segunda-feira, 12 de agosto de 2024

José Manuel Constantino, a vida dedicada ao desporto

1950-2024
Foto: José Manuel Constantino (Créditos: Adelino Meireles/Global Imagens).Via O Jogo
Morreu ontem, dia de encerramento dos Jogos de Paris, o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino. O dirigente, de 74 anos, estava há dias internado num hospital de Lisboa e não resistiu a doença prolongada.
José Manuel Constantino era uma das figuras mais respeitadas do desporto nacional, tendo assumido a liderança do COP a 26 de Março de 2013, já depois de ter comandado também os destinos do Instituto Português do Desporto e da Juventude. Durante os primeiros dias da edição dos Jogos Olímpicos de Paris ainda acompanhou o evento e a comitiva nacional, mas a doença que o foi fragilizando nos últimos anos obrigou ao internamento.

Alfredo Pinheiro Marques

Publiquei hoje no OUTRA MARGEM um texto interessantíssimo de Alfredo Pinheiro Marques.
Por amável deferência do Doutor Alfredo Pinheiro Marques, sou leitor há muito deste intelectual que tem uma história de vida única.
Alfredo Pinheiro Marques é a prova provada que a solidão dos intelectuais pode não ser patológica. Antes, imprescindível, fundamental, necessária e habitada.
Os seus textos, descritivos e longos, obrigam a lê-los até ao fim, pois são naturais, criativos, formativos e informativos.
Este, sobre CARLOS LOPES, UM RAPAZ DE VISEU, EM LOS ANGELES (E NO SEU PRÓPRIO PAÍS…), para mim foi o pagamento de uma dívida não só desportiva, mas também algo que molda e eleva o carácter e o espírito de um grande atleta, ou de um Homem, por mais simples que seja: a idiossincrasia cultural de cada um de nós.
Como dizia José Saramago: "um Homem só escreve com as palavras que conhece".
E o Doutor Alfredo Pinheiro Marques conhece muitas...

"Custou 69,4 mil euros"

Via Diário as Beiras 

Intercâmbio cultural


 Via Diário as Beiras

UM RAPAZ DE VISEU, EM LOS ANGELES (E NO SEU PRÓPRIO PAÍS…)


FOTO:
DAQUI

TEXTO: ALFREDO PINHEIRO MARQUES, DATADO DE 12 DE AGOSTO DE 2024

«12.08.2024, completaram-se quarenta (40) anos desde 12.08.1984… o dia em que o Homem da Maratona — o rapaz de Viseu… — conquistou para Portugal a primeira Medalha de Ouro dos Jogos Olímpicos. E conquistou-a nem mais nem menos do que na prova da maratona… A mais importante, mais simbólica e mais difícil de todas, na versão moderna desses Jogos que os Gregos criaram na Antiguidade e que a finura francesa renovou e recomeçou a partir do século XIX, e que, por isso, depois, a partir do século XX, se tornou o principal palco mundial, e ainda hoje (nesta semana que agora passou) o continua ser.

Carlos Lopes, o rapaz de Vildemoinhos (Viseu), é o homem por quem o autor destas linhas tem, e sempre teve, a maior admiração e o maior respeito, por entre todos os seus concidadãos e contemporâneos portugueses da segunda metade do século XX e dos inícios do século XXI. E eu sempre soube que, um dia, mais cedo ou mais tarde, iria escrever sobre ele, e dizer publicamente isso mesmo. E esse dia chegou. É hoje, quarenta anos depois.

Quando eu próprio estive em Los Angeles, em 1992 — em Westwood, na UCLA, ali ao lado de Beverly Hills, de Rodeo Drive, e de Hollywood… —, foi a sombra desse rapaz de Vildemoinhos que eu lá então pressenti, e procurei… Quando percebi que, sendo eu também vindo de Viseu, tinha chegado lá… E lá estava, eu, ao lado da "Meca" dos sonhos e das ilusões do mundo moderno inteiro… Do verdadeiro centro do mundo, da "Sociedade do Espectáculo".

Essa sombra foi a coisa mais verdadeira que lá encontrei (talvez só acompanhada pelo bronze de um busto de Aldous Huxley, na biblioteca da UCLA, de que também ia à procura?).

