“Que Marcelo é um dos nomes fortes e mais influentes da direita
já todos sabemos há muito tempo. O que desconhecíamos no seu trajecto político,
apesar de todo o seu habitual intervencionismo nas lides político-partidárias,
era a sua disponibilidade para se envolver tão intensamente na defesa de um
governo, como está a fazer com este governo de Passos Coelho. Pode mesmo
dizer-se, sem ironia, que a sua envolvência com o governo em funções é maior do
que a que ele tinha consigo próprio quando era líder do PSD.
Marcelo percebeu, como toda a gente, que este é, desde o 25
de Abril, o governo mais à direita que Portugal teve. Um governo que está levar
à prática aquilo com que a direita sempre sonhou desde o 25 de Abril mas que
nunca até hoje tinha tido condições para concretizar: a desforra. E é essa
desforra, esse desmantelamento do que de mais importante foi conquistado com a
Revolução, que entusiasma verdadeiramente Marcelo.
Marcelo também sabe que essa desforra não pode incidir, pelo
menos para já, sobre as chamadas “liberdades formais” da democracia
representativa, mas sabe também que se os direitos económicos e sociais de quem
trabalha forem verdadeiramente atacados, precarizados, fragilizados estarão
criadas as condições para que “em democracia” a direita possa fazer quase tudo
o que fazia em ditadura. Essa a razão do entusiasmo de Marcelo.
Enganam-se aqueles que pensam que Marcelo tinha tudo para
uma grande carreira política mas que por força das suas “traquinices” e
perversidades tudo tem deitado a perder. Sim, Marcelo aspirava, na sequência e
na continuidade do marcelismo, a uma grande carreira política que o 25 de Abril
traumaticamente impossibilitou. Hoje, ao ver parcialmente recriadas aquelas
condições, Marcelo voltou a acreditar que tem hipóteses. Mas para isso é
preciso reforçar quotidianamente a defesa do governo para que este possa concluir
a tarefa a que meteu mãos.”