sábado, 12 de fevereiro de 2022

Deus e os vencidos

Via Diário de Notícias


"A razão iluminista tinha como desígnio a reconciliação e a emancipação plena do Homem. Mas, de facto, sem esquecer evidentemente conquistas irrecusáveis, como, por exemplo, as declarações dos direitos humanos nas suas várias gerações, deparamos com duas guerras mundiais e as suas muitas dezenas de milhões de mortos, o comunismo mundial e também os seus milhões e milhões de vítimas, deparamos com Auschwitz e o gulag, o fosso cada vez mais fundo entre a riqueza e a miséria, a Natureza ferida, a desorientação e o vazio de sentido...

E, desgraçadamente, sabemos que o número das vítimas não cessará de aumentar, de tal modo que frequentemente a História nos aparece, como temia Walter Benjamin, à maneira de um montão de ruínas que não deixa de crescer. Mas, mesmo que fosse possível realizar no futuro uma sociedade totalmente emancipada e reconciliada, nem assim, desde que iluminada pela memória, a razão poderia dar-se por satisfeita, pois continuariam a ouvir-se os gritos das vítimas inocentes, cujos direitos estão pendentes, pois não prescrevem.

O teólogo Johann Baptist Metz não se cansou de repetir, com razão, que só conhecia uma categoria universal por excelência: a memoria passionis, isto é, a memória do sofrimento. Se a História não há-de ser pura e simplesmente a história dos vencedores, se a esperança tem de incluir a todos, quem dará razão aos vencidos?

A autoridade do sofrimento dos humilhados, dos destroçados, de todos aqueles e aquelas a quem foi negada qualquer possibilidade é ineliminável. Trata-se de uma autoridade que nada nem ninguém pode apagar, a não ser que o sofrimento não passe de uma função ou preço a pagar para o triunfo de uma totalidade impessoal. Mas precisamente o sofrimento, que é sempre o meu sofrimento, o teu sofrimento, como a morte é sempre a minha morte, a tua morte, é que nos individualiza, dando-nos a consciência de sermos únicos, de tal modo que nenhum ser humano pode ser dissolvido ou subsumido numa totalidade anónima, seja ela a espécie, a história, uma classe, o Estado, a evolução... O sofrimento revela o outro na sua alteridade, que nos interpela sem limites.

Assim, se as vítimas têm razão - a razão dos vencidos, como escreveu o filósofo Reyes Mate -, com direitos vigentes que devem ser reconhecidos, não se poderá deixar de colocar a questão de Deus, um Deus que as recorde uma a uma, pelo nome, chamando-as à plenitude da Sua vida. "Essa é a pergunta da filosofia", dizia Max Horkheimer, da Escola Crítica de Frankfurt. Mas é claro que para essa pergunta só a fé e a teologia têm resposta. Ele próprio o reconheceu, ansiando pelo "totalmente Outro".

Se a História do mundo tem uma orientação, ela só pode ser a liberdade. Ser Homem, ser livre e ser digno identificam-se. Com razão, I. Kant não se cansou de repetir que o respeito que devo aos outros ou que os outros podem exigir de mim é o reconhecimento de uma dignidade, isto é, de um valor que não tem preço. O que tem preço pode ser trocado: é meio. O Homem não tem preço, mas dignidade, porque é fim em si mesmo.

Quando nos interrogamos sobre o fundamento da dignidade do Homem, encontramo-lo no seu ser pessoa. Pela liberdade, a pessoa está aberta ao Infinito. Se se reflectir até à raiz, concluir-se-á que o fundamento último dos direitos humanos é nesse estar referido estrutural do Homem ao Infinito que reside: nessa relação constitutiva à questão do Infinito, à questão de Deus precisamente enquanto questão (independentemente da resposta, positiva ou negativa, que se lhe dê), o Homem aparece como fim e já não como simples meio.

O Homem é senhor de si, autopossui-se, e é capaz de entregar-se generosamente a si próprio a alguém e por alguém. A Humanidade faz a experiência de si como história de libertação para mais humanidade, portanto, para mais liberdade. O Homem indigna-se desde o mais profundo de si contra a indignidade, revolta-se contra toda a violação arbitrária e impune da justiça e do direito, e é capaz de dar a vida pela dignidade da humanidade em si próprio e nos outros seres humanos.