Pensei em Séneca. "Não há nada pior para a formação de um bom carácter do que perder tempo a assistir a espectáculos"… Estamos sós. Nascemos sós. Devemos fazer a nossa própria corrida (mas, contra nós próprios…). Sós. Para nos testarmos a nós próprios. Para sabermos até onde poderemos chegar. É esse o espírito ("that's the spirit…"). Olímpico.

Devemos ser nós a escolher a direcção e a disciplina, seja ela qual for. Seja ela mais ou menos difícil (mas as mais difíceis são as melhores). Ou aceitar a que o acaso do destino nos propiciou, mas… tornando-a nossa, por vontade ("dúplice dono de dever e de ser"… "calmo sob mudos céus"…). Tornarmo-nos naquilo que já somos, segundo o conselho nietzscheano.

E… sobretudo, depois, devemos correr… Correr por correr. Como se fosse sem ser por nada (nós sabemos porquê…). Por uma coroa de ramos de oliveira, ou qualquer outra coisa assim, que tivermos escolhido. Devemos ser olímpicos. Na nossa vontade, pelo que queremos, e no nosso desprezo, pelo que desprezamos.

Carlos Lopes, o homem que se fez a si próprio e que, em 1984, neste mundo (no centro deste mundo, tal como ele já então era… i.e. em LA.…), veio a ter o maior dos triunfos planetários possíveis, tinha, antes disso — 37 anos antes disso — nascido pobre.

Em Portugal, país pobre (tal como sempre foi, e continuou a ser).

Quando Carlos Lopes tinha onze anos de idade, foi servente de pedreiro. Para ajudar a sustentar a família (sendo o mais velho de oito irmãos). Ele até teria querido, então, ser jogador de futebol, no clube da sua terra, o Lusitano de Vildemoinhos. Mas foi recusado, e veio antes a fazer parte de uma secção de atletismo que ele próprio lá criou, juntamente com os seus amigos de então, nesse clube da sua aldeia, nos arredores de Viseu. Eles começaram a correr, uns atrás dos outros, num pinhal na Beira Alta, a ver quem era o que chegava primeiro. Foi assim que se criou um futuro campeão de corta-mato, e de estrada, e de longa distância.

A primeira competição oficial em que participou foi a corrida de São Silvestre, em Viseu, em 1965. À medida que cresceu, corrreu todo o circuito das competições de atletismo nos circuitos locais e regionais da Beira Alta, à volta de Viseu. Os resultados eram invulgares e, por isso, depois, teve a oportunidade de ir para Lisboa, em 1967, e aí correr por um clube da capital, o Sporting, e ser treinado pelo melhor treinador da época, Mário Moniz Pereira. E ele era sportinguista… quis ir… Recusou a Académica de Coimbra e o Benfica de Lisboa. Agarrou essa oportunidade de ser treinado pelo melhor treinador português, como já tinha agarrado as anteriores, ao mesmo tempo que, sempre (para poder sobreviver, enquanto corria…) trabalhou como empregado de mercearia, como serralheiro, como contínuo de um jornal e de um banco.

O que, portanto, quer dizer que os dois portugueses que depois vieram a ganhar prémios internacionais verdadeiramente importantes, de primeiro nível mundial — Carlos Lopes a Medalha de Ouro Olímpica em 1984, e José Saramago o Prémio Nobel da Literatura em 1998 —, haviam sido, antes disso, ambos, serralheiros… ou aprendizes de serralheiros…

Tão diferentes, mas, nisso, unidos: pobres, num país de pobres.

Em 1970 já brilhava em Portugal inteiro, e não somente em Viseu. E em 1976 já estava em circuitos internacionais, e ganhou o Campeonato do Mundo de "cross-country" (corta-mato, sem ser nos pinhais de Vildemoinhos). Depois, nos Jogos Olímpicos, fez o cursus honorum como deve ser feito, longamente, começando desde o princípio… Em 1972, em Munique, para aprender… e em 1976, em Montréal (já sabendo), para ganhar… E só não ganhou, logo então, o ouro da corrida de 10.000 metros (teve que se contentar, por enquanto, com a Medalha de Prata) porque, no fim, à última hora, depois de dominar a corrida toda, esse ouro de Montréal foi para o seu grande rival de então, o finlandês Lasse Viren, que era polícia (nessa época, todos eram então ainda amadores, e não eram mercenários comercialmente subsidiados…). O rival que, para além de ter uma grande capacidade atlética, beneficiava também de práticas tecnológicas e de estratégias de treino então ainda muito pouco divulgadas (como a de fazer transfusões sanguíneas), as quais seguramente não estavam ao alcance de um atleta português.

