domingo, 31 de agosto de 2025

Quem escreve a história?..

«Espera-se de uma sociedade democrática que a memória histórica seja cultivada pela ciência, e não pelo Estado. Que seja motivada pela investigação e não tome parte em propaganda política. Será este recente endeusamento do 25 de Novembro, que nada seria sem o 25 de Abril, também ele um sinal do escurecimento democrático que se afigura avizinhar em Portugal, como está a acontecer um pouco por todo o mundo?

No passado dia 28 de agosto, o governo da AD decidiu cumprir aquela que é uma das velhas bandeiras do CDS, até há um ano sem eco fora da sua bolha política. Confirma-se que a prometida “Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Novembro” se virá a materializar, naturalmente envolta em polémica. Trata-se de uma decisão inusitada na política portuguesa e nasce de um ímpeto revisionista da história com raízes impreterivelmente ideológicas, vindo a confirmar aquilo que tanto Nuno Melo como Luís Montenegro fizeram por desdizer ao longo do último ano: que, para os dirigentes, o 25 de Novembro de 1975 assume igual valor ao 25 de Abril de 1974, ato fundador da democracia portuguesa. No entanto, sendo esta uma data marcante da história portuguesa, porque é que não faz sentido a criação de uma comissão desta natureza?

... porque tem o governo medo que os historiadores falem sobre a história? Porque, como já foi repetidamente demonstrado, a visão do CDS (e não só) sobre o 25 de Novembro não se coaduna com a investigação científica feita nesse sentido. Embora ainda paire uma relativa névoa sobre este dia na nossa história, com pormenores ainda por esclarecer, uma coisa é certa: tratou-se de uma vitória da esquerda sobre a esquerda, que a direita agora pretende usurpar para fins políticos. A exaltação do 25 de Novembro, imbuída de ignorância histórica, serve um único fim – o de adensar a guerra cultural entre a esquerda e a direita, polarizando a sociedade e dividindo-a sobre o ato fundador da democracia portuguesa (que, por sinal, já teve melhores dias).

Em primeiro lugar, urge esclarecer que uma decisão deste cariz pode apenas ter sido motivada por um de dois fatores: ou ignorância política ou uma motivação deliberada de reescrever a história. É que está em funções, desde 2022, uma Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril, cujo objetivo é recordar não só o “dia inicial inteiro e limpo”, mas todo o contexto que o antecedeu e as suas consequências. Presidida pela renomada historiadora Maria Inácia Rezola, tem vindo a promover iniciativas sobre a memória da Revolução dos Cravos desde antes do seu eclodir e o seu programa alastra-se até 1976, ano em que se inicia o período constitucional e se conclui, finalmente, a transição para a democracia. Por conseguinte, é relativamente fácil concluir que sim, esta Comissão também se debruçará sobre o 25 de Novembro aquando do seu cinquentenário, com base na opinião dos historiadores e especialistas que a compõem.

... a memória histórica é, infelizmente, uma arma. O controlo do passado foi, desde sempre, um poderoso instrumento do autoritarismo, uma ferramenta para influenciar mentalidades e ocultar factos.»

Diogo Mota Duarte

Chega?...

« ... se a política é teatro, o Chega tem-se especializado na ópera bufa. Uma trupe que, entre ladainhas de moralidade e sermões de pureza, não se cansa de nos oferecer este espectáculo patético — em que o partido que mais grita contra os vícios da República é o que mais zelosamente os pratica. Com a vantagem de, depois, erguer as mãos ao céu e jurar: “Não sabíamos de nada.”

Que saudades de quando a televisão era alfabetizada e a silly terminava a 31 de Agosto!..

A silly season deste 2025, ano silly, silly, silly - talvez a mais silly de sempre, teria um  epílogo apoteótico com o famoso e recente episódio protagonizado pelo presidente da Marcelândia.
Estamos todos mais descontraidos e menos exigentes e até ganhámos a capacidade de brincar com situações como esta (...e outras). Portanto, vai ser o novo normal que a silly se prolongue por Setembro e mais além.

sábado, 30 de agosto de 2025

Filarmónica de Santana assinala o 131º aniversário


A SMS - SociedadeMusical Santanense comemora, no próximo dia 1 de setembro, 131 anos de actividade ininterrupta. 

A data coincide com o Dia Nacional das Bandas Filarmónicas, o que reforça ainda mais o orgulho e o compromisso da SMS com a preservação e promoção da música filarmónica em Portugal. 

O programa comemorativo começa pelas 09H00, com o tradicional hastear da Bandeira da coletividade, na sua sede. 

