Via Diário as Beiras
Mário Soares, de seu nome completo Mário Alberto Nobre Lopes Soares, nasceu em Lisboa, em 7 de Dezembro de 1924, filho de João Lopes Soares, professor, pedagogo e político da 1ª. República, e de Elisa Nobre Soares.
Casou com Maria de Jesus Simões Barroso Soares em 1949, falecida em 7 de julho de 2015.
Tiveram dois filhos, Isabel Soares, psicóloga e directora do Colégio Moderno, e João Soares, advogado e antigo deputado à Assembleia da República, e cinco netos - Inês, Mafalda, Mário, Jonas e Lilah.
Faleceu no Hospital da Cruz Vermelha, em Lisboa, às 15:28 do dia 7 de Janeiro de 2017.
Em 9 de Janeiro de 2017, dois dias depois da sua morte, Carlos Beja, candidato pelo PS, em 1997, ao cargo de presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, disse o seguinte sobre Mário Soares:
"Mário Soares partiu!
Foi com ele que muitos de nós apreendemos o significado da Democracia e Liberdade!
A sua ligação a Figueira da Foz era profunda e genuína!
Aqui passou férias enquanto adolescente atacado pela asma e com seu pai desterrado nos Açores!
Aqui, junto ao actual Teimoso, reuniu em 1949 com Álvaro Cunhal como nos confidenciou um dia ao almoço íntimo em Buarcos!
Aqui realizou alguns dos maiores comícios do PS!
Aqui realizou um sonho de gerações de figueirenses ao adjudicar a Ponte sobre o Mondego e as obras de regularização do mesmo rio!
Aqui veio inaugurar a primeira Fimar e aqui chegou na noite dos acontecimentos trágicos da Marinha Grande!
Aqui voltou na sua última campanha presidencial, no seu apoio a candidatos autárquicos e para receber a justíssima homenagem da Medalha de Ouro da cidade!
Tive a honra e o privilégio de o ter como amigo e de o ter acompanhado de perto em múltiplas eleições legislativas, presidenciais e em Viagens de Estado!
Hoje, como muitos Figueirenses, fui à sede concelhia do partido que fundou para assinar o livro de condolências!
Lamentavelmente estava fechado como se nada se tivesse passado, para além dum comunicado de circunstância!
Mas Soares é superior a tudo isso!
Viverá na nossa memória individual e coletiva como o Homem mais livre e mais jovem que conheci!
Obrigado Mário Soares!
Viva Mário Soares!!"
Lembro Mário Soares como uma grande vedeta política. No País e na Figueira.
Encheu a Fonte Luminosa em Lisboa. Mas, mais difícil ainda, também encheu a Fonte Luminosa na Figueira.
Mário Soares, consta, continua a ser uma referência. Foi o homem a quem Portugal deve não ter sido arrastado para o bloco comunista em 1975, tendo como expoente mais visível a manifestação da Fonte Luminosa, em Lisboa, no chamado Verão Quente.
Na altura, Portugal dirimiu. Portugal sentiu. Portugal decidiu.
Entretanto, Portugal deprimiu. Portugal ressacou. Resultado: Portugal recuou.
Em 1977 Mário Soares era Primeiro-Ministro e Henrique Medina Carreira ocupava o cargo de Ministro das Finanças.
Dizia o primeiro ministro de então, ao Diário de Notícias.
"Sou partidário de uma sociedade totalmente aberta e livre, em que se assegurem largamente os direitos humanos, mas não pode haver tolerância com a criminalidade, mesmo que esta se oculte sob o pretexto falacioso da razão política".
O povo andava entretido e, numa "alocução" ao País em 28/02/77, Mário Soares, o primeiro de então expressava a ideia do seu País.
"Nós não queremos, em Portugal, constituir ou criar uma sociedade de burocratas, uma sociedade de homens que vivem à mesa do Orçamento e à sombra do Estado. Queremos, em Portugal, criar uma sociedade de homens livres que tenham a capacidade de iniciativa própria, capazes de contribuir para a riqueza nacional".
Já nessa altura o problema era o "pilim". Portanto, nada melhor que uma crise para acordar os portugueses - mas isso foi em 1977.
"Não nego que exista uma crise em Portugal, crise que, no seu aspecto fundamental - o aspecto económico - poderá sintetizar-se em três tópicos: défice da balança de pagamentos, inflação, isto é aumento do custo de vida e do desemprego"(Comunicação ao País em 07/06/1977).
1977, tempo de dificuldades que, felizmente, agora foi ultrapassado.
E, "felizmente", foi ultrapassado através de uma reforma profunda das mentalidades, uma das principais causas para o nosso atraso e para a falta de produtividade...
Em 1977, os alicerces fundamentais do Portugal moderno foram, erguidos por Mário Soares. Hoje, como todos sabemos, respira-se um ar saudável e pujante.
“Um quarto da riqueza de Portugal está nas mãos de 1% da população”!..
Mas, isso são águas passadas...
Em Junho de 2014, Mário Soares, o fundador do PS e sempre um político virado para o futuro, teve, talvez, o seu derradeiro momento político, como interveniente importante: viu que António Costa era o socialista indicado para "unir a esquerda", coisa que António José Seguro, secretário-geral de então, não conseguia... Mário Soares fez a previsão de que o PS iria "ganhar por pouco" as eleições europeias e acertou. Foi então que Mário Soares, o ex-Presidente da República, decidiu tomar partido na guerra interna que depois das eleições europeias foi aberta no Partido Socialista, por causa daquilo a que foi o primeiro a chamar "vitória de Pirro". Na altura, Mário Soares, o ex-primeiro ministro, apoiou claramente António Costa para a liderança do PS e fez críticas muito violentas a António José Seguro, que, na sua opinião, nunca "ouviu os socialistas que não o bajulassem" e "nunca falou à esquerda". Em 2015, sabemos o que aconteceu: "Geringonça", uma nova palavra entrou para o dicionário da política portuguesa. Apesar de não ter sido o mais votado nessas eleições, o executivo socialista conseguiu governar quatro anos graças a um acordo escrito com os principais partidos à esquerda: PCP, Verdes e Bloco de Esquerda.
Na Figueira, Mário Soares continua a ser uma vedeta.
Já muita coisa foi dita sobre Mário Soares. Muito estará por contar. Até hoje não faltaram elogios e críticas. Não é de agora. Soares nunca foi consensual. A história vai-se escrevendo.
Mário Soares, por talvez ter vivido em tempos em que a política era uma arte nobre reservada aos grandes homens, nunca foi dado ao politicamente correto.
Soares nunca se escondeu e afirmou-se como político. Tomou decisões e defendeu opções. Fez escolhas difíceis e assumiu-as. Escolheu lutar contra o fascismo e os saudosistas nunca lhe perdoaram. Escolheu a democracia liberal e a CEE e os comunistas nunca o suportaram. Escolheu a descolonização e os "retornados" sempre o odiaram.
Foram essas escolhas que definiram o país que somos hoje.
Nota de rodapé.
Nos bastidores da política figueirense, elementos ligados ao PS/Figueira, acusam-me de várais coisas. Entre elas, de não gostar do PS.
E, se calhar, têm razão.
Previno, desde já, que a explicação é longa.
Quem tiver curiosidade, continue. Basta clicar aqui. Para mim será um gosto visitarem esta reflexão que publiquei em 13 de Junho do corrente ano.