António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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quinta-feira, 19 de abril de 2007
Dr. Ruy Alves, um lutador
Nasceu em Coimbra e morreu, com 68 anos de idade, em 4 de Fevereiro de 1978, em Lemede.
Desde muito novo o Dr. Ruy Alves esteve ligado ao movimento democrático, lutando por uma sociedade mais justa.
Desde o tempo de estudante que se revelou, em actos concretos, um lutador antifascista. Em 1931, quando da quarta tentativa para derrubar o regime do ditador Salazar, estudante em Coimbra, integrou, empunhando o estandarte da Academia, a grande manifestação de apoio aos revoltosos da Madeira.
Depois da sua formatura em Farmácia exerceu funções em Chaves e em Vila Real de Santo António. Fixou-se na Figueira no final da década de 30 do século passado, tendo-se tornado uma figura conhecida e respeitada. Foi um cidadão interessado nos problemas da cidade e raros foram os acontecimentos registados no decorrer da sua permanência na Figueira de que não se tivesse inteirado, como estudioso atento, dando em jornais e tribunas a que tinha acesso, o seu contributo válido e esclarecido.
No Rotary Clube da Figueira da Foz, fez ouvir com frequência a sua voz em intervenções que revelavam conhecimento dos assuntos, como Homem detentor de uma vasta cultura.
No fascismo, foi vigiado pela polícia política, o que não o impediu de realizar reuniões na Farmácia Central, de que era proprietário. Foi, nessa mesma Farmácia, que teve lugar a reunião donde saiu a primeira Câmara após o 25 de Abril de 1974. Foi, igualmente, em instalações suas, o laboratório do Bairro Novo, em frente ao Café Caravela, que se realizou a primeira reunião do Movimento Democrático Português, na Figueira, a seguir ao 25 de Abril de 74.
No período que se seguiu à Revolução dos Cravos, o Dr. Ruy Alves manteve-se no MDP/CDE, onde foi elemento preponderante na Figueira. Foi aí, a seguir ao 25 de Abril, na militância do MDP, que o escriba se cruzou com a figura franzina, mas enérgica, do Dr.Ruy Alves e de outros figueirenses democratas ilustres, de que guardo gratas recordações, como, por exemplo, essa enorme Senhora que se chamou Alzira Fraga.
O Dr. Ruy foi sempre um Homem esclarecido e estudioso: formou-se em Farmácia e em Físico-Química pela Universidade de Coimbra; anos mais tarde, formou-se em Economia pela Universidade do Porto.
Muito mais haveria a dizer sobre tão importante figura. Todavia, para terminar, lembro que o Dr. Ruy Alves foi um dos fundadores do Barca Nova. A primeira troca de impressões para o aparecimento deste jornal teve lugar no seu apartamento na Avenida do Brasil, tendo por fundo a soberba paisagem do mar da Figueira e a Serra da Boa Viagem, os elementos da natureza que ele tanto amou na cidade onde viveu, trabalhou e lutou cerca de 40 anos.
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