de comissão em
comissão, António Costa vai fatalmente desaparecer, já
desapareceu, no cansaço e no desespero dos portugueses.”