Jerónimo de Sousa afirmou que o actual Governo chegou ao
poder “prometendo o que sabia que não ia cumprir”, “fazendo agora da
chantagem a sua tábua de salvação”. O líder comunista considerou que a decisão
do Tribunal Constitucional (TC), que “obriga o Governo a devolver os subsídios
que roubou”, foi dramatizada pelo PSD para ser, juntamente com a própria
Constituição da República Portuguesa, “a origem de todos os problemas actuais e
riscos futuros do país” quando, assegurou Jerónimo de Sousa, estão em causa
“apenas umas décimas” do défice das contas públicas. “Este Governo é
responsável por um valor que equivale a três vezes mais do que o representado
pelas quatro normas chumbadas pelo TC”, garantiu. “Este Governo é que já
destruiu 430.000 empregos; já empurrou para a emigração mais de 250.000
pessoas”, acusou. O objectivo da dramatização pelo Governo, defendeu o
secretário-geral do PCP, é levar avante “as políticas de liquidação das
prestações sociais e dos serviços públicos (…) favorecendo interesses privados”,
como, acredita, “há muito estava programado pelo actual Governo com o FMI e a
Troika”. A solução, diz Jerónimo de Sousa, é “devolver a palavra ao povo” e
“não dar tréguas a esta política”. Defendendo “o valor estratégico da luta”, o
líder comunista sublinhou que “este Governo parecia estar de pedra e cal e
agora abana por todos os lados”.
Estaleiros Navais do Mondego, ferrovia e arroz
Jerónimo de Sousa não esqueceu, na sua intervenção, os
problemas que afectam mais directamente a Figueira da Foz. Sobre os Estaleiros
Navais do Mondego (ENM), lembrou “os 236 navios construídos”, e a mão-de-obra
altamente especializada numa área crucial para o país, lamentando “todo o
processo que culminou na venda a uma empresa sem condições financeiras nem
experiência na construção naval”.
Aos produtores de arroz do Baixo Mondego, Jerónimo de Sousa
deixou uma palavra de solidariedade, apontando o dedo aos sucessivos ministros
que “vão sempre dizendo que há dinheiro para a obra hidroagrícola, mas esta
nunca avança”.
No que respeita à ferrovia, o líder comunista acusou PS e
PSD de a destruírem, em conjunto. “Primeiro foram as oficinas da EMEF, agora
preparam-se para encerrar a Linha do Oeste e desmantelar o ramal
Pampilhosa-Figueira da Foz”, concretizou.
Aumentar impostos… ao capital
“Ora agora governas tu, mal; ora agora governo eu, mal”,
ironizou Jerónimo de Sousa, a propósito dos chamados partidos do arco do poder.
A receita, partilhada também, “continuará a ser a de aumentar impostos e
sacrifícios sempre aos mesmos, deixando de fora o capital”. Com críticas
directas aos “donos” dos grandes grupos económicos que retiraram as suas sedes
fiscais de Portugal, “Pingos Doces e Continentes”, o secretário-geral do PCP
lamentou que “esses capitalistas com as costas quentes ainda tenham a
arrogância de defender que a solução passa por salários ainda mais baixo,
julgando que podem falar como antes do 25 de Abril”.
A manter-se o rumo, Jerónimo de Sousa afirma que “o
desemprego aumentará, o país ficará mais pobre e nunca conseguirá pagar a
dívida”. Em sentido contrário, o PCP defende “a renegociação total da dívida,
em todos dos prazos”, já que as modificações parciais se destinam, acredita, a
perpetuar a dívida e a dependência, assegurando juros cada vez maiores aos
credores. Apoiar políticas de aumento da produção, de reindustrialização, de
agricultura e das pescas, pondo travão às PPPs onde, acusa, “a montanha pariu
um rato”, e às rendas excessivas nas energias, “em que nos atiraram areia para
os olhos”, é a solução defendida pelo PCP, “tendo como objectivo o pleno
emprego”.
« É possível derrotar este Governo e salvar o país»
“Portugal precisa de um Governo que não seja um pau
mandado”, disse Jerónimo de Sousa. Para que isso aconteça, sublinhou, “é
preciso acreditar que é possível derrotar este Governo e salvar o país” e,
acrescentou, “não há solução patriótica e de Esquerda sem o PCP”.
“Queremos ruptura, mudança e participação numa política de
Esquerda”, afirmou, “mas não queremos um ou dois ministérios, para depois
sermos co-responsáveis de uma política de Direita”, concluiu.
Fotos António Agostinho