António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
sexta-feira, 31 de julho de 2020
quarta-feira, 9 de outubro de 2019
Rogério Rodrigues
Morreu o último jornalista
"Talvez nunca tenham ouvido falar do Rogério, mas com isso não se sintam culpados com tal ignorância, ele fez tudo para nunca se falado, para nunca ser elogiado, para passar sempre ao largo dos holofotes, dos aplausos, das condecorações, dos puxa-saco.O Rogério foi o melhor, o mais extraordinário jornalista que conheci. A pessoa com quem mais aprendi, a pessoa com quem bebi o primeiro whisky, a pessoa a quem confessei não ser capaz, a pessoa a quem pedi refúgio nos meus divórcios, nas minhas falhas, pecados, tragédias.
Atropelo-me, falo do que não interessa. Desculpe-me. Comecei a lê-lo no Público, no início do Público. Eu adolescente, ávido de conhecimento e sempre de jornal na mão, e ele um grande repórter, porventura o único jornalista capaz de contar uma história de crime com o génio de um Truman Capote. Li o seu livro sobre o assassino Faustino Cavaco antes de o conhecer. Li e disse aos meus amigos: vocês já leram Rogério Rodrigues, já leram a sua prosa?
E ninguém escrevia sobre política como o Rogério. Nem sobre o Partido Comunista. Ou Álvaro Cunhal – no dia em que o conheci, na redacção do semanário O Jornal, acabara de publicar um perfil sobre o histórico líder comunista, levei o jornal para casa e adormeci a sonhar com o dia em que escreveria como ele.
A sua cultura era lendária. Sabia tudo. Conhecia todos. Viajava pela língua como poucos, manobrava-a como ninguém. Até o José Cardoso Pires, com quem bebia copos nas pausas das notícias ou da escrita, gostava de dizer que ele é que era. Eu ficava em silêncio a ouvi-los, tinha 19 anos e era um miúdo cheio de complexos, borrado de medo de estar ali com aqueles gigantes que fumavam como Bogart e bebiam com estilo, lentamente, deixando que as palavras se espalhassem à sua volta como o fumo dos cigarros. Havia também o Fernando Assis Pacheco, claro. O Afonso Praça, transmontano como ele. O Vítor Bandarra, que só conheci uns anos mais tarde, não naqueles primeiros anos, o puto como era chamado pelos velhos mestres.
Embarcou comigo na aventura de A Capital. Fiz-lhe o convite com alguma vergonha: queres ser director adjunto, meu director adjunto? Não pediu para pensar, vamos Luís. E foi. durante um ano e meio virámos do avesso o que podia ser virado do avesso. Naquele ano e meio afundei-me em trabalho e ele esteve sempre na primeira linha. A trabalhar mais de 12 horas por dia. A “sacar” notícias como só ele sacava. Estranha coincidência: foi ele quem, no princípio de novembro de 2004, deu a notícia em quem ninguém acreditou, o operário Jerónimo de Sousa seria o novo secretário geral do PCP. Nos dias em que se especula acerca da saída de Jerónimo volto à notícia em que ninguém acreditou, a sua notícia. O PCP era ainda mais inexpugnável do que hoje, muito mais. Mas o Rogério conseguia tudo. E não queria nada para ele, deixava-me brilhar – vai tu, Luís, vai às televisões e defende a nossa manchete.
“Vai tu, Luís. Eu fico, estou bem, não preciso de nada, o que importa é a notícia”.
Depois estivemos em programas de televisão. E ajudou-me a lançar o Rádio Clube onde passámos dificuldades. A meio do processo, quando o projecto tinha apenas um ano e meio ou dois anos, a administração pressionou muito, o Grupo Prisa estava em grandes dificuldades e eu tinha de prescindir dos colaboradores, os que estavam a recibos verdes. Seriam os primeiros a ir e era inegociável. O Rogério, que era o meu consultor, adiantou-se: Luís, eu vou. Não é preciso falarmos mais nisso, sei o que está a acontecer e amigo não empata amigo. E foi.