Houve muitos homens e mulheres que, ao longo da História, livremente, morreram por essa dignidade. Mas mesmo que tivesse havido apenas um a fazê-lo, seria inevitável perguntar: o que é isso que vale mais do que a vida física?

Precisamente aqui, nesta experiência-limite, deparamos com o intolerável: como é que pode ser moralmente admissível que quem é sumamente digno, pois se entrega até ao sacrifício de si pela dignidade, morra, desapareça e apodreça, vencido para sempre? Por isso, neste acto de suma dignidade, encontramos um dos lugares em que a questão de Deus enquanto questão é irrenunciável e irrecusável.

A experiência do Deus bíblico surge essencialmente da experiência do intolerável de as vítimas inocentes serem entregues para sempre à injustiça. O Deus bíblico é definitivamente um Deus moral: é o Deus que não esquece os vencidos."

"O PS já percebeu: é preciso que o partido de Ventura cresça muito mais"...

Via Jornal Público

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

TERRORISTAS...


Finalmente, temos o nosso?

"Suspeito já saiu do Campus de Justiça, seguindo para o Estabelecimento Prisional de Lisboa"...

Cândida Almeida critica PJ: Antiga directora do DCIAP admite estar "surpreendidíssima"
Cândida Almeida explica que a divulgação de actos terroristas falhados "imprime outra força" à tentativa e pode levar a que "outros pensem fazer o mesmo".

A cidade que fomos: quem se lembra de António Augusto Esteves (Carlos Sombrio)?

A primeira vez que ouvi falar de Carlos Sombrio, foi na Redação do Barca Nova, no primeiro andar do prédio com o número de porta 296, da Rua da República, mesmo ao lado da saudosa sede da Associação Naval 1º. de Maio, aí pelo ano de 1978. Lembro-me quem falou no nome: O Mestre Zé Martins. A propósito do assunto em concrecto, é que, confesso, já não me recordo.
António Augusto Esteves (Carlos Sombrio), é uma figura que jamais saiu do meu pensamento. 
Um dia destes descobri uma pequena publicação policopiada, de que púbico a capa, evocativa de uma exposição promovida em Maio de 1984, pela Secção Cultural da Associação 1º. de Maio. Nela está um texto do professor Rui Fernandes Martins (Pai do Zé Marins) sobre Carlos Sombrio, a partir do qual elaborei o resumo abaixo.
Carlos Sombrio, um filho humilde do povo, autodidacta, deixou uma grande bibliografia e colaboração espalhada por inúmeros jornais locais e nacionais.
«Autodidacta, Carlos Sombrio (a quem o Dr. Joaquim de Carvalho chamou o "cronista probo"), viveu entre 29 de Julho de 1894 e 23 de Março de 1949.
Era um estudioso honesto. O entusiasmo com que abraçava os mais ousados propósitos e a persistência com que procurava vencer, por meio de aturado estudo, as dificuldades que resultavam do facto de não possuir formação escolar, está patente na obra que nos legou. Bairrista, aplicou grande parte do seu tempo no estudo porfiado, tendo como objectivo honrar e servir a sua cidade - a Figueira da Foz. Desinteressadamente e com total despreendimento dos bens do mundo.
O seu funeral foi uma impressionante manifestação de pesar. Além da multidão, estiveram presentes as figuras mais relevantes da Figueira - o elemento oficial, civil e militar.»

Totalitarismo e privilégio

Uma medida totalitária deu nisto. 
Foi tomada em nome da liberdade, ignorando manifestações e expressões democráticas. Longe dos olhares, no silêncio dos gabinetes, o Cabedelo foi alvo de um atentado ambiental, perfeitamente evitável e visível na foto.  
Privilégio, foi isto. Usufruir de um espaço destes. Cheirar o mar. Ouvir as coisas.
Voltar depois a casa com o corpo cansado do bom que é cansarmo-nos a viver. 
No inverno, o Cabedelo tem aquela luz ténue e límpida, própria desta estação do ano. Em dias de inverno com sol, como o de hoje, temos a sensação que o frio purifica a luminosidade, o que é uma mais valia, em especial, para os fotógrafos. 
A luz de inverno, no Cabedelo, é calma e fugaz. Os dias são curtos e transmitem a necessidade de não desperdiçar um momento que seja, pois os dias de inverno no Cabedelo são lindos, mas têm algo que faz lembrar o efémero. 
A falta de democracia e o totalitarismo de certos (ditos) democratas espatifaram a alma do Cabedelo. Deus lhes perdoe. Eu não consigo.

