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quinta-feira, 10 de outubro de 2024

CARTA ABERTA A LUÍS MONTENEGRO

Caro Sr. Primeiro-Ministro

Espero que se encontre bem.

Li a sua intervenção pública sobre os jornalistas e o jornalismo e, se me permite, vou abster-me de repetir o que disse e passar adiante, pois ambos sabemos do que estamos a falar.
Antes de mais, saiba o seguinte: em matéria de autocrítica, diagnóstico e reflexão não há nenhum congresso do PSD que se compare aos dois últimos congressos de jornalistas. Pelo menos. É pena que nenhum dos assessores do seu governo, e há tantos ex-jornalistas entre eles, lhe tenha dito isso.
Se há profissionais obcecados com o que fazem e as condições em que o fazem somos nós.
Se há profissionais que esgravatam as próprias feridas – por vezes, em demasia – e discutem até à exaustão (e às vezes quase até ao confronto), somos nós.
Se há profissionais que procuram, no seu íntimo, as circunstâncias mais dignas de exercer um ofício que honre a República, mesmo quando tudo “arde”, somos nós.
Pode pedir os documentos e os vídeos, estão disponíveis. Talvez se espante sobre o rol de insatisfações, frustrações e erros próprios que admitimos. E depois ainda nos desunhamos a tentar que os governos nos ouçam, sem efeito.
De qualquer forma, tomara eu que o PSD tivesse feito a mesma barrela interna que o cavaquismo, por exemplo, merecia. Talvez hoje não houvesse um oráculo televisivo em figura de gente no primeiro lugar da sua lista de preferências para Belém. Um desses que caem sempre de pé e vêm do tempo em que a RTP pagava os Futres.
Mas os líderes passam e o esterco fica.
Por isso lhe digo: não precisamos que venham de fora dizer-nos como discutir, melhorar e fazer. Se levassem à séria uma pequena parte das nossas reivindicações, já era bom. E não me leve a mal: também podíamos dar conselhos sobre a forma como o PSD, ao longo de décadas, poderia ter prestado relevantes serviços à República nesta matéria. Só eu devo ter assistido a uns dez. Mas para os disparates não chegaria uma resma de moções.
Tenho respeito pelo seu ministro Pedro Duarte, a si não o conheço tão bem. E custa-me ver o seu ministro, no mínimo, desfocado do essencial, após tantas propostas que foram feitas, algumas das quais pelas estruturas representativas dos jornalistas.
Mas já que também é do seu partido, aproveite para trocar umas impressões com Miguel Poiares Maduro. Talvez lhe pudesse contar umas histórias sobre aquilo que a nata do capitalismo português pensa do jornalismo de investigação e de serviço público que alguns teimam em fazer, contra tudo e todos. Pergunte-lhe o que ele ouviu quando, há uns anos, reuniu à mesa os senhores das principais fundações privadas do País e lhes propôs apoios sérios para o jornalismo. Se calhar vai ficar surpreendido com o requinte das respostas dos mecenas nacionais, etc e tais. Depois admire-se que nos viremos para o Estado.
Vá, não me interprete mal. Olhe que não sou dado a corporativismos.
Muitos de nós são também bastante críticos de um certo jornalismo justiceiro, de certos cavaleiros andantes em horário nobre, daqueles, enfim, que tendo uma carteira profissional a usam, no quotidiano, contra tudo o que ela representa. Não são recomendáveis e, infelizmente, não são poucos. E se permanecem ao serviço isso diz muito mais sobre o ecossistema mediático e financeiro que a classe política alimenta e perpetua há muitos anos do que sobre os "podres” do ofício.
Um jornalismo cão há de merecer um mundo cão”, escreveu Mário de Carvalho há décadas. E ainda estávamos bem longe deste “território comanche” onde abundam empresários instantâneos e de vão de escada que descobriram o filão de terem órgãos de informação. Como se pudessem – e alguns podem – fazer deles lavandarias dos seus próprios currículos (e dos amigos). Que, de resto, tresandam.
Por momentos, pensei que o senhor iria dedicar dois/três minutos da sua intervenção a esses “bons rapazes” ou que iria anunciar algumas medidas para que empresários de fancaria deixassem de ter a vida tão facilitada por estas bandas para se tornarem “donos disto tudo” na Imprensa.
Já olhou para o tipo de gente que hoje se acha no direito de frequentar uma redação e dar ordens? Já dedicou cinco dos seus preciosos minutos a tentar perceber o emaranhado de paraísos fiscais, de redes transnacionais e interesses subterrâneos que representam? Ou ainda não reparou nas mais recentes crises que abalaram grupos de comunicação social? Já pensou que foi o mercado, com rédea solta, que nos trouxe aqui? E, já agora: o que fez o PSD na Europa para contrariar a ditadura do Google y sus muchachos? Ou fica satisfeito com uma regulação fofinha, tipo filme da Disney?
Mas voltemos ao que disse sobre o jornalismo que se pratica.
Na verdade, doutor Montenegro, se bem me lembro, o próprio PSD, na oposição, já brindou e se embebedou com este jornalismo apressado, de “auricular” ou lá o que é. Ou estarei equivocado?
Se não fosse esse jornalismo dos diretos televisivos eternos e insanos, do jornalismo de corpo presente ou pé de microfone, dos casos e casinhos em pingue-pongue e servidos à saciedade com frases bombásticas, se não fosse, enfim, esse jornalismo da espuma dos dias, do fogo na pradaria, do comentário inflamado, no País onde um chefe de governo se demite por causa de um parágrafo misterioso, um ex-ministro pode ser filmado em pijama na rua a passear o cão e um líder parlamentar de taberna se ofende com o que não devia - e, ainda assim, passa 50 vezes na TV - poderia garantir, com toda a certeza, que teria chegado a primeiro-ministro?
Ai quer sossego, agora?
Desculpe, não me leve a mal, mas faz lembrar aquelas vedetas de telenovela ou certa aristocracia falida que adora aparecer nas capas das revistas do coração quando o sucesso, os barcos e os amores navegam de feição, mas se indignam com a invasão de privacidade quando tudo se desmorona. Lamento, mas o pior do jornalismo também lhe vai tocar a si. O que era refresco no governo dos outros agora é pimenta no seu.
Quanto ao bom jornalismo, continuará por aí. Com inquietação, inquietação, que é o que se pede a quem faz bem o seu trabalho.
Mas, se quer mesmo mudar algo, em vez de dirigir o seu (pouco) subtil ataque aos operários do jornalismo, talvez fosse de pegar no telefone – não censurava, digo-lhe – e chamar à pedra aqueles que, no topo da hierarquia, são os engenheiros e arquitetos da luta pelas audiências e entregam de mão beijada a agenda mediática aos tweets, à latrina das redes sociais e aos spin-doctors (há exceções, claro!) Não se esqueça daquele antigo diretor de canal e jornal que reconheceu o enorme contributo que o seu grupo de comunicação deu para criar um líder político entre a “rua segura” e o “pé em riste”. Deu-lhe palco, tempo de antena e criou um Frankenstein. Agora anda por aí e é um problema seu. E nosso.
Pense: acha mesmo que foram os jornalistas "bravos do pelotão", os que contabilizam mais horas de trabalho do que folgas, os que têm mais mês do que salário, os escravos do clique, “do que está a bombar” e da produção jornalística de fábrica têxtil que são os culpados deste ecossistema?!
Sabe, doutor Montenegro?
Durante uma década, pelo menos, recebi na redação onde trabalhava dezenas de alunos de jornalismo que me procuravam para um conselho, ajuda num trabalho ou entrevista para uma investigação académica. A esmagadora maioria era gente bem-intencionada, com os valores da profissão no sítio. E tinham um sonho: contribuir, através do jornalismo, para uma sociedade mais decente, uma democracia mais íntegra e poderes mais escrutinados. Em síntese: melhorar as nossas vidas. Sabe como acabaram? Sabe por que desistiram?
Era por aqui que deveriam ter começado as medidas que o seu governo estudou durante este tempo. Pela dignificação do ofício, das redações, do relevante serviço público que o jornalismo, a viver no osso, ainda presta à democracia, tão ameaçada em muitos lugares por estes dias. Mesmo que o Estado e os governos de turno não possam, como é óbvio, solucionar uma crise que é mundial.
Repare: o problema não é o Estado. É o estado a que chegámos.
E as suas medidas para a RTP não auguram nada de bom. O que fez foi apenas concretizar o eterno sonho húmido de alguns players (é assim que se diz, não é?) arrastando a empresa pública e os seus trabalhadores para um fim “amigável”. Amigável para quem, senhor primeiro-ministro?
Quanto ao financiamento público, fale com o Joaquim Fidalgo, meu camarada de ofício, fundador do Público. Talvez ele lhe possa fornecer os dados que apresentou no nosso último congresso. Dizem o seguinte: raro, na Europa, é não haver apoio estatal ao jornalismo. Há muitos modelos. É só escolher. Ou fazer um mix. Outra dica (mas não conte a ninguém): até há países, bem maiores do que o nosso, onde o financiamento sério a um bem público como o jornalismo não é motivo de controvérsia política, veja lá…
Acredite em mim: foi o sistema - não aquele de que fala o doutor em Direito que só sabe dizer “chega” e "vergonha" - que nos trouxe aqui.
Um modelo económico-financeiro falido, mas que repetimos, uma e outra vez.
Um modelo de sociedade que prefere gastar o pouco que tem em raspadinhas em vez de comprar um livro ou um jornal.
Um modelo de sociedade que vende a precariedade como liberdade e os direitos como arqueologia.
Um modelo de comunicação tik-tok que se excita com a raiva, a polémica, o horror, para vender horas de “informação” de forma tão pornográfica que até um telejornal deveria ter bolinha.
Este modelo, senhor primeiro-ministro, é que nos engaiolou.
Já não somos livres, na verdade. Somos alimentados, a horas certas, através da portinhola que daria acesso ao sonho, mas não temos a chave. O pesadelo vive-se por dentro das redações, das nossas vidas, dos nossos afazeres de ratinhos de laboratório, cobaias de novas experiências de sucesso, sempre votadas ao fracasso.
Querem-nos cada vez mais produtos de aviário.
Já não voamos, por vezes já nem nos mexemos e pedem-nos cada vez mais ovos. Os horizontes que nos prometeram e com que sonhamos - não mais do que viver dignamente e trabalhar com decência em nome de uma sociedade melhor, mais escrutinada e justa - já não estão ao nosso alcance.
Para que algum jornalismo que preza o seu nome ainda se faça por estes dias muitos de nós esfrangalham as suas vidas pessoais, amarrotam os melhores dias das suas existências, congelam a esperança, vão viver para longe ou espremem-se num quotidiano miserável. Move-nos uma missão impossível, um sentimento de pertença a algo que, para o cidadão comum, está em liquidação. Sim, é essa a palavra: liquidação.
Por isso, lamento dar-lhe a má notícia: tal como um jornal datado, aquilo que anunciou só servirá, quando muito, para embrulhar o peixe de amanhã.
Talvez os líderes passem e o jornalismo fique, que sei eu...
Resistir é o nosso nome do meio.
Às vezes escrevemo-lo em caixa alta ou fazemos um título com ele.
Mas se soubéssemos a força que temos, seríamos manchete.
E aí, parafraseando o velho Almada, talvez Portugal percebesse de vez, caso a sua cegueira não seja incurável, a necessidade que tem de ser, de uma vez por todas, “qualquer coisa de asseado”. Pim!

