Como não ando por aqui para enganar ninguém, claririfico, desde já, que não gosto deste executivo camarário: pressinto-o desconchavado e com um elevado défice de competência.
Li ontem no jornal DIÁRIO AS BEIRAS, que o presidente da Câmara da Figueira da Foz quer construir na cidade um campo de futebol para estágios de seleções e clubes.
Carlos Monteiro disse isso na Assembleia Municipal que se realizou na passada sexta-feira. O autarca fez o anúncio quando foi questionado pelo deputado da CDU, Nelson Fernandes, sobre a necessidade de haver um campo de jogos com relvado natural, já que o único que existia, o do estádio municipal, está a ser substituído por relva sintética.
Registe-se, que já existe um centro de estágios no concelho: o Rosa Náutica, na Praia de Quiaios, que tem recebido clubes e seleções de diversas modalidades, nacionais e estrangeiros.
Em declarações ao DIÁRIO AS BEIRAS, Carlos Monteiro afirmou que o campo de futebol para estágios vai ao encontro da reivindicação de hoteleiros da cidade.
Porém, pelo menos para mim, tudo isto, em 2020, soa a estranho e roça um amadorismo atroz.
Os centros de estágios desportivo são considerados uma das heranças do Euro 2004, que se realizou em Portugal.
Registe-se que os centros de estágio desportivo têm, ao longo dos anos, contribuído positivamente para evolução de modalidades e desportistas nacionais.
Ao mesmo tempo têm dinamizado as regiões onde estão inseridos.
A renovação das infra-estruturas desportivas, das vias de comunicação e até de algumas unidades hoteleiras, são consideradas boas heranças deixadas após a realização do Euro 2004, em Portugal.
Um bom exemplo desta estratégia é Melgaço. A vila mais a norte de Portugal percebeu que uma das formas de combater a sua localização periférica poderia passar pela construção de um moderno equipamento desportivo, preparado para responder às necessidades de várias modalidades.
Foram investidos 15 milhões de euros.
Mais próximo de Lisboa, existe o Centro de Estágios de Rio Maior (que conheço bem, pois vivi em Rio Maior, por razões profissionais, alguns anos), que continua a atrair para uma área anteriormente pouco valorizada, milhares de desportistas. O Centro de Estágios e Formação Desportiva de Rio Maior, preparado para acolher as mais variadas modalidades, tem ainda capacidade para hospedar mais de 100 pessoas nas suas instalações, em condições em tudo semelhantes a um hotel.
Foram investidos largos milhões de euros. Na altura em que vivi em Rio Maior, parte da população questionava os milhões gastos nesta opção política de desenvolvimento, pois isso criou dificuldades ao desenvolvimento doutros sectores da vida do concelho.
Outro dos exemplos frequentes neste tipo de instalações desportivas surge na simbiose entre o conforto das unidades hoteleiras e a proximidade de centros de estágios. Ofir, em Esposende, e Quiaios, na Figueira da Foz, conseguiram conjugar o investimento privado em unidades hoteleiras de qualidade, com centros de estágios privados, ou municipais, que permitem taxas de ocupação frequentes durante o ano.
Na Beira Alta, cidades como Guarda, Seia, Gouveia, ou Celorico, já deram passos neste rumo, conseguindo, nos últimos anos, oferecer condições para que algumas das principais equipas de futebol nacionais procurem na região tranquilidade e bons equipamentos, mas, sobretudo, preços competitivos. Luso e Óbidos são outros exemplos.
No Algarve, diversas unidades hoteleiras e o bom clima, proporcionam boas condições de trabalho para as equipas que procuram a região, durante todo o ano, nomeadamente as cujos campeonatos param no Inverno devido às condições de tempo adversas.
É neste contexto que Carlos Monteiro quer competir no exigente mercado dos estágios de clubes e seleções de futebol, com "uma placa de relva natural, umas balizas, uma coisa simples" para encher os hotéis da Figueira da Foz?