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quarta-feira, 16 de outubro de 2024

"A barra da Figueira vai de mal a pior. Esta administração do porto última, muito pior que as outras, tem sido uma verdadeira nódoa".

Armador da Figueira da Foz exige obras na barra e demissão da Administração do porto.

«Num texto publicado na rede social Facebook, António Lé, antigo presidente da cooperativa de produtores Centro Litoral e o maior armador português da pesca do cerco, afirmou que o que acontece na barra da Figueira da Foz – considerada perigosa para os barcos de pesca e de recreio, pela acumulação de areia e orientação de entrada e saída, para sudoeste, que faz com que a ondulação de noroeste embata de lado nas embarcações – “é um atropelo ao direito à vida que tem cada indivíduo”.

As críticas de António Lé estenderam-se à Administração portuária conjunta dos portos de Aveiro e da Figueira da Foz, que acusa de nada fazer para garantir a segurança dos pescadores na barra.

“Administradores do Porto de Aveiro e Figueira da Foz tenham vergonha e vão-se embora antes que sejam forçados”, vincou, no texto, António Lé, acusando ainda a classe política nacional de estar alheada da situação vivida na barra da Figueira da Foz.

“A classe política anda toda muito entretida a magicar acordos e arranjos de governação (…) Pergunto-me para quê? Para quem querem estes tipos governar? Para um pelotão de condenados que nem sequer têm direito a auxílio numa situação de perigo? Quando um cidadão, ou uma classe profissional, são deixados entregues a si mesmos numa situação limite, algo está por definição errado na palavra país”, argumentou.

Ouvido pela agência Lusa, o armador da Figueira da Foz reiterou as críticas à administração portuária, mas também à classe política, argumentando que o texto por si publicado é “um grito de revolta e é um ultimato” aos representantes do Estado.

“Cuidado, queremos ter aqui as altas individualidades que representam o país, nomeadamente o Presidente da República, o senhor primeiro-ministro e os ministros num contexto de festa, num contexto de celebração de qualquer coisa de bom para a nossa cidade. Nunca mais cá venham no contexto da Virgem Dolorosa [o naufrágio ao largo da Marinha Grande que, em Julho, provocou seis mortos] ou no contexto das outras pessoas que perderam a vida à entrada da barra, por falta de segurança [como no naufrágio do arrastão Olívia Ribau, que resultou em cinco mortos, em 2015] ou incompetência das administrações sucessivas da Administração portuária”, enfatizou o armador.

António Lé, referiu-se, nomeadamente, à actual Administração dos Portos de Aveiro e da Figueira da Foz “que tem sido a pior de todos os tempos”.

“Aveiro e Figueira têm tratamentos completamente diferentes. E a Figueira da Foz tem de ser vista como um porto seguro, não um inseguro que afasta qualquer tipo de negócio ou possibilidade de negócio. Mas, mais importante, a Figueira é um porto integrado, não é só de pesca, nem só comercial e de recreio, tem as três vertentes e tem de ter segurança”, aduziu.

Questionado se a actual configuração do porto privilegia a segurança dos navios cargueiros de maiores dimensões, em detrimento das embarcações de pesca e de recreio, António Lé afirmou que a insegurança é para todos.

“Ainda não tivemos foi a infelicidade de haver uma falha mecânica qualquer [num cargueiro] porque, em termos de resistência, será muito mais difícil tombar um grande do que um pequeno. Tombando [um grande] teremos percas materiais e não humanas, nos outros [de pesca e recreio] teremos perdas humanas e a vida humana não tem preço”, argumentou o armador.

A Lusa tentou ouvir Nuno Lé, presidente da cooperativa Centro Litoral, que representa os armadores desta região, mas os contactos resultaram infrutíferos.

Já fonte da Administração dos Portos de Aveiro e da Figueira da Foz remeteu uma reacção para um comunicado a divulgar mais tarde.»

Na Antena 1, no programa Portugal em directo, António Lé proferiu as seguintes declarações:


sábado, 6 de julho de 2024

"Virgem Dolorosa", mais um para rol imenso de acidentes no mar

Nos últimos 14 anos parece que se abateu uma calamidade sobre as comunidades piscatórias do nosso PaísVila do Conde, Póvoa do Varzim, Cova e Gala, Buarcos, Costa de Lavos, Leirosa, Praia de Mira, têm sido fustigadas por sucessivos acidentes no mar, em especial na orla costeira da região centro.
O naufrágio 3 de Julho, envolvendo pescadores do concelho da Figueira da Foz, até ao momento com um saldo de três mortos e três desaparecidos, ocorrido a cerca de uma milha náutica, entre São Pedro de Moel e a Praia da Vieira, está longe de ser um caso isolado.
Porém, tavez o mais presente na nossa memória, seja o que ocorreu em 6 de Outubro de 2015. Nesse dia, deu-se a tragédia do naufrágio do arrastão "Olívia Ribau", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram cinco dos sete pescadores (seis figueirenses, e um da Praia de Mira).
Luís Pereira, antigo pescador e mestre, que perdeu dois irmãos nesse naufrágio, dá conta na edição de hoje do Diário as Beiras, o que representa para uma comunidade piscatória uma tragédia marítima: "para cada um dos seus elementos da é como se tivesse morrido um familiar."

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Naufrágios: nos últimos 14 anos parece que se abateu uma calamidade sobre a nossa região

Se há coisa com que lido mal é com acidentes no mar. Sou filho, neto e bisneto de pescadores. Estas tragédias tocam-me profundamente. Tenho antepassados que tiveram o mar como sepultura eterna.
O naufrágio de ontem, envolvendo pescadores do concelho da Figueira da Foz, até ao momento com um saldo de três mortos e três desaparecidos, ocorrido a cerca de uma milha náutica, entre São Pedro de Moel e a Praia da Vieira, está longe de ser um caso isolado.
Nos últimos cerca de 14 anos, foram vários os acidentes marítimos no porto figueirense. 
Em 26.10.2010 deu-se o naufrágio da traineira "Vila de Buarcos", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz, com dezassete tripulantes. Felizmente, todos se salvaram.
O mesmo não havia contecido com o naufrágio de um pequeno bote com dois pescadores, no local da obra da chamada "Ponte dos Arcos", antes, em 19.03.2007, um desastre em que os dois pescadores morreram (e do processo judicial que se seguiu veio a resultar, anos depois, em 24.09.2014, que os responsáveis dessa obra sobre o braço sul do Mondego, que havia estreitado o caudal do rio, vieram a ser ilibados, e as famílias vieram a perder a acção que moveram). 
Em 10.04.2013 deu-se o duplo naufrágio, na barra do porto fluvial da Figueira da Foz, do veleiro alemão de recreio "Meri Tuuli" e da lancha da Capitania figueirense que o havia ido socorrer. Morreram dois homens: um dos tripulantes, velejador alemão, e um dos agentes da Polícia Marítima, militar português, que o estava a tentar salvar. O iate alemão estava a tentar entrar a barra, falhou a entrada, e foi arrojado à praia do lado de fora do molhe sul.
Em 25.06.2013 deu-se o naufrágio da motora poveira "Cambola" (depois de falhar a entrada da barra), junto ao molhe sul do porto fluvial da Figueira da Foz. Nenhum tripulante se perdeu, pois foram salvos pela Marinha.    
Em 25.10.2013, deu-se a tragédia do naufrágio da motora "Jesus dos Navegantes", na saída da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram quatro dos oito pescadores, poveiros (das Caxinas), que vinham a bordo. 
Em 19.08.2015 deu-se o naufrágio da motora "Ruben e Bruna", ao largo da Figueira da Foz, com um morto, numa tripulação de cinco pescadores poveiros. Este naufrágio foi ao largo, e não na barra.
Em 06.10.2015 deu-se a tragédia do naufrágio do arrastão "Olívia Ribau", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram cinco dos sete pescadores (seis figueirenses, e um da Praia de Mira).
Pouco depois, em 12.11.2015 esteve iminente um novo naufrágio (que, felizmente, não chegou a acontecer, pois foi impedido por outros barcos de pesca que se encontravam nas imediações), de um arrastão espanhol "Catrua", com pescadores galegos de Vigo.
A 29 novembro de 2017, quatro homens morreram na sequência do naufrágio do “Veneza” a 11 milhas (24 quilómetros) da costa da Figueira, sem que tenham sido emitido qualquer pedido de socorro.