«CORES DA TERRA E DO MAR», uma exposição de pintura a óleo sobre tela de Manuel Cintrão, vai estar patente ao público a partir de amanhã

 Via Diário as Beiras

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

Uma ofensa aos portugueses que vivem fora do seu país de origem


150 mil votos de portugueses a viver na Europa foram para o lixo. 
Qualquer coisa como os votos de um concelho inteiro da Área Metropolitana do Porto ou de Lisboa. 
Porquê? 
A imprensa conta a coisa com detalhe.
Primeiro o PSD aceitou que fossem validados os votos sem cópia do cartão do cidadão e depois voltou atrás com a sua decisão. 
O representante do PSD nesta brincadeira chama-se António Maló de Abreu, vice-presidente do partido.

Pequenos nadas...

Clube Mocidade Covense, via Diário de Coimbra

Que solução propõe para o areal urbano? (2)

 Via Diário as Beiras

Que falta de memória e de vergonha

 Rui Rio no Twitter.

Bem vistas as coisas e "a extrema esquerda", "uma parte significativa da comunicação social", o PS, foi quem assinou o acordo de governação nos Açores!..

Morreu Jaime Serra o último sobrevivente da fuga de Peniche

Foto via Diário de Notícias
Era militante do PCP desde 1936. Em 1937, com apenas 15 anos, "foi preso pela primeira vez"
Jaime Serra nasceu em 1921 em Alcântara (Lisboa) e tinha completado 101 anos em 22 de janeiro. 
Em 1940, Jaime Serra começou a trabalhar como operário traçador naval no Arsenal do Alfeite, em Almada (distrito de Setúbal), onde trabalhou durante sete anos, passando à clandestinidade em setembro de 1947. 
Faleceu ontem. Com Jaime Serra morre também o último sobrevivente da histórica fuga de Peniche (3 de janeiro de 1960), que o levou à liberdade e a outros nove dirigentes do PCP (entre eles Álvaro Cunhal). A fuga representou uma humilhação para Salazar e determinaria, dentro do PCP, em março de 1961, a confirmação de Álvaro Cunhal como líder de facto (secretário-geral) do partido. Dos dez dirigentes que fugiram de Peniche nessa noite de janeiro de 1960, pelo menos dois já tinham experiência de o fazer: o próprio Jaime Serra e Francisco Miguel. Serra tinha, de resto, várias fugas no currículo. Numa delas, em 1954, de Caxias, limitou-se a sair pela porta. Fez um molde da chave com sabão, depois produziu-a... e saiu. Foram acontecimentos que relatou em "12 Fugas das Prisões de Salazar" (edições Avante!), um dos quatro livros de memórias que assinou.
Destacado combatente antifascista, importante dirigente do PCP durante várias décadas, Jaime Serra foi um cidadão de uma coragem lendária que deixa gratas recordações em todos os que com ele trabalharam ou conviveram. 
O corpo de Jaime Serra estará em câmara ardente Sexta-feira, dia 11 de Fevereiro, a partir das 16h00, na Casa Mortuária da Igreja S. Francisco de Assis, Av. Afonso III (Alto S. João), realizando-se o funeral Sábado, dia 12 de Fevereiro para o cemitério do Alto de S. João onde será cremado após cerimónia a realizar pelas 11h30.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

As "cartas de amor" vão ser descontinuadas?...

As "cartas de amor" trocadas ontem entre Carlos Monteiro e Mateus Pêra a propósito de uma entrevista dada por Santana Lopes ao Diário as Beiras, causou incompreensão e estranheza em sectores que ainda se admiram com a pequenez da vida política na Figueira.
"Um político necessita de ter a capacidade para prever o que vai acontecer amanhã, na próxima semana, no próximo mês e no próximo ano. E de ter a capacidade para explicar depois porque nada disso aconteceu." (Winston Churchill).
O mais interessante deste episódio, triste e lamentável, poderia ser a observação dos desenvolvimentos desta atitude pública dos políticos figueirenses e a ilação que o público em geral deveria tirar.
Este incidente, permite avaliar uma fractura importante, tornada explícita pelas diversas reacções públicas conhecidas e colocou a nú o actual nível da discussão política na Figueira. 
Porém, ou muito me engano, ou os desenvolvimentos passam por deixar o assunto morrer, confinado aos bastidores dos mentideros e maledicência figueirinhas e aos corredores dos círculos de poder onde se diz que disse. 
Nesta troca de "cartas de amor", depois da entrevista, a questão de fundo pouco ou nada tem a ver com política que realmente interessa à Figueira e aos Figueirenses.
Teve a ver com a forma, o rigor e a exigência como as coisas são feitas - à pressa, em cima do joelho, e sem nexo. Tem a ver com o absoluto amadorismo em que se fundamenta muita da politiquice figueirinhas, em o que conta é a fachada, a agenda do momento, pouco ou nada interessando o contexto e a estratégia para o que tem que ser feito e é importante para o futuro da Figueira e dos Figueirenses.