E eu fiquei. Estúpido de merda fiquei. E deixei-o ir. Sem replica. Sem dizer à administração que o Rogério era a minha linha vermelha, inegociável para mim. Quando saiu daquela porta, quando deixei que saísse, o jornalismo morreu para mim. O jornalismo por quem me apaixonara em jovem. E nunca mais deixei de pensar que na vida há valores muito mais importantes do que a sobrevivência. Serviu-me para a vida.
Transmontano de Moncorvo, o Rogério. Com ele comi lampreia pela primeira vez. Com ele conheci poetas, escritores, livros, polícias e ladrões, sítios de informadores e o parlamento. Nunca elogiava da maneira como se elogia. Nunca abraçava da maneira como se abraça. Nunca festejava da forma como se festeja. Ou chorava da maneira como se chora, nunca o vi chorar.
Amava profundamente a mulher da sua vida. Contou-me num dia especial: a Arlete é a pessoa da minha vida, não saberei viver sem ela, mas não lhe quero dar esse peso, o peso dessa dependência, é apenas um problema meu.
E amava profundamente os seus dois filhos. Quando o Tiago começou a ter sucesso, falava do mais novo. Queria equilibrar as coisas. Mas quando o mais velho foi convidado para o lugar mais importante do teatro português perguntei-lhe: estás feliz, Rogério? Fumou um cigarro sem dizer uma única palavra. E no final tinha as lágrimas presas nos olhos. O Tiago era a sua prenda para o mundo. Sua e da Arlete.
Estou ainda no escritório. Precisei de ficar mais um pouco. Os meus filhos mais novos estão a dormir em casa. Os mais velhos ainda não sabem que morreu o Rogério, o último jornalista. O último jornalista que conheci entre todos os que viviam em função de uma ideia que foi morrendo no tempo.
Fui ao supermercado em frente comprar uma garrafa de Famous Grouse. Bebo à sua memória, à sua vida. E quis o destino que amanhã, sexta, sábado e domingo, esteja a moderar quatro debates sobre “Fake News”, no teatro Nacional Dona Maria II, dirigido pelo seu filho, Tiago Rodrigues.
E na quinta-feira, apresento um livro de entrevistas em que a última é com o seu filho, a pessoa que considero há muito como o mais talentoso entre todos os criadores portugueses.
Não há palavras, Rogério. Tinhas mesmo de abalar hoje? Bebes um copo comigo? Vem, estou aqui. A garrafa dá para os dois."
Luís Osório
quarta-feira, 5 de abril de 2023
Mesmo que batam no "velho careca" o problema não fica resolvido...
Citando Luis Osório: "nada mais a dizer sobre a figura de um cronista que, é bom que não sejamos ingénuos, escreve em função de uma agenda maior do que ele."
Porém, não sejamos hipócritas: "aquilo que Alexandre Pais escreveu é aquilo que verdadeiramente o mercado pensa sobre as apresentadoras de televisão.
Ou sobre as estrelas das novelas.
Ou sobre as influencers.
Ou sobre quem aparece nas revistas.
Talvez valha a pena olhar em volta. Alexandre Pais é maldoso e misógino.
Mas o mundo mediático não lhe fica atrás."
domingo, 7 de setembro de 2014
Nada de novo: a Figueira, em matéria de obras, continua a não poder dar lições a ninguém...
quinta-feira, 27 de abril de 2023
Morreram no dia 25 de Abril de 1974 e eu aplaudo-os
Talvez aquele dia fosse mesmo o dia, os sinais eram bons, os militares estavam na rua e gritavam-se palavras de ordem.
Palavras de liberdade.
Palavras contra a guerra colonial.
Palavras contra a censura e a favor da liberdade de imprensa.
Palavras contra a PIDE e a tortura.
Palavras a favor da libertação dos presos políticos.
2.
Faz hoje 49 anos que o dia não se completou para qualquer um dos quatro.
Estiveram em vários pontos da cidade de Lisboa. E confluíram para a Rua António Maria Cardoso, sede da PIDE. Corria o rumor de que os torturadores estavam a tentar fugir, a rádio tinha noticiado que uma multidão de gente gritava "não passarão".