Depois, no dia 7, pelas 12H00, a Banda de Música de Santana tocará o seu hino, enquanto as bandeiras são desfraldadas, num gesto de união, orgulho e homenagem a todos quantos contribuíram para o prestígio e longevidade daquela casa centenária, contando com novos elementos músicos. Pelas 12H45 será servido o almoço, seguindo-se pelas 15H30 um concerto alusivo à efeméride. Pelas 16H00, realiza-se a sessão solene. Pelas 18H00, será celebrada missa, seguida de romagem ao cemitério, em homenagem e sufrágio por todos os músicos, maestros, diretores, sócios, amigos e, no fundo, por toda a comunidade santanense que, ao longo de gerações, tem apoiado, acarinhado e aplaudido a sua “querida banda”. 

O programa conta com o apoio da Câmara Municipal da Figueira da Foz, da Junta de Freguesia de Ferreira-a-Nova, da Fundação INATEL, da Confederação Musical Portuguesa, do Ministério da Cultura, bem como dos seus associados, amigos e admiradores.

Marcelo não acerta uma...

Diplomatas admitem reacção dos EUA a “insulto” de Marcelo a Trump
Na foto, (Rui Ochoa/PR), Marcelo Rebelo de Sousa na Sala Oval em 2018
«Chamar “activo soviético” ao homólogo norte-americano poderá motivar sanções, incluindo a proibição de entrada no território dos EUA. E dificultar visita do primeiro-ministro à Casa Branca, onde nenhum chefe de Governo português foi recebido desde Durão Barroso.»
Descrever assim Donald Trump, um presidente e um homem de políticas lineares e claras, ainda por cima determinado e erudito, de tal maneira que a Europa vai pagar alegremente o desenvolvimento da inústria de guerra dos EUA, País deste génio, no mínimo é imprudente para um Presidente da República, pois pode provocar uma reacão dos EUA.
Citando  Victor Ângelo Ex-subsecretário-geral da ONU.
"Um Presidente da República não pode, de maneira nenhuma, dizer isso de outro presidente, que ainda por cima é de um país aliado e o mais importante da aliança a que Portugal pertence."

sexta-feira, 29 de agosto de 2025

As nossas Mães

Miguel Esteves Cardoso: "Quantos azares não nos aconteceram, graças aos cuidados das nossas mães? Só pareciam excessivos porque nunca aconteceu mal nenhum."

terça-feira, 26 de agosto de 2025

Estado de fumo

Maria Castello Branco

«Cheguei à minha aldeia, vizinha de Alpedrinha, na passada segunda-feira. O fogo já tinha descido encostas, galgado caminhos, desenhado no território uma geometria sem lógica, cheia de linhas de ameaça que os mapas não previam e que o vento reescrevia à sua vontade.

Os meus pais tinham decidido ficar. Na cidade, não se compreende o porquê. É perigoso, imprudente. Porque não fogem? Mas basta atravessar o país para perceber que ali, onde o socorro é incerto e o Estado é uma ausência ruidosa, a única estratégia é resistir. Quando não há garantias de que alguém virá proteger a casa, protege-se a casa. Porque as paredes ancoram. Porque, se elas caírem, arde também o que as rodeia. Ficar, nestas terras, também é proteger os outros.

As noites foram longas, tensas, dormia-se pouco. Dormia-se em turnos. Regavam-se os muros, as árvores, os caminhos, os telhados. As sirenes estavam longe, mas não sossegavam. À nossa frente, a Gardunha ardia em colunas que subiam e desapareciam como fantasmas. A cada rajada de vento, temia-se o desvio.

E, do outro lado, ninguém nos dizia o que fazer.

As aldeias organizaram-se como podiam. Homens com pás. Mulheres com baldes. Tratores a abrir caminhos improvisados. Grupos de Facebook a substituir o comando. Era ali que se anunciavam evacuações, que se mapeavam acessos, que se pediam braços. A informação não tinha centro, estava dispersa, vinha de mensagens, de boatos, de chamadas entre vizinhos. As juntas de freguesia publicavam comunicados em redes sociais. A GNR local, apesar de atenta, não sabia de nada. E assim se decidia: entre telefonemas, alertas, mãos no ombro. A logística da sobrevivência nascia da comunidade e não da estrutura.

Falei com um homem da Enxabarda. Contou-me que estava em casa quando o irmão ligou: os pais, numa aldeia mais a norte, estavam a ser evacuados. Subiu para a mota e foi. Chegou já com o fogo a cercar. Passou horas com uma pá, porque não havia água. Não havia bombeiros. Não havia ordens. A aldeia resistiu porque as pessoas estavam lá.

