“Hoje, 17 de Março, foi a enterrar na Figueira da Foz, com
92 anos, o Zé Penicheiro. A sua obra, o modo como se desenvolve traduz um
diálogo com a matéria. O artista vai às suas raízes, à vida vivida ao corpo e
ao espaço do olhar, para os interpretar. Assim nasceram os seus trabalhos,
sínteses de um tempo. Daí uma primeira fase, “caricatura em volume” rapidamente
ultrapassada pelo realismo, pela memória “neo-realista”. Depois, ergueu os seus
“cenários”, novas construções dotadas de uma dimensão funcional cubista, revivendo
o real. Foi um memorialista, um moralista comprometido. Recorda, faz-nos
recordar arquétipos, actividades esquecidas, lugares perdidos no tempo.
Numa pureza estética patente, marca da sua obra. Compromete-se.
Está do lado dos mais fracos, do povo. Retrata-os, mostra-os, como se de uma
“missão” se tratasse. Obrigação de retorno às origens, uma forma talvez de
pintar a saudade.
A arte do Zé não esquece os lugares: a infância, as praias, as
planícies, os estaleiros, a serra, o mar, as cidades da sua vida. É um diálogo constante
na sua obra, “O Pátio das galinhas”, “Buarcos, a boneca na praia”, “Margens do
Mondego”, “Feira numa manhã fria”,“Bouquinistes de Paris”,”A Casa dos Bicos”, e
tantos outros, trabalhos identificadores da essência do seu mundo. Um grande
abraço de até sempre, velho amigo.”
Crónica de António Augusto Menano, escritor, no jornal AS
BEIRAS.