sábado, 9 de maio de 2015

Terra e Mar

Mário Esteves e João Ataíde. Foto AS BEIRAS
É tão simples como isto: duas palavras que são duas ideias. 
Duas palavras que são duas forças da natureza e do pensamento. 
A Feira de Sabores Terra e Mar abriu ontem as portas no Parque das Gaivotas e, até amanhã ao fim da tarde, os visitantes vão ter oportunidade de apreciar os diversos serviços que o concelho oferece, no âmbito do turismo. Da doçaria tradicional aos enchidos, até às agências de viagens, há de tudo um pouco no pavilhão multiusos (Parque da Av. de Espanha). 
Mas, o “prato” forte são os peixes da costa figueirense. 
João Ataíde e Mário Esteves, presidentes da câmara e da Figueira com Sabor a Mar, entidade que organiza o evento, cortaram, ontem, a fita. 
Em setembro, de 4 a 6, repete-se o certame. 
“É uma experiência que estamos a fazer”, explicou na oportunidade Mário Esteves, a propósito de se realizarem duas edições no mesmo ano. 
A primeira estava programada para a abertura do referido festival, que começou no dia 1 e termina amanhã, mas a autarquia já tinha o pavilhão do parques das Gaivotas reservado para a data pretendida!... 
Perante o que citei, só posso agarrar-me ao infinito e alargar o olhar. 
É o que resta, pois para os coordenadores dos espaços públicos figueirenses, o fim só pode ser o céu. 
Porém, como eu sou duma terra chamada Figueira, o autocarro do sonho já me deixou na paragem, em terra, há muito tempo.

Ai credo, que imundice, que porcaria, que nojo de sociedade (mas, como o que é preciso é ser “vencedor”, o resto que se lixe)...


Para Paulo Portas, no mínimo, a dignidade pessoal é um conceito muito próprio.
Tem um jogo de cintura tão apurado que, mesmo um vexame público, pode ser ultrapassado achincalhando-se a si próprio.
Para tentar continuar no governo e ter mais deputados do que o partido de que é presidente vale, para Portas tudo tem um preço - até a dignidade!..
Esta atitude Portas, ao contrário do que muitos possam pensar, não tem apenas a ver com ele e com o seu partido: tem a ver com a democracia portuguesa.
Numa democracia, os cargos políticos e a política não pode ser apenas uma actividade destinada a ser exercida por heróis ou por crápulas.
Os primeiros, por serem Homens excepcionais, sairiam sempre incólumes de todos os ataques.
Os segundos, também sairiam incólumes, por serem protegidos pelas regras da indignidade da sociedade em que vivemos, de que seriam eles próprios os mentores e os gestores.

Porém, como a democracia em que gostaria de viver tem a ver com um regime de cidadãos que responderiam em igualdade de direitos e deveres perante a lei, os políticos têm de ser cidadãos comuns, empossados pelo voto da comunidade, em funções executivas ou de representação.
Eu sei que sou ingénuo, mas não pensem que não sei que vivemos numa sociedade do faz de conta.
Por exemplo, as elites figueirenses – para não irmos muito longe e ser um exemplo de proximidade e acessível... - em voz alta, porém, não muito alta, dizem: que imundice, que porcaria, que nojo de sociedade...
Mas, em voz baixa, baixíssima, pensam: ora, o que é preciso é “vencer”, o resto que se “lixe”... 
Esta é a realidade em que vivemos.
Por isso, é que os homens sem palavra e sem dignidade são os melhores e os que triunfam - na Figueira e no País...  

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Mais português que isto não há!..

Nem eu, nem este blogue, somos de intriga mas, li no jornal que "Funcionária do Fisco compromete Passos, São Bento contesta"...
Fisco detecta acesso a dados do primeiro-ministro no final de 2014, que funcionária justifica com pedido do próprio. Gabinete de Passos Coelho nega “tratamento de favor”.
A ser verdade, ser português é isto mesmo: até um primeiro ministro, num assunto pessoal, em vez de pensar à grande e exigir à patroa (a ministra das finanças), mete  uma cunha (a uma funcionária das finanças)...