A sensação era a de um país sem Estado. Sentia-se que a promessa de proteção estava diluída em discursos. Lá, entre o plano e o incêndio, há uma distância onde só cabem os corpos.

Durante dias, a terra queimava e o Primeiro-Ministro permanecia no sul. Mergulhos, sorrisos, fotografias partilhadas entre fagulhas, a fórmula 1. As imagens cruzaram-se. E o país viu. Não foi só infeliz. Foi desadequado. Foi injusto. Há momentos em que o poder não pode estar longe, mesmo que não tenta nada para oferecer. Há presenças que se exigem pela sua própria existência.

O discurso do Pontal foi a confirmação de uma ausência prolongada. Um reflexo de governo fechado sobre si, como se a sua função fosse gerir o tempo mediático. Um sinal de que, por vezes, o exercício do poder esquece que o país não se resume às luzes de Lisboa.

Dias depois, quando o fogo ainda não parece dar tréguas mas as cinzas já deixam ver a paisagem queimada, chega o Governo. De gravata preta e rosto solene, o Primeiro-Ministro aparece, em Viseu, com o semblante esperado. Diz que lamenta “a percepção”. Mas não lamenta os seus erros. Diz que compreende “a sensibilidade”. Mas não reconhece o abandono. E anuncia medidas. São dezenas. Muitas têm nome de plano. Outras de promessa. Quase todas parecem responder à mesma lógica: tapar os buracos deixados pelas chamas. Ajudar quem perdeu. Indemnizar o que ardeu. Compensar a ausência com apoios. É o ritual habitual: o país arde, o Governo aparece, as câmaras registam, os papéis circulam.

Mas há um problema antigo nisto tudo: as ajudas tardam, e a prevenção nunca chega. E há a memória da família de Avelino Mateus Ferreira, morto em 2017, que três anos volvidos ainda não tinha recebido as indemnizações prometidas. Ainda há casas por reconstruir, caminhos por limpar, planos por cumprir. E, enquanto isso, os incêndios regressam. Repetem-se. Reescrevem os mesmos lugares com a mesma fúria. E o que se escuta da política é, invariavelmente, o mesmo som de sempre. Só se ouve depois da tragédia.

Arder não é excepção. Tornou-se, para Portugal, uma forma de agosto. E talvez isso nos diga mais do que gostaríamos.

Dizem-nos que o clima mudou. E é verdade. Mas a meteorologia não explica tudo. Portugal arde duas, três, quatro vezes mais do que os países vizinhos que têm a mesma secura, o mesmo calor, o mesmo verão. Há algo de estrutural na nossa fragilidade e que foi sendo tecido ao longo de décadas, à sombra do crescimento rápido e do abandono lento.

Somos o país da paisagem esquecida. Das encostas entregues a quem nelas consiga lucrar. Das árvores que ardem depressa porque crescem depressa. Uma floresta desenhada como conomia. A monocultura tornou-se o nosso modelo de ocupação. E o eucalipto o nosso símbolo de urgência: cresce, rende, arde.

(É uma anomalia no mediterrâneo. Espanha concentra as monoculturas de eucaliptos na Galiza — onde começou o fogo que se alastrou para território nacional — e nas Astúrias. Outra exemplo é Itália, que vê a maior parte da sua área rural ocupada por latifólias.)

Mas há outras árvores, e há outras formas de pensar o território. Folhosas autóctones, mosaicos de gestão, margens ripícolas que travam, desacelaram o fogo. Não é utopia nenhuma. É ciência, pode ser práctica, pode ser política. Se houver vontade de a fazer.

Mas fazer isto exige tempo. E dinheiro. E uma palavra que a democracia raramente pronuncia: continuidade.

França, que arde menos, começou a pagar o que chama o “custo da paisagem”. Aceitou que prevenir não é mais barato, mas é mais justo. Porque evita perdas que não se contam apenas em hectares. Contam-se em histórias, em casas salvas por uma pá, em noites acordadas com medo que o vento mude de lado.

Portugal já tem planos. Tem fundos. Tem palavras. O que lhe falta é densidade. A gravidade que obriga a pensar o território a partir do futuro. Não basta plantar. É preciso manter. Não basta manter. É preciso rever. E, sobretudo, não basta prometer. É preciso reordenar o olhar: da árvore para a floresta, da floresta para a aldeia, da aldeia para a terra.

Talvez o pacto de regime que o primeiro-ministro agora propõe venha tarde. Talvez não. Mas só será um pacto se aceitar o óbvio: uma paisagem que resiste custa. E não custa pouco.