sexta-feira, 31 de maio de 2024

A verdadeira "Escola de Sagres" está na Praia de Mira…

Por Alfredo Pinheiro Marques

«Não há (nem nunca houve...) nenhuma "Escola de Sagres"… com o tal célebre Mestre Jaime de Maiorca (cartógrafo Jehuda Cresques filho do Cresques Abraham que tinha feito o "Atlas Catalão" de 1375…), pseudo-contratado, pelo pseudo-fundador, da pseudo-"Escola" (!)… o pseudo-"Navegador" Infante Dom Henrique ("vestido como se fosse uma velha""com um pano preto na cabeça"… brincava, rindo-se disso, o verdadeiro especialista da Náutica Astronómica portuguesa, que foi o Professor Luís de Albuquerque [FCTUC])…
Não há, nem nunca houve… Pois a historiografia portuguesa dos "Descobrimentos", quer nos seus "milieus" universitários (entretanto cada vez mais entregues a tanta ignorância doutoral paga com tanto dinheiro público), quer nos seus ambientes de divulgação (desde sempre entregues a gente como o "Professor" José Hermano Saraiva…), É UMA ANEDOTA
E continua a sê-lo… E o que verdadeiramente merece, e continua a merecer, é o mais olímpico desprezo… e uma gargalhada…

A verdadeira Escola, a haver alguma, é a do Mestre Alcino da Praia de Mira…

No passado dia 29, lá, no seu "Refúgio do Marinheiro", na Praia de Mira, o Mestre Alcino promoveu uma reunião científica de alto nível… e que incluiu, depois, uma visita de estudo — e de investigação científica… — a um local, próximo, lá, junto da Lagoa de Mira, para aí se continuar a aprofundar alguma coisa mais acerca do mistério das "Portuguese Waltzes"… a música marítima que o velho Art Stoyles tocava, no seu acordeão, no cais das docas do porto de St. John's, lá na Terra Nova… na segunda metade do século XX.
Já existem imagens desta importante reunião científica, e desta investigação de campo, em busca da possível origem das "Portuguese Waltzes" , uma reunião científica e uma investigação promovidas pela verdadeira "Escola de Sagres": a "Escola da Praia de Mira", do Mestre Alcino Clemente… 
Fica uma imagem (para apreciação pela "comunidade científica"):

Em 29 de Maio de 2024, no "Refúgio do Marinheiro" do Mestre Alcino Clemente (sede da verdadeira "Escola de Sagres"…), da esquerda para a direita, o historiador português da Cartografia Antiga, Alfredo Pinheiro Marques, o musicólogo norte-americano de Montreal (Canadá), Richard Simas (mostrando o seu livro agora publicado internacionalmente), e os dois Mestres do Alto Pescadores — e poetas —, da Praia de Mira, Alcino Clemente e Manuel Gabriel (o Mestre Alcino Clemente que já se transformou numa figura mediática televisiva, desde que foi descoberto pelas televisões de Lisboa e pelos feicebuques [um pescador e poeta, a sério… autêntico, verdadeiro…!] e o Mestre Manuel Gabriel, o Mestre do Alto que, agora, em 2024, publicou mais um seu segundo livro de poemas, depois de, antigamente, se ter cruzado, no regresso do Cabo da Boa Esperança, com o seu camarada e companheiro Bartolomeu Dias, também ele provindo de Aveiro…):
O musicólogo norte-americano do Canadá (e de origens familiares portuguesas) Richard Simas, na Lagoa de Mira, em Portugal, em 29 de Maio de 2024, fazendo avanços substanciais na sua investigação para descobrir o "Mistério das Portuguese Waltzes" de Art Stoyles… (entrevistando o Senhor João Laranjeiro [João da Ribeira], o único antigo pescador português que, até hoje, foi identificado como tendo tocado acordeão, na juventude, nas docas de St. Johns); fotografia de Alfredo Pinheiro Marques, 2024:

Isto é que é uma Academia a sério… Aprendam… E… atenção! Que isto não é só a brincar. Nesta sua "Escola", na Praia de Mira, no seu "Refúgio do Marinheiro", o Mestre Alcino tem um memorial do barco que comandou antes de se ter reformado: o (depois tristemente célebre…) "A-3288-C Olívia Ribau"… O seu barco, de Aveiro, que (depois de ele já se ter reformado, e já não ser o Mestre) naufragou, em 2015, na armadilha mortal da entrada assoreada da barra do porto da Figueira da Foz… e lá morreram cinco dos seus antigos homens.

Isto é uma Academia a sério. Não tem nada a ver com encenações e palhaçadas (com fatiotas ridículas, e chapéuzinhos bicudos) de pantomineiros que ganham dinheiro público a escrever e a falar sobre o Mar, e os "Descobrimentos", e o Património Cultural e Histórico Marítimo, e o Património Natural e Ambiental Marítimo, e a Hidráulica Marítima, e as correntes marítimas e os movimentos das areias (nos portos que, entretanto, estão assoreados…), ou sobre quaisquer outras semelhantes matérias, historiográficas e "científicas" (ou, na verdade, seja sobre o que for… pois falar não custa, e ganha-se muito bom dinheirinho público, em troca de palavras)…

E… muitos pantomineiros universitários saberão sequer remar…?! Saberão distinguir um peixe do que não é um peixe…? E plágios…? Saberão distinguir um plágio do que não é um plágio…?»

domingo, 17 de abril de 2022

Desviem as areias...

A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia, edição de Março de 2022

Se há coisa com que lido mal é com acidentes no mar. Sou filho, neto e bisneto de pescadores. Estas tragédias tocam-me profundamente. Tenho antepassados que tiveram o mar como sepultura eterna.