Foi uma desilusão. Mas, em todo o caso, nesse momento, com essa Medalha de Prata dos 10.000 metros, foi assim ganha para Portugal, pela primeira vez, desde sempre, uma medalha olímpica em atletismo. Foi mostrado que era possível. Por esse rapaz de Viseu.

E, mais importante ainda, ele aprendeu, para o futuro ("fui enganado por um polícia"…).

Continuou. Em Julho de 1984, enquanto se preparava, em Portugal, para os novos Jogos Olímpicos, que iam ter lugar nos Estados Unidos no mês seguinte, foi atropelado… Atropelado enquanto treinava, correndo, numa rodovia, no meio do trânsito desordenado de Lisboa (e foi atropelado pelo carro do candidato a presidente de um clube lisboeta, o clube em que ele próprio treinava, e em frente ao estádio do outro clube lisboeta…).

Quando se levantou do chão, e deu conta de que até ainda conseguia correr, diz que percebeu, logo então, que ainda viria a conseguir ir para a América, competir, e ganhar.

Recuperou, foi, e ganhou. Quinze dias depois desse atropelamento, em 12 de Agosto de 1984, venceu, destacadíssimo, a prova mais importante e mais emblemática de todas as do atletismo mundial, a maratona, nos Jogos Olímpicos de 1984 em Los Angeles.

Foi, portanto, o primeiro português a ser medalhado com Ouro, nos Jogos Olímpicos.

Na Maratona.

Tinha andado ao longo dos últimos dois anos e meio a treinar especialmente só para isso — só para a maratona —, e a participar em provas dessas (sem nunca ganhar nenhuma delas… e, às vezes, até desistindo…), só para ver e vigiar os potenciais adversários, sem dar nas vistas.

Tinha sobre eles a enorme vantagem de (embora deliberadamente não dando nas vistas nessa especialidade de maratona) ser um dos melhores, ou o melhor, de todos os atletas nas especialidades de 10.000 e 5.000 metros; e portanto poderia vir assim a surpreender todos os adversários futuros, com uma aceleração e uma ponta final arrasadora nos últimos cinco quilómetros, se lá chegasse, quando um dia viesse a correr a sério, para ganhar, uma prova de 42 quilómetros e 195 metros, como é a maratona… E foi isso o que veio a acontecer.

Em Los Angeles correu os dois últimos quilómetros saboreando isso; e quando por fim entrou, sozinho, e destacadíssimo, naquele Coliseu californiano, saudou o público — de 90.000 pessoas… — com tanta ou mais efusividade do que aquela com que esse público, surpreendido, e em delírio, o estava a saudar a ele… E, mesmo depois de já ter passado a meta, continuou a correr, para dar mais uma volta ao estádio… saudando…! Viseu em LA…

O seu tempo de então, de 1984, viria a continuar sem ser batido por ninguém durante VINTE E QUATRO (24) ANOS. Foi, então, de 2 horas, 9 minutos e 21 segundos… Um recorde que durou até aos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008. E, logo depois, no ano seguinte, em 1985, para além de já ter batido o recorde olímpico, Carlos Lopes bateu também o recorde mundial absoluto, em Roterdão, com 2 horas, 7 minutos e 12 segundos …

Ganhou a maratona, em LA, quando tinha mais idade do que qualquer outro vencedor: trinta e sete (37) anos de idade.

Foi o último vencedor europeu nas provas todas de longa distância, antes do domínio avassalador desse tipo de provas pelos atletas extra-europeus, etíopes, quenianos, etc..