Com os melhores cumprimentos
Miguel Carvalho 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Viva a alegria!

Já lá vão muitos anos: sexta-feira, 9 de março de 2007. Quilómetro 17 da A14, Montemor-o-Velho. Uma chinesa deu à luz numa ambulância do INEM na A14, quando seguia para a Maternidade Bissaya Barreto, em Coimbra.

Esta foi a primeira criança a nascer na estrada depois do encerramento do bloco de partos do HDFF, no início de Novembro de 2006.
Daí até aos dias de hoje, têm nascido muitas crianças nas ambulâncias. 

Felizmente, tanto quanto sei, tudo tem corrido bem.
Portanto, quem tutela a saúde em Portugal pode continuar a confiar na nossa capacidade "pró desenrascanço".
Quando (quase) tudo está em causa celebremos a alegria.
Aqui não há espaço para a infelicidade. 

Sobre a felicidade já tudo foi dito e escrito.
Infelizes, porventura, somos todos. 
Tentar ser feliz, devia ser encarado como um dever por todos.
Todavia, apesar da felicidade, por vezes, parecer ser uma coisa simples e possível de alcançar, a vida mostra que a maioria não consegue cumprir esse dever.
A vida é o que é.
Sendo assim, viva a alegria!

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Viva o 1º. de Maio

Foi há 50 anos. 
Naquele já longínquo 1º de Maio de 1974, pela primeira vez, celebrei O DIA DO TRABALHADOR, em Liberdade. 
Tinha 20 anos de idade. Na verdura e ingenuidade dos meus 20 anos, acreditei na Liberdade recentemente conquista, na Democracia e nos Portugueses.  
O 1.º de Maio de 1974, levou milhões de portugueses às ruas. 
Celebravam a Liberdade e a possibilidade de uma mudança económica e social que, afinal, continua por concretizar... 
Esses milhões de portugueses foram os verdadeiros protagonistas do primeiro 1.º de Maio, depois do 25 de Abril! 
Passaram 50 anos. Portugal entrou numa nova fase da sua já longa existência de nove séculos enquanto Estado independente e reconhecido como tal. 
Em Abril de 1974, um golpe militar desencadeado por um setor mais activo e consciente de umas Forças Armadas, física e moralmente exaustas com 13 anos de uma Guerra Colonial sem fim à vista, que não fosse o da derrota face aos movimentos de libertação das colónias africanas, derrubou uma longa ditadura de 48 anos e devolveu ao País a liberdade e uma esperança no futuro. 
Muito se tem dito, escrito, filmado e narrado, sobre essa que é a data capital da segunda metade do século XX português (as da primeira metade correspondem à Implantação da República, ao 5 de outubro de 1910, e ao golpe do 28 de Maio de 1926, que impôs a ditadura). 
50 anos depois avançámos muito. Porém, os portugueses foram-se deixando levar por oportunistas que, recorrendo à mentira sistemática, tomaram o poder para destruir as conquistas de Abril. 
No ar, pairam fantasmas ameaçadores de um saudosista regresso ao passado. 
Espero que os portugueses, hoje, consigam vir para rua gritar, sem qualquer problema: viva a Liberdade, viva a Democracia, viva o 25 de Abril, viva o 1º. de Maio!
De recuo em recuo já chegámos aqui, de novo: ao rico tudo é permitido. Não há direitos para o pobre. O Estado esmaga o oprimido. O crime do rico, a lei o cobre!..

domingo, 21 de janeiro de 2024

Uma reportagem RTP, quase com 50 anos, que nos faz recordar que o problema da erosão costeira na Aldeia já vem de longe...