A vida, em comunhão com a natureza, com as alegrias e agruras que isso implica, não pode tolerar histórias protagonizadas por "estes animais" ...

Uma narrativa dramática que ilustra a bestialidade do ser humano.
Divertiram-se a disparar sobre gato e colocaram vídeo na net!..
Mafalda Campos, fundadora da AMOVER, lamenta que estes casos sejam "representativos da realidade portuguesa"
A jurista garante que, no que toca à defesa dos animais, "Portugal está 150 anos atrás de países desenvolvidos", como a Alemanha ou Inglaterra, e que precisa de uma legislação mais forte que iniba os infractores. 
"Os jovens já não são propriamente miúdos e se a melhor coisa que têm para fazer é atirar em gatos, alguma coisa está errada”.

E vivemos em democracia...

“Quem diz o que pensa está lixado”, é o título da primeira página do Jornal de Negócios que hoje publica a entrevista feita a Fernando Dacosta, escritor e antigo jornalista.
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade da democracia era a de tolerar?..
Ah pois!.. Vocês pensavam que a melhor qualidade da democracia era a de vivermos numa sociedade onde ninguém faz sangue, onde não há repressão e gente morta pelas injustiças?..

A democracia é deliciosa e boa e é maravilhosa quando dá tempo de antena a Santanas que são Lopes, a Cavacos que são Silvas, a Paulos que são Portas, a Passos que são Coelhos, a Dias que são Loureiros e a outros Antónios que são Costas.
O título de primeira página da entrevista (que ainda não li) dada pelo Dacosta, que é Fernando, deve vir na esteira disto, que é o que penso: a vitória da actual política de Salazar recauchutada, fica a dever-se, mais coisa menos coisa, ao incumprimento de Abril, à miséria paroquial em que vivemos, ao defraudar de expectativas que esta democracia atraiçoada e de «baixa intensidade e qualidade» desencadeou por quem esteve no poder disfarçado de esquerda.

As cicatrizes das nossas vidas ficaram mais expostas, por causa dessa mentira que os mesmos querem continuar.
Estas palavras ferem, como devia ferir o inferno a quem nos conduziu até aqui: a verdade da realidade, não merece menos do que isto...
Não somos detentores de nada. Não possuímos nada. Nem os bens que julgamos serem nossos – dinheiro, carros, casas, etc.. Nem, no final, o nosso corpo. Nem, no final, a nossa alma. Neste momento, nem à verdade temos direito. Neste momento, nem já, ao menos, a uma ilusão.

No fim, não somos nada. Não resta nada.
Para alguns, durante algum tempo, enquanto alguém se lembrar da nossa passagem por aqui, seremos fantasmas de mentiras que criámos e sombras de ilusões que alimentámos.
A memória do que resta da maioria de nós – restam os que conseguem libertar-se da lei da morte: Camões, Pessoa, Eça, Cunhal, talvez Saramago... - é como as nossas vidas: oca e vazia, por fora e por dentro.  

O “Corinthian" chegou e já foi embora, mas entretanto houve a sessão de boas vindas...