Naufrágios na barra da Figueira aconteceram muitos nos últimos 12 anos. Entre eles, o mais presente na memória das pessoas, foi o ocorrido no dia 6 do mês de Outubro de 2015. A Figueira da Foz ficou de luto. Ao final desse dia negro para a nossa comunidade piscatória, o arrastão Olívia Ribau afundou-se à entrada da barra e levou consigo cinco vidas. 


Porém, entre os inúmeros acidentes que ocorreram `na barra da Figueira, depois do acrescento dos 400 metros do molhe norte, destaco o que aconteceu em 25 de Outubro de 2013. O barco naufragado foi o "Jesus dos Navegantes". Registaram-se 4 mortos numa tripulação de 7 homens.

Passados pouco mais de 2 anos, em 21 de Dezembro de 2015, o Estado português, via Tribunal de Coimbra, condenou o Mestre Francisco Fortunato a uma pena suspensa de dois anos e seis meses de prisão.  O Homem do Mar foi acusado pelo Ministério Público do Estado Português de quatro crimes de "homicídio por negligência", por não ter cumprido a "Carta Náutica"… Não ter tido conhecimento de um "edital"… E não ter mandado vestir coletes e descalçar botas.

Mas será que "a forma como a barra do porto da Figueira da Foz foi construída não poderá ter ajudado ao naufrágio da Jesus dos Navegantes"? Essa foi, pelo menos, a tese do falecido mestre José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar.

A obra do acrescento dos 400 metros no molhe norte, iniciou-se em 2008 e ficou pronta em 2010. A partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar. Com o tempo acumulou as areias (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento levou ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Dada a pouca profundidade existente na ponta do molhe norte, o mar parte o mar nesse local, o que torna difícil as entradas e saídas aos pequenos de pesca e iates.

Exactamente no mesmo local - barra do porto da Figueira da Foz - depois da obra, em 26.10.2010, 20.01.2012, 10.04.2013 e 25.06.2013, aconteceram outros quatro  naufrágios, com três mortos. Depois  do acidente  com o "Jesus dos Navegantes" em 25.10.2013 com quatro  mortos, aconteceu o naufrágio do Olívia Ribau (e outros estiveram iminentes) com mais cinco mortos. Em Novembro passado, os graves problemas de segurança da barra da Figueira da Foz, com o assoreamento que torna o mar violento e traiçoeiro,  provocaram mais uma tragédia naquele local. Quatro amigos, pescadores amadores, morreram após a embarcação onde seguiam, a ‘Seberino II’, ter virado e naufragado entre as praias do Hospital e da Cova, a sul da barra.

Para quando a realização de um inquérito - a sério - à operacionalidade da barra depois das obras do prolongamento dos 400 metros do molhe norte?

No passado dia 10, perto da embocadura da barra da Figueira, o mar virou a lancha dos pilotos, que iam dar entrada a um navio que vinha com destino ao porto comercial para carregar argila. No acidente houve a registar 2 feridos e danos na embarcação utilizada pelos pilotos da barra da Figueira. Segundo o que li no Diário de Coimbra, "à situação não foi alheio o assoreamento". 

O velho problema de conseguir assegurar a manutenção desassoreada de uma instalação portuária  destinada também a barcos pequenos, de pesca e de recreio e não apenas a cargueiros continua. O acidente com os pilotos da barra confirma isso mesmo. Se há alguém que conhece a barra como as próprias mãos, são os profissionais que todos os dias operam na barra da Figueira e estão sujeitos a cumprir todas as regras e procedimentos instituídos na "carta Náutica".

Como certamente estão lembrados, 2021 foi ano de eleições autárquicas. Aconteceram a 26 de Setembro. O Governo, quiçá por mera coincidência, antecipou a divulgação pública do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para Setembro de 2021.  O documento foi apresentado no dia 12 de Agosto de 2021: esse foi o tempo considerado certo para anunciar o estudo de viabilidade do bypass. 

Continuamos a aguardar pelo tempo certo para o transformar em projecto... E, depois, em realidade. Recorde-se que o estudo do bypass, que custou 264 mil euros, foi adiado durante anos. Contudo, mais vale tarde do que nunca. Em 12 de Agosto, a  pouco mais de um mês da realização das eleições de 26 de Setembro de 2021, o ministro do Ambiente assumiu que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada. 

“Avaliada esta solução (da transferência de areias) não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, disse à agência Lusa João Pedro Matos Fernandes.

O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, apresentado na manhã de 12 de Agosto de 2021 pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avaliou quatro soluções distintas de transposição de areias e concluiu, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.

O estudo situa o investimento inicial com a construção do by pass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros. “Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, (a operação) possa ser financiada”, disse o ministro.

O sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há mais de uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz, será o primeiro em Portugal e idêntico a um outro instalado na Costa de Ouro (Gold Coast) australiana. É constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego. A tubagem estende-se, depois, para sul, com vários pontos de saída dos sedimentos recolhidos, que serão depositados directamente nas praias afectadas pela erosão.

A opção de avançar para a construção de um bypass era em Agosto de 2021, para o então presidente da Câmara da Figueira da Foz, Dr. Carlos Monteiro, uma solução que permitia “tranquilidade e esperança a quem usa o porto comercial, a quem usa o porto de pesca e à população da margem sul da Figueira da Foz”. Carlos Monteiro, na altura, disse que uma proposta a longo prazo “não é frequente” em Portugal e agradeceu ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes, por aquilo que considerou ser um gesto com “visão”.

Carlos Monteiro solicitou que o estudo  apresentado fosse “avaliado o mais depressa possível” e que o projecto “fosse desenvolvido”. Mas disse esperar, “fundamentalmente, que tenha a maturidade necessária para ser inscrito no Quadro Comunitário [Portugal] 2030. Atendendo aos valores, acredito que possa e deva ser”. 

Também na altura, o arquitecto Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo, se manifestou agradado com a decisão de se optar pelo bypass. “Agora temos uma responsabilidade de contribuir para que seja bem feito. Há uma série de dúvidas, estamos a trabalhar em coisas que já deram provas de funcionamento, o sistema australiano funciona há mais de duas décadas, mas há sempre dúvidas sobre os impactes”, notou.

O ministro do Ambiente recordou a primeira vez que ouviu falar “ao vivo” da hipótese do bypass na Figueira da Foz e lembrou o “ar zangado” do arquicteto “cheio de certezas absolutas”, quando o movimento protestava, em 2019, pela construção do sistema fixo. “Agradeço ao SOS Cabedelo, a forma, muito para além de reivindicativa, mas técnica, com que nos entusiasmou a chegar aqui”, frisou Matos Fernandes.

Passaram sete meses. Espero, sinceramente, que tudo tenha sido mais do que uma mera tentativa de jogada de propaganda eleitoral. 

"Há muitos anos que, para mim, a protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem e que o processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.

Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova. Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial..."

Escrevemos o que está entre comas, no blogue OUTRA MARGEM em 11 de Dezembro de 2006. Passados quase 16 anos, infelizmente, continua actual. Depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do Mondego tem avançado. A barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores. A Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade. A pesca está a definhar. Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...

