«Quando, no início do próximo ano,
Paulo Macedo apresentar mais de
mil milhões de euros de lucros da
CGD, é possível que muitos o
considerem um grande gestor. Paulo
Macedo está à frente de uma
instituição, a CGD, que não é (ou não
devia ser) um banco como os outros.
Em primeiro lugar, a CGD tem de
estar ao serviço das pessoas, mesmo
que isso implique estar em lugares
em que os outros não querem estar,
ou que não sejam rentáveis. Parece
que Paulo Macedo ainda não
percebeu isso. Nos anos da troika, o
Governo da AD “aproveitou” para
encerrar a maioria dos serviços
públicos no interior do país, desde
escolas a tribunais, etc. A não ser
que o ministro das Finanças o
obrigue a voltar atrás com este
escandaloso projecto, ninguém me
vai conseguir convencer de que por
detrás destas medidas não está uma
vontade política de descredibilizar
ainda mais a instituição CGD junto
dos portugueses, para assim abrir
caminho à privatização.»
J. Sequeira, Lisboa
«A retirada da CGD de vários locais do país, e o encerramento de tesourarias em várias agências não podem ser encarados como meros processo de reestruturação empresarial guiados pelo objectivo da redução de custos e do aumento dos benefícios. A Caixa, como banco pertencente ao Estado, tem obrigações óbvias de serviço público, cujo cumprimento vai ser mais uma vez reduzido. Mas não só isso. Outrora, as comunidades locais possuíam um factor de coesão estrutural e de solidez comunitária que consistia na presença de instituições-chave: a câmara, os Correios, a estação ferroviária, o hospital, a esquadra de polícia, a escola... e a Caixa. Estes pólos de referência da organização da vida local contribuíam para a fixação das populações. O carácter público dessas instituições era e é a única garantia de permanência e de qualidade do serviço. Veja-se o caso gritante da desgraçada privatização dos Correios, e da “privatização moral” dos caminhos-de-ferro, esfacelados na sua rede e abandonados a um destino decadente, por mor da nefasta obsessão rodoviária que vem dos anos 1980. Agora é a Caixa que entra na lógica do negócio puro e duro — isto é, da secundarização do serviço público e do progressivo abandono de locais onde sempre esteve. Esperemos que alguém com autoridade o impeça.»
António Monteiro Fernandes, Lisboa