foto descaradamente sacada daqui
Conforme o previsto, o cruzeiro Corinthian com cerca de uma centena de passageiros chegou ontem à Figueira da Foz por volta das 9 horas da manhã.
Os americanos pisaram chão figueirense ao som do rancho da Casa do Povo de Maiorca e ao sabor do chá de limonete e da doçaria local. Por outro lado, ficaram também a conhecer a hospitalidade figueirense e as aptidões de dançarino do “mayor” João Ataíde, quando o autarca se juntou aos estrangeiros e ao rancho numa dança tradicional, na recepção realizada no porto. A administração do porto e da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz (ACIFF) e representantes de várias entidades também deram as boas-vindas aos turistas.
Depois, os turistas fizeram-se à estrada, em autocarro, e a comandante do navio, recebeu os convidados e os jornalistas. 
“Vocês vivem no paraíso”, elogiou a anfitriã e comandante do navio Vera Zee Desmovic. 
“Nós sabemos que vivemos no paraíso”, gracejou, por sua vez, o presidente da câmara, visivelmente bem disposto.
Pudera, o dia tinha começado bem: depois das resmas de cruzeiros que nos últimos anos demandaram a Figueira – está já previsto, mais um para outubro, será o quarto, depois do de ontem: o primeiro foi em 1990 e o segundo em 2010 - Braga da Cruz, presidente da administração dos portos da Figueira da Foz e Aveiro, tinha já mostrado disponibilidade em criar melhores condições para receber pequenos cruzeiros, desde que a procura o justifique. O que, aliás, vem  também ao encontro dos desejos da ACIFF.
Aliás, uma cidade como a Figueira, servida por várias autoestradas, comboio e porto de mar que até já recebe cruzeiros, só pode aspirar a voos mais altos.
E o futuro, que vai ser ser risonho, está já aí. 
“O aeroporto virá a seu tempo”, disse João Ataíde aos jornalistas: “há aceitação - por parte da Força Aérea - para se criar uma gare civil na base aérea de Monte Real, desde que haja uma empresa que a queira explorar”, deixou cair ontem o autarca da Figueira da Foz visivelmente satisfeito com os resultados da passagem deste cruzeiro pelo porto da cidade de que é “mayor”, e que ontem não deixou os seus créditos em mãos alheias e mostrou o seu «charme» aos turistas do cruzeiro.

Os figueirenses, limitaram-se a ver o navio... Já a recepção preparada pelo Município e pelo Porto da Figueira da Foz, com a colaboração de vários operadores figueirenses, como as fotos que podem ver clicando aqui demonstram, foi muito apreciada pelos visitantes: não é todos os dias que se podem provar as nossas Brisas da Figueira, beber chá de Limonete e apreciar os dotes artísticos do "mayor" da Figueira !..
Não sei se alguém colocou, ontem, ao "mayor" da Figueira esta pergunta:
- Então, bem disposto presidente?
Se assim aconteceu, a resposta foi de certeza esta:
- Sempre!

Pronto... não volto a questionar...
O navio saiu ao final da tarde de ontem. Pode ser que para outubro haja mais... 
Comparável ao sucesso da passagem de navios de cruzeiros pelo porto da Figueira da Foz, só a passagem de aviões pelo aeroporto de Beja!

quinta-feira, 7 de maio de 2015

"Os homens sem qualidades", que conseguem fazer tudo a que se propõem... Isto, só em Portugal!..

Falta de vergonha, mesmo falta de vergonha é isto:
"Não é mais uma questão de cu e de calças, de bota e de perdigota, ou do que é que uma coisa tem a ver com a outra. Não é também só uma mera questão de lata. É mesmo de falta de vergonha!
A mesma velha falta de vergonha. Da Tecnoforma, dos rendimentos escondidos em despesas, da Segurança Social. Ou a da reserva da privacidade na doença, tão facilmente mandada às urtigas ao sabor do mais rafeiro eleitoralismo!" 
Conclusão e moral desta "estória" (se esta "estória" tem alguma moral): a biografia de Passos Coelho não passa de uma mentira, a acreditar em Portas, que já a desmentiu!..
Resta saber se o desmentido seguiu por SMS...
Contudo, o importante é o que continua por explicar em torno da imunidade de Dias Loureiro: "A antiga directora do DCIAP afirmou não poder dizer por que é que o processo do ex-ministro não foi encaminhado para a Judiciária."
O importante era saber o que leva Passos Coelho a elogiar tão frequentemente Dias Loureiro!..
Será porque "conheceu muitos mundos"?..

Maria...


O “Corinthian” já chegou...

foto António Agostinho
... e os turistas devem estar a caminho de Coimbra!..
Mais fotos aqui.