As suas duas medalhas olímpicas conseguidas para Portugal, uma de Ouro e outra de Prata, continuaram a ser o melhor resultado olímpico obtido por um só homem, para este país, durante os quarenta (40) anos seguintes. Até às Olimpíadas que agora estão em curso em 2024 em Paris… 

E Carlos Lopes continuou a ser o mesmo homem que sempre havia querido ser, e nunca se deixou instrumentalizar ou manipular para qualquer fim, político, partidário ou comercial, ao serviço seja do que for ou de quem for. Na sua própria terra, em Viseu, e no país. Olímpico.

Ele fala por si mesmo. Carlos Lopes é um homem inteligente, e corajoso, e que bem sabe — e bem afirma, claramente (em Viseu, e em Lisboa, e no país inteiro) —, que foi a democratização, em Portugal, no pós 25 de Abril de 1974, que veio a permitir que a sua carreira tenha sido feita como foi, e tenha tido os êxitos que teve. Para além, claro, da razão e força principal do seu destino e dos seus êxitos, desde Viseu a Los Angeles: a SUA VONTADE… A sua capacidade de querer, e de conseguir. E de saber o que deveria querer.

Ele sabe bem, e aponta, as razões por que a prática desportiva e a participação olímpica em Portugal não têm o desenvolvimento que deveriam ter se Portugal e as suas instituições escolares fossem capazes de se estruturar para isso, em vez de acumular retóricas e mentiras.

Esse homem fala por si.

Nunca verdadeiramente em Portugal lhe deram o reconhecimento e a admiração que há muito merecia, na dimensão que merecia. Em vez disso, foram-lhe dando, sucessivamente, um a um, os degraus todos — sucessivos… — de uma condecoração estatal que o Doutor Oliveira Salazar antes havia inventado, no seu tempo, em 1960, com o nome do mítico "Infante Dom Henrique", dos míticos "Descobrimentos"… O "Infante", cuja mentira histórica, monumental, o Estado português nunca teve coragem de deixar de oficiar, nem antes nem depois de Abril de 1974, embora toda a gente possa facilmente perceber que é um mito totalmente falso…

Foram-lhos dando todos os quatro sucessivos graus "henriquinos"… desde "Cavaleiro" até "Grã-Cruz", em 1977, 1984, 1984, 1985… E não lhe deram mais quase nada…

12 de Agosto de 2024, completam-se quarenta (40) anos desde o dia da entrada triunfal do homem de Vildemoinhos (Viseu) no Estádio Olímpico em Los Angeles.

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Não posso dizer que o conheça pessoalmente. Julgo que só eventualmente teremos falado, presencialmente, uma vez (há mais de cinquenta anos…), quando eu, muito novo, nessa época, por volta de 1972 (?), estive na organização de uma prova de "atletismo", uma corrida local, no âmbito das festas anuais da minha aldeia, na Beira Alta, e tivemos a honra da participação dele entre os corredores convidados, de Viseu, e que corresponderam ao convite. Devo ter apreciado isso, então, em alguma medida. Mas não percebi que essa breve conversa, numa rotunda antes de se chegar à minha aldeia, iria ser uma das grandes honras da minha vida.

Pela minha parte — que, ao longo da vida, depois, iria fazer um pouco de tudo, mas mal (sobretudo actividades desportivas e afins como corrida, futebol juvenil, tiro com arco, aikido e surf) — até estive em Olímpia, quando fui à Grécia no verão de 1979, mas não fiz lá nenhum desporto no estádio antigo. Não era esse o meu destino. Fiz sim, lá, no anfiteatro refeito, aquilo que toda a gente já então fazia (e os turistas ainda hoje certamente continuam a fazer): amarrotei um papelzinho… para se poder comprovar que a acústica dele é tão boa que até na última fila se consegue ouvir esse papelzinho a ser amarrotado…

Veio a ser essa, de resto, a principal e verdadeira disciplina olímpica a que eu me iria dedicar (mas com o verdadeiro espírito, o olímpico…) ao longo dos cinquenta anos seguintes: amarrotar papelzinhos (depois de neles ter escrito, antes, com uma caneta, as coisas que neles queria escrever…). E ainda hoje continuo a fazê-lo (e vou continuar…). Ainda bem que o sei fazer bem (e com o bom espírito), para poder agora estar hoje aqui a escrever este texto, sobre esse homem. Pois, na verdade, por quem eu tenho, desde há muito, de facto, a maior das admirações e o maior dos respeitos, no meu país, é por Carlos Lopes, de Vildemoinhos (Viseu).

