"Diz-se do silêncio que pode ser esclarecedor e que o usufruto da sua inteira dimensão é um acto humanamente inteligente. O silêncio, muito mais do que a mera ausência de ruído, é o supremo diálogo íntimo de cada um consigo mesmo e com a mãe-natureza. É com ele que damos ordem aos sentidos ou damos rumo aos imediatismos emocionais. É um eficaz instrumento de mergulho no que somos, despidos dos adereços superficiais de circunstância.
Percebe-se, por isso, quanto me irrita a recente mania da "plebe rústica exaltada" de aplaudir ruidosamente, momentos de recolhimento evocativos da morte de alguém, sobretudo quando se honram desportistas e artistas. Trata-se de uma demonstração boçal da incapacidade de ouvir e respeitar o silêncio e de fazer parar, por um simples minuto, a actual trepidação comunicacional do som, da imagem e do movimento, sem capacidade de reflexão ou de decoro público.
Aplaudam-se as vitórias e os êxitos, mas deixem ouvir a dignidade do silêncio nos instantes de intimidade emocional."
Pedro Melo Biscaia
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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