Na Figueira há sempre carnaval...

Foto via Campeão das Províncias 
Desde 2020 que o Carnaval não se realiza na Figueira da Foz, por causa da pandemia. 
Ontem, o Município da Figueira da Foz garantiu a realização dos festejos de Carnaval e diz que vai cumprir as normas da Direção-Geral da Saúde que vigoram para outros espetáculos. 
“A evolução dos números da pandemia e também o movimento generalizado no continente europeu, incluindo naturalmente Portugal, de levantamento das restrições, vêm dar razão à prudência com que a Câmara Municipal tratou também esta matéria”, detalhou o município em comunicado. Segundo a câmara liderada por Pedro Santana Lopes, “continuaram a realizar-se, mesmo no pico das passadas semanas, os mais variados espetáculos públicos com, obviamente, a necessidade de se mostrar o certificado digital da dose de reforço ou teste antigénio negativo”. E acrescenta que “naturalmente, as mesmas cautelas que vigoram para os outros espetáculos, serão observadas por quem quiser entrar no recinto do desfile do Carnaval”
Os corsos carnavalescos realizam-se no domingo 27 de fevereiro e no Dia de Entrudo, a 1 de março.
O Carnaval da Figueira da Foz representa um investimento de cerca de 120 mil euros. Além das três escolas de samba do Concelho da Figueira da Foz - A Rainha, Unidos do Mato Grosso e Novo Império - , participam nos desfiles cinco grupos e respetivos carros alegóricos, a que se juntam os tradicionais foliões espontâneos.
Entretanto, a câmara municipal reforçou o apoio financeiro à Associação do Carnaval de Buarcos/Figueira da Foz, que organiza o evento, de 60 mil para 75 mil euros. Este reforço visa aumentar a qualidade dos desfiles. A diferença entre a verba transferida pelo município e os gastos com a organização do Carnaval é suportada pelas entradas e por patrocinadores.

Costa e Ventura

«André Ventura questiona o processo democrático.  António Costa, primeiro-ministro indigitado está a ser “honesto” e “rigoroso” com a sua palavra.
“A única coisa que António Costa está a fazer é cumprir com aquilo que prometeu durante a campanha eleitoral. Nestes termos, pode ser mais ou menos correto, mas não é antidemocrático”, expressou fonte próxima da atividade política nacional ao i, lembrando que esta iniciativa de ouvir os partidos não é algo a que António Costa esteja obrigado, uma vez que ainda não tomou posse. “Não o vai fazer na sua qualidade de primeiro-ministro em funções. Vai fazê-lo na qualidade de primeiro-ministro indigitado. Não podemos umas vezes dizer que os políticos não cumprem e depois, quando cumprem aquilo que dizem, estar a atacar”, argumenta a mesma fonte. Contudo, ressalva: “Se daqui a uns meses, já nomeado primeiro-ministro, fizer este tipo de exclusão, isso sim já é criticável e seria um erro enorme”.
Este “jogo sujo” entre André Ventura e António Costa é, para o politólogo João Pereira Coutinho, um autêntico “baile de máscaras previsível e entediante”
E acrescenta: “É do interesse de todos os participantes - estou a falar do Chega e do PS - que a peça decorra exatamente como está a decorrer”, começa por explicar o politólogo ao i, dando conta dos “benefícios” que tanto André Ventura como António Costa tiram desta “encenada” luta. 
“Para o Chega, propor Diogo Pacheco de Amorim é a garantia de que o nome será recusado, e isto permitirá a André Ventura fazer a sua vitimização habitual, que até ao momento tem rendido votos, notoriedade e deputados. 
Para o PS, existe toda a lógica nesta encenação, porque, com este comportamento de não falar com o Chega, de o colocar, no fundo, para lá de qualquer diálogo, entendimento ou conversa democrática, está a contribuir para o crescimento do Chega, e consequentemente para roubar espaço à Direita tradicional.”»