A reportagem RTP, sobre erosão costeira nas povoações de Cova e Costa de Lavos,  que podem ver clicando aqui, foca um tema que me tem acompanhado ao longo da vida.

Datada de 1 de Junho de 1974, tem uma duração de 14 minutos e 54 segundos.
Na altura, já lá vão quase 50 anos, a Cova estava ameaçada, muito devido à construção dos molhes que definiram a barra da Figueira tal como a conhecemos hoje.

No final dos anos 50, as muito pequenas profundidades do canal externo da foz do Mondego dificultavam a utilização do porto. Vários navios começaram a evitá-lo (Abecasis et al, 1962). Por forma a solucionar este problema, teve início em 1959 a construção das infra-estruturas actuais, com projecto de Carlos Krus Abecasis.
Estas consistiram em dois molhes convergentes, um a norte e outro a sul, com comprimentos respectivamente de 900m e 950m. A distância entre os centros das cabeças dos molhes fixou a largura da embocadura em 325m, ou seja, mais 25m do que fora fixado em 1929. A cabeça dos molhes ficava a cerca de 8m de profundidade abaixo da maré baixa. O molhe norte ficou concluído em 1965 (Abecasis et al, 1970).
Como consequência da implantação destas estruturas, inicia-se, a partir de 1960, um período de acentuado avanço da linha de costa, a norte da embocadura (Figura. 10.26 e 10.29 a 10.31). Este avanço resultou da acumulação de sedimentos, transportados longilitoralmente, de encontro ao molhe norte do porto da Figueira da Foz. Tais sedimentos são sobretudo provenientes da zona costeira a norte do cabo Mondego. Abecasis et al. (1992) apresentam resultados de estudos que, recorrendo à marcação de areias através de radioisótopos, permitiram verificar a existência de transporte sedimentar ao longo do Cabo Mondego.
Em contrapartida, meia dúzia de anos depois,  a sul da foz do Mondego começaram a sentir-se os primeiros efeitos da erosão, logo após a edificação dos molhes. Junto a Cova, registou-se um Estudo Sintético de Diagnóstico da Geomorfologia e da Dinâmica Sedimentar dos Troços Costeiros entre Espinho e Nazaré, registando-se um agravamento acentuado do recuo da linha de costa (Figura. 10.32), sendo inclusive apontados valores extremos de erosão da ordem dos 30m/ano em 1976 (Duarte & Reis,1992).
Os molhes, embora essenciais para recuperar o porto da Figueira, não foram suficientes, só por si, para lhe dar a operacionalidade necessária. Sempre foi necessário proceder a dragagens regulares na zona da barra, no anteporto e no canal anterior desde a povoação da Gala (no braço sul) até montante da ponte rodoviária.
Posteriormente, foram construídos dois paredões, em 1975 (Duarte & Reis, 1992) e vários molhes perpendiculares à costa, em 1977, tentando fechar o mais possível a embocadura à entrada de sedimentos provenientes da deriva litoral.
Nos anos 70 realizaram-se várias obras na bacia do Mondego, com o objectivo de reter e regularizar os caudais sólidos e líquidos, no âmbito de um vasto projecto para defesa e irrigação dos férteis terrenos desta planície aluvial, para o que era necessário, tanto quanto possível, minimizar as cheias do rio (Hidroprojecto, 1983). Estas obras tiveram como consequência uma ainda maior diminuição dos caudais do rio, deixando este de apresentar força de corrente para se opor à entrada da maré. Assim, a circulação interna do estuário tornou-se ainda mais dependente do regime mareal. Desde essa altura, até à actualidade, continuaram as múltiplas intervenções quer na bacia do Mondego, quer no estuário, as quais prosseguem nos dias de hoje.
O avanço da linha de costa a barlamar do molhe norte continuou na década de 70, ainda que em meados dessa década já só se registasse uma acreção de cerca de 2m/ano junto ao Forte de Santa Catarina, enquanto que, em Buarcos, o avanço se situava em cerca de 20m/ano (Duarte &Reis, 1992). Segundo Vicente (1990), desde 1962 até 1980, a largura da praia aumentou cerca de 440m (24,4m/ano) junto ao molhe da Figueira da Foz e cerca de 180m (10m/ano) na zona de Buarcos, tendo a área total emersa aumentado, em maré alta viva, cerca de 60ha. A partir de 1980 a posição da linha de costa tende a estabilizar, sendo inclusive registados, no final dos anos oitenta, taxas de recuo da ordem dos 3m/ano a 5m/ano (Duarte & Reis, 1992). Esta inflexão no comportamento do litoral adjacente, por barlamar, aos molhes do porto da Figueira está seguramente relacionada, pelos menos parcialmente, com as explorações de areias que Santana Lopes pôs termo na sua primeira passagem como presidente de câmara da Figueira da Foz.
Na zona a sotamar dos molhes de entrada do porto registou-se, desde o início dos anos 60, erosão costeira acelerada, nomeadamente na zona a sul do molhe sul, onde se verificou profundo corte na duna primária, a qual, segundo Castanho & Simões (1978), foi mais tarde refeita artificialmente.

Esta situação chegou a ser muito grave nos anos 70. Com efeito, nos anos a seguir à construção dos molhes (1960/65) verificou-se intensa erosão costeira, "no lanço imediatamente a sul da embocadura do rio Mondego e em outros localizados mais a sul, especialmente no lanço fronteiro à povoação de Leirosa.
Quando esta reportagem foi feita tinha eu 20 anos. Lembro-me bem, pois a seguir ao 25 de Abril de 1974 foi eleita uma Comissão de Moradores e fui um dos membros.
Não foi possível salvar a casa da Guarda Fiscal. Todavia, a outra casa que aparece na reportacem foi salva graças à engenharia militar, que fez deslocar de Espinho uma brigada que teve um actação rápida e eficaz. A tal pornto que a casa ainda lá está.
Foi com os homens que apareceram na repostagem que eu aprendi a dar a atenção que os problemas da erosão costeira deveriam merecer dos figueirenses e do poder político.
A partir de 2010 mais um erro. Apesar de todos os avisos que, devido tempo, foram feitos, a que ninguém com responsabilidades, ligou. Apesar de algumas  vozes discordantes – principalmente de homens ligados e conhecedores do mar e da barra da Figueira – foi concluído o prolongamento do molhe norte.
"A obra do aumento de quatrocentos (400) metros do molhe norte do porto da Figueira da Foz foi exigida, anunciada, e aprovada, em 2006, 2007 e 2008; teve início neste último ano; realizou-se ao longo de 2009; e ficou pronta em 2010 — e, por isso, logo a partir desse ano começou a alterar as condições da deriva sedimentar, e com o tempo acumulou as areias, ao longo dos anos (até começarem mesmo a contornar a cabeça do molhe norte…), e esse acrescido assoreamento das areias levou, concomitantemente, ao consequente alteamento das vagas nessa zona. Um assoreamento que, como era previsível, se avolumou mais e mais, ao longo dos anos. Os resultados não se fizeram esperar."
Tal como este blogue previu há anos (tudo foi dito, tudo se cumpriu), depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do Mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores e a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade.

