Quando o papel se tornou mais barato, por volta de 1860, apareceram por toda a parte milhares de jornais. Em Portugal também.
Isso ao princípio foi um escândalo de grandes proporções. Em Lisboa e no Porto, havia dezenas. Mas cada distrito e quase cada concelho tinha um. A Figueira chegou a ter seis a sair todas as semanas.
Para se atrair o público da pequena imprensa da província, os jornais de grande circulação passaram a contratar correspondentes nos mais remotos cantos do país. Milhares de pessoas enchiam diariamente toneladas de papel. De longe em longe, com boa prosa e notícias fiáveis; diariamente, com calúnias, impropérios e demagogia, em prosa de taberna. Como um todo, a imprensa era a versão primitiva de uma “rede social”. Ninguém se incomodava com isso, excepto os jornalistas que se davam excessiva importância. Num regime liberal (ou democrático), a necessidade de participar era geralmente reconhecida e até certo ponto respeitada. As “redes sociais” cobrem hoje muito mais gente. Ainda bem. O mal seria termos apenas cidadãos indiferentes ou apáticos.
Tenho uma curiosidade que, um dia, gostaria de ver satisfeita.
Quanto terá gasto, por exemplo em 2017, a Câmara Municipal da Figueira da Foz, que se queixa de não ter dinheiro, com os denominados eventos: festejos natalícios, passagem de ano, iluminações, fogo de artifício, festivais, carnavais, concertos, marchas, policiamento (porque certos prazeres não vão sem policiamento), animação de verão, joguinhos de praia e outras folias.
Os figueirenses e os que nos visitam precisam de se divertir.
Mas, a meu ver, não estava determinado que a Câmara devesse fornecer felicidade e entretenimento à cidadania.
Agora, nenhum executivo escapa a essa obrigação.
Por causa do turismo? Claro que não. As receitas não chegam para as despesas...
Se o Estado confiscasse às Câmaras o dinheiro que gastaram nestas futilidades, não faltariam maneiras de o usar inteligentemente.