domingo, 7 de setembro de 2025

As autárquicas e a normalização do Chega

Ângela Silva

«Vivi umas férias abusivamente longas cercada por cartazes de André Ventura. Dispenso sair da toca no querido mês de agosto, vivi Castro Marim e Moledo, Carrapateira e Sintra, Odeceixe e Aveiro (luxos à mão num país pequeno) e Ventura perseguiu-me. Ele tinha avisado – o Chega vai ter candidatos às autárquicas de 12 de outubro em todos os municípios do país – e como a matéria prima, pobre e escassa a nível nacional, é ainda mais pobre e escassa a nível local, Ventura tirou o coelho da cartola, clonou-se a si próprio, criou a ilusão de que o candidato às 308 câmaras é ele, e basta ir para fora cá dentro para ter uma experiência alucinante. O André está em todo o lado. Vai limpar isto tudo. E supera-se na arte de enganar o pagode.


Há nisto uma fragilidade que o político de que se fala não esconde. No seu predileto registo de vítima, tenta disfarçar a penúria de quadros, diz que “é difícil em muitas zonas do país”, porque “muitos candidatos [do partido] são atacados, ameaçados, condicionados” e “muito boa gente, infelizmente, não quer ou não sente condições de poder dar a cara" (Tadinhos!). Mas também há nisto (e há sobretudo) uma turbina que vai mudar, agora sim, os alicerces do mapa político. Começou nas legislativas, quando o Chega venceu em 60 concelhos. Mas o grande salto na implementação nacional do partido está projetado para outubro e confrontará o sistema com a morte das linhas vermelhas. Pedro Duarte, o ex-ministro que trocou o Governo pela candidatura da AD ao Porto, já perdeu os complexos - “Linhas vermelhas não fazem sentido nas autarquias”. E não tarda até que muita boa gente, da AD, do PS, e até do PCP, esteja em condições de subscrever um abaixo-assinado com esse título.

Imagine uma câmara da margem sul do Tejo ganha pelo PS ou pelo PCP, mas onde os cartazes de Ventura conseguem disputar poder e eleger vereadores. O que faz a esquerda? Diz que não fala com aqueles senhores porque não são gente decente nem confiável e arrisca deixar a autarquia bloqueada? Ou percebe que a paralisia lhe pode ser politicamente fatal e senta-se à mesa com os indecentes? No fundo, o que Montenegro está a viver a nível nacional para grande escândalo de alguma esquerda que ainda não percebeu o que aí está (claro que o segundo maior partido a nível nacional deve poder eleger juízes para o Tribunal Constitucional), é exatamente o que AD, PS e PCP vão ser desafiados a viver a nível local.

"Governar Sintra com o Chega? Não ponho limites, não tenho linhas vermelhas. Escolherei os competentes”, dizia por estes dias o candidato da AD a Sintra. Marco Almeida faz nos arredores de Lisboa o que Pedro Duarte faz no Porto e isto chama-se ceder à realidade. Em Sintra, o segundo município mais populoso do país, a vox populi não acha impossível Rita Matias ganhar. Nas freguesias da costa vicentina pejadas de imigrantes, a conversa de Ventura é manteiga no pão. No Algarve, no Alentejo e na Península de Setúbal estamos conversados, o mapa passou a azul nas legislativas e isso não se reproduz tal qual mas não desaparece em autárquicas. E no Norte, onde a direita conservadora tratou melhor de si, o combate da nova direita vai mais atrasado, mas Pedro Duarte lá saberá porque é que assinou o funeral das linhas vermelhas. O Chega, às costas de Ventura, vai ganhar câmaras mas vai, sobretudo, alargar a malha de norte a sul e o mercado a disputar é imenso. Estão em jogo 308 executivos camarários, mais de 3 mil freguesias, outras tantas assembleias municipais, num puzzle gigantesco a que concorrem milhares de cidadãos e é certinho que, mesmo com o risco de haver larápios na rede, o polvo do Chega vai crescer.