Mas essa história ja foi amplmente contada ao longo de quase 18 anos neste blogue. Quem a quiser conhecer não tem a mínima dificuldade: basta clicar aqui.

sexta-feira, 19 de maio de 2023

Existir, neste contexto, já é um milagre... (2)


Fonte Marktest
"Em abril de 2023, o Primeiro-ministro António Costa liderou o top de exposição mediática, ao protagonizar 154 notícias com 7 horas e 38 minutos de duração durante o mês. André Ventura, líder do Chega, registou a segunda posição, com 159 notícias de 6 horas e 57 minutos de duração. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi terceiro, protagonizando 120 notícias, com 5 horas e 45 minutos de duração. Luís Montenegro, presidente do PSD, foi quarto, protagonizando 98 notícias, com 4 horas e 9 minutos de duração."

Resumindo:

"... o Chega não é um fenómeno político. O Chega é um fenómeno televisivo e, por conseguinte, é um fenómeno de audiências. E não, nem todos são pequeno-burgueses como eu e, como tal, a maioria do país ainda passa muitas horas em frente à televisão, o que faz com que este encantador de antas chegue a casa de muita gente. Portanto, o Chega cresce porque lhe dão palco de forma desmesurada face à sua real importância. Nasceu na televisão, mora na televisão e há-de continuar a ser alimentado pela televisão. É a consequência da mercantilização do jornalismo.

E não é aqui dito que um partido com representação parlamentar (e a sua fundação e existência é outra estória) não deva ter audiências. Mas numa altura em que anda tudo a falar do “crescimento do populismo” e do “combate contra a extrema-direita”, convinha, se calhar, por começar a não ser um veículo para as mensagens da extrema-direita que tanto dizemos querer combater. O aldrabão-mor conseguiu ter apenas cerca de 40 minutos a menos de exposição do que, imagine-se, o primeiro-ministro. Acima do presidente da República. E, pasme-se, o PCP é o único partido que nem sequer aparece no top 10. Se calhar, neste ponto, aqueles que tentam equiparar o Chega ao PCP (e até ao Bloco, que consegue um 8.o lugar), deviam começar por tentar dar mais audiências a BE e a PCP… pelo menos para tentarmos aferir se essa equivalência é, como é, estúpida.

Continuem, portanto, a alimentar o monstro. E ele continuará a crescer."

João L. Maio, via Aventar

quinta-feira, 24 de novembro de 2022

SOS Cabedelo (e outros) anda há muito a alertar para os problemas da erosão a sul do Mondego


Conforme provam as imagens - e muitos exemplos podem ser conferidos aqui -  as preocupações do SOS Cabedelo, assim como as de mais alguns, com a problemática da erosão a sul do estuário do Mondego, já vêm de muito longe e os alertas e avisos aconteceram antes das obras.
Portanto, essa conversa de "treinadores de bancada" pode servir para tudo, menos neste caso em concreto. A cidadania, arrostando até com ameaças, cumpriu o seu papel. Se, quem de direito, ignorou o contributo dos cidadãos, isso não é culpa de quem tentou evitar este atentado ambiental. 
Continuando a cumprir o seu papel, mais uma vez, "o movimento cívico SOS Cabedelo, da Figueira da Foz, alertou para o risco em que se encontram as praias da costa sul do concelho na madrugada face à previsão de forte agitação marítima para hoje, conjugada com a maré alta que foi às 02H36 da madrugada e volta a registar-se às14H57."
Citando a edição de hoje do Diário as Beiras.
"Estão previstas ondas de seis a 11 metros, disse ontem, na reunião da câmara, o presidente Pedro Santana Lopes, que foi ontem ao terreno de forma preventiva, tendo contactado, ontem, Pimenta Machado, vice-presidente da APA (Agência Portuguesa do Ambiente), juntas de freguesia daquela área e a proteção civil. 
Em declarações à agência Lusa, Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo, deu conta de que as previsões para o estado do mar indiciam uma situação preocupante, que vai afetar as praias do Cabedelo, Cova-Gala, Leirosa e Costa de Lavos. Miguel Figueira lamentou que as praias da costa sul da Figueira da Foz estejam “vulneráveis e desprotegidas” para resistir a fenómenos normais do mar.
Uma política que “vê o mar como inimigo” 
“Estamos fartos desta política costeira, que vê o mar como inimigo e se apronta a atirar-lhes com pedra. A única maneira que temos de fazer proteção costeira é perceber como o mar funciona e trabalhar com ele”, sublinhou. No caso do Cabedelo, cuja intervenção o movimento SOS contesta desde a sua execução, Miguel Figueira defendeu que os galgamentos vão continuar a existir enquanto não for colocada areia à frente da duna primária. 
Críticas também dirigidas à APA
 “A APA deu cobertura a uma intervenção nunca vista em lado nenhum, ao meter areia atrás da duna, que não faz nada, pois tem de ser colocada na praia à frente da duna”, explicou. O SOS Cabedelo tem defendido a construção de um bypass, que faça transferências contínuas de areia, “para que a praia esteja bem nutrida e a dissipação de energias (do mar) se faça muito antes do mar atacar a duna primária”
Outro dos pontos críticos apontados por Miguel Figueira é a praia da Cova- -Gala, que sofreu “intervenções erradas há muitos anos” e que devia receber alimentações de areia no fim do verão, que já não são efetuadas desde 2019. 
O problema da erosão costeira tem sido uma temática bastante discutida na Figueira da Foz, tendo-se realizado no dia 15 uma sessão de esclarecimento com a APA sobre as intervenções previstas para o concelho. Na reunião, o presidente da câmara exigiu celeridade nas intervenções de combate à erosão da costa e ameaçou com formas de luta se os processos não avançarem."

Tudo foi dito e escrito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar... Resta-nos a promessa dos paquetes de passageiros e os números das toneladas dos cargueiros...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...

sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Milagres

Crónica publicada na Revista Óbvia no mês de Outubro

O milagre de Joaquim Namorado

"Onde o santo punha o pé nasciam rosas.

 ... e o povo lamentava

que não fizesse o mesmo com as batatas."

O milagre da sobrevivência dos reformados em 2023

Para viver em Portugal e na Figueira sempre foi necessário um enorme sentido de humor.

