fotos António Agostinho |
A
Figueira tem tradições no ciclismo.
Em 1930, na primeira edição
da Volta dos Campeões, na Figueira da Foz, criada por iniciativa de
Arnaldo Sobral, registou-se a vitória de António Augusto de
Carvalho, o vencedor da primeira volta a Portugal.
Ainda me recordo de ter assistido a algumas edições desta famosa prova que se realizava num circuito que passava na Avenida Saraiva de Carvalho e Rua Fernandes Tomás.
Foi
com expectativa, gosto e alguma emoção, que fui assistir ao
prólogo do 35.º Grande Prémio ABIMOTA, disputado ontem na Figueira
da Foz: um Contra Relógio por equipas, com um total de 4 km,
divididos em 5 voltas de 800 mts cada, que decorreu na Avenida de
Espanha, (junto ao Forte), a partir das 17 horas e 30 minutos.
O
ciclismo, quanto a mim, depois do futebol, é o desporto que tem mais
impacto na sociedade portuguesa.
A tendência reprovável para pôr o desporto ao serviço do poder, do político ou de certas ideologias não surge apenas nas ditaduras (não é o caso do Estado Novo - Salazar desconfiava do desporto profissional e preferia a modesta "ginástica de formação"), mas também nas democracias.
A tendência reprovável para pôr o desporto ao serviço do poder, do político ou de certas ideologias não surge apenas nas ditaduras (não é o caso do Estado Novo - Salazar desconfiava do desporto profissional e preferia a modesta "ginástica de formação"), mas também nas democracias.
Todos
nos recordamos da corrida às medalhas olímpicas durante a guerra
fria e das tentativas dos EUA e das defuntas URSS e RDA para
demonstrar, por esse meio, a superioridade dos seus sistemas
económicos e políticos.
Sabemos,
hoje, que os líderes soviéticos procuraram associar as glórias
desportivas ao espírito de camaradagem e ao colectivismo, embora os
atletas (muitas vezes forçados) e a população, em geral, as vissem
como símbolos da coerção e exploração estatais. Sabemos, por
exemplo, que, em 1984, Ronald Reagan aproveitou o sucesso dos EUA nas
olimpíadas de Los Angeles para, na sua campanha de reeleição,
reafirmar a restauração do orgulho americano. Bill Clinton voltou a
fazer o mesmo nas olimpíadas de Atlanta, em 1996.
Durão
Barroso teve azar no Euro 2004, pois a Grécia trocou-nos as
voltas...
Vai toda a distância entre o poder que fomenta e promove o desporto e o poder que põe o desporto ao seu serviço.
Vai toda a distância entre o poder que fomenta e promove o desporto e o poder que põe o desporto ao seu serviço.
Foi
isso que senti ao ver o triste espectáculo da prova de ontem,
disputada nas condições que as fotos documentam, que prejudicaram a
prova e colocaram em risco a integridade física dos corredores.
Ainda assisti a uma queda e mais não houve porque os atletas optaram
por abordar as curvas à defesa.
A
zona requalificada junto ao Forte está bonita, mas a Figueira tem outros espaços onde a prova poderia desenrolar-se com outro
esplendor e outras condições, o que contribuiria para aquilo que, do meu ponto de vista,
seria o fundamental: uma belíssima jornada de propaganda para a
magnífica e espectacular modalidade desportiva que é o ciclismo.