Pergunto a mim próprio como é que esse homem se deverá sentir hoje, quarenta anos depois, em 12.08.2024, ao ver que Portugal continua como continua — igual, ou até, em alguns aspectos, pior do que sempre esteve…? —, com o Futebol (e os seus negócios, cada vez mais milionários e escuros) a dominar, esmagadoramente, na sociedade, na economia e na opinião pública… e todas as outras disciplinas desportivas a serem por isso desprezadas e esquecidas, ao longo de cada ano inteiro, durante cada quadriénio…

E, depois, nos telejornais, e nos jornais, e nos círculos decisores, toda a gente a esconder e a silenciar aquilo que toda a gente sabe: que, exceptuados os do Futebol, os resultados desportivos portugueses — na sua imensa maioria (salvo algumas pequenas excepções, que servem para confirmar a regra) — são infelizes, e simplesmente confrangedores, e pobríssimos, por falta de apoios para os atletas que, apesar de tudo, heroicamente, ainda vão insistindo em tentar praticar quaisquer outras disciplinas desportivas para além do Futebol.

Os jornalistas, e os jornaleiros, e os comentadores, e os políticos, depois, lá repetem as retóricas e as lamentações e as promessas do costume: gabam quem, apesar de tudo, tem a "resiliência" de continuar, e opinam que o que são precisas são soluções mais "robustas", para se ultrapassarem os "constrangimentos", etc., etc., etc., blá, blá, blá, blá, bá, blá, blá, bá, blá… Para que tudo continue igual, com as escolas sem desportos a sério, e as televisões (que são as verdadeiras "escolas", neste mundo que aí está…) sempre cheias de mais e mais Futebol…

O mensageiro que em 490 a.C. veio trazer a notícia da batalha de Maratona a Atenas morreu depois de correr esses 42 quilómetros (e era, apesar de tudo, uma boa notícia). Mas o nosso Carlos Lopes, de Vildemoinhos, Viseu — que em 1984 levou Portugal ao mundo inteiro, a sério, ganhando uma maratona olímpica, a sério, e desde então nos diz que devíamos desenvolver o desporto, a sério, no nosso próprio país —, está vivo, e fala por si próprio, a sério. Deveria ser ouvido (quando nos dá a má notícia do estado do desporto, a sério, neste país…). E deveria ser homenageado, a sério, como merece, na dimensão que merece. O que, de facto, até hoje, ainda não aconteceu. É possível alguma coisa a sério, neste país…?

E o desporto português continua a ser confrangedor. Portugal é o país que, desde 2004, se cobriu a si próprio de ridículo e de vergonha — um ridículo e uma vergonha que vão ficar para sempre, na sua História… — quando, nesse ano de 2004 (gastando nisso rios de dinheiros dos impostos dos seus cidadãos e de dinheiros que a Europa lhe dava para sair do seu subdesenvolvimento…?), construiu de raiz dez (10) estádios de futebol (!)… para albergar um campeonato de futebol… e chamou a isso "um desígnio nacional" [sic] (!)…

E fez isso no ano a seguir ao ano de 2003… em que o país havia ardido mais do que nunca (!), nos seus anuais incêndios florestais (até a NASA, a partir do espaço, e de lá de Pasadena, em Los Angeles… fotografou especialmente essa desgraça).

Portugal, em 2004 — vinte anos depois de 1984… —, na sua política e na sua sociedade e no seu desporto, foi uma anedota, e uma tragédia…

E o que é, hoje em dia… em 2024, quarenta anos depois…? E o que pode ser, no futuro?»

domingo, 11 de agosto de 2024

Os ciclistas Iúri Leitão e Rui Oliveira conquistaram a medalha de ouro em madison

“Era a medalha que faltava (...). É bom para o país e para o desporto português. Temos outras modalidades, além do futebol, a ter resultados”.

Pedro Pichardo Ex-campeão olímpico

... medalhas para todas as bolsas

Público

"A Tareg Hamedi foi atribuída a medalha de prata no karaté, mas o atleta foi compensado pela Arábia Saudita como se tivesse sido campeão olímpico, com cerca de 1,2 milhões de euros.