Entretanto, vamos andando ensarilhados em dívidas, públicas e privadas, sem se  vislumbrar como vamos sair da situação de escravos endividados, soterrados vivos por politicas e políticos incompetentes ao longo de dezenas de anos.

Sabemos que isto não vai acabar tudo bem, mas dá jeito acreditar que está a correr mais ou menos...

"Com uma inflação galopante, que o governo estima em 7,4% este ano, embora o Conselho das Finanças Públicas aponte para 7,8%, os pensionistas com prestações de 650 euros brutos vão ter de viver com apenas mais 5,58 euros nos bolsos todos os meses, segundo os cálculos do Dinheiro Vivo com base nas simulações da Ernest & Young (E&Y) para 2023. Significa que cerca de 1,6 milhões de reformados, ou seja, mais de metade dos que irão beneficiar de uma atualização entre 4,43% e 3,53% em 2023, terão um acréscimo líquido mensal de 0,8%. Mais 5,58 euros, portanto."

Como diria a minha avó, "andam a comer-nos as papas na cabeça". Detesto ser tratado como um tolo. Foi como este governo com aquela rábula do adiantamento fez. 

Para já, além de estar tudo cada vez mais caro, o pessoal ter cada vez menos dinheiro disponível, os contextos europeus e mundiais estarem cada vez mais perigosos e  ameaçadores, a  ansiedade vai dar mais lucros às farmacêuticas e às clinicas da psique, e os  livros de tangas de auto ajuda vão subir as tiragens!

Preparem-se para o devir. Em 2023 vamos ter mais do mesmo. Ou pior... 

Para acabar com a politiquice, num assunto tão sério, será preciso acontecer um milagre?

Não sei como é com você, mas a  mim vai-me safando a essência.

E a minha essência esteve, está e estará sempre no mar... 

O mar tranquiliza-me. Como gente do mar que sou, caminhar em direcção a ele, é uma atitude intrínseca. Quase tudo se descortina ao olhá-lo. É um saber de experiências feito, que me foi transmitido pelos mais velhos.

Gosto da orla marítima, sobretudo fora da chamada “época alta”.

Para quem não “vive” o mar, as imagens parecem sempre iguais.

Contudo, garanto que não! Para quem o conhece bem, o mar é sempre diferente. E, também, sempre imprevisível!

Santana Lopes, acusou no final da reunião camarária realizada no passado dia 12 «a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) de estar a gozar com a Figueira, ao protelar no tempo intervenções de transposição de areias na zona costeira do concelho: depois do que foi dito [pela APA], tomar uma decisão dessas é gozar com a cara dos figueirenses». Segundo Santana Lopes, «a APA não tem intenção de executar antes de 2025 a transferência de 3,2 milhões de metros cúbicos de areia para sul da Cova Gala, que estava prevista para 2023.»

O efeito não se fez esperar. Horas depois, ainda nesse mesmo dia 12 de outubro de 2022, o vice-presidente da APA, Pimenta Machado, deslocou-se à Figueira da Foz para se reunir com o autarca.

Fonte da autarquia avançou ao DIÁRIO AS BEIRAS que, afinal, aquilo que a APA havia protelado para 2025 será realizado em 2024. 

Por mim, limito-me a lembrar o que ando dizer há vários anos sobre este assunto: dado que o que está em causa e em risco, é a segurança de pessoas e bens, apenas  quero alertar que o momento não está para politiquices. A erosão costeira a sul da barra do Mondego é um assunto muito sério. E o inverno está à porta.

Concedam ao rejeitado o milagre de descansar em paz

Em Abril de 2019, quando o falecido João Ataíde deixou a Figueira, para o seu lugar, avançou Carlos Monteiro. 

Politicamente, Carlos Monteiro antes de 2009, de 2001 a 2005, foi membro da Assembleia de Freguesia de S. Julião da Figueira da Foz.  E, de 2005 a 2009, tinha sido membro da Assembleia Municipal da Figueira da Foz. Depois foi vereador do executivo presidido por João Ataíde.

Com a ascensão de Carlos Monteiro a presidente, o provincianismo figueirinhas delirou com a ideia de ser um dos seus a limpar o que foi feito por quem realmente mandou na Figueira, entre outubro de 2009 e abril de 2019.

O resultado de pôr quem não serviu para a freguesia de S. Julião a presidir um concelho viu-se na Figueira nos dois anos que se seguiram.

Com a ida de Ataíde para Lisboa, Monteiro teve o seu momento de deslumbramento. Foi um daqueles momentos raros, um golpe de sorte (se bem me lembro, até houve foguetes...) que acontecem por vezes às pessoas e também aos políticos. Daqueles momentos que fazem tudo ganhar objectivo e sentido - toda a espera, toda a paciência, os sapos engolidos e todo o trabalho, finalmente,  a valerem a pena. 

Contudo, acabou por ser o seu maior momento de azar. Faltou uma coisa: quando foi a votos, mais uma vez, Monteiro não foi validado pelos votantes do concelho. 

O verdadeiro objectivo do medíocre percurso político de Monteiro - ser aceite por uma sociedade figueirense que sempre o rejeitou - não foi alcançado. 

A derradeira meta era vencer essa rejeição. Não o conseguiu.

Que continue o milagre de continuar a haver lugar para o sonho

Escrever é ficar. Se continuo a  escrever, é porque ainda não fui. Ainda aqui estou. 

Já me disseram, olhos nos olhos: "o meu trabalho de sonho era fazer o que você faz".

Os melhores projectos de todos são aqueles que nos põem a pensar e a mexer. Os únicos projectos que vale a pena prosseguir, são os que não nos deixam dormir. 

É o caso do único projecto que sempre tive e continuo a ter: a minha vida, apesar de já terem passado mais de 68 anos.

Basta tão pouco e é tão tanto.

Não sei se me assusto, se me espanto, se me regozijo, se sonho: alguns de vocês conseguem  saber de mim o que eu ainda estou a tentar descobrir. 

Obrigada por me lerem. 

Tal como Martin Luther King "não tenho um plano: tenho um sonho."

Que continua. 

"Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só. Mas, sonho que se sonha junto, é realidade."

sábado, 4 de junho de 2022

Esperemos que seja desta: mais do que de palavras, precisamos mesmo é da areia já prometida por diversas vezes


Na edição de hoje do Diário de Coimbra,  podemos ler esta notícia sobre um tema que nos tem feito criar inimigos - principalmente, entre os políticos figueirenses que estiveram no poder anos e anos e pouco fizeram para tentar inverter o rumo  dos acontecimentos que nos fez chegar a 5 de Junho de 2022.

Quem acompanha este blogue sabe que, ao contrário de muitos que se calaram perante os erros cometidos pelo poder central - nesses, sublinho os políticos que passaram pela Junta de Freguesia de S. Pedro, nos últimos 15 anos - somos a voz que nunca se calou, independentemente da conjuntura política local e nacional.  

Tal como escrevemos em 11 de dezembro de 2006já lá vão quase dezasseis anos, o processo de erosão costeira da orla costeira da nossa freguesia, a sul do quinto molhe, a nosso ver, era já então uma prioridadeContinua a ser... 