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

O amor anda no ar...

Os dias não andam pacíficos pela Figueira...
Carta Aberta, de Resposta às lamentações e vitimizações do Vereador Carlos Monteiro.
Via Figueira a Primeira

Que solução propõe para o areal urbano?

 Via Diário as Beiras

Carlos Monteiro, anterior presidente (e actual vereador da Câmara Municipal da Figueira da Foz) publica mensagens enviadas a Santana Lopes

A Figueira política anda estranha. Parece que estamos à beira de uma borrasca.
Além de estranha, mostra-se irrequieta, tensa, quezilenta e, aparentemente, preparada para o que der e vier...
Nota-se amargura, frustração, azedume, irritação e excesso de palavras, de todas as partes.
Porquê? E para quê? Qual é o objectivo? Desviar atenções? Criar mais agitações?
Alguém está a perceber?
Convenhamos: os dias não têm sido pacíficos. A confusão está instalada em vários lados.
Pelo que tem vindo a público, também em alguns membros do executivo camarário eleitos pelas 3 forças políticas.
A Figueira está estranha. À beira de uma borrasca? Ou isto é, apenas, "uma nuvem passageira"?
O povo é sereno. Será só "fumaça" esta Carta Aberta ao Presidente da Câmara?

"Senhor Presidente,

Começo por dar conta da imensa surpresa e estranheza que me causou a leitura da entrevista que deu ao “Diário As Beiras”, a 4 de fevereiro, a propósito dos seus “100 dias de mandato”. Na verdade, quando era expectável que falasse sobre a sua ação no presente e perspetivasse o futuro do concelho, descubro que grande parte da entrevista é dedicada a atacar a oposição e, de forma muito direta, à minha pessoa.
Não irei alongar-me sobre o que é do conhecimento público, o trabalho do anterior Executivo e a colaboração que, enquanto oposição, temos sabido prestar, mas não posso deixar passar em claro algumas afirmações. E quero clarificar que o que me motiva a redigir esta carta, não é, como diz, o não termos “desligado a ficha do poder”, antes o continuarmos com a ficha do serviço público ligada, tal como a do rigor, da transparência e da verdade.
Uma das afirmações que faz, e que rejeito, é acerca “do nível das pessoas”, numa nítida alusão à minha pessoa. Sobre isso, quem nos conhece sabe quem trata os outros, nomeadamente os colaboradores, com respeito e quem não o faz.
Não obstante, há alguns aspetos objetivos que têm de ser tornados públicos. Diz o Senhor que eu o desrespeito publicamente e por escrito. Ora, publicamente, julgo que se referiria às reuniões de Câmara. E aí, Senhor Presidente, essas são públicas. As pessoas assistem e conhecem a verdade. Aliás, na próxima reunião de Câmara, irei propor que as reuniões, além de terem transmissão direta, sejam gravadas e que essa gravação seja disponibilizada ao público, no sentido de todos terem oportunidade de fazer o seu julgamento. Já agora, Senhor Presidente, não me lembro de ver nenhum Vereador ser tratado com a falta de respeito com que o Senhor o fez na última reunião. Não tendo sido eu o visado, a sua atuação não se coaduna com os meus valores de educação e de Democracia.
Outra referência que faz é às mensagens que troquei consigo. Senhor Presidente, no total, foram três, que passo a contextualizar e a dar a conhecer. A primeira, a 20 de outubro: “Presidente, este é o meu número provisório. É importante falarmos. Abraço. Carlos Monteiro”. A segunda, a 11 de novembro, foi enviada depois de, por lapso, lhe ter ligado, dizendo: “Desculpe, foi engano. Abraço.”. A terceira, a 20 de janeiro, foi enviada no seguimento de uma publicação do Facebook da Câmara, relativamente à reunião de Câmara do dia anterior, que se referia ao Vereador Nuno Gonçalves e a mim nos seguintes termos “…com despachos do vereador do Pelouro e do presidente em exercício, falhas graves cometidas internamente ao nível do caderno de encargos, comprometiam os objetivos inerentes.” Neste contexto escrevi-lhe o seguinte: “Senhor Presidente, a publicação sobre o concurso de ATL incorre numa mentira. O caderno de encargos validado pelo Vereador Nuno Gonçalves e por mim estava correto. O lapso administrativo decorreu após a aprovação do procedimento em reunião de câmara, porquanto as peças de procedimento que seguiram para a plataforma dos concursos públicos não estavam em conformidade com os documentos que foram a despacho e a deliberação de reunião de câmara. Aliás, os erros da publicação são vários, ontem foi aprovado o concurso em causa e não a abertura de um novo concurso. Fico a aguardar. Carlos Monteiro”. Não obtive resposta a esta mensagem. O certo é que a referida publicação do Facebook da Câmara tinha sido corrigida no dia seguinte. Sobre este assunto acresce ainda referir que, no dia 26 de janeiro, recebemos um e-mail do seu Gabinete a clarificar: “(…) Na realidade ambos autorizaram e despacharam o procedimento inicial que continha informação correta. A informação incorreta foi lançada pela Contratação no momento em que foram pedidas peças processuais em separado que por lapso foram outras...” (o negrito é meu).
Senhor Presidente, este assunto pouco interesse tem para os destinos do Concelho, mas a verdade é um princípio de que não abdico. E uma vez que afirma “Eu não revelo mensagens que recebo, mas é absolutamente inimaginável!”, fica, desde já, autorizado a divulgar todas as minhas mensagens para o provar. Se o não fizer, mais uma vez, faz uma acusação falsa e mente relativamente ao modo como me relaciono consigo.
Não me querendo alongar, termino. Os outros pontos em que se refere à oposição serão clarificados em momento oportuno. Contudo, é importante afirmar que nunca nos inibiremos de solicitar os documentos que entendermos (aliás, criticando-nos de o fazer, confessa o Senhor estar a solicitar documentos com mais de vinte anos!), nem nunca deixaremos de zelar pela transparência dos atos e ações da “res publica” e dos interesses do Concelho da Figueira da Foz.
Relembro o Sr. Presidente de que os Figueirenses não lhe quiseram conferir um mandato em maioria absoluta. Antes, preferiram ter uma oposição mais vigilante e interventiva na defesa dos interesses comuns. Cumpriremos a vontade dos eleitores sempre com sentido de responsabilidade e em perfeito respeito pelas instituições e pelas pessoas.
Com os melhores cumprimentos,
Carlos Monteiro"