Há autarcas socialistas que viram o filme há muito tempo, quando recusaram deixar a Ventura o monopólio de temas que sabem tocar a vida das pessoas, seja o impacto social de uma imigração mal controlada, sejam os limites do Estado social. E o líder do Chega, mal ganhou as eleições nacionais com a ascensão a segundo maior partido, focou-se no combate que sabe ser decisivo: "Vamos ter bons autarcas para resolver os vossos problemas, de violência, de insegurança, de imigração e de mama do Estado, ao pé das vossas casas". Bons autarcas, nem pagamos para ver. O pessoal político de um partido não se compra no supermercado e há quatro anos foi o que se viu – o Chega elegeu 19 vereadores, que foram caindo como tordos com acusações de falta de democraticidade interna, e o partido falhou a implementação local. Mas isso foi há quatro anos, quando a maratona de Ventura ainda não tinha ultrapassado o PS no ranking nacional. Agora, já sentado à mesa dos grandes, o partido ganha poder de atração, ainda tem que recorrer sobretudo a deputados para se candidatar às eleições locais mas vai descobrindo novos artistas convidados e joga forte com a certeza de que é no poder local que as raízes se consolidam. O político nacional aparece na TV a sair de carros pretos, o político local está próximo, cruza-se na rua e no café, pára para ouvir queixas e passa a mexer cordelinhos, a gerir dinheiros, a mover influências, a ter verdadeiro poder.

Ventura chamou a este combate “o último degrau” e traduziu para quem não tenha percebido: “Antes de conseguirmos mudar este país como tanto queremos a nível nacional, nós temos de o conseguir governar a nível local”. Um partido unipessoal é uma doença ainda sem cura anunciada, não será desta que o Chega conseguirá ultrapassar a poderosa dupla que tem governado a Associação Nacional de Municípios, mas quando não se acha impossível Rita Matias morder os calcanhares à vitória em Sintra, não vale a pena ter ilusões.

PS e PCP ainda disfarçam de papo cheio, mas já não se livram do pão que o Diabo amassou. Há um processo de normalização em curso do venturismo. Seja bem-vindo ao Outono quente.»

Leituras

Pedro Correia, no Delito de Opinião


«Os livros dizem: ela fez isto porque. A vida diz: ela fez isto. É nos livros que as coisas nos são explicadas; na vida não são. Não me surpreende que algumas pessoas prefiram os livros. Os livros dão um sentido à vida. O único problema é que as vidas a que eles dão sentido são as vidas dos outros, nunca é a nossa.»

Julian BarnesO Papagaio de Flaubert (1984), p.216

sábado, 6 de setembro de 2025

Novas unidades em Tavarede, São Julião, Paião, Bom Sucesso e São Pedro (esta é a única empreitada em curso). As instalações de Buarcos e de Maiorca serão requalificadas

 Diário as Beiras

O «acidente» do Elevador da Glória é, de facto, o «acidente» da Lisboa neoliberal

Pedro Levi Bismarck

"Seria preciso encontrar um termo apropriado para o momento exacto em que um sistema deixa de ser capaz de dissimular e ocultar as suas próprias contradições. O «acidente» não é apenas o «milagre invertido», como dizia Paul Virilio, que expõe as fragilidades da tecnologia e do desenvolvimento: ele é o momento que expõe, na forma mais trágica possível, as contradições de todo um sistema político-económico. Está ainda, certamente, por fazer toda uma história do «acidente».

Deste ponto de vista, o «acidente» com o elevador da Glória não tem apenas um sentido simbólico, não é simplesmente uma metáfora, mas tem uma materialidade própria. É uma espécie de ponto de condensação onde se reúnem de forma catastrófica as consequências e os resultados das políticas económicas neoliberais que uma cidade como Lisboa tem seguido nos últimos anos: (1) externalização dos serviços de manutenção, isto é, privatização da manutenção da Carris e dos serviços públicos, isto é, precarização das condições de trabalho e obliteração das cadeias de transmissão de saber técnico (como realçava Paula Godinho num texto publicado no Facebook); (2) corte de financiamento da Carris (no ano de 2024) e a aparente transferência de uma considerável verba do orçamento desta empresa para apoiar esse megaevento que é a Web Summit e, portanto, a degradação dos serviços públicos essenciais, da infra-estrutura básica da cidade, à custa do nacional-deslumbramento dos grandes eventos unicórnicos e da grande epopeia do marketing das cidades-marca e das best destinations.