3.
Foram para lá.
Centenas de pessoas na rua viram uma janela abrir-se e ouviram uma rajada de disparos.
Alguns corpos caíram, muita gente correu para se proteger e houve pânico e desgoverno.
Quatro não se levantaram.
Morreram no dia 25 de Abril de 1974.
Nenhum deles pôde sequer saborear o seu primeiro jantar em liberdade.
4.
Fernando Giesteira tinha 17 anos e era um vivaço. Chegara de Montalegre e em miúdo adorava os bailaricos em Chaves e correr até ao alto da Nevosa. Tinha boa pinta e fora para Lisboa puxado uns anos antes por um familiar. Trabalhava como empregado de mesa na Cova da Onça, boîte frequentada por artistas, malta da bola e Polícia Judiciária. Saíra do trabalho e fora para a rua sem passar pela Pensão Flor, no Areeiro, o quarto onde vivia. Já arranjara um cravo vermelho e prendera-o certamente à camisa a cheirar ao fumo da noite.
José Harteley Barneto era o mais velho. Tinha 38 anos, quatro filhos e uma vida estável. Escriturário no Grémio Nacional dos Industriais de Confeitaria, morava na Flamenga, perto de Loures, e nascera em Vendas Novas. O pai ou a mãe eram ingleses e ele estava entusiasmado e sentia que tudo passara novamente a ser possível, mesmo o impossível.
Já José Guilherme Arruda tinha 20 anos. Viera há pouco tempo dos Açores, era excelente aluno e matriculara-se no segundo ano de Filosofia. Morava na Avenida Casal Ribeiro, perto do Saldanha, no centro de Lisboa. José Guilherme não tinha como esconder o sorriso, afinal estava a viver a história e a revolução que só conhecia na teoria.
Fernando Luís dos Reis tinha 23 anos. Era o único dos quatro que nascera em Lisboa e também o único militar. O seu batalhão era de Penamacor, mas ele estava de férias. Também por isso saiu à rua e dirigiu-se ao lugar onde talvez mais precisassem dele. Casara-se há pouco tempo e tinha planos de ser pai.
5.
Nenhum deles conheceu a liberdade.
Por esses dias, milhares de pessoas seguiram os seus funerais.
Milhares se despediram nos últimos dias de abril de 1974.
Mas ninguém os recordou hoje.
Pelo menos que eu tenha notado, ninguém deles falou.
Ninguém se lembrou dos quatro para quem a liberdade foi, até ao último segundo da sua curta vida, a esperança em estado bruto.
Ninguém se lembrou de quatro rapazes que, se fossem vivos, estariam certamente no único lugar possível, o lugar dos que acreditam que a ditadura e o fascismo têm de ser combatidos.
sexta-feira, 12 de maio de 2023
O palácio de seis andares de Montenegro e a casa de Massamá
domingo, 1 de novembro de 2020
Solidão
- Aí não sou a melhor intérprete. Para mim há duas pessoas que simbolizam a solidão, a Amália e o José Carlos Ary dos Santos. A minha nada têm nada a ver com a solidão de um ou de outro. Conhecia muito bem o Ary, nos bons e nos maus momentos, e nunca tivemos qualquer tipo de desentendimento, e estou a incluir os assuntos políticos, nada de nada. Ele costumava dizer que eu era muito mais comunista do que ele, era genial e adoravelmente ordinário. A solidão dele tinha tanto de poesia e de talento que quase era parecida com a solidão da Amália.
terça-feira, 28 de dezembro de 2021
A indústria do medo
by Carlos Garcez Osório
"As notícias que compõem a imagem deste post não são muito fáceis de descobrir. Estão disponíveis, mas não fazem “parangonas”. Porquê?
O ano passado, muito mais importante que o número de infectados, eram os valores relativos a internados e a óbitos. Este ano, é exactamente o contrário. Porquê?
A quem convém manter um povo mal informado e em constante pânico?