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Novo look

Hoje, logo de manhã, subi as escadas que dão acesso a esta belíssima paisagem.
Como levava a máquina fotográfica, disparei ao mesmo tempo que cruzava o olhar e o pensamento com o calor da paz que nos proporciona o descanso.
Depois, ao chegar a casa, editei a foto e vi que não há mar mais belo do que a água da verdade.
Por isso, só por isso, esta a foto, a partir de hoje, passa a ser o novo look deste blogue.

Não há nada mais triste do que a ausência de tudo...

Quando assim acontece, resta tentar explicar o sonho sem dizer nada...
“Figueira da Foz aposta no mercado de cruzeiros de pequena escala”!..

É já amanhã, mas os figueirenses vão limitar-se a aquecer a água com que outros se vão lavar...

O cruzeiro “Corinthian”, que partiu de Roma, escala amanhã o Porto da Figueira.
A chegada está prevista para as 07H00 e a largada do cais da nossa cidade deverá acontecer pelas 21H00.
Após a sua chegada à Praia da Claridade, os turistas terão uma recepção local, que incluirá folclore, entre outras surpresas.
Esta escala na Figueira da Foz terá uma duração de cerca de uma dúzia de horas, aproximadamente, seguindo os turistas para Coimbra, onde farão uma visita à Universidade, almoço e uma sessão de fados de Coimbra.
Recordo o que escrevi um dia destes aqui.
Aquilo que os políticos nunca conseguiram fazer, a realidade acabou por definir e decidir: turisticamente, a Figueira, há muito que não é uma cidade atractiva e, muito menos, aliciante.
E, isso, explica-se facilmente: há muito que perdeu a essência.
E, perdida a essência, o que é que os turistas vêm cá ver?..
Mais do que lamentar, vou ter pena da Figueira amanhã se limitar a ver passar o navio.
Antes do mais, porque os estrangeiros ricos (melhor dizendo, "ricos e de um estrato social muito elevado", como informou na Assembleia Municipal de 30 de abril p.p., a deputada PS Isabel Tavares) poluem menos, são pessoas mais civilizadas e gostam de preservar o seu espaço.
Mesmo o pouco lixo que, porventura, pudessem fazer, se fossem ao ex-libris balnear da Figueira, a Praia dos Tesos,  teria outra classe: as garrafas de água seriam certamente do Luso e os frascos de perfume da Chanel...

O sucesso do self-made man português: de Dias Loureiro, a Passos Coelho, passando por Duarte Lima e Alves dos Reis...


No dia 1 de maio passado, com um post intitulado, “A ausência de vergonha na cara é total: nem se dão ao esforço de disfarçar...”, abordei o assunto de forma simples e objectiva: editei um video com Passos Coelho a discursar em Aguiar da Beira. 
Depois de ouvir as palavras de Passos Coelho, fiquei deveras interessado no desenrolar da próxima campanha eleitoral.
Compreensivelmente, aliás: a seguir à oportuna referência a Dias Loureiro, "um dos responsáveis impunes do BPN", em Aguiar da Beira, estou curioso e espero estar cá para ver o que vai dizer Passos Coelho no comício de Lisboa - a cidade natal de Alves dos Reis – e na sessão de esclarecimento de Peso da Régua - onde viu a luz do dia Duarte Lima... 