Portugal paga 50 mil euros por uma medalha de ouro, 30 mil pela de prata e 20 mil pelo bronze".

Na foto, Montenegro em Paris vestido a rigor para assistir aos Jogos Olímpicos...

Chega e uma "marreta" para destruir o sistema: como o partido de Ventura quer atacar as instituições


«André Ventura está a tentar destruir as instituições para fundar uma nova República nos escombros desta ou apenas a combater adversários políticos? O líder do Chega tem alargado o seu espaço vital e a Comissão de Inquérito é mais um passo.»
Ilustração Alex Gozblau
«Na noite do último 28 de maio, em plena campanha para as europeias, o deputado do Chega João Graça fez questão de assinalar como positiva a data do golpe militar que fez “cair a I República” e abriu caminho à ditadura. Durante um jantar em Olhão, o eleito inspirou-se na efeméride para fazer um paralelo com o presente: “O Chega fará cair esta República!” 
Não disse como, mas os militantes aplaudiram muito. No dia seguinte, questionado pelos jornalistas, André Ventura não censurou o dirigente e traduziu-o assim: “Penso que o deputado João Graça quis dizer que, tal como acabou a I República, nós queremos que esta República tenha também o seu fim, no sentido em que queremos outra.” 
Mas acrescentou uma ressalva: “Obviamente, queremos outra democraticamente e queremos outra para ter mais democracia, não menos democracia…” 
Ventura nunca escondeu que tem como objetivo o fim da República e a fundação de um novo regime. Em apenas cinco anos, conforme ganhou força parlamentar, foi acentuando os testes de stresse às instituições e aos protagonistas do “sistema”. Na campanha para as legislativas, durante um discurso em Aveiro, chegou a usar esta imagem: “Só há uma marreta capaz de destruir este sistema, e é o Chega.”»

O SNS, a joia da coroa da democracia portuguesa, nunca correu tantos riscos

No dia 15 de Setembro de 1979 foi publicada, em Diário da República, a Lei nº 56/79 que criou o Serviço Nacional de Saúde (SNS), concretizando o direito à proteção da saúde, a prestação de cuidados globais de saúde e o acesso a todos os cidadãos, independentemente da sua condição económica e social, nos termos da constituição.
Nos últimos 40 anos, o SNS gerou ganhos em saúde que colocaram Portugal num lugar cimeiro no que se refere à qualidade de vida de milhões de cidadãos e reduziu muitas das desigualdades na sociedade portuguesa.
Em 2024 o SNS está em perigo.
Porém, isso não é de hoje, nem de ontem e nem de anteontem.
É desde 1979.
Sempre houve opositores e conspiradores em toda a direita e algumas franjas do PS para esvaziar o SNS e oferecer a sua nata aos hospitais privados do negócio. 
Tornar o SNS um serviço de saúde para descamisados e indigentes foi sempre o objectivo.
Só que nos últimos 10 anos, mais às claras!
Os hospitais privados têm como missão dar resposta aos lucros dos acionistas.
O SNS devia servir para dar respostas aos doentes que vivem e trabalham em Portugal.
Para conhecer a evolução Serviço Nacional de Saúde clique aqui.

sábado, 10 de agosto de 2024

Estrada florestal que liga os concelhos da Figueira da Foz, Cantanhede e Mira está concluída

 Via Diário as Beiras

Tal ficou a saber-se no decorrer duma visita do Director executivo do SNS à ULS do Baixo Mondego: Polo de São Pedro reabre no dia 19 deste mês.

Conforme divulgámos no passado dia 7 do corrente, "estão reunidas todas as condições para a reabertura imediata do Posto de Saúde de S. Pedro".
Segundo a edição de hoje do Diário as Beiras "o Polo de São Pedro que encerrou no passado dia 25 de Junho reabre no próximo dia 19."