O Dr. Santana Lopes é agora o novo presidente de câmara. É ele que tem que perceber e saber  lidar  com as as consequências das diferentes dinâmicas que construíram  e desconstruíram a orla costeira no concelho da Figueira da Foz. "Um sistema complexo com uma instabilidade natural (decorrente de marés, das correntes, dos fenómenos meteorológicos, das derivas de sedimentos) mas também decorrente da acção humana, salientando-se aqui a interferência da barra do porto marítimo da Figueira da Foz e do seu prolongamento". 

O impacto ambiental causado pelo crescimento dos molhes  - uma infraestrutura que inibe a deriva de sedimentos acumulados na praia da Figueira da Foz (seguramente a maior praia da Europa) acelerou a erosão da costa a sul, colocou ao território do nosso concelho desafios que têm de ser defrontados com responsabilidade e ousadia. 

As soluções, ao que parece existem. A proposta do bypass - um sistema mecânico de bombagem permanente de areias que permitam restabelecer em grande parte a dinâmica dos sedimentos que alimentam a costa, já foi assumida pelo ainda ministro do Ambiente como a mais indicada. 

Se a situação foi estudada e a solução encontrada, continuamos à espera de quê? "O mar é a nossa terra". Temos de saber entende-lo e saber lidar com ele. E, sobretudo, nunca tentar contrariar a sua força, pois isso é impossível... 

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

"Quantos mais terão de morrer?"

É a interrogação que a Comissão Concelhia do PCP Figueira da Foz coloca, via página CDU no facebok:

"Desde a sua construção que os quatrocentos metros de prolongamento do molho norte têm vindo a ser objecto de repúdio por parte da CDU e do PCP. Ontem, sábado, 13 de Novembro mais quatro vidas se perderam por via da perigosidade que a barra da Figueira da Foz “oferece” desde então. Para além do assoreamento a que urge dar resposta, adiando-se sempre a resolução eficaz do problema para as calendas, a entrada e a saída da barra são sempre um jogo de roleta russa. Mais uma vez, infelizmente, aconteceu um desastre fatal depois de uma lancha de sete metros ter saído a barra mas acabando por naufragar logo depois. Coloca-se aqui também a questão da fiscalização. A forte ondulação e o nevoeiro na altura, aconselhavam a que ninguém se fizesse ao mar. Essa foi a decisão dos pescadores profissionais que resolveram não ir trabalhar sob tais condições, identificando claramente o perigo que arrastavam. Estes pobres pescadores lúdicos, provavelmente sem experiência nesta matéria, foram ao encontro da morte porque também ninguém com responsabilidades os impediu. Onde está a fiscalização que deveria existir sempre? Ainda frescos na memória o desastre com a embarcação Olívia Ribau, que ceifou vidas na entrada fatídica da barra e mais recentemente com o iate, felizmente sem vítimas. Quantos mais terão de perecer para que se resolvam de uma vez resolvam as questões aqui presentes: o assoreamento e a perigosa ondulação criada pelo prolongamento do molhe e mais perigosa ainda quando as condições atmosféricas são desfavoráveis?

A CDU e o PCP continuarão a bater-se por essa solução que tarda tanto, desejando ardentemente que não aconteçam mais desastres. Endereçam às famílias enlutadas as suas sentidas condolências e ao sobrevivente ainda hospitalizado a sua completa recuperação. A todos a nossa solidariedade."

Na foto podem ver-se destroços do naufrágio.

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Na Figueira vai acabar tudo bem!.. ("Socorro"...)

No jornal  Diário as Beiras, edição de hoje, pode ler-se «um pedido de socorro dos armadores figueirenses ao ministro do mar».


Só fica admirado quem anda desatento aos problemas do concelho.

Aqui, pelo OUTRA MARGEM, há muito que tudo foi alertado. Tudo o que previmos, infelizmente, se cumpriu.


O assoreamento da barra da Figueira vem de longe. 

E de projecto em projecto, de obra em obra, de erro sobre erro, chegámos ao prolongamento do molhe norte em 400 metros.

Registe-se, a propósito do  sinistro do Olívia Ribau, que o presidente da Câmara da Figueira na altura, além de sublinhar "que falharam as medidas de prevenção" e "a estação salva-vidas fechar às 18 horas e uma embarcação de socorro estar avariada" (mais do mesmo: o salva-vidas, neste momento está avariado...), lembrou que há mais de três anos que a autarquia vinha fazendo "insistentemente" apelos para a dragagem da barra, a última vez em abril de 2014, dando nota das dificuldades das embarcações dos pescadores para entrarem no porto, após as obras de prolongamento do molhe norte em 2010."

Como sabemos, é mais do mesmo: a única solução que os responsáveis encontram para manter a cota da nossa barra, passa pelas constantes dragagens. Isso, como dizia o saudoso  covagalense Manuel Luís Pata, "é cómodo para quem é responsável e a extracção das areias tem constituído «uma mina de ouro». Se não fosse esta »mina», estariam hoje construídos aqueles palácios («aqueles monstros») junto ao rio?"


O aumento do molhe em 400 metros, como a realidade já provou e como quem tinha o saber da experiência feita previu - e preveniu em devido tempo -, nunca evitará que as areias se depositem na enseada e fechem a barra. 

Além do mais, uma barra nunca se estrangula.

Quem promoveu e apoiou tão aberrante obra,  não tem o mínimo conhecimento do que é o mar.

Por outro lado, mesmo que essa obra trouxesse algum benefício à barra da Figueira - e não trouxe, trouxe dor e luto (vários acidentes e 14 vítimas mortais em menos de meia dúzia de anos aí estão infelizmente para o provar) - isso seria sempre um acto egoísta e irresponsável de quem tem mandado na Figueira, dado o conhecido estado crítico da orla costeira a sul da barra da nossa barra.

Os figueirenses vão continuar a viver como sempre viveram: em passividade.

Se não for olhado com urgência o problema da barra da Figueira da Foz, a Figueira poderá sofrer, mesmo a nível do negócio, uma crise com prejuízos irreparáveis.

Na Figueira, a pesca está a definhar, o sector do turismo passa por enormes dificuldades - tudo nos está a ser levado... 
Alguém já colocou a hipótese, por exemplo, se a Figueira tem alguma alternativa a uma deslocalização das celuloses?
O que seria do concelho e dos figueirenses? 
Resta-nos a promessa dos políticos, da vinda dos paquetes de passageiros e os números das toneladas dos cargueiros...
Embora cada vez com menos esperança, ainda espero que, ao menos, os "quens" de direito, perante a realidade, possam compreender o porquê das coisas...

