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primeira página do jornal
barca nova de 26 de de Junho de 1981 |
A
meu ver, para a elite local que ascendeu ao poder depois da
implantação da democracia, que continua a gostar de tudo converter
em negócio, a edificação de grandes obras representou sempre uma
manifestação de megalomania.
Como a memória é curta, recordo que o ódio contra as monarquias se
construiu, também, com este tipo de argumentos...
Se
conhecermos, minimamente, a tradição local edificadora dos que
acreditam numa dimensão superior da governação, a edificação
desses projectos megalómonos não tinha por objectivo servir os
figueirenses.
Recordo os ainda pouco distantes e “saudosos tempos de Aguiar de Carvalho e de Santana Lopes, dos objectivos grandiosos de um magnífico aeroporto, de um moderníssimo comboio TGV em monocarril a ligar Figueira a Fátima ou de um grandioso estádio para o europeu de futebol de 2004...”
Confesso
que foi o que agora senti com a apresentação do
projecto para o reordenamento do areal urbano da Figueira da Foz e
Buarcos, apresentado pelo arquitecto Ricardo Vieira de Melo, vencedor
do concurso de ideias para esta zona de praia, lançado pela
autarquia em 2011, nas palavras do presidente João Ataíde, “um ponto de partida para a municipalização desta zona tutelada por várias entidades.”
Quem é velho, e consegue manter a memória, sabe que isto não passa de conversa da treta, que, aliás, já vem de muito longe.
A talhe de foice, recordo uma célebre reunião de 18 de Junho de 1981 realizada no auditório do Museu Municipal, por iniciativa do executivo camarário de então, para debater o "Projecto da marginal oceânica".
Recordo que a noite estava bastante quente. Dentro das sala abafava-se. Mesmo assim, e a constatar o interesse que para os figueirenses sempre teve a urbanização daquele imenso areal (o areal tornou-se naquele monstro após a construção dos molhes que fixaram a barra), estiveram presentes mais de cem pessoas.
O Presidente da Câmara abriu a sessão. Depois de apresentar a mesa que ia dirigir os trabalhos (além dele, era formada pelo engº Muñoz de Oliveira, Director-Geral dos portos; eng. Nelson Gomes e arquitectos Alberto Pessoa e Mário Pereira da Silva), proferiu algumas palavras introdutórias breves ao assunto que se ia debater.
O eng. Muñoz de Oliveira usou a seguir da palavra para fazer um resenha sobre a alteração das correntes marítimas na costa portuguesa e as respectivas transformações que daí advieram.
Os arquitectos Alberto Pessoa e Mário Pereira da Silva forneceram algumas informações sobre o projecto popularmente conhecido como de urbanização do areal da praia.
De forma sucinta recordo e realço os seguintes pontos.
Dos (então existentes) 680 metros do areal da praia, só poderiam ser aproveitados para este projecto 350; não se encontrava prevista a construção de nenhuma avenida no areal da praia, por não se verificarem condições de segurança para a sua protecção posterior à fúria do oceano. A única via a instalar no local ligaria a Ponte do Galante ao Forte de Santa Catarina, ficando paralela à Avenida 25 de Abril; no local seriam erguidas algumas construções: parque infantil, campos de jogos, zona comercial, piscinas, coreto, etc.. Ali, ficaria também instalado o Pavilhão de Congressos. Ainda segundo o que foi sublinhado na altura, o acesso de peões a esta nova área urbanizada far-se-ia através de túneis subterrâneos, que seriam implantados na marginal.
A terminar, o dr. Joaquim de Sousa, presidente da Câmara na altura, referiu que este projecto poderia sofrer algumas alterações de pormenor.
Na ocasião foi dito pelo dr. Joaquim de Sousa que esta obra iria ser construída a longo do prazo.
Percebem agora o "Blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá, blá... ou um caso clínico?.."
No fundo, na Figueira nada de novo acontece...
A história, simplesmente, repete-se...