"Na Figueira da Foz evoca-se aquele que é o filho mais notável da terra: Manuel Fernandes Tomás. Um exemplo de homem público que poucos poderão igualar. Seria bom que no país, e em especial na sua terra, nos tempos actuais, houvesse quem lhe seguisse as pisadas no amor à causa pública!"
O que se passa nos 379.05 km² do concelho da Figueira da Foz e com os cerca de 62 mil habitantes, cerca de 18 mil deles concentrados na freguesia sede do concelho, costuma interessar pouca gente.
Em 2021, na Figueira, com um executivo camarário democraticamente eleito, num País que tem uma constituição e leis que asseguram, na sua letra, uma ampla margem para a liberdade de expressão dos indivíduos, fará algum sentido alguém ter medo de expressar a sua opinião?
Do meu ponto vista não. Esse medo, a exisitir, teria reflexos no desenvolvimento do concelho em geral. A imposição estrita de reserva e silêncio, não deriva de leis. Deriva apenas do simples reflexo de defesa de quem se pode sentir discriminado por ter opinião. Deriva, por isso, por pressentir um reflexo de um autoritarismo de inspiração proto-fascista. Reflexo esse, aliás, que a existir, seria também de medo.
Medo que quem questiona certezas ou dúvidas; de quem poderia apontar a nudez dos reizinhos dos pequenos e grandes poderes; de quem não tendo poder efectivo para executar em nome de todos, poderia criticar o poder de quem o tem.
É nesse exercício de um direito de crítica, que as sociedades democráticas (como a Figueira só pode ser...) se distinguem: umas, concedem-no amplamente e sem muitas reservas. Outras, reservam esses direitos, apontando limites sempre com base em conceitos convenientes e bem estruturados, tendo em vista a lógica do poder em exercício no momento.
Há coisas complicadas e difíceis de explicar. A Figueira, aparentemente, não entrou ainda no clube das "amplas liberdades". Sente-se um medo do medo..
Quem tem o poder, deveria ter também o dever de não abusar desse poder.
Ao promover a crispação da sociedade, alargando o espaço do medo para o âmbito pantanoso da discricionariedade interpretativa, consoante o poder e as sensibilidades dos políticos do momento, usando a vontade de perseguir indivíduos ou grupos, para reprimir atitudes e gestos incómodas ou calar vozes de contestação, desmente-se, na prática e nessas atitudes, a essência da própria democracia que se diz defender e promover.
Numa sociedade que privilegia o unanimismo e o "respeitinho" como valores absolutos (quem não é por mim, é contra mim...), o obectivo é calar as vozes discordantes, reivindicativas e mais sensíveis aos erros e às injustiças do poder.
Contudo, isso é sempre uma tarefa impossível de eternizar. Mais tarde ou mais cedo surgirá a revolta. Foi assim, aliás, que surgiu o movimento das Forças Armadas, que rompeu as trevas em 25 de Abril de 1974.
Os que herdaram as mordomias trazidas pela democracia estão a esquecê-lo.
Sinais dos tempos ou, simplesmente, sinal inequívoco de que o poder inebria? E o poder absoluto, como sabemos, inebria muito mais.
Quem viveu antes do 25 de Abril e 974, tem memória do autoritarismo fascista - o da repressão efectiva e eficaz da discordância e dissidência, com a disseminação do medo generalizado de falar livremente e de afrontar os poderes fácticos instalados.
Não se trata de um problema da oposição. É mais uma questão de política interna a espelhar a luta pelo poder político.
Anda qualquer coisa irrespirável e bafienta no ar da Figueira.
Serei só eu que estou a dar por ela?