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

“Patrão Moisés Macatrão” vai entrar em reparação

O salva-vidas de grande capacidade “Patrão Moisés Macatrão” vai ser reparado. 
O Diário as Beiras, edição de hoje, noticia que o concurso para a reparação, lançado pela Marinha, "foi publicado, ontem, no Diário da República, tendo uma base orçamental de 117.350.00 euros e um prazo de execução de 70 dias. As propostas devem ser apresentadas até ao último minuto do nono dia a contar da data publicação no jornal oficial do Estado. A embarcação, está inoperacional desde dezembro de 2019."
Recorde-se.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Da série, Museu do Mar... (3)

Finalmente o museu do mar

"A Figueira da Foz e a sua costa desde sempre tiveram um vínculo estreito ao oceano, principalmente pelas actividades piscatórias, da longínqua pesca do bacalhau nos mares gelados do norte, passando pelo arrasto, pelas traineiras de relativa proximidade, não esquecendo as artes e a pesca fluvial, a curta distância da foz do rio, também ele “mar”, misturadas as suas águas com as salgadas que o recebem no final da “viagem”, e também por via do turismo.
A existência de um museu que recolha o espólio relacionado com a ligação umbilical que temos ao mar, é um imperativo e a ideia da sua implantação só peca por tardia mas muito bem vinda e desejo ardentemente que realidade a curto prazo. Onde “nascer”? Recentemente assistimos a contradições por parte de dirigentes autárquicos sobre o assunto, dando-se a impressão de que cada um “puxa a brasa à sua sardinha”, rivalizando incompreensivelmente. O futuro museu do mar e o próprio mar não são propriedade exclusiva de ninguém, mas património de todos. Então a localização da estrutura deverá acontecer num sítio que sintamos também como património comum. Nenhum local me parece ter este carisma que não o Cabo Mondego. Quando pisamos aqueles lugares sentimonos em casa. Parecem-me os mais adequados para o propósito, criando-se um sítio museológico de larga importância, com a rota dos dinossauros ali patente, condições de excelência. Entendo que a distância do núcleo urbano e as acessibilidades poderão constituir dificuldades mas havendo genuína vontade, do longe se faz perto, do difícil se faz fácil. Necessário será um esforço financeiro mas tal não pode levantar-se como entrave. Falamos de cultura e não de simples entretenimento. Não poderão ser esquecidas as facetas menos felizes da nossa ligação marítima, designadamente as memórias das tragédias, do naufrágio do “Nova Leirosa” ao “Olívia Ribau”. Outro factor a acautelar será a preservação do Núcleo Museológico do Mar, em Buarcos, peça emblemática da cultura do município, com tantas provas dadas, nomeadamente no seu serviço educativo."


Via Diário as Beiras

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

As preocupações causadas por esta nossa barra continuam presentes... E vão continuar a acompanhar-nos...

Armadores e pescadores reclamam segurança na barra

António Miguel Lé, José Festas e José Miguel, presidentes, respectivamente, da Cooperativa de Produtores de Peixe Centro Litoral, Associação Pro-Maior e Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro, reuniram-se recentemente  com o comandante da Capitania da Figueira da Foz, Silva Rocha, tendo na agenda o assoreamento da barra.
Em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS, o figueirense António Miguel Lé adiantou que a reunião teve como objectivo “sensibilizar aquela autoridade para pressionar quem de direito para zelar pela segurança dos homens do mar na Figueira da Foz, que estão completamente ao abandono”. E acrescentou que “nenhuma das recomendações feitas pelo grupo de trabalho para a segurança da barra foi cumprida”. O grupo de trabalho foi constituído em 2015 pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, do qual também fez parte António Miguel Lé. Surgiu na sequência do naufrágio do pesqueiro “Olívia Ribau”, em outubro daquele ano, à entrada da barra da Figueira da Foz, que provocou a morte de cinco dos sete tripulantes.
“Em relação às conclusões do grupo de trabalho, nada foi feito, o que revela uma total falta de consideração e respeito pela ministra e pelo sector das pescas, que começa a ficar muito inquieto e revoltado”, disse António Miguel Lé.
“As dragagens resolvem no imediato, mas, depois, tudo fica na mesma. Por isso, tem de se encontrar outra solução”, concluiu o armador.
A Administração do Porto da Figueira da Foz tem feito dragagens correctivas junto à barra. A próxima arranca no início de março. No entanto, a dinâmica sedimentar faz o jogo do gato e do rato: basta haver uma tempestade marítima para as areias regressarem à zona de onde foram retiradas, alimentando um círculo vicioso que preocupa armadores e pescadores.
“A afirmação de António Miguel Lé está focada na questão das dragagens. A questão que me foi colocada tem a ver com o assoreamento dos fundos da barra”, ressalvou o comandante da capitania ao DIÁRIO AS BEIRAS.
Depois da tragédia do Olívia Ribau, a Autoridade Marítima Nacional preencheu o quadro da estação do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN), cujos elementos (seis) operam todos os dias. Por outro lado, os meios encontram-se todos operacionais.


Via DIÁRIO AS BEIRAS

sábado, 1 de dezembro de 2018

Depois de tudo ter falhado espera-se que a justiça funcione...

Conforme pode ser lido no jornal Diário de Coimbra, "a família de um dos cinco pescadores que morreram na sequência do naufrágio do arrastão registado em Aveiro “Olívia Ribau”, à entrada da barra da Figueira da Foz, em Outubro de 2015, reclama em tribunal 250 mil euros ao Estado."


Nota de rodapé.

Na última década registaram-se alguns acidentes graves, com vítimas mortais, à entrada da barra da Figueira da Foz. Os pescadores apontam o dedo às obras ali realizadas. "Aquela barra ficou mais perigosa depois do aumento do cais. Temos mais areia e a navegação é muito mais arriscada"
José Festas, presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar. 

"Está na altura de questionar porque é que há tantos naufrágios. A barra transformou-se numa ratoeira para os pescadores. Com o aumento do molhe em 400 metros, os barcos têm de entrar ou sair da barra atravessados, não há segurança". 
Alexandre Carvalho, pescador na Figueira da Foz. 
Segundo José Festas, na altura em que foram realizadas as obras, a associação que representa alertou os responsáveis para o problema, mas sem sucesso: "Nós tentámos impedir que a barra fosse feita assim. Avisámos que ia matar muita gente"
O responsável por este blogue, dentro das suas modestas possibilidades, tem feito o que pode no alerta dos problemas da nossa barra - que, em abono da verdade, não são de hoje nem de ontem: na Figueira, há mais de 100 anos que os engenheiros se dedicam a fazer estudos para a construção de uma barra... 

Vejamos o caso do prolongamento em 400 metros do molhe norte.
Manuel Luís Pata, já falecido, outra voz que andou uma vida a pregar no deserto, avisou em devido tempo, mas ninguém o ouviu... Recordo, mais uma vez, o já longínquo ano de 1996. Manuel Luís Pata,  no extinto Correio da Figueira, a propósito da obra que então se perspectivava e, entretanto,  concretizada, do prolongamento do molhe norte da barra da nossa cidade para sul, publicava isto que era um alerta, que ninguém teve em conta.
“Prolongar em que sentido? Decerto que a ideia seria prolonga-lo em direcção ao sul, para fazer de quebra-mar.
Se fora da barra fosse fundo, que o mar não enrolasse, tudo estaria correcto, mas como o mar rebenta muito fora, nem pensar nisso!..
E porquê?... Porque, com  os molhes tal como estão (como estavam em 1996...), os barcos para entrarem na barra  vêm com o mar pela popa, ao passo que, com o prolongamento do molhe em direcção ao sul, teriam forçosamente que se atravessar ao mar, o que seria um risco muito grande...
Pergunto-me! Quantos vivem do mar, sem o conhecer?”