Na crónica de hoje no jornal AS BEIRAS, o engº. Daniel Santos escreve sobre o tema e lembra Thomas Piketty, escritor que esteve recentemente em Portugal. 
Para compreender o actual estado da Europa, temos de recuar aos anos 80 do século passado. A eleição de Reagan nos EUA, depois de antes os ingleses terem escolhido de Thatcher, deu início à derrota do arranjo político e social, que saiu das ruínas do capitalismo dos anos 20 e 30 do século passado e abriu um espaço de convivência e de solidariedade ao construir a social democracia europeia. 
Dados minuciosos sobre a evolução do emprego, dos salários e da distribuição da riqueza e da renda não deixam nenhuma dúvida sobre a natureza das agruras vividas pelos assalariados e dependentes nas últimas décadas. 
A eclosão da crise de 2008 tornou ainda mais grave e ainda mais confrangedora a sensação de que a situação vai ficar pior: tudo se discute menos o essencial. 
Entretanto, a concentração da riqueza nos Estados Unidos e na Europa acentua-se cada vez mais. Os 10% mais ricos detêm 60% a 70% da riqueza, representada por imóveis, acções de empresas, títulos públicos e outros activos financeiros. 
A crise está aí e afecta o quotidiano de quase todos nós: as suas consequências já afectam profundamente as formas de convivência social criadas no Pós-Guerra e que sustentaram as democracias. O que se observa é que as democracias, massacradas pelo poder da finança, parecem impotentes para arranjar soluções que preservem os direitos sociais e retomem o caminho da prosperidade compartilhada. Desembocámos numa crise estrutural da vida civilizada. É isso que está verdadeiramente em causa. 

Em Portugal, estamos quase no verão. Desconheço se este verão vai ser quente pelos critérios da meteorologia. Aliás, nem sei se os meteorologistas sabem. 
Contudo, sei – todos sabemos - que vai ser quente na política. 
A televisão, nesta manhã informativa, não se cala com o lançamento do livro “Somos o que escolhemos ser”, uma biografia do primeiro-ministro.
O livro foi escrito por uma assessora do grupo parlamentar do PSD e editado pela Alêtheia de Zita Seabra e conta o Verão quente de 2013. 
Sobretudo, o massacre da manhã informativa de hoje nas televisões, assenta numa citação de  Passos Coelho: «Fui almoçar e quando ia a caminho da comissão permanente, às 15h00, recebi um sms do dr. Paulo Portas a dizer que tinha refletido muito e que se ia demitir.»
Paulo Portas já reagiu  e desmente a revelação de Passos Coelho na biografia: «O pedido de demissão do então Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros aconteceu na manhã de 2 de Julho de 2013, e foi naturalmente formalizado por carta».
É a isto que se vai resumir a próxima campanha eleitoral nos órgão de informação?..
Esta é uma preocupação que tenho no momento que passa.
Os portugueses vivem no medo - desde logo o medo de ficarem desempregados... - e quem não tem coragem para saltar o medo, não consegue encontrar a porta de saída.

Reapareceu o 2711, um blogue que merece ser lido

 «Numa altura em que muita da blogosfera de opinião desapareceu, onde se perdeu a interacção da opinião fundamentada e troca de ideias, numa altura em que quem manda são os vídeos dos gatinhos, o 2711 regressa ao inicio.»

terça-feira, 5 de maio de 2015

Finalmente, as dunas a sul do quinto molhe estão a começar a ser refeitas!..

foto António Agostinho
A ocupação desordenada do litoral contribuiu para situações de desequilíbrios e fenómenos de erosão costeira que têm vindo a pôr em causa a segurança de pessoas e bens.
Foi o que aconteceu  a sul do porto da Figueira da Foz,  depois das obras do prolongamento do molhe norte em 400 metros,  onde nos últimos anos se agravaram os efeitos erosivos a sul do "Quinto Molhe".
Por aqui, nesta outra margem, a protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem, há muitos e muitos anos.

Neste blogue, já em 2006, andávamos a fazer alertas para o estado em que se encontrava a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova.
Escrevemos, então que, "por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perdia-se a oportunidade de resolver o essencial..."
Foi o que aconteceu.

Hoje, depois de anos e anos de alertas e preocupações sinto-me mais aliviado: as dunas a sul do quinto molhe, desfeitas pela natureza e pelos erros cometidos pelos homens, estão a ser refeitas, como a foto acima e as que podem ver clicando aqui, atestam.
Só é vencido quem desiste de lutar por aquilo em que acredita. 
Nunca duvidei que o bom senso acabaria por imperar.
Contudo, o "Alerta Costeiro" vai continuar.
A Liberdade é isto - mesmo que a justiça não seja realizada, a liberdade preserva o poder de protesto contra a injustiça e ainda pode contribuir para salvar a Aldeia...