A idealidade absurda do neoliberalismo financeiro que Moedas representa é a cidade-Potemkin: puro fachadismo, pura encenação de si mesma. Cidade sem conteúdo, cidade reduzida a forma pura da sua rentabilidade económica. E, por isso, a política da privatização (neoliberal) é, antes de mais, a política de externalização sine die dos custos políticos e sociais (e, por isso, pode Moedas não se demitir, ao contrário do que fez Jorge Coelho aquando da queda da ponte de Entre-os-Rios).

O «acidente» do Elevador da Glória é, de facto, o «acidente» da Lisboa neoliberal: mas este deve ser visto, igualmente, como sintoma de burnout, sintoma de uma cidade em burnout, porque há, paralelamente à falta de manutenção, a questão da intensidade e da violência do uso de uma infra-estrutura que deixou de conseguir responder ao uso massivo que dela é exigido: justamente, o uso massivo de uma actividade turística que hoje tomou conta do centro da cidade de Lisboa, que devora e coloniza inteiramente a cidade. E, portanto, o «acidente» dá-se no centro, numa das zonas fundamentais de confluência e concentração do turismo de massas e atinge, justamente, um dos «ícones», uma das «representações» fundamentais da Lisboa-turística e da sua ideologia.

O «acidente» revela, assim, de forma tão abrupta, a materialidade social e económica que suporta a frágil encenação fachadista da Lisboa requalificada, da Lisboa cosmopolita, da Lisboa alegre, para expor a condição de uma cidade (como tantas outras) reduzida à pura condição de Luna Park, constituída por infra-estruturas degradadas e sobrecarregadas, uma cidade explorada intensivamente até ao ponto do seu colapso por uma especulação imobiliária animada pela utopia do crescimento sem fim do turismo e da reprodução mágica do capital financeiro. Neste sentido, devemos ver a impecável cor amarela dos elevadores como a superfície-ideológica que dissimula a degradação absoluta dos componentes que constituem a infra-estrutura oculta do funicular. A importância catastrófica do «acidente» na política moderna é justamente essa: o «acidente» é o momento em que o reprimido (a infra-estrutura) aparece de forma violenta na linguagem dissimulada da ideologia política (a superestrutura).

O «acidente» do Elevador da Glória é o «acidente» do neoliberalismo e das suas instituições: externalização, privatização, rentabilidade absoluta de tudo e todos até ao ponto iminente do colapso. Dizia alguém que a arte da política é a mentira. Ora, o «acidente» é o ponto trágico em que a verdade aparece enquanto tal. Todas as políticas têm custos e o «acidente» é, justamente, a forma política em que o custo aparece. Para a lógica política da contemporaneidade a fórmula só pode ser uma: quanto maior o «acidente», maior a mentira."

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

"O mundo" em Seiça já tem a lotação esgotada

 Diário as Beiras


O magnífico Parque das Abadias.

Este texto de Mário Reis, Biólogo, na edição de hoje do Diário as Beiras, merece ser lido atentamente. Pelos figueirenses e não só.
Pensar e construir a cidade não é tomar medidas avulso para o curto prazo. É fundamental planear e gerir
"O Parque das Abadias é uma demonstração de bom urbanismo, no respeito do ambiente e das pessoas. É um espaço muito agradável, sereno, procurado. Mas é mais do que isso. Surpreendentemente, ou talvez não, lá encontramos a fi gura do Arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles na sua génese. O parque foi pensado por Alberto Pessoa no âmbito da urbanização para fazer a ligação entre o Bairro Novo e o Bairro Velho, na primeira metade dos anos sessenta".
(Para ler melhor clicar na imagem)

O poder local não pode ficar entregue aos reformados

Ora cá está uma discussão que valeria a pena ter. Contudo, sá a partir do próximo mês de Novembro. Seria uma boa altura para se falar disto a sério, uma vez que depois da realização das eleições os espíritos locais e nacionais deverão estar bem mais calmos que nos próximos 30 e tal dias.

Em 2012, sabemos o que sucedeu, porquê e para quê. Conhecemos as consequências — e as causas — da agregação de freguesias, ocorrida por imposição da troika. Para que a assistência financeira externa entregasse o dinheiro necessário, tínhamos de diminuir o número de autarquias locais. Não havendo qualquer vontade — ou coragem — de suprimir municípios, as freguesias foram as vítimas escolhidas. Se analisarmos a Lei n.º 22/2012 e o que dela resultou, percebemos bem a ligeireza que presidiu a todo o processo e, sobretudo, o desrespeito completo pelas populações residentes. Foi dada a palavra às assembleias de freguesia e às assembleias municipais, mas nada do que disseram foi tido em conta. A sentença estava previamente redigida e a execução determinada. 
Mestres como somos nas artes do engano, aproveitámos uma singularidade nacional: a existência de dois níveis de poder local. Ludibriámos a troika — e lixámos o mexilhão nacional, o mais desprotegido dos mexilhões: as pobres freguesias, nomeadamente as de “territórios de baixa densidade”.  

