sexta-feira, 23 de outubro de 2020

A situação de Quiaios é o exemplo do que não deveria acontecer na política autárquica

David Monteiro, hoje no Diário as Beiras
«Normalmente, acredito na consulta popular como forma de dignificar a democracia. Contudo, também acredito que as eleições antecipadas devem ser a última solução, devendo apenas ser convocadas em situações de estrito interesse local ou nacional. Nesta situação, acredito que o interesse local não está posto em causa, dado que, se o bom senso prevalecer, Quiaios poderá ter uma equipa na Junta de Freguesia, com os atuais eleitos, que servirá o povo devidamente.» 
O que se passou na Junta de Quiaios, foi um caso de polícia que seguiu para julgamento em tribunal. Em 6 de Dezembro de 2019, a presidente da Junta de Freguesia de Quiaios, Maria Fernanda Lorigo, e o secretário, Carlos Alberto Patrão, foram condenados pela prática de um crime de prevaricação de titular de cargo público a penas de prisão, suspensas, e à perda de mandato. À ex-tesoureira, Ana Raquel Correia, também foi decretada uma pena de prisão suspensa. Os três arguidos foram julgados por terem favorecido o pai da autarca, Manuel Lorigo, para que este fizesse os serviços de manutenção das Piscinas da Praia de Quiaios. O tribunal considerou que Fernanda Lorigo foi quem teve “o papel mais activo” e aplicou-lhe uma pena de três anos e nove meses de prisão. Já Carlos Patrão foi condenado a dois anos e 10 meses e Ana Correia a dois anos e seis meses de prisão. Todas as penas foram suspensas por igual período. Os três arguidos terão ainda de pagar ao Estado 8.700 euros em partes iguais. Fernanda Lorigo recorreu para o Tribunal da Relação de Coimbra que confirmou a decisão da primeira instância e obrigou a presidente da Junta de Quiaios, Fernanda Lorigo, a perder o mandato, com efeitos a partir do passado 25 de Setembro, dia em que foi notificada sobre a decisão do acórdão. 
É assim que se degrada a democracia... É este um factor de isolamento dos políticos e de selecção negativa. 
De isolamento, pois a classe política vive entregue a si mesma, nas suas tricas, desencontros e encontros. Nunca, ou quase nunca conhece - muito menos vive - a vida do cidadão comum. 
E selecção negativa, pois os melhores passam a desejar entregar-se a outras carreiras - a política em Portugal tornou-se um misto de palavras e intrigas... 
A selecção fica naturalmente feita: vão ficando os piores. Se as coisas não mudarem rapidamente, cairemos na generalização de identificar políticos com incompetentes e outros epítetos ainda piores... 
A função política tem que ver com a fidelidade ao mandato recebido, com a responsabilidade perante o bem comum. Foi isso que aconteceu em Quiaios?
Recorde-se: foram os tribunais que expulsaram Fernanda Lorigo da presidência da junta. Entretanto, as coisas mudaram: depois de um problema legal resolvido pelos tribunais, temos um problema político em Quiaios... 
O que está a acontecer em Quiaios deveria merecer uma análise e reflexão profundas do Partido Socialista a outro nível, para além da Figueira, pois a concelhia figueirense já demonstrou que faz parte do problema. 
Por este andar, um dia acordamos a achar o André Ventura um razoável porreiro, em comparação com os que nos governam... E chegaremos lá por desmotivação, desânimo, cansaço, falta de esperança - e por eleições... 
Só espero, muito sinceramente, estar completamente equivocado. 
Porém, infelizmente, temo que não...

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