"Um dákar de pacóvios", ou a cultura do deserto figueirense...

“A Figueira da Foz confronta-se há muitos anos com um dos efeitos mais visíveis do prolongamento dos molhes (obras projectadas pelo estado para beneficiar a navegabilidade fluvial e o acesso ao porto comercial). 
Sem responsabilidade na obra, o município ficou, desde então, com o ónus dos seus efeitos colaterais: o crescimento exponencial da sua praia urbana, a Praia da Claridade. 
Assim, todos os anos, em vésperas de época balnear, o município tratava de, como se diz por cá, alindar uma praia cada vez mais interminável - o que consistia em revolver, crivar  e terraplanar, por métodos mecânicos, aquelas finas areias de modo a impedir que aí medrasse a menor réstia de vegetação. 
Este deserto, esmeradamente cultivado ao longo de décadas, formatou no imaginário dos figueirinhas o postal da praia; tornou-se, com o tempo, numa espécie de imagem d’Epinal. Muitos deles não concebem uma praia com dunas e vegetação. O seu entusiasmo com o “oásis do Santana” só confirma aliás a concepção arraigada da praia como um deserto, um berço de sereias terraplanado até à rebentação.

Por isso, a atitude sem precedentes do actual executivo camarário de, contrariando uma longa tradição, decidir deixar pura e simplesmente de subvencionar o cultivo anual do deserto, foi uma pedrada no charco que me pareceu desde logo algo realmente “fora-da-caixa”. 
E, ao deixar de “lavrar a praia”, o município permitiu-se poupar, ao que me dizem, cerca de 150 mil euros por ano (seiscentos mil num mandato, para o lobi do tractor). 
Amplamente criticado pela oposição e por um certo beautiful people que pontifica nas redes sociais, o executivo de João Ataíde resistiu galhardamente às críticas e aos remoques com o argumento de que essa simples decisão de tesouraria lhe permitiria ainda deixar crescer espontâneo um coberto vegetal natural que fixaria as areias (protegendo a avenida do assoreamento sazonal pelos ventos) e potenciaria a prazo a consolidação de novas áreas aprazíveis, aproveitáveis para a fruição dos cidadãos. 

Parecia-me um “ovo de colombo”, tão simples e evidente que era um espanto que nunca ninguém se tivesse lembrado de tal – não só sensato e avisado, mas genial - o verdadeiro sonho molhado de qualquer autarca minimamente honesto e inteligente numa época de vacas magras: a possibilidade de “fazer obra” sem gastar um chavo do erário público.”

Este naco de prosa foi sacado daqui. Depois, a prosa da postagem do Fernando Campos, que aconselho a ler na integra,  azedou.
Entretanto, o vento passou pelos gabinetes camarários e arrastou a inércia para longe. A anarquia, como podem ver na foto, chegou e atropelou a tradição da praia. Por isso, a confortável tradição da praia, acabou por tropeçar em maus tratos inesperados.
O mar, ali tão perto, apesar do deserto, consegue estar ao alcance do cheiro do meu nariz e sobrevoa o sossego de um pensamento.
Estremeço por ver este atentado sórdido e não encontro motivo que leve a permitir tal coisa.
O deserto de ideias dos políticos figueirenses, sem nome, é o único pensamento mais coerente que me surge à rotina do cérebro.

Abro os olhos e o mar continua a mandar fúrias para os meus olhos.
E penso “nos milhares de labregos que se sentem vexados porque nascem tomateiros na praia mas não se sentem indignados pela “erecção” do busto de Aguiar de Carvalho à porta do município (não o acham obsceno); nem atingidos com o fecho da maternidade (não a acham necessária); nem ofendidos por o seu hospital público funcionar dentro de um parque de estacionamento privado (não acham ultrajante). A estes pacóvios nunca ocorreria assinar petições contra nada disto. Nem sequer a favor, por exemplo do cultivo da várzea (não o acham estruturante), ou da reflorestação da serra (não a acham imperativa). Porque nada disto os afecta.
O que realmente os tira do sério é o que vegeta na praia. A cultura do deserto.”