Pouco tempo depois do naufrágio do "Olívia Ribau" em declarações aos jornalistas, João Ataíde, presidente da câmara da Figueira da Foz, disse que a estação salva-vidas do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN) não tinha os meios necessários para acudir ao acidente, por uma das embarcações, a Patrão Macatrão, estar avariada, e criticou o facto da Protecção Civil Municipal não ter tido conhecimento de que as instalações encerravam às 18 horas.
Consciente do papel de destaque que se encontra reservado à protecção civil ao nível do bem estar da população figueirense, tendo em conta o cumprimento do estatuído no artigo 5º do Decreto-Lei nº 203/93, de 3 de Junho, que ao regulamentar a Lei nº 113/91, de 29 de Agosto (Lei de Bases da Protecção Civil), impôs aos municípios a promoção da criação dos seus serviço municipais de protecção civil, aos quais cabe desenvolver actividades de coordenação e execução tendentes a prevenir riscos colectivos inerentes à situação de acidente grave, catástrofe ou calamidade de origem natural ou tecnológica, atenuar os seus efeitos e socorrer as pessoas e bens em perigo, quando aquelas situações ocorram das populações, deixo duas perguntas: 
1ª. - para que serve a Protecção Civil Municipal da Figueira da Foz?
2ª. - quantas reuniões de coordenação existem por ano com todas as entidades envolvidas?
Recordo, para quem não se lembre, que o presidente da Câmara tem a seu cargo a direcção das actividades a desenvolver no âmbito da Protecção Civil, cabendo-lhe designadamente, "criar e dirigir o Serviço Municipal de Protecção Civil Concelhio, procurando garantir a existência dos meios necessários ao seu funcionamento".
Isso passa, entre muitas outras coisas, por "convocar e presidir às reuniões da Comissão Municipal de Protecção Civil", "promover a cooperação de cada organismo ou entidade interveniente, diligenciando assim, o melhor aproveitamento das suas capacidades", "coordenar a elaboração do Plano Municipal de Emergência e promover a preparação, condução e treino periódico dos respectivos intervenientes", "promover e contribuir para o cumprimento da legislação de segurança relativa aos vários riscos inventariados, oficiando para o efeito aos órgão competentes", "promover reuniões periódicas da Comissão Municipal de Protecção Civil, sempre que necessário e no mínimo duas vezes por ano".

O saldo de mais um naufrágio ocorrido nesta nossa barra foi trágico: no arrastão "Olívia Ribau" naufragado a 06 de outubro de 2015, seguiam sete pescadores. Dois foram resgatados com vida, uma hora depois do acidente, por uma moto de água da Polícia Marítima e cinco morreram.
A segurança e o salvamento marítimo, continua a ser um caso grave na barra da Figueira que o acidente do Olívia Ribau pôs a nu...

domingo, 24 de junho de 2018

As prioridades, os sentidos únicos e os becos sem saída da Figueira da Foz...

"No início de outubro de 2015, à entrada da barra do porto da Figueira da Foz, na sequência do naufrágio do pesqueiro “Olívia Ribau”, cinco pescadores perderam a vida. Uma das recomendações do relatório do grupo de trabalho para a segurança na barra foi o reforço do número de efetivos do posto do Instituto de Socorros a Náufragos (ISN). O vereador do PSD Miguel Babo vem alertando, nas reuniões de câmara, para a necessidade de haver maior segurança na barra. Na sessão desta semana, o edil da oposição voltou à carga. O referido relatório, frisou, defendia que são necessários, no mínimo, seis elementos no posto de ISN, mas “só” há quatro. “Fico espantado que não denunciem [o executivo camarário] isto”, atirou. Perante aquela afirmação, o presidente da câmara, João Ataíde, reagiu assim: “Já fiz [pressão] e houve um reforço substantivo da prevenção e dos meios técnicos, que resultou do nosso apelo e das sugestões do grupo de trabalho”. Miguel Babo, no entanto, retomou o assunto: “Assinou um relatório a dizer que são seis, e está satisfeito com quatro?!”, indagou. “É demagógico estar a imputar-me responsabilidades, porque sabe bem que isso não é da minha competência. Poderei chamar a atenção para ver a razoabilidade dos recursos humanos, mas com a diplomacia necessária”, ripostou João Ataíde. O presidente, por outro lado, sublinhou, que fez “um apelo público e a Autoridade Marítima reconheceu que teria de reforçar os meios”. Dialética política à parte, neste momento, asseguram o funcionamento do posto do ISN cinco operacionais, mas um deles está de baixa prolongada. Por iniciativa de João Ataíde, a seguir ao acidente do pesqueiro, recorde-se, a autarquia foi anfitriã de uma reunião alargada, na qual participaram representantes de todas as partes envolvidas nas questões relacionadas com a segurança na barra, seguindo-se a criação do mencionado grupo de trabalho, que elaborou um relatório."

Via AS BEIRAS

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Sublinhe-se e registe-se a coerência do senhor vereador da cultura dr. António Tavares...

A foto de cima, foi obtida na passada sexta-feira, no decorrer da inauguração da exposição mais recente do fotojornalista covagalense Pedro Agostinho Cruz.
A foto mais abaixo, foi obtida na inauguração de uma mostra  que decorreu no Núcleo Museológico do Mar de 8 de Junho a 23 de Agosto de 2013, que englobou cerca de 70 peças das áreas do artesanato, pintura, fotografia e desenho, e resultou da tese de mestrado de Filipe Couto, apresentada na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. 

"Recantos da Aldeia", "Gentes do Mar", "Alerta Costeiro 14/15", "Mário de Belém, visto por Pedro Cruz",  e "Olívia Ribau - o naufrágio não é o pior", são  5 exposições de fotografia de um jovem fotógrafo figueirense que viram a luz do dia na cidade da Figueira da Foz, entre os anos de 2010 a 2017. 

Nesta segunda Exposição do Pedro Cruz no Núcleo Museológico do Mar, sito na Rua Governador Soares Nogueira, n.º 32 - Buarcos, Figueira da Foz, que vai estar patente ao público até 31 de Maio próximo, como muito bem escreve a jornalista Bela Coutinho no Diário de Coimbra de hoje, "o ambiente era diferente de qualquer um outro na inauguração de uma exposição. No ar, e no rosto das pessoas, sentia-se tristeza e a própria sala, semi-iluminada propositadamente, também parecia de “luto”, tal como as 19 fotografias que Pedro Agostinho Cruz tem expostas. Dor, desespero, sentimento de impotência, mágoa, e muitos outros sentimentos apanhados pela objectiva do fotojornalista no dia da tragédia do naufrágio do “Olivia Ribau”. A exposição termina (como uma lufada de esperança), com o rosto do agente Carlos Santos, que, num acto de heroísmo (que lhe valeu uma medalha), conseguiu salvar duas pessoas."