O director executivo do Serviço Nacional de Saúde visitou ontem a Unidade Local de Saúde (ULS) do Baixo Mondego. Em nota de imprensa enviada pela administração ao Diário as Beiras, aquela ULS informa que António Gandra d’Almeida se reuniu com o conselho de administração daquela estrutura de saúde, com sede no Hospital Distrital da Figueira da Foz.
“Ficou a conhecer vários serviços do Hospital Distrital da Figueira da Foz e a área onde vai ser construída a nova Unidade de Convalescença e Hospital de Dia da ULS do Baixo Mondego, tendo sido acompanhado pela presidente do conselho de administração, Ana Raquel Santos, e pelos membros da administração”
A nota enviada pela ULS do Baixo Mondego, acrescenta que na reunião “foram abordados vários assuntos, entre os quais o Plano de Contingência para o verão, os recursos humanos, os projetos a implementar e os investimentos a realizar no contexto da ULS do Baixo Mondego”
Gandra d’Almeida, “durante a sua visita, mostrou o seu apoio aos profissionais do SNS”, refere ainda a nota. 
A presidente do conselho de Administração da ULS do Baixo Mondego, por seu lado, “sem ignorar as dificuldades, apresentou os projetos e assumiu que o conselho de administração” que lidera “está comprometido em fazer desta ULS uma referência na prestação de cuidados integrados”
A ULS do Baixo Mondego integra os Cuidados de Saúde Primários dos municípios da Figueira da Foz, Soure e Montemor-o-Velho e os serviços hospitalares do HDFF numa única estrutura administrativa. Esta ULS, que iniciou a atividade no início deste ano, integra mais de um milhar de profissionais, tendo uma área de influência onde residem 112 mil pessoas. 

Não merecemos os atletas que temos

"Até ontem, poucos sabiam quem era Iuri Leitão. Ser campeão do mundo e triplo campeão europeu não chegou para fazer capa de jornal ou estar nas trends no Twitter. Até hoje.

O mesmo acontece com outros atletas, como a medalhada Patrícia Sampaio, a ginasta Filipa Martins, os canoístas João Ribeiro e Messias Baptista, a nadadora Angélica André ou os triatletas Vasco Vilaça e Ricardo Batista, agora mais conhecidos após participações de excelência nestes Jogos.

Dir-me-ão que o negócio é quem mais ordena e que as outras modalidades, para lá do futebol, não vendem.

Enquanto argumento estritamente económico, é legítimo. Enquanto statement de uma nação que as ignora durante 4 anos, com raras excepções, para depois exigir medalhas e considerar um quarto ou quinto lugar “fraco” não. É a prova de que não merecemos os atletas que temos. Mas temos e devemos ter muito orgulho neles. E exigir que tenham melhores condições para representar o país. O desporto português não pode ser só futebol."

João Mendes

sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Casa do Povo vai mostrar a cultura, a etnografia e as tradições lavoenses

Via Diário as Beiras

Sociedade Filarmónica 10 de Agosto vai comemorar 144 anos

 Via Diário as Beiras

Sábado, 15h, Figueira da Foz, Meeting Point

 Via SOS/Cabedelo

SNS o calcanhar de Aquiles deste governo?

Do 25 de Abril de 1974  resta "pouco": no essencial, o SNS, o aceso ao ensino e a Liberdade  - para quem ousa exercê-la e está disposto a arcar com os custos e os incómodos da opção tomada.
Uma das grandes conquistas do 25 de Abril de 1974, o acesso à saúde, devemo-la ao socialista António Arnaut, contra os votos e a politica vontade do PSD e do CDS. 
Sempre houve quem minasse por dentro o SNS, dado que as clínicas privadas precisavam de mais “clientes”

Como sabemos, o PSD, juntamente com o CDS, votou contra a chamada “lei Arnaut”, quando ela foi levada ao Parlamento, onde foi aprovada com os votos favoráveis do PS, do PCP, da UDP e do deputado independente Brás Pinto. Na base da recusa da direita esteve o facto de o texto consagrar um SNS “universal e gratuito”.

O PSD viria, em 1990, embalado pela maioria absoluta cavaquista, a fazer aprovar uma nova Lei de Bases da Saúde em que introduzia a palavra “maldita” para a esquerda: “privado”. Cavaco fez questão de deixar expresso que os cuidados de saúde seriam prestados em articulação com o sector privado  – o então primeiro-ministro colocava no terreno a pretensão de abrir vários sectores da economia à iniciativa privada e a saúde não foi exceção. A seu lado esteve o CDS. Do outro lado da barricada estavam os “vencedores” de 1979.

