“Recentemente em Pequim, durante uma visita a um laboratório
cruzei-me com uma fotocopiadora ao lado da qual se empilhavam várias caixas de
papel Navigator.
No país onde supostamente se inventou o papel, não resisti e
confirmei aquilo que já sabia no cantinho de uma das faces: “Made in Portugal by
Soporcel Portucel”.
No outro lado do mundo, naquela metrópole de mais de 20
milhões de habitantes fui transportado para a distante e pequenina Figueira da
Foz.
Quando se fala entre a elite figueirense em “colocar a
Figueira no mapa” é este tipo de colocação no mapa que me interessa.
Interessa-me menos aquela festa cara organizada na década
anterior que endividou fortemente a Figueira, durante a qual comensais embriagados
nos juravam que tinham colocado a Figueira no mapa.”
Tal como ao Rui Curado da Silva “interessa-me menos aquela festa
cara organizada na década anterior que endividou fortemente a Figueira, durante
a qual comensais embriagados nos juravam que tinham colocado a Figueira no
mapa.”
Sempre me interessou. Tenho textos no Linha do Oeste e neste blogue que atestam isso.
Porém, eu não acho
que a Figueira tenha mudado assim tanto - muito menos para melhor.
Mais: à sua maneira, as alegadas mudanças dão-nos um excelente retrato do que está mal
na Figueira em 2014.
O quer era bom, continua cá. O quer era mau, agravou-se.
Não ganhámos liderança, não mudou o espírito, não mudou a
filosofia - mudou a casca, pela força das circunstâncias - na Figueira e
no País.
As “mudanças”, na
Figueira, não são diferentes das “reformas”
do Passos no País – mais um retrato da
indigência nacional.
Vejamos o IMI e o preço da água pago pelos figueirenses...
Para quê?..
Dou só um exemplo: o estado das estradas do concelho em
locais fundamentais para a promoção do turismo figueirense.
Duvidam?.. Circulem, por exemplo, pela Serra da Boa Viagem ou pelas Lagoas de Quaios...
E depois é o que sabemos com os dinheiros gastos nos carnavais
e noutros festivais...
Como não há a mínima ideia do que é administrar uma
autarquia, faz-se mais do mesmo. Gasta-se menos, porque não há dinheiro...
A mim, como figueirense, interessava-me que tivesse mudado a filosofia e o espírito. No fundo, é uma questão de visão, de disciplina
- enfim, de um somatório de coisas, que não se “vendo”, se sentissem no dia a
dia.
Pergunto: “vendo-se”
muita coisa, sente-se o quê?
Modernidade? Originalidade ? Aumento de
qualidade/profundidade?
Qual é o valor acrescentado?
O que é que a Câmara e os figueirenses lucraram com as reuniões
à porta fechada?.. Ou com a intromissão da Câmara, via Figueira Parques, na
gestão do parque de estacionamento do Hospital Distrital da Figueira da Foz?
Ser teimoso, às vezes, não é mesmo uma virtude, mas agora já não estou só a falar da Figueira...
Dito isto, a Figueira mudou?
Se assim foi, viva a Figueira.
Afinal ter razão antes do tempo, é tão mau
como estar errado...
Eu, é que sou do contra, porque sim.
Termino como comecei...Volto a Rui Curado da Silva...
“Nos tempos que correm as exportações da Soporcel são
importantíssimas tanto para o município como para o país. Este caudal
exportador significa empregos e significa riqueza criada por produtos
transacionáveis, com existência real, não são swaps nem festas cor de rosa.
Quando uma empresa atinge este patamar de grandeza deve
manter essa grandeza na relação com os trabalhadores. Não existe nenhuma razão
para que o litígio entre os trabalhadores e a actual direcção da Soporcel em
torno da questão das pensões não seja ultrapassado com dignidade, sem pressões ou represálias sobre os operários
mais reivindicativos. Ao sucesso exportador exige-se o sucesso na concertação
com os trabalhadores.”