segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Passos Coelho vai ser o unificador da direita

"Ο regresso de Passos Coelho era para acontecer antes: uma eventual derrota de Luís Montenegro nas europeias abriria o caminho a que o ex-primeiro-ministro se voltasse a candidatar à liderança. Só que, entretanto, António Costa demitiu-se, houve novas legislativas antes das europeias, Montenegro ganhou e o retorno de Passos ficou em banho-maria. 
Foi há precisamente 10 anos que Passos Coelho (em aliança como CDS de Portas) foi o "candidato a primeiro-ministro" mais votado. Nessa época, o PS não era especialmente forte, mas a esquerda era-o e, com a maioria de esquerda no Parlamento, António Costa conseguiu formar governo com o apoio do PCP e do Bloco de Esquerda e remeteu Passos à oposição. 
Os dias de Passos na oposição foram duros. São sempre, mas ainda mais quando já se foi primeiro-ministro, com o novo governo em estado de graça. A frase "vem aí o diabo" - a sua previsão sobre a gestão das contas públicas pelo governo PS - marcou esse tempo. O diabo não veio. Agora, Passos avisa para novo diabo, desta vez com um Governo PSD. 
Passos podia ter ido trabalhar para um sítio qualquer e, neste momento, estar a ganhar muito dinheiro. Oportunidades destas nunca faltam a antigos primeiros-ministros. Não o fez: manteve-se professor universitário, com um salário que qualquer antigo primeiro-ministro haveria de considerar baixo: pouco mais de 2000 euros. 
As suas intervenções públicas têm confirmado uma aproximação ao discurso do Chega - desde o combate às aulas de cidadania ao mais recente apontar do risco de "os portugueses se sentirem estrangeiros na sua terra". 
É um facto que o Governo também se tem aproximado do discurso do Chega, mas há uma diferença - Passos é contra o "“não é não". A sua relação com André Ventura é conhecida. Foi Passos que indicou Ventura para candidato do PSD à Câmara de Loures e que não lhe retirou a confiança depois do discurso anti-ciganos, ao contrário do que fez Assunção Cristas, na altura líder do CDS. 
Com Pedro Passos Coelho na liderança do PSD será fácil um acordo de governação com André Ventura. Ventura é fã de Passos: seria o único candidato presidencial que admitia apoiar, depois da desilusão com Gouveia e Melo. Passos não quis ser candidato a Belém, mas agradeceu o apoio de Ventura (ao contrário do que fez Gouveia e Melo). Quando lhe perguntaram se sentia incomodado com este anunciado apoio, respondeu, a 20 de Setembro: "Porque é que eu havia de ficar incomodado com alguém que diz que votava em mim e me apoiava sempre que me candidatasse? Não estou a ver por que é que havia de ficar incomodado". 
Na sexta-feira, Passos Coelho fez uma crítica violenta e uma verdadeira demarcação ao Governo de Montenegro e ao Orçamento, crítica com a qual até o secretário-geral do PS se identificou. "Chegámos ao fim das margens de manobra que nos permitem adiar decisões importantes. Agora, não vale a pena haver mais cálculos eleitorais nem perder tempo com preocupações distributivas", disse Passos, criticando as "habilidades orçamentais para salvar o ano" e defendendo um crescimento que não seja apenas por via do consumo. 
Tem havido um crescendo nas críticas de Passos a Montenegro. As eleições foram em Maio e o avanço de Passos para o poder (em coligação com Ventura) pode parecer a muitos uma coisa fora de tempo. 
Mas uma sombra paira sobre o primeiro-ministro. Até agora, que seja público, Luís Montenegro ainda não deu os esclarecimentos ao Ministério Público no âmbito da averiguação preventiva do caso Spinumviva. A 19 de Setembro o primeiro-ministro disse que "iria aproveitar a tarde para tentar reunir os documentos que foram solicitados e enviá-los o mais rápido possível". É verdade que Montenegro disse, aa 8 de Outubro, que enviou elementos, mas devem ter-se perdido pelo caminho e não terão chegado ao destinatário.
É muito difícil conceber que não venha a ser aberto um inquérito-crime tendo em conta o que está em causa. È certo que os portugueses não são um povo muito exigente com a transparência dos seus políticos e a vitória de Montenegro em Março funcionou como uma espécie de absolvição em tribunal popular. Mas ficou muito por esclarecer. 
A dúvida é se Montenegro terá condições de continuar primeiro-ministro se o Ministério Público abrir o inquérito. Num cenário em que as condições não estejam reunidas, é óbvio que Pedro Passos Coelho é o primeiro da fila para a sucessão (Carlos Moedas nunca se candidatará contra o ex-primeiro-ministro). E já sabemos que Passos faz o acordo com o Chega."

2 comentários:

CeterisParibus disse...

Num partido de cunho "culto do líder único", achas que o Ventura alguma vez partilharia palco com o Passos?
Lê o livro.

ANTÓNIO AGOSTINHO disse...

A extrema direita, tal com a direita (temos o histórico do PSD +CDS/PP), ao contrário da esquerda, une-se no essencial. Passos Coelho, foi um político que conseguiu unir a esquerda e estabelecer pontes entre socialistas, bloquistas e comunistas. Mas os portugueses mudaram...