"«Estamos num Plano de
Saneamento Financeiro com o objectivo de atingir equilíbrio financeiro. Não faz
sentido, numa situação particularmente difícil diminuir a derrama».
A quem atribuir a afirmação?
Ao Governo ou à posição?
Ela é do Sr. Presidente da Câmara da Figueira da Foz e foi
proferida face a proposta do PSD de uma derrama de valor inferior ao proposto
pelo PS.
O que relevo é o facto de aquela frase encaixar perfeitamente
no discurso do Governo ou da bancada da maioria, da mesma forma que a proposta
do PSD na oposição na Figueira é do tipo das propostas do PS na oposição no
Parlamento.
Ou seja, o que parece distinguir hoje os partidos do centro não
é mais uma qualquer insanável diferença ideológica e programática mas apenas e só
a conjuntural diferença de ser ou não poder.
É justamente por isso, pela inexistência de uma clara linha
de fronteira, que creio ser mais difícil ainda forjar o necessário consenso pós
troika.
Se a questão se situasse ao nível ideológico e programático era
mais fácil encontrar um denominador comum para uma conjuntura dificílima.
Os consensos só se fazem entre diferentes, entre contrários até,
para uma conjuntura particular, de emergência.
Porque havia posições políticas e ideológicas bem vincadas,
foi possível um consenso nacional alargado para aprovação da Constituição da República
por maioria de 2/3.
Quando a questão é apenas a do poder não é possível o consenso,
está bem de ver.
Para mais a ano e meio de eleições.”
Em tempo.
O título é meu.
O texto acima é de Joaquim Gil, advogado.
Foi hoje publicado
na sua coluna de opinião no jornal AS BEIRAS, que gostei de ler e que, por isso, aqui publico com a devida vénia.
A qualidade da democracia, é a realidade que está em causa, neste momento, em Portugal.
Um estudo de António
Costa Pinto e Pedro Luís de Sousa e Ekaterina Gorbunova, publicado em janeiro
de 2012, dava conta que a insatisfação
com a democracia estava a aumentar - só
56% dos portugueses acreditavam que a democracia é o melhor sistema político.
O pior defeito da democracia é o chamado "picos de
cidadania", em que as pessoas vão votar e, pronto...
Depois, esquecem que há um trabalho constante de informação e de
questionar quem elegemos. Daí, o
exercício da nossa cidadania não poder ficar limitado ao voto.
O voto – e a realidade demonstra-o à saciedade - é uma maneira muito pobre de saber-se o que as
pessoas querem e desejam. A sociedade civil deve funcionar como contrapeso em
relação às decisões políticas.
Actualmente, há várias maneiras de nos fazermos ouvir,
como, por exemplo, para desgosto de alguns, as redes sociais...
Na última década, a Internet tem sido o escape de muitos para exercer o seu direito de cidadania, contra o
sistema político hermético e muito pouco permeável a contestatários.
Como constatei, há mais de 30 anos, os partidos políticos são muito pouco flexíveis para incorporar a voz da
cidadania.
Entretanto, e estas coisas não podem ser vistas em separado, a vida está a ficar cada vez mais difícil para os jornalistas...