Os "clientes" passaram a utentes, ou doentes, para o SNS. Evidentemente que um serviço de saúde capaz só se pode desenvolver com meios. Para atrair médicos e enfermeiros é preciso que estes tenham ordenados compatíveis com o investimento feito nos cursos e com a responsabilidade que têm em mãos: as nossas vidas. Sobretudo, é preciso evitar que eles se mudem para outros países, como alguém de má memória sugeriu. 

Promessas leva-as o vento, e de há alguns anos a esta parte instalou-se a estagnação nos vencimentos reais. Agora, Montenegro, como primeiro-ministro de um Governo entalado entre uma esquerda social e uma extrema-direita populista e demagógica, que não olha a meios para atingir os fins, não sabe para onde se virar. 

"O rio está dentro de nós, o mar é tudo à nossa volta"…

Publicação nr. 28 da Colecção POESIA CEMAR: T. S. Eliot, Quatro Quartetos - Os Salvados Secos I, tradução portuguesa de Alfredo Pinheiro Marques, Figueira da Foz do Mondego: CEMAR, 2024.
Para ter acesso, clicar aqui.
QUATRO QUARTETOS
THE DRY SALVAGES - I [OS SALVADOS SECOS - I]
("The Dry Salvages" [Os Salvados Secos] — presumivelmente "Les Trois Sauvages" [Os Três
Selvagens"] é um pequeno grupo de rochedos, com um farol, ao largo da costa NE de Cape Ann,
Massachusetts. [Em inglês] "Salvages" rima com "assuages". "Groaner" é uma bóia-sino.)
Não sei muito acerca de deuses; mas julgo que o rio
É um poderoso deus castanho — taciturno, indomado e intratável,
Paciente até certo ponto, reconhecido primeiro como uma fronteira;
Útil, mas indigno de confiança, como facilitador do comércio;
Depois somente um problema para o construtor de pontes.
Resolvido o problema, o deus castanho é quase esquecido
Pelos habitantes das cidades — no entanto, sempre implacável
Mantendo as suas estações e as suas fúrias, destruidor, lembrando
O que os homens preferem esquecer. Não honrado, não venerado
Por adoradores da máquina, mas esperando, vigiando e esperando.
O seu ritmo estava presente no quarto das crianças,
Na árvore rompendo no pátio de Abril,
No odor das uvas na mesa de Outono,
E no círculo familiar à luz do gás de Inverno.
O rio está dentro de nós, o mar é tudo à nossa volta;
O mar é também o limite da terra, o granito
Onde se afunda, as praias onde arremessa
Os seus vestígios de outra e mais antiga criação:
A estrela do mar, o caranguejo, o osso da baleia;
Os charcos onde oferece à nossa curiosidade
As mais delicadas algas e a anémona-do-mar.
Ele devolve-nos as nossas perdas, a rede de pesca rota,
A panela da caldeirada partida, o remo quebrado
E os pertences dos estrangeiros mortos. O mar tem muitas vozes,
Muitos deuses e muitas vozes.
O sal está na rosa silvestre,
O nevoeiro nas árvores.
O uivo do mar
E o latido do mar são vozes diferentes

Muitas vezes ouvidas juntas: o gemido no cordame,
A ameaça e a carícia da onda que se desfaz em água,
O distante marulhar nos dentes de granito
E o lamento alertando da falésia que se aproxima
Todos são vozes do mar, e a bóia-sino ondulante
Que contornamos a caminho de casa, e a gaivota;
E sob a opressão do nevoeiro silencioso
O sino que ecoa
Mede o tempo, não o nosso tempo, degrau da vagarosa
ondulação baixa, mas um tempo
Mais antigo que o tempo dos cronómetros, mais antigo
Que o tempo contado pelas mulheres inquietas e ansiosas
Ficando acordadas, calculando o futuro,
Tentando destrinçar, desenrolar, destecer
E juntar o passado e o futuro
Entre a meia-noite e o amanhecer, quando o passado é todo engano
O futuro não tem futuro, antes da vigília da manhã
Quando o tempo pára e o tempo é interminável;
E a ondulação baixa, que era e é desde o princípio,
Faz ecoar
O sino.