Mas custa menos do que um país que arde todos os verões.»

Novo ciclo das 5ªs. de Leitura em Setembro

 Via Diário as Beiras

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Não há fome em Gaza. Não há fome em Gaza. Não há

 Público (para ler clicar na imagem)

Preocupante

É para isto que queremos a inteligência artificial?

Sónia Sapage

«Esta semana, soubemos que Portugal é um dos piores casos de desinformação sistemática da Europa e que, em Julho, houve uma vaga de notícias falsas visando, precisamente, a imigração. "Aumentou 5% em comparação com Junho", lia-se no relatório mensal do Observatório Europeu dos Meios de Comunicação Digitais. As falsas narrativas de que os imigrantes têm prioridade nas matrículas escolares em relação aos portugueses foram das mais disseminadas - com a contribuição de um deputado na nação que leu em voz alta, no Parlamento, os nomes de várias crianças filhas de estrangeiros matriculadas numa escola lisboeta. 

Outros temas proficuos em dar origem a desinformação foram: a guerra na Ucrânia, a União Europeia, o conflito entre Israel e Hamas, as questões LGBTQIA+ e de género ea covid-19. Dado curioso, 10% das notícias falsas difundidas em Julho foram geradas por inteligência artificial (IA). 

Como se já não bastasse os problemas criados pela desinformação, há uma questão adicional: é que a IA não está isenta de contribuições negativas para о planeta. Quantos mais data centers há, mais lixo electrónico é produzido. Quanto mais servidores são precisos, mais água se consome para refrigerar os seus componentes. Quantos mais computadores poderosos há, mais energia é consumida, mais gases com efeito de estufa são libertados e mais minerais essenciais e elementos raros são extraídos. As notícias falsas já são, por si só, uma perfeita irresponsabilidade como forma de manipular a opinião pública. Mas quando se gastam recursos planetários para as escrever, inventar e disseminar, torna-se ainda mais grave. É para isto que queremos uma ferramenta tão poderosa como a IA? De certeza que não.»

Este país não estando a ser para jovens vai ter de ser para velhos...

"No âmbito das políticas sociais é reconhecido que crianças e idosos e crianças são os grupos em maior risco de pobreza. Lê-se no Público que o número de pessoas idosas que beneficiam do Complemento solidário para Idosos continua em crescimento significativo. Considerando o mês de Julho, cresceu 57,3% relativamente a 2024, 228827 pessoas, mais 83348 que em Julho do ano anterior. Este apoio abrange as pessoas com um rendimento inferior 630,67€.

Na verdade, em Portugal, a vida de muitos de nós, os velhos, é dura e difícil. Portugal é um dos países da Europa com população mais envelhecida, que vive só e no limiar de pobreza, uma percentagem muito significativa dos idosos tem pensões bem abaixo do salário mínimo."

Para continuar a ler clicar aqui.

domingo, 24 de agosto de 2025

Hoje, foi dia de prestar homenagem ao Patriarca da Liberdade

Comemorações de homenagem a Manuel Fernades exaltaram o seu exemplo de coragem e amor à Liberdade.

Pedro Santana Lopes exaltou os presentes a olhar para Manuel Fernandes Tomás com a “certeza de que vale sempre a pena amar muito a liberdade”, e lembrou que apesar de considerar que vivemos “num mundo em que as regras são poucas, as pessoas esquecem os valores e princípios, desorientados até pelo excesso de informação, que aí vem”.

Um “até à próxima” crise dos incêndios

 David Pontes, jornal Público

"Há sinais que podem perdurar, independentemente dos esforços de contenção de danos feitos nos últimos dias. Um desses sinais é o da inexistência da ministra da Administração Interna. É a segunda vez que Luís Montenegro escolhe uma titular para uma pasta estratégica que aos primeiros sinais de uma crise se mostra inexistente. É ele o responsável, mas é ela o rosto da ausência governamental, lapidarmente registada na fuga do "vamos embora". O peso deste erro de elenco está não só no facto de ser uma pasta com dossiers sempre importantes, como a segurança ou a protecção civil, mas por ser a tutela de polícias e bombeiros. Ambas são forças com uma imensa implantação territorial, uma ligação forte à comunidade e onde o Chega tem conseguido uma boa implantação. Outra marca perene éa de que o Governo é frágil a gerir crises. Já tinha sido assim com o apagão, foi agora com os incêndios. Muito hábil na refrega política, o executivo atrapalha-se quando a crise a gerir está no país e não nos corredores de São Bento, do Parlamento ou dos ministérios. Para quem domina a comunicação pelo silêncio, Luís Montenegro tinha obrigação de saber quando é mesmo preciso falar."

