Alexandra Leitão e Pedro Delgado Alves são deputados do PS e vão integrar a Causa Pública Foto NUNO FERREIRA SANTOS |
É verdade que, entre os membros da Causa Pública, “há uma avaliação positiva sobre o período dos acordos parlamentares à esquerda”, como diz ao PÚBLICO o economista Ricardo Paes Mamede, um dos fundadores. No entanto, a repetição da “geringonça” “não está no centro das actividades” da associação e “nem é o mínimo denominador comum”.
Afinal, então, o que vai ser a Causa Pública, a que também já pertencem os deputados socialistas Alexandra Leitão (que faz parte da comissão instaladora), Pedro Delgado Alves e Isabel Moreira?
Segundo Ricardo Paes Mamede, o think tank Causa Pública surgiu da “ideia de ter uma entidade capaz de produzir reflexão e propostas sobre política pública da mesma forma que a Sedes o faz no campo conservador e o Mais Liberdade no campo do neoliberalismo”.
A Causa Pública aparece, assim, com a ideia de, para além de promover a reflexão, “apresentar propostas de soluções de governação em várias áreas”. Ou seja, fazer menos “política” e mais “políticas” – aquilo que em inglês se chama “policies” e não “politics”.
“Há pouco trabalho sistemático no sentido de discutir, consensualizar e propor soluções de políticas públicas”, diz Paes Mamede, que ficará a coordenar a área de políticas económicas do novo think tank.
As primeiras reuniões começaram no início do ano – e nelas participou activamente o antigo ministro socialista do Planeamento João Cravinho – e há dois meses a Causa Pública registou-se como associação. O manifesto será apresentado em Setembro, numa sessão pública, assim como o grupo de fundadores, que deverão ser cerca de 100.
Ricardo Paes Mamede, economista e cronista do PÚBLICO, é independente. Paulo Pedroso, que, tal como a ex-ministra Alexandra Leitão, é da comissão instaladora, foi ministro da Solidariedade e dirigente do PS, mas há uns anos desvinculou-se do partido.
Também Ana Drago pertence à comissão instaladora – é hoje independente, depois de ter sido militante e deputada do Bloco de Esquerda. Era a líder do Fórum Manifesto (movimento sucessor da Política XXI de Miguel Portas) que integrava o Bloco de Esquerda e que abandonou o partido em Julho de 2014, juntamente com Rogério Moreira (que também faz parte da comissão instaladora do novo think tank) e o professor e investigador Nuno Serra.
O antigo secretário-geral da CGTP Manuel Carvalho da Silva, o comentador Daniel Oliveira (antigo militante do PCP e do Bloco) e o bloquista João Teixeira Lopes também integram a Causa Pública, que conta ainda com a participação de alguns militantes comunistas.
As políticas da Habitação ficam a cargo de Ana Drago; as do Trabalho sob a responsabilidade de Carvalho da Silva; Alexandra Leitão fica com as políticas de Justiça, direitos, liberdades e garantias; José Reis com as políticas do território.
A Causa Pública vem preencher um espaço que, segundo os dinamizadores, está por preencher. “O espaço de debate público sobre alternativas à governação actual é hoje dominado pelos conservadores, representados, por exemplo, pela Sedes e pelo espaço liberal que se revêem na Fundação Mais Liberdade”, argumenta Ricardo Paes Mamede. “É preciso que aqueles que se revêem numa governação à esquerda, e que defendem que é possível ir-se mais longe, afirmem esses propósitos”, defende o economista.
O novo think tank tenta pôr novamente o PS a “falar” – ou, pelo menos, alguns dos seus destacados militantes – com os partidos à sua esquerda, pela primeira vez desde o afastamento gradual entre PS, Bloco de Esquerda e PCP, na sequência das eleições legislativas de 2019. Foi aí que o PS obteve uma maioria relativa e dispensou os acordos escritos – desejados pelo Bloco, mas que o PCP também não queria.
Depois da maioria absoluta obtida em Janeiro pelo PS, o diálogo institucional só não parece mais distante do que nunca porque até Outubro de 2015 era considerado pura e simplesmente impossível.
Este será um fórum para reabilitar o diálogo à esquerda. É aqui que entra a conexão com Pedro Nuno Santos, que, no programa da sua candidatura a secretário-geral no pós-costismo, obviamente defenderá conversações pós-eleitorais à esquerda. No entanto, Ricardo Paes Mamede avisa que a Causa Pública está longe de ser um espaço de apoio ao “pedro-nunismo”: “Uma certeza que lhe dou é que, mesmo no núcleo dinamizador inicial, as pessoas têm posições diferentes relativamente ao próximo ciclo político.”»