Gostava de viver numa cidade onde os jovens que se preocupam com a Cultura fossem estimulados, incentivados e apoiados por quem tem o dever de o fazer.

Mas, assim não acontece. A Figueira transformou-se num clube de amigos... 
Não só por isso, mas também por isso, a Figueira está às portas da morte. Pouco a pouco,  os burocratas do regime foram afastando os valores que a Figueira tinha. 
O maior pecado que poderia ter acontecido para com estes jovens, foi cometido: os responsáveis pela condução da política figueirense trataram-nos com indiferença. E a indiferença,  como muito bem sabe um vereador da cultura do gabarito intelectual do senhor doutor António Tavares, é a essência da desumanidade

João Traveira, um dia destes, a propósito disto, deu uma entrevista transparente e esclarecedora.

Por muito maçadora que seja a vida, hoje, numa cidade como a Figueira, ela teria que ter algum conteúdo, ideias e valores. 
E isso é algo que a Figueira deixou de ter: vivemos no vazio de ideias e competências.
A Figueira, hoje, é uma cidade  irrelevante.

A meu ver, seria uma  uma atitude que só enobreceria quem está à frente desses cargos políticos, independentemente de benefícios pessoais, dar uma palavra de incentivo e estímulo aos jovens talentos que, felizmente, ainda existem na Figueira da Foz!
Há uns dias, fui assistir ao lançamento de um livro de um jovem e talentoso escritor figueirense, de seu nome Pedro Rodrigues
Sala cheia, mas ninguém do departamento cultural da Câmara da Figueira da Foz estava presente.
O Pedro Cruz nas 5 exposições de fotografia que já levou a público na Figueira da Foz, em nenhuma delas mereceu ter a presença do senhor vereador da cultura, prémio Leya e tudo, dr. António Tavares.

Há pessoas que ufanamente gostam de apregoar a sua coerência por sempre terem pensado e agido do mesmo modo. 

A esses, eu contraponho que, coerentemente, já mudei de opinião várias vezes e que não me arrependo nada de o ter feito, nem me envergonho de o confessar publicamente. 
É tudo uma questão de se ser coerente.

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Exposição Olìvia Ribau: "o naufrágio não é o pior"... (3)


Via Figueira na Hora
Ontem, na inauguração, na presença de muitos familiares e amigos das vítimas, o autor da mostra deixou um desejo: “espero ter apresentado hoje as últimas fotografias de um naufrágio na barra da Figueira da Foz”.
“Esta exposição não é um acto invasivo na vida das pessoas mas sim uma reflexão sobre um assunto sério”, considerou Pedro Cruz que tinha a seu lado Carlos Santos, o agente da Polícia Marítima que resgatou dois tripulantes com recurso a uma mota de água.
José Esteves, presidente da Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, também ele um homem do mar, considerou que “o maior inimigo da Figueira é o homem”, numa alusão às condições de navegabilidade na barra.
Margarida Perrolas, chefe de Divisão de Cultura da Câmara Municipal, explicou que esta mostra resulta dos desafios lançados aos jovens criadores da Figueira da Foz para mostrarem os seus trabalhos no âmbito do Criativa – Encontro de Criadores da Figueira da Foz.
“No caso do Pedro, optámos por um espaço diferenciado e distinto, um outro local e tempo para ser vivido de outra forma”, atendendo à temática das imagens.
«Olívia Ribau: "o naufrágio não é o pior"» pode ser apreciada até 31 de maio, de segunda a sexta feira das 9 às 13 e das 14 às 17h00.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

OLÍVIA RIBAU: "O NAUFRÁGIO NÃO É O PIOR" - HOJE, PELAS 17 HORAS, NO NÚCLEO MUSEOLÓGICO DO MAR, EM BUARCOS.