A realidade de merda que temos....

Citando Margarida Davim.
«Eduardo Lourenço dizia que “não trabalhar foi sempre, em Portugal, sinal de nobreza”, o trabalho, dizia, era “para o preto”. Por muito que os portugueses se tenham matado sempre a trabalhar, as elites nacionais fugiam como o Diabo da cruz da ética protestante do trabalho. Hoje, essa fuga ao trabalho é incutida nos filhos pelas classes a quem o 25 de Abril deu instrumentos de mobilidade social. Aqueles que sabem o que era amargar no campo, nem que seja pela memória da avó de lenço na cabeça e pés descalços, querem poupar os filhos a isso. É perfeitamente compreensível. Só não se entende quem, afinal, virá fazer o trabalho, se não o queremos feito por nós nem pelos nossos filhos e também não queremos que cá venham os de fora fazê-lo.»
O que valeu na agricultura, passou-se na pesca, acrescento eu que conheço bem essa realidade.

Enquanto povo demitimo-nos e esquecemos os limites da decência e da competência. 
Duvidam. Os sinais estão aí e não enganam.
Citando novamente Margarida Davim.
«“As pessoas conseguem ser muito más”, diz a minha sobrinha, 9 anos acabados de fazer, enquanto falamos sobre as notícias acerca de um grupo de pessoas que deram à costa no Algarve e lhe explico que elas terão de abandonar o País. Quando se tem 9 anos, o difícil é entender por que motivo não se acolhem aqueles que arriscaram a vida, dias a fio numa casca de noz, a tentar fugir da miséria. “As pessoas são burras”, acrescenta a minha filha, de 7 anos, indignada, enquanto explica à prima que quem vem para cá só está à procura de um trabalho e de viver num país em paz. “Se houvesse uma guerra, eu também fugia”, diz ela, olhando para o mar, talvez à procura de vestígios de outras embarcações que pudesse salvar. Faz uma pausa. E começa a explicar à prima que as bolas de Berlim que acabaram de me pedir na praia foram trazidas para Portugal por judeus que fugiam à guerra “e a um mau mesmo muito mau”

Temos corruptos e apontados corruptos a candidatarem-se a eleições. E as sondagens colocam alguns no poder.
O regime democrático está transformado numa partidocracia. Os partidos políticos foram tomados de assalto por grupos de interesses.
Os políticos, na sua esmagadora maioria, são verdadeiros vendedores de banha-da-cobra.
Os homens bons da terra, foram substituídos pelos padrinhos, por políticos de aviário, os chamados jotinhas.
A merda da realidade (ou melhor, a realidade de merda) está aí.
Continuando a citar Margarida Davim: «Suponho que a empatia seja uma coisa que se gasta. Parecemos bastante dotados dela quando ainda não chegámos à puberdade e entendemos facilmente a ideia de ajudar quem precisa. Depois, começamos a ficar enterrados dentro do próprio umbigo, assustados com um conceito que as crianças não dominam: a escassez. Quanto mais nos convencemos de que o que existe é limitado, mais ameaçadora nos parece a ideia de partilhar o que temos. A questão é que existe, muitas vezes, uma manipulação da ideia de escassez: apresentam-nos como escassos bens que poderíamos facilmente partilhar, ao mesmo tempo que se ocultam as possibilidades multiplicadoras que têm certas ações. Uma fila de gente com turbante à porta de um Centro de Saúde no litoral alentejano parece uma ameaça à possibilidade de ter uma consulta, num local onde há cada vez menos médicos. Uma fila dessa mesma gente no campo, apanhando fruta sob um sol escaldante, pelo contrário, não parece suscitar qualquer ideia sobre os benefícios desse trabalho. Porquê? Porque, muito provavelmente, os benefícios desse trabalho sofrido e mal pago vão quase exclusivamente para os bolsos de quem explora aqueles campos agrícolas e não é obrigado a dar nada (ou quase nada) em troca à população que ali vive.
Quando um produtor de vinho desespera porque não consegue contratar pessoal para a vindima, apesar de oferecer boas condições, oiço-o a explicar-me que os jovens lá da terra se recusam a trabalhar e nem lhe atendem o telefone. São portugueses e não vivem de outro subsídio que não seja a mesada paga pelos pais, que lhes garantem telefones topo de gama e um verão sem responsabilidades, entre os ecrãs e as praias fluviais da zona. Os mesmos pais que se incomodam com a presença cada vez mais visível de africanos e indostânicos nas ruas da terra, onde nunca antes se tinha visto gente tão escura, vindos precisamente para aceitar os trabalhos que que os seus filhos recusam.»