Até porque, entretanto, as experiências que se fizeram não resultaram.

Nessa época, tinha este blogue cerca de 6 meses de existência e a erosão da orla costeira da nossa freguesia assumia já – como continua a assumir cada vez mais ... - aspectos preocupantes para o responsável deste espaço. 
Especialmente, numa zona a que, na altura, ninguém ligava: a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova...

Tal como agora, entendíamos que, por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial...
Durante todos estes anos – o histórico de postagens publicada ao longo de quase dez anos prova-o -, a erosão costeira tem sido a maior preocupação do autor deste blogue.
Sofremos, por isso,  ataques de personagens que passaram pelo poder local figueirense... *

Muita gente, que deveria ser responsável, por omissão, contribuiu para o estado a que chegámos.
Nós, aqui no Outra Margem, continuaremos a fazer aquilo que é possível: tentar sensibilizar a opinião pública da nossa freguesia, do nosso concelho, do nosso País e dos inúmeros covagalenses espalhados pela diáspora, para um problema gravíssimo que, em última análise, pode colocar em causa a sobrevivência dos covagalenses e dos seus bens.

Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar. Tudo nos está a ser levado...
Esperemos que seja desta...

* - (IRONIA DO DESTINO. OS MESMOS QUE ME CRITICAVAM POR ESTAR SEMPRE A CRITICAR, SÃO OS MESMOS QUE NOS ÚLTIMOS MESES ME TÊM TENTADO LINCHAR EM PRAÇA PÚBLICA, ACUSANDO-ME DE AGORA NÃO CRITICAR...
SÓ NÃO DIZEM O QUÊ E QUEM.
OS LEITORES QUE COSTUMAM FREQUENTAR O OUTRA MARGEM, SÃO INTELIGENTES E TÊM O PODER DE ANÁLISE SUFICIENTE EVOLUÍDO PARA SABEREM QUE ESTE ESPAÇO CONTINUA IGUAL.
O QUE MUDOU FOI A REALIDADE LOCAL. OS FIGUEIRENSES É QUE FIZERAM AS ESCOLHAS. E EM DEMOCRACIA, GOSTE-SE OU NÃO, QUEM DECIDE É O POVO. 
O QUE ESTÁ À VISTA DE TODOS É QUE QUEM NUNCA SOUBE GANHAR, QUANDO PERDEU FICOU COMPLETAMENTE AZIADO, O QUE AINDA NÃO LHE PERMITIU DIGERIR A DERROTA...).

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

By pass: este foi o tempo certo para anunciar o estudo de viabilidade. Vamos ver quando é o tempo para o transformar em projecto...

O Governo antecipou a divulgação do estudo sobre a transposição de areias na barra da Figueira da Foz, prevista para setembro. O documento foi apresentado ontem.
Recorde-se que o estudo do by pass foi adiado durante anos.
Um estudo no valor de cem mil euros contra os milhões constantes que se despendem em dragagens.
Em Setembro de 2018,  a Vereadora Ana Carvalho não só não se mostrou muito preocupada com a situação como até afirmou: "não sou grande defensora dessa solução". 

Mais vale tarde do que nunca, diz o Povo. A pouco mais de um mês da realização das eleições de 26 de Setembro de 2021, o ministro do Ambiente assumiu que a transferência de areias para combater a erosão costeira a sul da Figueira da Foz com recurso a um sistema fixo (bypass) é a mais indicada, e será realizada. “Avaliada esta solução [da transferência de areias] não há qualquer dúvida de que o bypass é a mais indicada e, por isso, vamos fazê-la”, disse à agência Lusa João Pedro Matos Fernandes.
O “Estudo de Viabilidade de Transposição Aluvionar das Barras de Aveiro e da Figueira da Foz”, apresentado na manhã de ontem pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA), avalia quatro soluções distintas de transposição de areias e conclui, para a Figueira da Foz, que embora todas as soluções sejam “técnica e economicamente viáveis”, o sistema fixo é aquele “que apresenta melhores resultados num horizonte temporal a 30 anos”.
O estudo situa o investimento inicial com a construção do bypass em cerca de 18 milhões de euros e um custo total, a 30 anos, onde se inclui o funcionamento e manutenção, de cerca de 59 milhões de euros. “Obviamente que o que temos, para já, é um estudo de viabilidade, económica e ambiental. Temos de o transformar num projecto, para que, depressa, a tempo do que vai ser o próximo Quadro Comunitário de Apoio, [a operação] possa ser financiada”, frisou o ministro, em declarações à margem da sessão.
O sistema fixo de transposição mecânica de sedimentos, conhecido por bypass, cuja instalação o movimento cívico SOS Cabedelo defende, há uma década, que seja instalado junto ao molhe norte da praia da Figueira da Foz, será o primeiro em Portugal e idêntico a um outro instalado na Costa de Ouro (Gold Coast) australiana. É constituído por um pontão, com vários pontos de bombagem fixa que sugam areia e água a norte e as fazem passar para a margem sul por uma tubagem instalada por debaixo do leito do rio Mondego. A tubagem estende-se, depois, para sul, com vários pontos de saída dos sedimentos recolhidos, que serão depositados directamente nas praias afectadas pela erosão.
A opção de avançar para a construção de um bypass é, para o presidente da Câmara, uma solução que permite “tranquilidade e esperança a quem usa o porto comercial, a quem usa o porto de pesca e à população da margem sul da Figueira da Foz”. Carlos Monteiro argumentou que uma proposta a longo prazo “não é frequente” em Portugal e agradeceu ao ministro do Ambiente, Matos Fernandes, por aquilo que considera ser um gesto com “visão”.
Carlos Monteiro pediu que o estudo e apresentado seja “avaliado o mais depressa possível” e que o projecto “seja desenvolvido”. Mas disse esperar, “fundamentalmente, que tenha a maturidade necessária para ser inscrito no Quadro Comunitário [Portugal] 2030. Atendendo aos valores, acredito que possa e deva ser”, frisou o presidente da Câmara. Até lá, lembrou, o problema da erosão da costa a sul do porto da Figueira vai a ser mitigado, até 2023, com o abastecimento de três milhões de metros cúbicos de areia, retirados do mar a norte do molhe norte.
Já o arquitecto Miguel Figueira, do movimento cívico SOS Cabedelo, manifestou-se agradado com a decisão de se optar pelo bypass. “Agora temos uma responsabilidade de contribuir para que seja bem feito. Há uma série de dúvidas, estamos a trabalhar em coisas que já deram provas de funcionamento, o sistema australiano funciona há mais de duas décadas, mas há sempre dúvidas sobre os impactes”, notou.
O ministro do Ambiente recordou a primeira vez que ouviu falar “ao vivo” da hipótese do bypass na Figueira da Foz e lembrou o “ar zangado” do arquiteto “cheio de certezas absolutas”, quando o movimento protestava, em 2019, pela construção do sistema fixo. “Agradeço ao SOS Cabedelo, a forma, muito para além de reivindicativa, mas técnica, com que nos entusiasmou a chegar aqui”, frisou Matos Fernandes.

