domingo, 3 de outubro de 2010

Gostava de ter sido eu a escrever este texto

"Diz-se do silêncio que pode ser esclarecedor e que o usufruto da sua inteira dimensão é um acto humanamente inteligente. O silêncio, muito mais do que a mera ausência de ruído, é o supremo diálogo íntimo de cada um consigo mesmo e com a mãe-natureza. É com ele que damos ordem aos sentidos ou damos rumo aos imediatismos emocionais. É um eficaz instrumento de mergulho no que somos, despidos dos adereços superficiais de circunstância.
Percebe-se, por isso, quanto me irrita a recente mania da "plebe rústica exaltada" de aplaudir ruidosamente, momentos de recolhimento evocativos da morte de alguém, sobretudo quando se honram desportistas e artistas. Trata-se de uma demonstração boçal da incapacidade de ouvir e respeitar o silêncio e de fazer parar, por um simples minuto, a actual trepidação comunicacional do som, da imagem e do movimento, sem capacidade de reflexão ou de decoro público.
Aplaudam-se as vitórias e os êxitos, mas deixem ouvir a dignidade do silêncio nos instantes de intimidade emocional."

Pedro Melo Biscaia

Sem comentários: