A crónica de António Agostinho publicada na Revista Óbvia em Maio de 2022.
Se nada for feito, dentro de poucos anos o turismo na Figueira poderá não passar de uma bela recordação. Neste momento, o produto turístico que a Figueira tem para vender não é único no mercado do sector: o sol nasce em todo o lado.
Por conseguinte, aquilo que a Figueira for capaz de oferecer, para além do sol, é que poderá atrair o turista. A praia, a não ser que um golpe de asa genial de Santana Lopes reverta a situação, há muito que deixou de ser aquela que Ramalho Ortigão viu em finais do século XIX: "a mais linda praia de Portugal!”
A praia da Figueira, já não é a primeira praia de banhos portuguesa. Uma praia bela, que caprichosamente se estendia entre o Forte de Santa Catarina e a baía de Buarcos, banhada pelas águas límpidas e despoluídas do frio Atlântico, visão que se espraiava para poente, até ao longe, lá no horizonte longínquo, até tocar e se confundir com o azul do céu.
A partir da década de 60, quando os turistas ingleses abastados descobriram o Algarve, estâncias balneares como a Figueira, começaram a perder importância.
Na altura, a Figueira tinha uma actividade pujante nas pescas, nos têxteis, na indústria conserveira, exploração das salinas, estaleiros, no vidro. Foi por essa época, que foi implantada na Leirosa a primeira fábrica de pasta de papel. No interior do concelho, a agricultura e a pecuária ajudavam a compor o orçamento familiar.
Quando os decisores políticos e o sector ligado à actividade turística, começaram a descobrir e a perceber que, na Figueira, o turismo era uma actividade com retorno económico, com base nesta percepção, tentaram adaptar-se.
O primeiro erro histórico veio a seguir: deixaram que fosse o turismo a ditar o desenvolvimento e não o desenvolvimento da região a potenciar a actividade turística.
Aos poucos foram copiando alguns dos piores exemplos em matéria de urbanismo e ordenamento do território, aumentando a capacidade hoteleira e de restauração, mas começando a diminuir os padrões de qualidade que caracterizaram o concelho nos anos 40 e 50 do século passado. Foi aí que teve início a transformação na urbe sem qualidade e esteticamente pouco harmoniosa em que nos tornámos. Que o último executivo PS agravou, por exemplo, com as obras em Buarcos e a trapalhada que implantaram no Cabedelo.
Registe-se, porém, que foi na década de 80 que se cometeram os maiores atentados à sustentabilidade do meio ambiente. A Torre Jota Pimenta e o edifício Atlântico, são disso exemplo. Depois, para compor o ramalhete, veio o Galante.
O termo sazonalidade faz parte do dia a dia de quem vive de e para o turismo na Figueira da Foz. Se, por um lado, recebemos milhares de turistas em determinados períodos, por outro lado, não criámos as infra estruturas de base consentâneas com uma actividade motor de toda uma região.
Ao turismo na Figueira, resta-lhe funcionar paralelamente com as outras actividades económicas. A Figueira é, hoje, uma urbe desorganizada e carenciada ambientalmente, sem sustentabilidade e com fracas noções de estratégia de desenvolvimento.
O Turismo figueirense sofre uma concorrência feroz de mercados mais atraentes.
Pensar o futuro do turismo na Figueira, é definir se queremos continuar a apostar no turismo da forma que temos feito até aqui, ou se queremos introduzir algo inovador que passe pelo planeamento e sustentabilidade.
A meu ver, continua por definir o que precisa a Figueira da Foz em termos turísticos.
Continuamos "a viver um claro momento de impasse". O "concelho continua doente. As aspirinas não resolvem nada". Continuamos "a precisar de antibióticos"...
O desígnio turístico figueirense está claro: "tornou-se um concelho organizador de eventos".
Organizar ou patrocinar alguns eventos, foi a grande ambição do turismo figueirense nos últimos anos.
Até ao momento, o desígnio da actividade avulsa promovida neste sector nos úíltimos tempos continua. A verdade, porém, é que não existe qualquer lógica económica. A máquina de agitação e propaganda da autarquia atira para cima das pessoas uns números medidos a "olho".
No turismo, como em qualquer negócio, custa muito criar uma marca. E a Figueira da Foz, que já foi uma marca no turismo nacional – e muito importante –, hoje é um destino banal. Sem essa imagem de marca de qualidade, não é capaz de atrair alguns segmentos de clientes mais exigentes e com maiores recursos financeiros. É nos consumos dos que nos visitam, que vemos o poder de compra dos turistas que escolhem a Figueira da Foz.