Espero, sinceramente, que tudo seja mais do que uma mera jogada de propaganda eleitoral.
"A protecção da Orla Costeira Portuguesa é uma necessidade de primeira ordem...
O processo de erosão costeira assume aspectos preocupantes numa percentagem significativa do litoral continental.
Atente-se, no estado em que se encontra a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova.
Por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial..."
Escrevemos isto em aqui no OUTRA MARGEM em 11 de Dezembro de 2006. Infelizmente, continua cada vez actual.
Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar - tudo nos está a ser levado...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O tempo certo para anunciar foi ontem. Vamos ver quando é o tempo para o transformar em projecto...

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

"Nem o patrão vem, nem a gente almoça"...

"Desde o prolongamento  em 400 metros do molhe  norte do porto comercial,  um investimento de 14,6  milhões de euros, inaugurado em 2011, a erosão nas  praias a sul acentuou-se,  com destruição da duna  de proteção costeira em  vários locais, com especial  ênfase na praia da Cova..."
Diário as Beiras, edição de 4 de Agosto de 2021.

Tal como escrevemos em 11 de dezembro de 2006, o processo de erosão costeira da orla costeira da nossa freguesia, a sul do quinto molhe, a nosso ver, era já então uma prioridade

Continua a ser... Até porque, entretanto, pouco se fez.

Nessa época, tinha este blogue cerca de 6 meses de existência, a erosão da orla costeira da nossa freguesia assumia já – como continua a assumir cada vez mais ... - aspectos preocupantes para o responsável deste espaço. Especialmente, uma zona a que, na altura, ninguém ligava: a duna logo a seguir ao chamado “Quinto Molhe”, a sul da Praia da Cova...
Tal como agora, entendíamos que, por vezes, ao centrar-se a atenção sobre o acessório, perde-se a oportunidade de resolver o essencial... Foi o que aconteceu, neste caso.
Durante todos estes anos – o histórico de postagens publicada ao longo de ais de 15 anos, prova-o -, a erosão costeira tem sido a maior preocupação do autor deste blogue.
Sofremos ataques de personagens que passaram pelo poder local figueirense... Infelizmente, o que muito lamento, pois adorava ter sido eu a estar completamente enganado e fora da razão, a realidade é a que todos conhecemos: neste momento, a duna a  Sul do 5º. Molhe da praia da Cova está devastada  e o mar está a entrar pelo pinhal dentro...

Muita gente, que deveria ser responsável, por omissão, contribuiu para o estado a que chegámos.
Nós, aqui no Outra Margem, continuaremos a fazer aquilo que é possível: contribuir para sensibilizar a opinião pública da nossa freguesia, do nosso concelho, do nosso País e dos inúmeros covagalenses espalhados pela diáspora, para um problema gravíssimo que, em última análise, pode colocar em causa a sobrevivência dos covagalenses e dos seus bens.
E não o fazemos, nem nunca o faremos, por haver campanhas eleitorais. Sejam elas presidenciais, legislativas ou autárquicas. 

Infelizmente, a realidade está à vista. Tudo foi dito, tudo se cumpriu: depois da construção do acrescento dos malfadados 400 metros do molhe norte, a erosão costeira a sul  da foz do mondego tem avançado, a barra da Figueira, por causa do assoreamento e da mudança do trajecto para os barcos nas entradas e saídas, tornou-se na mais perigosa do nosso País para os pescadores, a Praia da Claridade transformou-se na Praia da Calamidade, a Figueira, mais rapidamente do que esperava, perdeu.
A pesca está a definhar - tudo nos está a ser levado...
Espero que, ao menos, perante a realidade possam compreender o porquê das coisas...
O que nos vale é que temos uma política bem definida para a orla costeira...

sexta-feira, 14 de maio de 2021

A MINHA CONCEPÇÃO DO MUNDO, DO TEMPO, E DA VIDA

Um texto de Alfredo Pinheiro Marques, de 12 de Maio de 2021, sobre si próprio, que também nos pode levar a reflectir sobre nós próprios, e colocar em questão o que andamos por aqui a fazer. A ler.

«Só é possível viver para o Futuro. Não vale a pena viver senão para criar uma obra: criar o que vai poder crescer, e ser Futuro. E, como há muito foi dito aos homens e às mulheres, há três tipos de obras que podemos criar: plantar árvores, gerar filhos, e escrever livros.

As árvores, os filhos e os livros são parecidos porque vão ter a sua própria vida, e não vão ser nossos. Como tudo. E é melhor assim. Quanto mais se possui mais se é possuído.
Devemos criar, e devemos libertar-nos. É por isso que devemos esforçar-nos, ter cuidado, e dar o nosso melhor com as árvores, os filhos e os livros que criarmos, enquanto os criarmos. E depois devemos contribuir para o Futuro, libertando-nos e libertando-os.

As árvores que plantei, longe, nas minhas origens passadas, vim depois a deixá-las lá. E lá irão crescer por si mesmas, junto à árvore maior, e não irão ser acompanhadas por mim.
Aqui e agora, onde vivo — espero viver, e espero morrer —, só quis plantar, e só plantei, duas árvores, nos meus jardins: uma palmeira virada para o Sul, e um ácer virado para o Norte.
E, além disso, tentei salvar, e salvei, regando-as, algumas que estavam, na rua, mais perto da minha porta. Elas estavam condenadas a morrer à nascença, pela hipocrisia dos Orcs do funcionalismo público e dos políticos pagos com o dinheiro público do Estado português, que fingem que plantam árvores (mandam-nas plantar à iniciativa privada, em troca do dinheiro do imobiliário), e depois fingem que as regam; e não regam uma só vez (e até as que já cresceram vêm a mandar cortar depois, para não terem de tratar delas). Algumas, das da minha rua, salvei-as eu, à nascença. E depois endireitei-as, enquanto jovens, apontando-as para o alto. Iriam crescer tortas, rasteiras e votadas a pouco futuro, e ninguém iria preocupar-se com isso (e assim até se iria justificar, depois, o seu corte).

Não gerei filhos (e talvez até tenha sido melhor assim, pois, em todo o caso, as situações com que fui confrontado no meu país, aos quarenta e oito anos de idade, iriam dificultar-me ter conseguido criá-los). Os que geram filhos somente esperando rever-se neles, e conseguir neles o que não conseguiram nas suas próprias vidas, podem vir a cometer um grande erro, e ter amargos resultados. Pois eles vão ser (como devem ser) eles próprios; e vão seguir o seu próprio caminho, que hão-de descobrir por si próprios ("Kata ton daimona eaytoy"). O que poderia ter sido feito (se tivesse sido feito) teria sido endireitá-los, quando jovens, apontando-os para o alto, para não crescerem tortos, rasteiros e votados a pouco futuro, e ninguém se preocupar com isso.

