Nicolau dos Santos Fonseca, 87 anos, é o filarmónico do
concelho da Figueira da Foz que se mantém no activo há mais tempo. Aliás, já
perdeu a conta aos anos da sua carreira musical.
“Acho que comecei em 1940. Ou
talvez em 1945…”, disse o músico ao
DIÁRIO AS BEIRAS.
A pandeireta foi o seu primeiro instrumento, que tocou no
Ateneu Alhadense. Depois, trocou o instrumento de percussão por um de sopros, o
clarinete. Mais tarde viria a substituir este por outro da mesma família, o
saxofone alto. Do alto da sua madura idade, Nicolau Fonseca afirma, com
espontâneo sentido de humor: “sinto-me um jovem músico de 87 anos”.
Mas não é só na música que o octogenário continua activo. Ele
também é proprietário de uma das últimas e mais antigas tabernas da Figueira da
Foz, onde passa os seus dias, atrás do balcão.
Pois, foi precisamente aí, na sua taberna, que eu conheci o senhor Nicolau.
Foi no já longínquo ano de 1972, ano em que comecei a
trabalhar como empregado de escritório na já extinta firma Rodrigues, Pais & Cª..
Tinha 19 anos. Uma das minhas tarefas semanais, era percorrer a pé todos os clientes da
cidade para realizar as cobranças… E o senhor Nicolau, que era um deles, teve uma particularidade
de que nunca mais me esqueci, apesar de já terem passado 40 anos!
Ao olhar para mim, muito jovem e então “estilo copo de leite”,
certamente com a malícia de um Homem já vivido e traquejado pela vida,
disse-me, logo na primeira vez que me viu, depois de eu dizer ao que ia: “então o
menino quer receber, não é?..
Pois só recebe, se comer um carapauzito frito e beber um tinto…”
Envergonhado e atrapalhado, comecei por recusar, mas depois acabei por achar graça e entrei
no esquema…
E o senhor Nicolau começou a
ser visitado à hora do lanche …
Entretanto, mudei de patrão e de vida, e há muitos anos que
não visito a taberna do senhor Nicolau…
Talvez um dia destes calhe…