JOANA COELHO
"...vamos fazer com que este caso não caia no esquecimento! Infelizmente não vou poder estar presente para apoiar o meu amigo e fotógrafo Pedro Cruz, mas vocês estão todos convidados!"
A Joana perdeu o Pai e o Tio no Naufrágio do "Olívia Ribau"
O Pedro recebeu esta mensagem da Joana Coelho: 
"Olá Pedro, tenho pena de não poder estar presente na inauguração da exposição e nem a conseguir ver depois (só devo ir a Portugal em Junho), mas tenho a certeza que fizeste um bom trabalho e que vai espelhar exactamente o outro lado do naufrágio... de facto o naufrágio não foi o pior... o pior vem depois com a perda física das pessoas que foram, com o sentimento de injustiça e a com certeza que muita coisa falhou naquele dia e é exactamente por uma mudança e por uma "justiça" que continuamos a lutar depois de 1 ano e 4 meses. 
Como tu me disseste um dia parece que as pessoas se esqueceram... mas, nunca me vou esquecer daquele mar que muitas vezes foi o meu refúgio e me transmitia tranquilidade, foi também aquele que um dia me roubou uma das pessoas mais importante da minha vida, perante o olhar de todos aqueles que tiveram a infelicidade de assistir. Desculpa o desabafo, mas passado todo este tempo ainda choro a morte do meu pai"
VAMOS FAZER COM ESTE CASO NÃO CAIA NO ESQUECIMENTO.
A mensagem da Joana, na minha opinião, transmite o sentir e a dor, autêntica e profunda, de uma filha.
Comoveu-me. 
Quem me conhece bem, sabe que por detrás desta aparência de durão (não podemos ser todos), existe um fulano que se comove com alguma facilidade. 
Quando as situações me tocam, como continua a acontecer com este infausto e infeliz acontecimento, as lágrimas chegam a humedecer-me os olhos. Não quero com isto dizer que sou um choramingas, mas fico perturbado por me sentir impotente perante o infortúnio, a dor, o desespero! 
A IMPORTÂNCIA DA EXPOSIÇÃO DO PEDRO
Esta exposição do Pedro, apesar de não poder fazer muito para alterar a situação que se continua a viver nesta nossa barra, pois apesar das tragédias que por cá aconteceram nos anos a seguir ao prolongamento dos 400 metros do molhe norte, de então para cá nada de substancial se alterou, vejo-a como a maneira de um jovem e voluntarioso foto-jornalista se oferecer inteiro - isto é, de corpo e alma, com honestidade e autenticidade ao serviço de uma causa nobre: alertar para os perigos que quem tem de arriscar a vida todos os dias para continuar a viver, tem de enfrentar nesta barra da Figueira
Esta tragédia continua a perturbar-me e não posso deixar de tomar partido. 
OS AVISOS ATEMPADOS
Cito Alfredo Pinheiro Marques, em 2006 e em 2008 (...)
"Quem vai conseguir evitar que os barcos pequenos, as embarcações de pesca e os iates de recreio, quando passarem a ter que entrar e sair nessa nova barra criada devido à nova orientação do molhe norte, se exponham ao mar de través...? Esta será uma situação que poderá vir a ser desastrosa para os pescadores e os iatistas, e ruinosa para o futuro das pescas e da marina de recreio." (...) [01.03.2006] (...) 
"Quem vai ter a culpa dessa catástrofe...?" (...) [01.10.2008]
9 MORTOS EM POUCOS ANOS
Em poucos anos, perderam-se 9 vidas na barra da Figueira, depois da obra que foi exigida, anunciada e aprovada, em 2006, 2007 e 2008.
Iniciada neste último ano, continuaram os trabalhos ao longo de 2009 e ficou pronta em 2010. 
Logo a partir desse ano começaram a alterar-se as condições da deriva sedimentar. Com o tempo acumularam-se as areias, (com a passagem dos anos as areias acumuladas começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…) e esse acrescido assoreamento  levou ao consequente alteamento das vagas nessa zona. 
Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os resultados não se fizeram esperar.
A LISTA DOS ACIDENTES E DOS MORTOS 
A impressionante lista dos acidentes e dos mortos pode ser de novo conferida. 
A saber.
Logo em 26.10.2010, deu-se o naufrágio da traineira "Vila de Buarcos",  na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz, com dezassete tripulantes. Felizmente, todos se salvaram.
Em 06.05.2011, a Marinha Portuguesa, meritoriamente —  antecipando a possibilidade de problemas que pudessem vir a ser causados pela nova orientação para sudoeste do molhe norte do porto fluvial da Figueira da Foz… —, fez localmente exercícios de treino (realizou um simulacro de combate à poluição marítima supostamente causada por um hipotético navio "Mondego" que haveria embatido nesse molhe norte acrescentado e alterado na sua orientação).
Mais tarde, em 17.01.2014, após os desastres seguintes (os do ano de 2013, que adiante iremos listar), a Marinha ainda viria, uma vez mais, a chamar a atenção, na Figueira da Foz, para as condições de segurança (e para a cultura da segurança…) nas actividades marítimas, quando entregou na capitania local mais uma moderna lancha rápida de socorro a náufragos. 
Contudo, infelizmente, no ano seguinte (2015), continuou sem obter do governo os meios para a disponibilidade contínua, 24 horas por dia, de pessoal para os serviços locais do ISN.
Em 10.04.2013, deu-se o duplo naufrágio, na barra do porto fluvial da Figueira da Foz, do veleiro alemão de recreio "Meri Tuuli" e da lancha da Capitania figueirense que o havia ido socorrer. Morreram dois (2) homens: um dos tripulantes, velejador alemão, e um dos agentes da Polícia Marítima, militar português, que o estava a tentar salvar. 
O iate alemão estava a tentar entrar a barra, falhou a entrada, e foi arrojado à praia do lado de fora do molhe sul.
Em 25.06.2013, deu-se o naufrágio da motora poveira "Cambola" (depois de falhar a entrada da barra), junto ao molhe sul do porto fluvial da Figueira da Foz. Nenhum tripulante se perdeu, pois foram salvos pela Marinha. Mas essa pequena embarcação de pesca costeira era a mesma que, já antes disso, em Janeiro do ano anterior (2012), havia falhado a entrada da barra e, por isso, havia encalhado no areal junto ao molhe norte desse mesmo porto fluvial (!)… E, depois disso, em Agosto desse mesmo ano de 2012, em mau estado, havia-se afundado quando estava atracada no interior deste mesmo porto…(!). 
Em 25.10.2013, deu-se a tragédia do naufrágio da motora "Jesus dos Navegantes", na saída da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram quatro (4) dos oito pescadores, poveiros (das Caxinas), que vinham a bordo. No seguimento desse naufrágio, e da afirmação logo então feita pelo Secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, na Assembleia da República (que negou qualquer relação com o assoreamento da barra, e "salientou que é necessário que os pescadores promovam a sua própria segurança"), e após o relatório produzido pelo então capitão do porto, o mestre dessa pequena embarcação de pesca poveira, Francisco Fortunato, veio a ser perseguido, pelo Ministério Público português, criminalmente (!), com quatro acusações de "homicídio por negligência" [sic].
Em 19.08.2015, deu-se o naufrágio da motora "Ruben e Bruna", ao largo da Figueira da Foz, com um (1) morto, numa tripulação de cinco pescadores poveiros. Este naufrágio foi ao largo, e não na barra.
Em 06.10.2015, deu-se a tragédia do naufrágio do arrastão "Olívia Ribau", na entrada da barra do porto fluvial da Figueira da Foz. Morreram cinco (5) dos sete pescadores (seis figueirenses, e um da Praia de Mira).
Pouco depois (menos de uma semana depois…!) em 12.11.2015 esteve iminente um novo naufrágio (que, felizmente, não chegou a acontecer, pois foi impedido por outros barcos de pesca que se encontravam nas imediações), de um arrastão espanhol "Catrua", com pescadores galegos de Vigo, nessa mesma barra do porto fluvial da Figueira da Foz.
Por tudo isto e por muito mais, a meu ver, é importante esta exposição de um jovem figueirense (ele prefere covagalense), que tem feito do profissionalismo, da honestidade, da competência e da coerência a maneira de estar numa profissão de risco, como é ser um profissional da fotografia numa cidade "pequena" como a Figueira da Foz.
Somos memória. 
É a partir dela que tudo pode ser refeito. 
A nossa memória é o nosso sustentáculo. 
Preservá-la não é sinónimo de saudosismo, mas uma atitude de sobrevivência. 
Até as más memórias nos são úteis... 

A memória que estas fotos nos trazem, é a memória  de um futuro que terá que ser muitíssimo diferente do presente.
Também por isso: obrigado Pedro Agostinho Cruz.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Mais uma exposição fotográfica do Pedro

AS BEIRAS, 31.01.2017


Dia 17 de Fevereiro, pelas 17 horas, no Núcleo Museológico do Mar, em, Buarcos será inaugura a Narrativa Fotográfica - Olívia Ribau "o naufrágio não é o pior"


"Creio que a fotografia, nomeadamente a foto-reportagem tem a capacidade de mostrar (sempre) um outro lado da realidade. 
Vou mostrar o que vi com base numa expressão que ouvi e senti naqueles dias." 


Até breve, 
Pedro Agostinho Cruz

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Imaginem-se...

É com muita revolta que a viúva de Joaquim Comboio, reage ao arquivamento do processo que respeita ao naufrágio do arrastão Olívia Ribau, a 6 de Outubro do ano passado, em que morreram cinco homens, entre os quais o seu marido. 
Ilda Coelho disse ontem ao Jornal Diário de Coimbra que aguarda «que o advogado tome uma decisão», mas vai advertindo: «o caso do meu marido é diferente, porque esteve à espera de socorro à vista de toda a gente, demasiado tempo»
António Comboio, de 57 anos, pescador experiente (andava ao mar desde os 14 anos), ainda aguentou alguns minutos agarrado ao casco da embarcação, pedindo por socorro, que não chegou, 
acabando por sucumbir. 
«O meu marido estava ali à vista de toda a gente, soube que ia morrer e ninguém fez nada», desabafa exaltada Ilda Coelho, deixando vir ao de cima as memórias da tragédia. 
E garante que o marido, contrariamente ao que foi dito, «sabia nadar e tenho testemunhas de amigos dele de infância que o podem confirmar».