O interesse público foi metido na gaveta e os interesses partidários e clientelares norteiam a malta governante.
O princípio da legalidade, é elástico e moldado aos interesses dos grupos de pressão.
As estruturas do Estado sugadas até ao amago. Veja-se o que acontece aos biliões dos fundos europeus, o que acontece nos Institutos públicos, nas enpresas públicas por onde se passeiam regularmente os cães de fila, os homens de mão dos partidos, sugando milhões aos cofres do Estado, directa e indirectamente, enquanto o povo sua as estopinhas para pagar a factura.
O compadrio, a cunha e a informação privilegiada, tornaram-se a forma habitual e banalizada de gerir a coisa pública.
Temos o negócio admitido (quando não fomentado) dos incêndios.
Os projectos megalómanos decididos sem estudos prévios mas que certamente servem interesses clientelares ávidos destes ElDorados, destes paraísos da corrupção, capazes de transformar orçamentos de milhões em despesa de biliões. Para a sua barriguinha, para a barriguinha dos senhores políticos e quejandos e dos respectivos partidos políticos.

A terminar, citando Margarida Davim.
“Vocês não vão expulsar ninguém, ninguém. E muito menos milhões de pessoas. Primeiro, porque se expulsam tanta gente, no final vai ter de trabalhar até o Abascal. E, segundo, porque não representam os imigrantes. Representam os empresários que os exploram. E se os empresários exploradores perceberem o que querem fazer, até vos comem”.
Não podendo andar a distribuir enxadas ou luvas de trabalho entre os apoiantes dos partidos que querem criminalizar a imigração, talvez seja importante voltar à ideia do trabalho como fonte de dignidade. Não o dinheiro. Não o sucesso. O trabalho. Aquilo que se consegue fazer usando as mãos e a cabeça. Aquilo que produz alguma coisa.»

sábado, 23 de agosto de 2025

Governo tropeça nas taxas

Armando Esteves Pereira

"Para apagar o fogo político e os danos de imagem que o governo sofreu com o inferno dos incêndios Luís Montenegro resolveu quinta-feira anunciar um pacote, a quente. Entre as 45 medidas consta o “reforço dos cuidados de saúde nas zonas afetadas”. O  primeiro-ministro afirmou que esse reforço abrange a “isenção de taxas moderadoras e a dispensa gratuita de medicamentos pelas unidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, sem adiantar mais detalhes. Na sequência deste anúncio, a antiga ministra da Saúde, Marta Temido, lembrou que já há isenção das taxas de moderadoras em todo o País, desde 2022,  "salvo urgências não referenciadas" . Temido disse que estremeceu ao ouvir o anúncio de Luís Montenegro e todos nós temos razões para temer com o amadorismo e a falta de rigor da equipa governativa.

Na sequência polémica o Ministério da Saúde já esclareceu que a isenção anunciada de taxas moderadoras nas urgências é para “doentes não referenciados” através de uma unidade de saúde. O diabo está sempre nos detalhes a e máquina política do governo está a cometer demasiados erros e parece perder a cabeça. Já na festa do Pontal o primeiro-ministro tinha anunciado, no âmbito da reforma do Estado, a criação do serviço “perdi a carteira” onde se poderá tratar de todos os documentos de uma só vez. Acontece que este serviço já existe e está em funcionamento na Loja do Cidadão das Laranjeiras, em Lisboa,  há anos e em 2024 foi anunciado que iria ser alargado a todo o País. Se o governo não tiver mais cuidado com o rigor da sua ação, vai perder mais do que a carteira."

«...ciclista figueirense Luís Santos enfrenta as 24 Horas de Le Mans, a solo, por uma causa solidária»

 Via Diário as Beiras

Evento solidário em Caceira

 Via Diário as Beiras

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

"De facto, o que havia para festejar de quase ano e meio de governação? Porque era o Pontal tão imprescindível?" *