Impõe-se questionar: numa situação de profunda crise económica, financeira e social, deveria dar-se prioridade a reformas deste tipo? Parece, a meu ver,  que a resposta sensata, é negativa, até porque é muito incerto que a redução do número de freguesias conduza, por si só, a uma redução sensível das despesas públicas. Por esse mesmo motivo, e em coerência, também não parece ser a altura mais adequada para avançar com a regionalização, não obstante os seus méritos potenciais.
É quase surreal que, numa conjuntura como era de 2012, se viesse a forçar esta reforma, que seria sempre difícil e complexa em si mesma, quanto mais quando conduzida sob a batuta coerciva e antidemocrática dos princípios defendidos pelo ministro Relvas em nome da Troika.
No caso concrecto da Figueira colocar a questão em 18, 10 ou apenas uma freguesia, quanto a mim é um falso problema.
Quanto a mim,  a verdadeira questão é: para que servem as freguesias?.. E como servem!..
Num ponto concordo com o antigo autarca José Esteves: "a gestão das juntas de freguesia não pode ficar entregue aos reformados".
Imagem via Diário as Beiras

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Coisas que só um avô nota e recorda: a escassez de zonas verdes...

Temos o magnífico Parque das Abadias.
Mas a Figueira precisa de mais espaços verdes.
Toda a gente sabe, mas talvez só quem tem netos ganhe a noção de quanto são importantes os espaços para os avós e as crianças brincarem.
Não falo apenas de parques infantis (pelo que conheço, poucos…) mas também de espaços apropriados.
No verão temos alguns insufláveis. Mas, passada essa época, voltamos â carência de espaços onde as crianças possam brincar livremente e em segurança.
Na Figueira cidade, durante todo o ano, temos o Jardim Municipal. E no resto do território figueirense?

O concelho não é só a cidade.
Governar para o futuro, é tornar o concelho da Figueira mais verde e amigo das crianças e das famílias.
Um território precisa de adquirir e consolidar espírito comunitário e de participação cidadā. 
Também por isso, há necessidade de mais espaços verdes e lúdicos.
Quem governa uma cidade tem de olhar primeiramente para as pessoas. 
O poder local não pode prioritariamente ter como base das suas preocupações o trânsito individual automóvel e o edificado.

Em 2025, a Várzea de Tavarede, tida como a zona da Figueira com melhores terrenos agrícolas, está betonizada com uma bomba de gasolina e grandes superfícies comerciais – Pingo Doce, AKI,  LIDL e o Continente.
Recorde-se: a Várzea de Tavarede e São Julião começou a ser destruída no consulado de Aguiar de Carvalho aquando da construção das Avenidas em cima de quintas agrícolas, ao invés de construir em terrenos sem uso agrícola, mas já cozinhados, na altura, entre a CMFF e a empreiteira Lurdes Baptista para futuros loteamentos…

Nesta zona da Várzea de Tavarede e São Julião e agora também Buarcos, foi proposto o Parque Verde da Cidade na campanha politiqueira de 2009 (tal como, anteriormente, propôs Santana Lopes na primeira passagem pela Figueira).
Em vez de zona verde, cuja implementação foi nula, os governantes figueirenses, ao contrário do prometido, tiveram foi vontade efectiva e rapidez em legalizar a construção da bomba de gasolina, do Pingo Doce, do AKI LIDL e Continente, no mesmo espaço projectado para o referido Parque Verde…
Duarte Silva, recorde-se, em parceria Aprigiana também tentou betonizar esta zona com um Centro Comercial operacionalizado por um ex. futuro assessor…

Na Assembleia de 12 de Outubro de 2012, que sepultou a freguesia de São Julião (cuja acta nunca foi publicada no site da CMFF), a Freguesia de Tavarede escapou à extinção ou agregação com uma prenuncia justificativa muito “delirante” de que era uma Freguesia somente RURAL… 
Tão rural que detém as maiores urbanizações do concelho da Figueira da Foz e maior concentração de superfícies comerciais!
A saber: Intermarché; L.leclerc; FozPlaza – Jumbo. Na Várzea “tida como a zona da Figueira com melhores terrenos agrícolas” tem o Pingo Doce, AKI , o LIDL e o Continente com 40 mil m2 de impermeabilização de solos.