Nota de rodapé.
Sobre este assunto, o Diário as Beiras publica na edição de hoje o seguinte.

Diogo Pacheco de Amorim, a presença que o Chega quer como vice-presidente da Assembleia da República

Via SICN

O deputado do Chega Diogo Pacheco de Amorim, a deputada do Bloco de Esquerda Joana Mortágua e a eurodeputada socialista Margarida Marques comentam a escolha do Chega para vice-presidente na Assembleia da República e as posições públicas do partido de André Ventura.

Em comentário às próprias declarações, refere que “dizia que todos eram bem-vindos a Portugal, qualquer que fosse a raça ou a cor”, defendendo que “a dignidade é a mesma” para todos.

“É um facto objetivo que há raças e há cores”, refere, acrescentando que “a partir do século XVI, [Portugal] fomo-nos espalhando pelo mundo e fomos sendo sempre um exemplo de boa convivência entre várias raças e várias cores”.

A deputada do Bloco de Esquerda começa por dizer que “o Bloco de Esquerda está muito certo no voto contra” Pacheco de Amorim como vice-presidente da Assembleia da República.

“Numa das mais altas das instituições de representação da democracia, não se pode estar representado por um partido que vive nos limites, e que muitas vezes ultrapassa o Estado de Direito, os direitos humanos e os princípios basilares da nossa Constituição”, aponta, referindo que há “deputados do Chega que mandaram para a sua terra uma deputada” por ser de outra etnia.

A eurodeputada do PS Margarida Marques aponta ainda que “o que está em causa é ter um vice-presidente de uma instituição democrática de uma força que é antidemocrática”.

“Os vice-presidentes da Assembleia da República não são designados, são eleitos”, diz, acrescentando que “essa declaração [de Pacheco de Amorim] surge na linha daquilo que são os princípios do partido Chega: racista, xenófobo, antifeminista, que assenta em valores que não são valores democráticos, nem são valore maioritários”.