* Miguel Sousa Tavares

"É difícil de entender que, com tão imprescindíveis consultores de imagem e assessorias de imprensa, ninguém tenha explicado ao Governo que fazer uma festa pública no calçadão de Quarteira para celebrar os seus feitos, enquanto metade do país ardia furiosamente há dias e milhares de civis e de bombeiros lutavam pelas suas casas e as suas aldeias e com as festas tradicionais canceladas, era… brincar com o fogo. Ver ministros a dançar num lado dos ecrãs e labaredas descontroladas a devorar floresta no outro foi coisa para revoltar qualquer português de bom senso e ficar na memória colectiva durante muito tempo. Não, ao contrário do que reclamou Montenegro, a culpa não era do mensageiro, era mesmo da mensagem. O futuro, mesmo o futuro próximo das eleições autárquicas, encarregar-se-á de mostrar se os danos causados à imagem da AD e do Governo se ficarão pela imagem ou terão outras consequências. . Mas o acontecimento do Pontal, em si mesmo, e o discurso que lá levou o primeiro-ministro confirmam sinais de um deslumbramento com o ainda jovem poder e uma arrogância no seu exercício que os próprios tendem a confundir com determinação e capacidade de decisão. De facto, o que havia para festejar de quase ano e meio de governação?"

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Autárquicas 2025 - CDU

A CDU Figueira da Foz apresentou a sua candidatura à Câmara Municipal, Assembleia Municipal e Juntas de Freguesia da Figueira da Foz. Paulo Ferreira, é o candidato á Câmara Municipal.

Autárquicas 2025 - Partdo Socilaista

Foram entregues oficialmente as listas do Partido Socialista às eleições autárquicas de 2025 no Tribunal da Figueira da Foz!

A candidatura à Câmara Municipal é liderada por João Paulo Rodrigues.

Autárquicas 2025 - Coligação Figueira a Primeira (PSD/CDS)

No passado dia 18, foi formalizada a entrega no Tribunal da Figueira da Foz das listas de candidatos aos vários orgãos que concorrem nas eleições autárquicas de 12 de outubro da coligação Figueira a Primeira (PSD/CDS). Santana Lopes é o candidato à presidência da câmara Municipal. Ricardo Silva, vereador PSD no actual executivo camarário, número 2 em 2021, na lista então apresentada pelos sociaisdemocratas, vai em 5º. lugar na lista dos nomes dos candidatos à Câmara Municipal apresentada pela coligação Figueira a Primeira (PSD/CDS) em 2025!..

A lista é a seguinte:

  1. Pedro Santana Lopes 
  2. Anabela Tabaçó
  3. Olga Brás 
  4. Manuel Domingues 
  5. Ricardo Silva 
  6. Claúdia Rocha 
  7. João Paulo  Martins 
  8. Alda Marcelo 
  9. Susana  Cabete
  10.  Carlos Tenreiro
  11.  Maria do Rosário Oliveira
  12.  Maria Paula Neto

segunda-feira, 18 de agosto de 2025

A história não se pode apagar...

Vasco Gonçalves há 50 anos em Almada

"Foi em 18 de Agosto de 1975 que Vasco Gonçalves proferiu, em Almada, perante 15.000 pessoas, um discurso que durou uma hora e meia e que foi transmitido em directo pela RTP. Pode ser visto e ouvido em dois vídeos AQUI e AQUI.

Um discurso que acabou com Vasco Gonçalves lavado em lágrimas, como descreve o Diário de Lisboa do dia seguinte:
Dramática foi a carta que Otelo lhe escreveu 24 horas depois: «Percorremos juntos e com muita amizade um curto-longo caminho da nossa História. Agora companheiro, separamo-nos. Julgo estar dentro da realidade correcta deste País ao assim proceder. (...) Peço-lhe que descanse, repouse, serene, medite e leia. Bem necessita de um repouso muito prolongado e bem merecido pelo que esta maratona da Revolução de si exigiu até hoje. Pelo seu patriotismo, a sua abnegação, o seu espírito de sacrifício e de revolucionário».

O V Governo Provisório, que tomara posse dez dias antes, tinha as semanas contadas e não houve muralha de aço que lhe valesse. A 19 de Setembro, Pinheiro de Azevedo assumiria as rédeas do VI. O 25 de Novembro estava à vista."

No Pontal, um primeiro-ministro a brincar com o fogo

Público

"Montenegro sustentou, no discurso do Pontal, que é possível "fazer a festa" e acompanhar o que se passa no terreno. Pois, mas as percepções de que ninguém está a acompanhar a sério foram evidentes. E, já agora, também era possível comemorar o 25 de Abril e chorar a morte do papa Francisco - aliás, com muito mais propriedade - e Montenegro suspendeu as festividades."