A revisão do PDM de 2017, feita à pressa antes das eleições desse ano, atacou os corredores verdes.
O corredor verde das Abadias foi posto em causa ao permitir a construção de todo o gaveto que vai desde a frente do Pavilhão Galamba Marques até quase à frente do Centro Escolar, betonizando o corredor das Abadias.
Esse executivo municipal pretendeu alienar o Horto Municipal a uma superfície comercial, não tendo em conta que a construção neste espaço e consequente impermeabilização do solo acarretava problemas noutros pontos da cidade.
Essa revisão do PDM não levou em conta que os terrenos a norte e nascente do Parque de Campismo já deveriam fazer parte integrante do Parque (tal como decidido em reunião de câmara de 19/11/2007). A revisão do PDM de 2017, permitiu que continuassem como zona de construção.
No Corredor Verde da Várzea de Tavarede esse PDM validou o ataque às zonas verdes ao permitir a construção em toda a lateral da Avenida Dom João Alves, reduzindo em cerca de um terço a Várzea, pondo em causa até outros projectos municipais, como são as Hortas Urbanas.
 
A proximidade de  eleições autárquicas têm mostrado o nível em que se encontra a política figueirense.
Acho que chegámos àquele ponto em que é impossível continuarmos a rir da desgraça concelhia. 
A desgraça é que já se ri de nós. 
E  fá-lo descaradamente. 
Até onde mais podemos ir mais?
De parque verde já chegámos a retail park!...
Na imagem, na foto da esquerda, vê-se uma placa que esteve mais de duas dezenas  anos naquele local. Foi lá colocada na primeira passagem do Dr. Santana Lopes como presidente de Câmara da Figueira da Foz. Em 2009, passou a parque verde "virtual" em 3 D!.. E assim continuamos.

No outono do ano da graça de 2016, começou a desenhar-se o futuro retail park figueirense. 
Aos poucos,  as superfícies comerciais começaram a ocupar o espaço.
Sublinhe-se: do último espaço que restava à Figueira para um verdadeiro parque verde.
Mas, isto são coisas de velhos: só um avô nota e recorda...

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Volume de reservas para a primeira quinzena de setembro com sinais positivos

 Via Diário as Beiras

Sonhos: da cobertura do Coliseu Figueirense, passando pelo Anel das Artes até ao Multiusus de "localização privilegiadíssima"...

Imagem via Diário as Beiras
 O assunto não é novo

Que a Figueira tem necessidade de um espaço multiusus isso é uma evidência. Anteriores executivos camarários andaram à deriva entre a cobertura do Coliseu e o Anel das Artes. De concreto, porém, nada ficou, a não ser promessas eleitorais. 

Miguel Amaral há muito que admite que "o desiderato de instalar uma cobertura amovível e reabilitar o imóvel para o transformar num espaço multiusos coberto ficou mais difícil de alcançar, porque, sem apoio financeiro público – ao abrigo de um protocolo com o município – , a obra não avançará." 

“O investimento é de 2,5 ou 3 milhões de euros, sem contar com a reconversão do edifício para que o espaço possa reunir caraterísticas para qualquer tipo de espetáculos. Não temos capitais próprios [para realizar essas obras], porque um edifício com 130 anos requer obras contínuas de manutenção”.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

As trapalhadas de Luís Montenegro com a transparência e o escrutínio

 Via Jornal Público (Para ler melhor clicar na imagem)


Trump e a ditadura do gosto

 Via Jornal Público (para ler clicar na imagem)

Os gostos discuten-se, porque isso é discutir o País. O que não se discute é a terra árida que é a falta de gosto

Segundo o jornal Público, a Drª Margarida Balseiro Lopes, «é uma presença frequente na Universidade de Verão do PSD, mas na primeira vez que se dirigiu aos alunos enquanto governante que tutela a área da Cultura, queixou-se de falta de dados estatísticos sobre o sector, anunciou regulamentação para o Fundo de Fomento Cultural e ainda deixou notas mais políticas de que é “preciso evitar ditadura do gosto” e não ter “palas ideológicas”

João Sardo, escreve o que havia a escrever sobre esta prestação da ministra. Sem mais delongas aqui vai.

