Mira, e a Praia de Mira… Gente corajosa - gente pobre...
nascida da sua própria pobreza (nascida de si própria…) e, por isso, capaz de
"dar remédio à sua pobreza"… Gente trabalhadora, que sabe o que são
as dificuldades… e, por isso, sabe como vencê-las.
Gente com quem se pode, e deve, contar. Gente que
ultrapassou de tal maneira qualquer estigma, ou conotação depreciativa (da
antiga pobreza), do nome "Gandarês", que, numa geração, conseguiu que
os seus vizinhos passassem a reivindicar (eles também...) o título, agora
invejado, de "Gandareses"...
Gente que tem o mais importante de tudo (e que, em tantos
"intelectuais" e "citadinos", falta totalmente): a
coragem... A capacidade de criar (cultivar).
Gente corajosa, no coração do (seu próprio) mundo.
Construindo o (seu próprio) mundo, e salvando-o, para o Futuro… Enquanto outros
se afundam, e vão continuar a afundar (e, com eles, um país inteiro...), cada
vez mais afogados no pântano das suas próprias contradições, duplicidades,
hipocrisias e traições… demasiado cobardes para alterarem seja o que for das
suas mentiras, das suas hesitações e das suas faltas de alternativa.
Porque é que aquela gente - numa terra pequena - é assim…?
Porque é que aqueles Homens e aquelas Mulheres, os
Gandareses, numa terra pequena, vindos da pobreza antiga, conseguem ser mesmo
os primeiros, e os melhores, naquilo a que, verdadeiramente, se dedicam…?
(enquanto outros, nas suas curiosas filáucias, andam a
reivindicar, sem quaisquer espécies de objectividades, ou quantificações, a
condição de serem, também eles, a "capital" "mundial", ou
"universal", seja do que for... e que acham que só existe lá na terra
deles… para assim conseguirem ser, também eles, "a capital" de
qualquer coisa… seja o que fôr… desde os salsichões fritos até às urtigas...)
A pequena Praia de Mira, na Beira Litoral (Portugal), é
mesmo a recordista (ininterrupta), em termos europeus (e, portanto, mundiais),
da Bandeira Azul da Europa... das praias ecologicamente exemplares… (vinte e
sete [27] anos... contínuos e interruptos… um feito único, de que ninguém mais
se pode gabar…). É Mar...
A pequena vila de Mira (Portomar), na Beira Litoral
(Portugal), é mesmo a sede, em termos mundiais (ininterruptamente), dos
Campeonatos do Mundo de Columbofilia... ("Pombas", em vez de
"Falcões"… mas é também em Mira que está o nosso Amigo João
Petronilho, o homem que sabe fotografar as Águias… [e, às vezes, até encontra
Pelicanos…). É Céu...
A partir de pequenos locais, como o Seixo, e o Casal de São
Tomé, etc., a pequena vila de Mira, na Beira Litoral (Portugal), tem mesmo uma
presença dominante em todas as feiras, e exposições, e negócios, e eventos
públicos, de hortos, e plantações, e plantas decorativas, e flores, e fabrico
de terra e de substractos vegetais, em Portugal inteiro (e, muitas vezes, até
no estrangeiro)… Não há dúvida de que, para plantar, e cultivar, não há como os
Gandareses (desde a Ria de Aveiro até ao Tejo…). É Terra… Espantoso…! Aqueles
que, antigamente, não tinham terra, são os que, hoje em dia, a fabricam (melhor
que a dos outros) e, por isso, a exportam…
Na Praia de Mira, veio mesmo a localizar-se o centro
principal, em Portugal (e, portanto, "no mundo"... ou, se se quiser,
"no universo", como outros gostariam de dizer na sua terra…?), do
tipo emblemático de "Pesca de Cerco e Alar para Terra", heróica e
arcaica, dos Pescadores Portugueses (sem portos…! somente a partir das
praias…!), a pesca antigamente chamada "Arte" (e, actualmente,
chamada "Arte-Xávega"), a pesca com a fabulosa embarcação, única no
mundo, chamada "Barco-da-Arte" ou "Barco-do-Mar"
("meia-lua")... A pesca com "o mais belo barco do mundo"…
E, por isso, foi na Praia de Mira que, no ano de 2012, vieram a unir-se todos
os outros Pescadores Portugueses deste tipo de pesca, quando essa emblemática
"Arte-Xávega" portuguesa foi mais do que nunca posta em perigo… e,
por isso, foi nesta Praia de Mira que se criou a Associação Nacional
representativa deste tipo de Pescadores… E esse movimento, nascido na Praia de
Mira, já conseguiu uma recomendação, por unanimidade, na Assembleia da
República Portuguesa.
Ao longo dos anos, a Câmara Municipal de Mira, com a
colaboração de algumas outras entidades (entre as quais o CEMAR - Centro de
Estudos do Mar), promoveu na sua terra, no "coração da Gândara", as
Jornadas Culturais da Gândara, um fórum de discussão aberta, franca e
pluralista (e não-bizantino, não-académico...) apontado para a reflexão e a
intervenção, com verdadeira utilidade prática, sobre a Identidade e o Futuro
local. E já vão na XI edição…
No ano passado, de 2012, discretamente, sem demasiado
alarido — mas com decisão, e com teimosia… em contra-ciclo, contra-corrente…
contra todas as dificuldades e desânimos alheios (em 2012…) — a Câmara
Municipal de Mira inaugurou na sua vila um excelente museu, o Museu do Território
da Gândara ("Ver Para Querer"...), baseado em excelentes conteúdos
(da autoria dos mais competentes e adequados investigadores locais), e com
excelentes tecnologias e metodologias expositivas (muito modernas, e de muito
bom gosto, ao melhor nível da Glorybox, que as executou). E esse núcleo
museológico inicial, agora já lá existente, em Mira (desde há um ano… e há quem
ainda não o tenha ido visitar…?!), é só uma amostra do muito mais que se poderá
fazer, no futuro (na Praia de Mira, etc.), para musealizar e para "erguer
um monumento à glória" do
Património Cultural local, do mundo antigo da Cultura Popular da
Gândara… do Património de Mira e da Praia de Mira... dos seus estóicos
Camponeses, e dos seus heróicos Pescadores. E as amostras, os embriões, dessas
outras instalações museológicas futuras, já existem, na Praia de Mira...
Com esta gente sim, vale a pena trabalhar. Trabalhar com
quem trabalha.
Alfredo Pinheiro Marques