Afinal aconteceu: foi no passado dia 30, quinta-feira e está hoje no jornal...

Mais de dois meses depois, “Alerta costeiro 14/15”, uma exposição fotográfica de Pedro AgostinhoCruz, ainda não conseguiu ser inaugurada e continua a ser notícia...
Hoje - que foi o dia a seguir à ironia ter saido à rua com os dentes afiados - depois de na passada quinta-feira a deputada municipal Ana Oliveira ter apresentado uma moção que propunha a realização da mesma exposição nos Paços do Concelho, o assunto merece destaque no jornal AS BEIRAS.
Na sessão da assembleia municipal realizada no último dia do mês de Abril de 2015, a troca de argumentos entre os partidos representados naquele órgão autárquico envolveu “os valores de abril”em particular a liberdade de expressão: o autarca de São Pedro, eleito por uma lista PS, foi acusado de falta de cultura democrática.
Bonito, mas bonito mesmo, para mim, que por mero acaso estava presente no salão nobre dos paços do concelho, foi ter presenciado a bancada do PS figueirense na Assembleia Municipal, na discussão da proposta, cometer o mesmo erro que o presidente de São Pedro, dois meses antes: como sabemos, na vida ou na política, se avançamos, sem retaguarda, deixamos para trás a hipótese de recuar. 
E isso, mais cedo que tarde, costuma sair caro...

Daí, esta iniciativa da oposição quase ter sido aprovada, não fosse o voto de qualidade do presidente da mesa, José Duarte.
Tudo porque alguns deputados socialistas, a meu ver, certamente pouco confortáveis com o sentido de voto da bancada a que pertencem, num assunto tão delicado, melindroso e sensível, para os verdadeiros socialistas - tem tudo a ver com a liberdade de expressão e de pensamento - se terem ausentado da reunião momentos antes da votação, verificando-se o tal empate (16-16 e uma abstenção).
Para Ana Oliveira, do PSD e a autora da proposta, "esta visava despertar as consciências para o problema da orla costeira”
Já para Nuno Melo Biscaia, líder do PS na assembleia, não passava de uma moção que tinha “encapotada uma provocação política”Registei, e lamento, meu caro Amigo, as tristes figuras que um líder político de uma bancada, por vezes, tem de fazer. E lamentei ainda mais, acredite pois isto é sincero, sendo V. Exa. filho de um Homem tolerante e um verdadeiro democrata chamado Luís Fernando Argel de Melo e Silva Biscaia para quem "a coerência é, talvez, o que melhor define o seu carácter. Sem nunca tergiversar nas suas tomadas de posição ao longo da vida, é um verdadeiro democrata de espírito aberto e tolerante. Acredita nos seus ideais, mas respeita democraticamente os dos outros." 

O debate teve ainda um momento interessante, principalmente para os fregueses de São Pedro, quando José Elísio, ao responder a uma desajeitada “picardia” de António Salgueiro, proferiu esta declaração:  “tive duas oportunidades para governar a Junta de São Pedro e não as aceitei”. O presidente de Lavos, José Elísio, proferiu estas palavras em resposta a António Salgueiro "quando este lhe sugeriu que tratasse de Lavos que ele tratava da sua freguesia"
A primeira oportunidade, explicou José Elísio, "foi em 1985, quando defendeu a desanexação de São Pedro de Lavos. A segunda foi em 2013, com a reforma administrativa, dando a entender que, se tivesse querido, São Pedro regressaria à freguesia de origem".

Completamente fora desta polémica e às questões político-partidárias em seu redor, o fotojornalista Pedro Agostinho Cruz, em declarações ao jornal AS BEIRAS, mostrou-se surpreendido com a iniciativa do PSD e disse "que a exposição vai ser inaugurada em breve, num espaço público e com outro formato”.

Mau tempo

O Cabedelo ontem à tarde. Foto António Agostinho