Durante anos, tal
como no País, aqui pela Figueira, vivemos uma ilusão: governos de várias cores políticas e
executivos camarários locais laranja,
fizeram-nos crer que vivíamos num país rico e numa cidade «na moda».
A Figueira, tal como
o país, vivia para o consumo, para o despesismo para a ostentação.
A construção de
imóveis disparou. Agimos como ricos. Convencidos, de facto, que éramos ricos, havia
piscinas, oásis, CAE, para construir, só por construir, Olaias, Palácio de
Maiorca e Mosteiro de Seiça, para comprar, só por comprar, complexo desportivo de Buarcos e campo de golf
para implementar, só por implementar, carnaval e festival de bikini para promover e financiar, só por financiar...
E havia novas habitações prontas a erguer numa cidade com
milhares de fogos vazios, indiferente à necessidade da reabilitação urbana.
Tudo isto, numa cidade em que se fechavam fábricas e
estaleiros, o comércio tradicional definhava, se desmantelava a frota pesqueira
e a agricultura era abandonada...
Deixámos, como é óbvio, de produzir. Fomos, aliás, incentivados para isso, na Figueira e no País. Importávamos 80% do
que comíamos, com recurso a dinheiro
emprestado, vivíamos na ilusão de que éramos ricos.
E assim fomos vivendo, na Figueira e no País!
Até um dia...
Um dia, primeiro na Figueira, depois no País, lá tivemos de abrir os
olhos para a realidade.
O rei ia nu: somos uma
cidade e um país pobre e a era das ilusões tinha chegado ao fim.
Gostei imenso, por isso, de ler a crónica realista e assertiva do
vereador e militante PS, António Tavares, publicada no jornal AS BEIRAS, de que
destaco esta parte:
“Foi com satisfação que verifiquei a abertura de um novo
estabelecimento de restauração situado na Praça Velha e instalado num edifício
recentemente reabilitado. A praça afirmou-se durante muito tempo como um espaço
público de excelência.
Relatos de há 100 anos descrevem-na como um ponto de
encontro dos figueirenses, de atracção do comércio e de vivências várias – foi
terminal de autocarros e ali funcionou, por exemplo, a biblioteca municipal.
Depois, a praça, no seguimento do abate quase completo da
baixa histórica, viu encerrarem-se os estabelecimentos e desaparecerem os residentes.
Hoje, com a recuperação dos edifícios e a sua subsequente ocupação, a praça
poderá ser, de novo, encarada como um interessante conjunto patrimonial.”
Declaração de interesses.
A Praça Velha é o local de que mais gosto na Figueira.
Sempre que lá vou, praticamente todos os dias, não dispenso uma visita ao local onde se toma a melhor
bica na nossa cidade – o café Brasil.