Na foto, a Drª Margarida Balseiro Lopes

«A frase, se não fosse sintomática, seria apenas ridícula. A ministra teme a “ditadura do gosto”. Eu temo a falta dele. E, já agora, temo o discurso morno, a ideia vaga e o receio de chamar as coisas pelos nomes.

Comecemos pelo essencial. Os gostos discutem-se. Sempre se discutiram, sempre se hão-de discutir. Só um povo amorfanhado pode acreditar que “os gostos não se discutem”. Discutem-se os gostos porque se discute o que nos molda, o que nos forma, o que nos transporta para cima ou nos arrasta para baixo. Discutir os gostos é discutir o país. É perceber porque é que deixamos que a televisão dite o que é entretenimento e porque confundimos “popular” com “pobre”. O que não se discute, ou melhor, o que não merece sequer discussão, é a ausência de gosto. Essa sim, é uma terra árida.

Esta máxima que nos é impingida desde tenra idade de que “os gostos não se discutem”, é o álibi perfeito para o conformismo. Uma almofada macia para quem não quer ser incomodado pela exigência, pela diferença, pelo risco. É a frase que legitima a repetição do banal. Se não se discutem os gostos, então tudo é aceitável: tanto faz Saramago como Gustavo Santos; tanto faz a Rádio Universidade de Coimbra como a RFM.

E discutem-se porque há gostos que abrem horizontes e outros que os fecham. Há escolhas que elevam e outras que entretêm. A política cultural deveria assumi-lo sem medo: não é tudo igual. Mas em vez disso, refugia-se em frases vagas, como esta, que não significa nada.

Ora, discutir os gostos não é ser elitista ou arrogante. Não é perseguir ninguém. Não é instaurar tribunais estéticos nem censuras encapotadas. É, pelo contrário, dar vitalidade ao pensamento crítico. Que há artistas que fundam mundos e outros que se limitam a vender. Que há valor, diferença e importância (e ausência deles).

E aqui chegamos ao coração do problema: este ministério. Ou melhor, saco de retalhos onde cabe tudo e, por isso mesmo, nada pesa. É um gesto político revelador: quem junta cultura, juventude e desporto não está a procurar sinergias: está a esconder a cultura. Está a desvalorizá-la.

Meus queridos, reparai no contraste: o desporto tem a sua força própria, visível todos os domingos, transmitida em direto, contabilizada em milhões. A juventude tem sempre garantido espaço mediático: slogans, programas, festivais de verão, discursos sobre o futuro. E a cultura? A cultura dilui-se. Desaparece entre os campeonatos e os “jovens empreendedores”. Passa a ser uma subsecção discreta, uma linha no organigrama, um gabinete sem autonomia.

O sinal político é claríssimo: a cultura, em Portugal, não merece ministério próprio. Não é prioritária. É apêndice, é decoração, é brinde. E um país que trata assim a cultura está a confessar que tem medo dela. Medo da sua capacidade crítica, medo da sua exigência, medo da sua diferença. O futebol é controlável, a juventude é manipulável mas a cultura é indomável. Por isso é escondida.

Enquanto isto, a ministra lamenta a falta de dados. Não percebe que não são dados que faltam. O que falta é critério. O que falta é coragem para assumir que há diferença entre gosto e ausência de gosto. O que falta é a noção de que governar a cultura é fazer escolhas difíceis, não é agradar à maioria (relativa).

Esse nivelamento preguiçoso pelo banal não fica por aí: infiltra-se, metastiza-se e e acaba inevitavelmente por ocupar os palcos mais solenes. E o resultado foi aquele espetáculo grotesco e simbólico: o cinquentenário do 25 de Abril celebrado em São Bento com Tony Carreira. Nada contra o cantor e quem gosta dele.

Trata-se de perceber o gesto.»

Culturas urbanas é tema de uma escola de verão no Campus da Universidade de Coimbra na Figueira da Foz

 Via Diário as Beiras (para ler clicar na imagem) 

Alerta

 Via Diário as Beiras