Já todos sabemos o que se passou em Quiaios. Assistimos ao funcionamento da justiça, embora lento.
Foram os tribunais, no fundo o sistema de justiça, que apeou Fernanda Lorigo do poder.
O PS Figueira, a seguir, transformou um caso de Justiça num caso de política.
Neste momento, a freguesia de
Quiaios ficou sem o presidente da junta em funções, após a renúncia ao mandato
dos eleitos da oposição (PSD e CDU) na Assembleia de Freguesia.
Existe uma comissão administrativa provisória, até o Governo indicar uma comissão que
fará a gestão corrente da autarquia até à realização de eleições
intercalares.
A demissão colectiva dos eleitos do PSD e CDU aconteceu na sequência da
perda de mandato, imposta em setembro pelo tribunal, da presidente e do
secretário da junta.
Um problema que apenas teve a ver com a Justiça, transformou-se num problema político, dada a insistência do PS em tentar formar novo executivo.
PSD e CDU, em maioria na Assembleia de
Freguesia, fizeram o que tinham que fazer.
Na Assembleia Municipal realizada no passado dia 18, Quiaios não esteve representada por não existir presidente de junta.
Porém, Quiaios não deixou de ser falada na Assembleia Municipal.
Primeiro, o presidente da câmara participou à assembleia a ausência, quando o correto teria sido o presidente da assembleia a fazê-lo...
Depois, o deputado Nelson Fernandes, da CDU, criticou as declarações do ex-presidente de junta feitas ao DIÁRIO AS BEIRAS, nas quais defendeu que à oposição restava viabilizar um executivo de compromisso ou renunciar por não ter nada para oferecer à freguesia.
João Portugal, saiu em defesa do autarca quiaense.
Instalou-se alguma polémica, que se estendeu e envolveu, lamentavelmente, o presidente da assembleia municipal.
Não foi bonito e perdeu-se tempo.
No meio disto tudo, dei comigo a pensar onde ficou, neste caso de Quiaios, a tal ética republicana, tão cara ao PS, pois foi um conceito introduzido no debate político nacional por dirigentes do partido no poder no país e na Figueira.
Recordo que o político que se comportou com grande elevação e dignidade neste capítulo, dando um exemplo de ética que ainda é recordado, foi António Vitorino.
Quando era ministro da Defesa do Governo de António Gutierres, um jornal acusou-o de ter fugido ao cumprimento das suas obrigações fiscais. Perante as notícias António Vitorino apresentou a sua demissão, porque sobre um ministro do Governo não podiam recair suspeitas tão graves, isso apesar de a então Direção-Geral dos Impostos ter esclarecido que António Vitorino tinha cumprido com as suas obrigações.
Aliás, se bem me lembro, apenas teria sido cometido um erro processual que o prejudicou.
É assim que os democratas se deveriam comportar.
António Vitorino deu o exemplo, a partir daí passou a ser uma referência ética para toda a classe política, desde o Presidente da Republica ao presidente da junta de freguesia da aldeia mais recôndita, incluindo Quiaios.
Por isso, não entendemos porque razão o PS Figueira não retirou as devidas ilações éticas e morais e assumiu as consequências políticas em Quiaiois.
Querem que vos recorde o que se passou em 2014 na freguesia de S. Pedro, onde ainda sem julgamento e sentença dos Tribunais, bastou uma notícia de jornal, para acontecer a demissão do presidente eleito pelo PS, e a seguir a de todos os elementos eleitos pela lista do PS para a assembleia de freguesia?
Afinal como é: a ética republicana para o PS Figueira é uma coisa que se usa avulso?
Com o arrastamento do caso de Quiaios, o PS tentou impedir o que não poderia deixar de ser feito por imperativos éticos do seu partido e que vai acontecer, para bem da ética e do respeito que os políticos têm de merecer: o funcionamento da democracia.
São atitudes políticas, como a tomada pela concelhia do PS no caso de Quiaios, que contribuem para a profunda descredibilização da república e da democracia em Portugal. Deixem de "atirar areia" para os olhos dos figueirenses.