Parece óbvio que a variante dominante (omicron) é muito mais infecciosa, mas menos letal. Basta ver os números para perceber que a sua gravidade é bastante menor que a da gripe sazonal. E em tempos da mera gripe nunca ninguém se lembrou ou sequer imaginou impor este tipo de restrições à liberdade.
Mas o pior de tudo é este medo propagandeado e quase unanimemente aceite. Quase toda a gente concorda com as restrições e (que jeito que dá à “pequenez” humana) sobe ao pedestal para exigir comportamentos aos outros.
Tudo em nome de uma “responsabilidade” que ultrapassa muito a prudência e a consciência e se aproxima do zelotismo. Os paradigmas são o medo e a submissão.
Eu não peço que concordem comigo. Apenas peço que pensem. Por vós próprios."
domingo, 8 de março de 2020
PCP: vídeo de apresentação do programa do Centenário
segunda-feira, 4 de julho de 2022
"A propósito de nada: Cunhal"
O POSTAL DE FIM-DE-SEMANA DE LUÍS OSÓRIO
segunda-feira, 20 de junho de 2022
Nas nossas páginas escrevemos sobre o que queremos: ninguém é obrigado a ler
«JÁ AGORA», por Luís Osório
quinta-feira, 22 de agosto de 2019
POSTAL DO DIA
Via Luís Osório
«O presidente da Câmara de Santa Comba Dão, o socialista (!!!?) Leonel Gouveia, anunciou para os próximos dias o início das obras que culminarão na inauguração do Museu Salazar. O Museu será edificado nas instalações da antiga escola primária e o sobrinho neto do ditador português, Rui Salazar, é o grande entusiasta da iniciativa.Conheci Rui Salazar há uns anos. Vive num mundo paralelo. Solitário, rodeado dos livros do tio, das garrafas que o tio guardava na adega, dos sapatos e roupas velhas do tio, dos relatórios e contas dos quase 40 anos que levou de presidente do conselho (números que sabia de cor). O homem era simpático e lunático. Vivia sozinho numa casa na companhia do fantasma de Salazar. Os anos passaram e não consta que tenha melhorado, deve estar pior, não é coisa que se possa gozar, tenho respeito por todas as formas de perturbação.
Confesso que ao ouvir um autarca avançar com a ideia do Museu Salazar, nos mesmos moldes que o sobrinho defendera numa conversa comigo vinte anos antes, me arrepiei. Não por achar que não possa existir um Museu do Estado Novo, mas pela hipótese de ser, de uma maneira ou de outra, um museu que terá como objectivo mostrar o “grande homem”, o “grande estadista”, a “grande figura de Santa Comba Dão”. Já estou a ver o tolinho do autarca aos saltos pela oportunidade de a terra ser falada internacionalmente por causa do arrojo de uma iniciativa que é um exemplo de tolerância e de bons costumes. E defenderá até que, sendo socialista, tem a obrigação de não ter medo da história, a tolerância será uma prova da sua força.
Mas não é. Um Museu que será edificado sem um aconselhamento e presença de historiadores independentes e reconhecidos pela comunidade científica, será um embuste, uma prova de estupidez e o pretexto para que os antidemocratas passem a ter um lugar de romaria onde poderão celebrar a vida de Salazar e diabolizar as democracias liberais. Neste tempo, de regresso de fascismos e intolerâncias, fazer nascer um Museu Salazar, é um atentado.
Salazar é uma figura da história portuguesa. Ninguém o contesta. Mas era um fascista. Não à italiana, não à espanhola e, ainda menos, à alemã. Um fascista à portuguesa. Autoritário à nossa maneira, pobrezinho e honrado, casto e perverso, mandante de assassinatos políticos e responsável máximo por uma estratégia que nos condenou ao isolamento, ao medo, que instigou a bufaria e o cheiro a mofo.
Não esqueço que Salazar ganhou um concurso televisivo em democracia. Que há um conjunto de portugueses que, no recato do silêncio, diz para os seus botões: “Não, o homem era um patriota. Era sério, se ele fosse vivo…” Irão continuar a dizê-lo. E por isso, senhor presidente da Câmara, o senhor é bem capaz de ter o seu museu cheio, mas isso não implica que não seja uma vergonha como presidente da câmara."»