Para ler melhor clicar em cima da imagem

Ardemos porque não aprendemos nem cumprimos

"Depois dos trágicos incêndios de 2017 registou-se um progresso considerável na preparação de uma estratégia para a prevençãoe combate dos fogos em Portugal. Foram tomadas medidas de política pública, discutidas com especialistas, participadas poragentes locais e acompanhadas por relatórios periódicosda Agência para a Gestão dos IncêndiosFlorestais (AGIF). Os resultados foram, pelo menos até final de 2024, menos ignições, menos área ardida, mais recursos, mais orçamento. Amédia da área ardida caiu 59%, o número de incêndios reduziu-se 63% e o orçamento anual multiplicou-se por 4,5.A distribuição de verbas também se alterou, deixando para trás o modelo centrado quase exclusivamente no combate (80%) e passando para uma lógica mais equilibrada, com 55% em prevenção e45% em combate. Houve igualmente um reforço de 45% nos recursos humanos. Mas este verão voltou a mostrar queo problema estrutural permanece."

Foto Leonardo Negrão

Luís Montenegro "virou à direita" (“cheganizou-se”)...

"A liberdade é sobretudo o direito de dizer às outras pessoas o que elas não querem ouvir." (GEORGE ORWELl.)
"Sinto que a estupidez subiu ao poder". (ZEFERINO COELHO) 
O que esperam para acordar?
Acordem! 
A ameaça continua a ser os que dominam o sistema há imensos séculos. 
A ameaça são os mesmos. Os do sistema que desde a primeira hora quer exterminar os direitos conquistados com a Liberdade de Abril. 
"Acordai acordai homens que dormis a embalar a dor dos silêncios vis". (JOSÉ GOMES FERREIRA)

Onde ficou a promessa do "não é não" de Luís Montenegro!
A viragem à direita do PSD é reconhecida por muitos. Até por Miguel Morgado, professor auxiliar do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, que foi assessor político do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que admite que o PSD "está a ir atrás do Chega".  
Numa perspectiva histórica, António Barreto considera que "o PSD é o partido mais incerto da vida política portuguesa, é o que tem menos ideologia e mais base social".  E precisa que "a parte programática é pouco firme, mas tem um raro apoio na comunidade, na pequena indústria, no pequeno comércio, nos funcionários públicos, nos pensionistas, nos trabalhadores das autarquias", em suma, "tem uma base social de interesses locais". Segundo este sociólogo, "desde o final dos governos de Aníbal Cavaco Silva que o PSD está à procura" de um projecto para o país. Antes há "o período glorioso com Sá Carneiro, mas não deu para ver, ele fez prova de vontade de luta, mas não fez nada, não teve tempo". Já "Cavaco Silva foi predestinado da sorte, fez o que queria, liberalização, privatização". Teve "o dinheiro europeu a ajudar e Mário Soares contribuiu muito, no primeiro mandato como Presidente".

O objetivo do actual líder do PSD, partido de centro-direita, fundador do regime democrático em Portugal, é manter o PSD como partido dominante da direita. Daí o primeiro-ministro marcar a governação com medidas que esvaziem o discurso populista radical de Ventura. 
O partido de André Ventura tem sido o parceiro parlamentar que tem apoiado várias medidas legislativas do Governo ou se tem disponíbilizado para o fazer. Desde medidas sobre imigração, como as mudanças na Lei dos Estrangeiros e na Lei da Nacionalidade, às alterações à disciplina de Cidadania, passando pela proposta de reforma da legislação laboral, no sentido da sua flexibilização. E, ainda, em medidas como a baixa de impostos para trabalhadores e empresas e a aprovação de um suplemento extraordinário de pensões. O sociólogo António Barreto afirma, em declarações ao PÚBLICO, que "todos os partidos vão mudando" e o que se passa é que, com Luís Montenegro, "o PSD está à procura de si mesmo"
Será que, depois de Momtenegro, o PSD ainda vai conseguir reencontrar a sua matriz natural?

domingo, 17 de agosto de 2025

A silly season dá cabo da malta...

Via UM JEITO MANSO

iMAGEM JORNAL PÚBLICO

«A silly season dá cabo da malta. Que o diga o Marcelo a quem manifestamente o sol de Monte Gordo não trouxe melhoras. Ir anteontem fazer de bombeiro privado do Luís (segundo o Valupi, com base em artigo do Público) e dizer que a coordenação no combate aos incêndios tem sido "espetacular" dá que pensar. 

Estando perante uma das piores semanas de sempre de incêndios, o que teria acontecido se a coordenação tivesse sido um bocadinho menos "espetacular"? Boa presidente Marcelo, boa! 

Semelhante a esta só aquela do Marcelo que não ia falar da saúde porque a ministra tinha prometido resolver os problemas. 

Silly season é uma coisa, hipocrisia é outra coisa. E a conjugação de uma com a outra dão um produto chamado Marcelo.»