Era, na altura, a segunda do País e a quarta da Península...
Em 12 de março de 1982 foi inaugurada a ponte da Figueira da Foz. O evento teve lugar pelas 16
horas e foi presidido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes. O
primeiro-ministro Pinto Balsemão também esteve presente. Veio acompanhado
pelos ministros Lucas Pires, Viana Baptista e Ângelo Correia, além de vários
secretários de Estado e outros membros do Governo. Era presidente da Câmara da Figueira o dr. Joaquim de Sousa.
Todavia, o que recordo melhor desse dia (fiz a reportagem para o
Barca Nova) foi o mar de gente que encheu de lés a lés, nessa sexta-feira, 12
de março de 1982, a então NOVA PONTE DA
FIGUEIRA DA FOZ.
Foi um verdadeiro espectáculo. Mais parecia uma romaria
popular. O Povo tomou nas suas mãos o rumo dos acontecimentos. Todos os
protocolos foram ultrapassados. Recordo-me da atrapalhação do ministro Ângelo
Correia...
O Presidente da República de então, o General Ramalho Eanes,
tinha grande popularidade e prestígio
junto da população figueirense e foi sempre efusivamente saudado. O mesmo, porém, não aconteceu com Pinto Balsemão e os ministros que o acompanharam...
Cerimónias? Houve com certeza.
Descerramento de lápides, cortejo, sessão solene... Mas, foi o Povo a nota
dominante daquela tarde solarenga. Milhares e milhares de pessoas – homens,
mulheres e crianças – tudo foi de abalada até à Ponte como se a abertura
oficial daquele verdadeiro monumento fosse a única coisa a ver naquela tarde.
Foi lindo de se ver.
Esse dia grande para
a nossa cidade prolongou-se pela noite dentro, com duas outras
cerimónias realizadas no Museu-Biblioteca:
a inauguração de uma Exposição Documental que esteve patente ao público
até ao dia 20 de setembro desse ano –
data do 100º. Aniversário da elevação da Figueira da Foz a cidade; e a Sessão
Solene de abertura oficial das Comemorações, no decorrer da qual proferiu uma
conferência o dr. José Hermano Saraiva.
A obra tinha-se iniciado em 5 de outubro de 1977 e orçou em
milhão e meio de contos.
Trabalharam
na obra, no decorrer dos quatro anos que demoraram os trabalhos, cerca
de 2 000 operários (2 dos quais, lamentavelmente, aqui encontraram a morte).
Todavia, de acordo com o se passou na sessão solene de inauguração, nenhum foi
condecorado... Como escrevi na altura no jornal Barca Nova, “foi-o o
projectista, prof Edgar Cardoso (muito bem), o engenheiro Carvalho dos Santos
(muito bem), mais engenheiros e encarregados (tudo muito bem), mas os que por
exemplo andaram a 90 metros de altura a arriscar quotidianamente o que têm de
mais precioso – a própria vida – não mereceram qualquer medalha (muito mal).
Palavras, tiveram algumas”...
Toda a gente a continua a conhecer por
“Ponte da Figueira”.
Todavia, desde 28 de Julho de 2005, que oficialmente se
chama “Ponte Edgar Cardoso”, que é o
nome do engenheiro que a projectou.
Edgar Cardoso, nascido em 11 de Maio de 1913, celebrizou-se
como projectista de pontes. Com extraordinária capacidade inventiva e métodos
originais, este engenheiro projectou pontes - em Portugal e no estrangeiro -
que são autênticas obras de arte. Impressionam, sobretudo, pela estética,
leveza e inovação. Edgar Cardoso rejeitava as soluções-padrão já testadas e
tinha a preocupação de inserir cada obra na paisagem.
Este importante engenheiro português, que proporcionou novas
perspectivas à Figueira com a abertura da nova ponte em 1982, morreu em 5 de
Julho de 2000.
A inauguração da ponte Edgar Cardoso foi um dos primeiros
actos do programa alusivo às comemorações do centenário da Figueira da Foz.
Enfim, passaram ontem 32 anos que milhares de pessoas
estiveram na ponte a assistir à inauguração. Pode ver, clicando aqui, duas fotos de José Santos, na altura jornalista no Diário de Coimbra, que recordam o momento.