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
Bombeiros Municipais da Figueira inauguram novo quartel dentro de duas semanas
foto sacada daqui |
Situa-se na Estrada Nacional 109, conhecida como Estrada de Mira, junto à Escola Secundária Cristina Torres. Fica num local amplo, praticamente plano e estrategicamente localizado no contexto da cidade, com bons acessos e numa artéria larga e com pouco trânsito, facilitando assim a saída de viaturas em marcha de emergência.
O equipamento está orçado em 946.210,72 euros e teve uma comparticipação financeira do fundo de coesão de 70 por cento.
A actual quartel, com mais de 100 anos, situa-se num local problemático (centro da cidade) e é assumido por Nuno Osório, comandante dos BMFF, como inconveniente, pela dificuldade na saída de viaturas, que atrasa o despacho de meios, para além de gerar, numa zona nobre, ruído.
quinta-feira, 14 de maio de 2020
Há pessoas assim: cheias de ódio e vazias...
quarta-feira, 17 de outubro de 2018
Leslie derruba Comandante dos Bombeiros Municipais da Figueira da Foz
O Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, João Ataíde, aceitou o pedido de cessação da comissão de serviço do Comandante dos Bombeiros Municipais da Figueira da Foz, Nuno Osório.
O pedido de cessação de funções surge na sequência das notícias tornadas públicas relativas aos acontecimentos da noite de 13 de outubro, com a passagem da tempestade Leslie pelo Concelho da Figueira da Foz. Este responsável operacional justifica o seu pedido com a determinação em não desgastar a Autarquia e o Município da Figueira da Foz, num momento em que a união de esforços é essencial para recuperar dos danos provocados pela intempérie, e a necessidade de poder livremente exercer o direito à defesa da honra, considerando que «nunca esteve em causa o comando e o controlo da operação» e que a sua ausência por um período de três horas, por motivos familiares e de premência de um mínimo de descanso para manutenção das condições físicas e psicológicas necessárias indispensáveis à tomada de decisões nas horas seguintes, foi devidamente preparada e acautelada.
Por decisão do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, sob a sua coordenação enquanto responsável municipal da Proteção Civil e coadjuvado pelo vereador do pelouro das Florestas, Miguel Pereira, as funções de comando serão interinamente asseguradas pelo 2.º comandante, Jorge Piedade, e pelo adjunto de comando, Carlos Pinto.
Via Notícias de Coimbra
sábado, 4 de setembro de 2021
Nem tudo é mau no facebook...
"A demência de Ricardo Salgado", um oportuno texto de Luís Osório:
quarta-feira, 22 de junho de 2022
Todos cometemos erros: até António Costa
"O que Costa fará a Temido", por Luís Osório
sábado, 4 de julho de 2020
Há Homens assim: "bons e generosos"
António Filipe (um homem visível e discreto)
Via Luis Osório"1.
Na passada semana, numa comissão parlamentar, um dos deputados pediu que fosse assinalado o aniversário de João Cotrim de Figueiredo, líder da Iniciativa Liberal. O conjunto dos deputados presentes na sala aplaudiu.
O político que lembrou o aniversário chama-se António Filipe, é comunista e um dos deputados que ficará certamente para a história do parlamentarismo português.
2.
António Filipe, doutorado em Direito Constitucional numa universidade holandesa, é um senhor – como sempre me habituei a ouvir. Mas um senhor que é firme na defesa das posições do Partido Comunista.
É absolutamente discreto, mas não deixa de surgir e de dar o corpo às balas.
É um diplomata e respeitado por todas as bancadas. Mas toda a gente sabe que nele a civilidade não se confunde com amiguismo ou necessidade de ser amado.
É um homem de pontes e um comunicador em quem se confia, mas nele não existe ponta de vaidade ou excesso de protagonismo.
3.
Não é nada fácil fazer que ele faz, ocupar o lugar que ele ocupa.
Ele é visível e discreto.
Ele é elogiado sem dar nenhuma importância aos elogios.