Não é possível viver senão para o Futuro. Sempre.
O Passado já passou, sempre. E o Presente nem sequer existe, nem vai nunca existir (e, também por isso, não é sequer possível viver para ele… e os que o fizerem simplesmente vão viver a rastejar, tortos e rasteiros).
Quem for inteligente sabe. Como os Japoneses, que nem sequer conhecem esse conceito de Presente. Nem sequer conhecem esse tempo verbal, nem o usam na sua linguagem (e quem já aprendeu japonês, ou tentou aprender, também tem obrigação de saber).
Neste mundo, só existe o Passado (a História) e o Não-Passado. O pretérito e o não-pretérito. Porque o Presente e o Futuro são a mesma coisa, vertiginosa ("O Futuro é Agora"), e  torna-se Passado (História) a cada momento. Vertiginosamente.
Na Primavera, depois de cada Inverno, florescem as cerejeiras, e os ácers renascem, e as palmeiras crescem um pouco mais, silenciosas e pacientes ("O Justo Florescerá como a Palmeira"). Lenta e vertiginosamente.

Neste mundo, a única coisa que podemos e devemos fazer ("dúplice dono, sem me dividir, de dever e de ser") é conhecer o Passado.
Conhecer — e explicar, para que se conheça (pois só se conhece o que se explica) — o Passado, a única coisa que verdadeiramente existe para ser conhecida.    
Só é possível criar o Futuro (o que ainda não existe) se se conhecer o Passado (a única coisa que existe). Conhecer, neste mundo, aquilo de que ele é feito: a "matéria", chamada tempo, de que é feito um mundo assim, como o nosso.

Porque o nosso Espaço só é compreensível no Tempo. Foi criado pelo Tempo.
Nós, os homens e as mulheres, os que vamos morrer, e sabemos que vamos morrer, somos, de facto, o contrário absoluto dos gatos (os "bons servos das leis fatais que regem pedras e gentes", os que sentem só o que sentem). Eles são, ou podem ser, por natureza, os maiores mestre do Zen e/ou da Geopolítica. Porque vivem, e dominam, no Espaço, e ignoram totalmente o Tempo. Ao contrário de nós, que vivemos (e não dominamos…) no Tempo… e ignoramos quase totalmente o Espaço (com excepção de alguns poucos de nós, que nos temos dedicado às viagens, à História dos Descobrimentos Geográficos e à Cartografia, ou à Astronomia…).

Nós só podemos viver no Tempo. Na História.
No espaço, o nosso mundo, sempre tão insignificantemente pequeno, é ainda assim grande de mais para nós (mais pequenos ainda): desde o mundo dos Japoneses (os do Sol Nascente), até ao nosso mundo, o dos Portugueses (os do Pôr-do-Sol), seus contrários absolutos. É claro que podemos encontrar-nos, podemos peregrinar, e o nosso homem, de aqui de Montemor-o-Velho, foi o que foi lá ao outro lado do mundo (e, depois dele, o meu Amigo Paulo Rocha). Mas todos sabemos, eles lá no Oriente, e nós cá no Ocidente, que somos do lugar onde nascemos e onde estão, na terra, as cinzas dos nossos antepassados.
Eu sou de ao pé da (nossa) mais alta montanha, a Serra da Estrela.
E, no fim do rio da minha infância, vim ter à foz do Mondego. Na Beira, do Mar.
Os Japoneses ensinaram-nos que a verdadeira força é a de, quando queremos (pacientes, no meio da vertigem), sermos capazes de ficar imóveis, como as montanhas.
À beira do rio vemos passar o cadáver do nosso inimigo. Mas sabemos que é o mesmo rio que vai levar o pó das nossas cinzas.

A História é a única realidade que existe. Que nos cerca ("Vivemos no meio dos mortos", e "a Morte comanda a Vida"). A única realidade em que vivemos, e que alguma vez poderemos conhecer, se alguma vez conseguirmos conhecer (explicar) alguma coisa.

Eu sou só um contra-regra no teatro do mundo, porque a minha própria história me fez assim. E sei que o autor da peça escreveu "Amanhã, e outra vez amanhã, e novamente amanhã, rastejam devagar dia a dia até à última sílaba do tempo. (…) A vida é só uma sombra que passa. Pobre actor que, por uma hora, freme e treme o seu papel no palco. E logo sai de cena”.

Nada mais existe, nem pode existir, neste mundo que é o nosso, senão a História. Porque, para nós, o Presente não existe, nem nunca vai existir ("a pedra quer ser pedra, e o tigre um tigre"). Até o próprio Borges quis ser Borges; e eu vou querer ser eu.

Só se pode viver para o Futuro, e é por isso que a minha obra, o livro que escrevo, a minha "magnum opus"… — para a qual todos os livros que até hoje escrevi foram sempre ainda somente aproximações… — vai ser uma obra de História, e para a História.
Para compreender e explicar. Memória e exemplo do Passado, para libertação do Futuro.

A partir de hoje ­— bem mais ainda do que, desde o meu passado, desde a juventude (desde há tanto tempo…) — eu vou querer ser somente um historiador. E o livro que vou escrever, como escritor, vai ser somente um livro de História. Até porque só agora é que — finalmente… — tenho a idade própria para conseguir. Finalmente, alcancei-a…
Vou (voltar a) querer ser só um historiador, e nada mais. E é por isso que vou passar a preferir ignorar a insignificância do (inexistente) Presente, e desprezar as suas "moscas da praça pública". Vou deixar de me preocupar com os animais que por aí vão relinchando, grunhindo e zurrando enquanto se esfregam uns nos outros (como dizia o meu Pai, "asinus asinum fricat"…). Há muito Orwell, o especialista dos animais de todas as quintas, nos explicou que são os porcos e os burocratas os que vivem para triunfar no Presente… porque bem sabem que quem vier a dominar o Passado vai dominar o Futuro, e quem domina o Presente domina o Passado. E, antes disso, o professor dele, Aldous Huxley (com quem tinha aprendido que vinha aí o "Admirável Mundo Novo", já muito antes de 1984), nos tinha explicado a todos que "a mais importante de todas as lições que a História tem para ensinar" é a de que "os homens não aprendem muito com as lições da História". E é por isso que é preciso fazer a História, e dizer a Verdade.
É por isso que, para o Futuro, eu vou querer — mais do que nunca, e para sempre — ser historiador. Do mundo. E de mim próprio. E do meu pobre país (subdesenvolvido e insustentável para sempre). E da minha própria família (incluindo o meu longínquo parente, dos séculos XV-XVI, Rui de Pina, o historiador que ficou amaldiçoado e maldito, para sempre, por ter sido o que, nas suas crónicas, contou a verdade… e deixou revelada, para o Futuro, a "Maldição da Memória"… e a verdadeira razão da desgraça, para sempre, desse pobre país subdesenvolvido e insustentável). Vou tentar fazer a história dos que me são queridos e próximos, e até dos que me são distantes e desconhecidos, mas com os quais poderei aprender alguma coisa.

Porque ἱστορία é compreender e explicar (é o contrário de rezar…). Quando, onde, quem, porquê, e de que maneira. Tempo, espaço, vida, e causalidade.

Amo, também, a Poesia (a magia religiosa, e a música dionisíaca)… mas prefiro seguir o caminho apolíneo da Lucidez (o Budismo)… Aquilo que, nós, aqui, Ocidentais, chamamos a Razão (a ciência, e a compaixão racional). Sigo a minha "Exacta Paixão