|
Forte de Santa Catarina nos anos 70 - aguarela de Cunha Rocha |
Do
que que tenho assistido ao longo dos últimos 36 anos, constato que a informação local já conheceu melhores dias.
Nos
dias que passam parece-me acomodada, amorfa, parda e desinteressante
– oxalá que não, mas, talvez mesmo em vias de extinção.
Dirão
os mais cínicos, que não se perderá grande coisa.
Não
partilho, totalmente, dessa opinião: fará falta ao concelho, à
política, à sociedade, à defesa de interesses (alguns deles...)
legítimos, à divulgação do que a Figueira possa ter de bom, ou
mau.
Ao
longo dos 36 que posso recordar, por conhecimento directo, os políticos figueirenses, que à medida que foram arrastando o concelho para o
abismo, também se encarregaram de ir amordaçando as opiniões e
debate de ideias que se iam produzindo localmente.
Factualmente,
posso afirmar sem temer ser desmentido que, desde o presidente Joaquim de Sousa, passando por Aguiar de Carvalho, Santana Lopes, Duarte Silva e
João Ataíde, o poder local sempre lidou mal com a opinião pública
e, pior ainda, não gosta de ser contestado.
A
informação local sempre foi frágil e com profundas debilidades na sua sustentação económica. Na Figueira, poucas pessoas lêem jornais e
o mercado publicitário é restrito.
Lembro-me,
aí pelos finais da década de setenta do século passado, que uma
das formas dos jornais conseguirem equilibrar as contas era a chamada «publicidade institucional».
Na
altura, publicavam-se na Figueira o Mar Alto – série II, A Voz da
Figueira, o Diário de Coimbra – já produzia uma página diariamente
sobre a Figueira -, O Figueirense, O DEVER e o BARCA NOVA.
Havia
um acordo, digamos assim, táctico entre a Câmara e os jornais e,
essa tal publicidade institucional era repartida tanto quanto
possível igualitariamente pelo universo das seis publicações.
As
coisas andaram assim até um dia em que numa das edições foi
publicada qualquer coisa que desagradou ao “mayor” local e pimba
– essa publicação foi riscada da partilha da publicação dos
editais camarários.
A seguir, foi o que já se sabia: ficou economicamente na corda bamba e poucos
anos depois fechou “a tasca”.
Podem rir a bandeiras despregadas, mas, entretanto, o panorama da informação
figueirense pouco mudou. Ou, se mudou, porventura até terá sido
para pior.
O
episódio real que contei um pouco acima, pode ter graça mas, mas
também contribuiu para empobrecer a Figueira e o resto do concelho –
pouco a pouco, fomos remetidos para o silêncio opressivo, para o
despotismo, para o sufoco social e, isso, não ajudou às soluções
necessárias aos problemas locais.
A Figueira parou e a decadência foi inevitável.
De sobra, temos cada vez mais areia. Na praia e na cabeça dos figueirenses...
Não
tendo, como nunca tive, interesses políticos ou simpatias
partidárias, compreendo os silêncios que se fizeram sentir ao longo
dos anos na Figueira.
Isto,
é a tal vidinha, também política, mas não só, à figueirinhas.