Ele fala como se tivesse todo o tempo do mundo, mesmo que apenas tenha dois minutos.
Ele tem poder pessoal, mas o poder em que acredita é coletivo.
Ele tem carisma, mas quando o dia termina desaparece para a vida que lhe importa, junto da família ou do seu partido.
4.
Há muito que procurava um pretexto para lhe escrever um postal.
Poderia ter tido pretextos mais fortes, mas esta semana, com o episódio de Cotrim de Figueiredo, António Filipe foi o de sempre, um homem bom e generoso para os outros sem deixar de ser comunista em todas as facetas que definem um comunista."
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
O drama e a dignidade de Né Ladeiras
Via Luís Osório
1.
Escrevo este postal do dia enquanto oiço “Sonho Azul”.
Né Ladeiras canta que “trocava a vida toda pela vida deste amor, meu sonho azul” e eu penso que a vida é, muitas e muitas vezes, inclemente, cruel, cega.
2.
Né Ladeiras é um nome importante da história da música portuguesa. De uma família de artistas assumiu muito jovem protagonismo na Brigada Vítor Jara e na Banda do Casaco. Colaborou com os Trovante e os Heróis do Mar e a sua carreira a solo fez o seu nome resistir até hoje.
Né Ladeiras.
Não me parece que haja alguém da minha geração, ou das gerações anteriores, que não saiba quem é ou que não tenha ouvido falar.
3.
Há menos de uma semana, Né Ladeiras apelou na sua página de facebook.
Não tinha emprego e não tem dinheiro ou forma de continuar a pagar as suas contas.
Um problema nas cordas vocais impediu-a de continuar a cantar e hoje e, apesar de todas as tentativas, teve a coragem de denunciar a quase impossibilidade de uma mulher com 60 anos conseguir ter um emprego.
Trabalhou num museu em Torres Novas num restaurante a fazer o que lhe pediam, em duas empresas de limpeza e duas pastelarias. Ao fim de poucas semanas agradeceram-lhe, mas outra pessoa, quarenta anos mais nova, acaba por ocupar o seu lugar,
4.
Né Ladeiras teve a coragem de usar a sua página de facebook para nos dizer: olhem, não consigo mais. Ajudam-me?
Fê-lo mantendo a sua dignidade – “Não quero nenhum coitadismo, nenhuma pena”
Mantendo a esperança – “Quero viver e sentir que valeram a pena todos este revezes”.
Contando de si sem complacências ou paninhos quentes – “Tenho procurado trabalho, sim, porque mil vezes viver dele do que ser dependente da ajuda de outros. Não falo por orgulho, mas dignidade”.
5.
Mora em Coimbra.
Deu-nos muito...
compreendo-a e antecipo que poderia acontecer comigo. Que poderia acontecer com qualquer um de nós.
Ver-me sem nada. Ver-me com uma mão à frente e outra atrás como o meu pai quando ficou doente.
Recordo bem, tinha pouco mais de vinte anos. De repente, vi o meu pai ter de viver em função da solidariedade de amigos ou da Santa Casa da Misericórdia. E fazê-lo com uma dignidade imensa. Nunca o admirei tanto como nesses anos de carência absoluta.
Impossível, também por isso, ficar indiferente ao apelo de Né Ladeiras. À sua dignidade, à sua coragem, à sua esperança.
E no seu exemplo abraçar os ”velhos” de 60 anos que parecem já ser vistos como mortos para quem tem o poder de empregar.
Pessoas que se sentem novas, mas que todos os dias se confrontam com o olhar dos outros, com a arrogância dos outros, com a recusa dos outros.
És velha.
Estás gasta.
Não tens energia.
Já te olhaste ao espelho?
Não dizem desta maneira, mas é isso que lhes dizem sem necessidade de usar palavras.
Não interessa o que fizeram, o que são, o que poderiam aportar.
É triste e não vem nas notícias, mas nem por isso é menos importante.
Puxo para trás o “Sonho Azul” e vou escutá-lo em silêncio. Como uma oração que dedico aos que, como ela, vivem numa encruzilhada que estavam longe de merecer.