O mundo que temos é este em que vivemos. Portanto: «não importa para onde tentamos fugir, as injustiças existem em todo o lado, o melhor é encarar essa realidade de frente e tentar mudar alguma coisa.» Por pouco que seja, sempre há-de contribuir para aliviar...
Com perto de metade do território continental em seca severa e extrema, a agricultura e a pecuária estão em risco.
Podemos ter “um problema muito sério”.
Situação “ainda não é dramática, mas para lá caminhamos”.
A situação é mais severa no sul, mas atinge todo o território nacional e traz consequências para sectores como a agricultura, que já pede apoios.
Ao tempo que não sentimos o que é ter de volta o inverno e a nossa amiga chuva. Depois de meses de seca, ansiamos começar a repôr os níveis de água nas barragens e albufeiras nacionais.
Para muitos isto pode parecer uma observação banal, mas para mim não é.
Durante o ano passado, com especial incidência no Verão, muitos portugueses sentiram na pele o que é querer abrir uma torneira e não ter água. Ou ter água mas esta estar imprópria para consumo.
Acredito que no futuro não haverá "guerras" pelo petróleo, pelo ouro, pelas influências, mas sim pela água potável. Um bem cada vez mais escasso e tão essencial à vida na Terra. Janeiro, o primeiro mês de 2022, foi um dos três janeiros mais secos dos últimos 20 anos.
Embora em nítidas manobras de aproximação ao partido da sua família política natural, Pedro Santana Lopes é independente, desde 2021. Foi nessa condição que, 20 anos depois, através do movimento Figueira A Primeira
(FAP), regressou ao lugar onde já fora feliz. Ganhou a Câmara da Figueira da Foz, com maioria relativa. Nesta entrevista (texto Jot’Alves /fotografia Pedro Agostinho Cruz), a propósito
dos primeiros 100 dias de mandato, não poupa nas críticas à oposição e manifesta
determinação para cumprir o programa eleitoral com que se apresentou ao acto eleitoral realizado em 26 de Setembro de 2021.
Uma entrevista a não perder na edição de hoje do Diário as Beiras.
Quem tem acompanhado as reuniões de câmara sabe que estes primeiros 100 dias não têm sido fáceis para Santana Lopes e a sua equipa de vereadores. Citando Pedro Santana Lopes: "ter na oposição
o ex-presidente
da câmara, mais a
equipa que estava,
é uma coisa muito
complicada, porque estão, a toda a
hora, porque ainda
não digeriram [a
derrota], a ver se o
que nós estamos a
fazer é aquilo que
eles queriam que
fosse feito."
A maioria absoluta do PS surpreendeu. Foi mais bem recebida, porém, do que qualquer acordo à direita que envolvesse o Chega, um cenário“tenebroso”, para quase todos, incluindo o presidente Marcelo.
Ao contrário do falecido Jorge Sampaio, em 2004, a dissolução da Assembleia da República em 2022 não foi um acto reactivo nem emocional de Marcelo Rebelo de Sousa. O que estava em causa em 2004 era, como aconteceu, a remoção do líder do PPD-PSD, Santana Lopes.
Agora, a onda foi surfada pelo Presidente Marcelo com calculismo e frieza: o objectivo era afastar a esquerda da esquerda da esfera de influência do poder. Só que não contou com um pormenor inesperado: a maioria absoluta alcançada por António Costa.
Em circunstâncias normais tal não seria possível. O PS não merecia ganhar com maioria absoluta. O papão do Chega foi decisivo. Dadas as actuais circunstâncias, a exigência é máxima ao futuro governo de maioria absoluta. Esta maioria absoluta obrigou o PS a vir a ter de governar. As desculpas acabaram. O PS de maioria absoluta não se pode refugiar em subterfúgios disfarçados sob o manto diáfono do diálogo com os pequenos partidos.
Por falar em pequenos partidos: quer o BE, quer a CDU, quer o CDS, mais este último, tiveram uma surpresa desagradável no passado domingo. À esquerda, o eleitorado amedrontado e condicionado pelas sondagens, borrifou-se para a CDU e para o BE, que se apresentaram como caucionadores da moralidade e bons costumes do partido maior - neste caso o PS.
Esta maioria absoluta vai ser um problema, mal tome posse o novo Governo. Desde logo, para o Presidente da República. Viu-se livre do problema da governabilidade, mas ficou com um novo: como irá Marcelo Rebelo de Sousa fiscalizar um governo e um primeiro-ministro com maioria absoluta?
Ainda por cima num tempo em que vamos ter um Plano de Recuperação e Resiliência com 14 mil milhões de euros para executar e reformas estruturais que o País necessita e tem para fazer.
O protesto e agitação nas ruas vai reganhar importância e frequência. Como é que Marcelo Rebelo de Sousa vai gerir "a sua natureza" e utilizar todas as suas prorrogativas constitucionais e também do seu magistério de influência, que certamente contará com novas e criativas soluções, diatribes e estratagemas, próprias daquela "sua natureza" que o fez falar no Dia de Reflexão?
Mário Soares inventou as Presidências Abertas para apoquentar Cavaco Silva. Qual será a criação que Marcelo Rebelo de Sousa encontrará para aborrecer a vida ao "absoluto" António Costa? A vitória de António Costa foi impressionante, mas os efeitos vão ser brutais. A não ser que se venha a provar que António Costa pode fazer a diferença.
Tendo cometido - e permitido - erros no passado, não pode deixar repetir esses erros no futuro. Tem de apresentar um rumo definido. E, sobretudo, deixar claro que tem autoridade e vontade de a exercer, num partido que fechou o socialismo na gaveta e mandou a chave fora há décadas. António Costa tem um desafio gigantesco: fazer frente ao nacional-porreirismo, a ideologia oficial do PS. Gostaria de estar optimista, mas não acredito que o pântano seque tão cedo.
«A maioria absoluta do Partido Socialista foi obtida com a perda de votação do BE e do PCP. (…)
Esses eleitores terão votado no PS. Fizeram-no na sequência de sondagens que anunciaram a grande proximidade entre PS e PSD e eventualmente um empate técnico. Em paralelo Rui Rio, que nunca tinha dito de forma inequívoca que não faria acordos com o Chega, admitiu, na fase final da campanha, a possibilidade de entendimento parlamentar. Estes eleitores – mais à esquerda que o PS e mesmo sabendo da importância, para o BE e para o PCP, destas eleições – não arriscaram.
A maioria absoluta obtida pelo PS não decorre, como tanto se diz, da análise que esses eleitores fizeram acerca das responsabilidades pela crise política criada por falta de consenso entre os partidos de esquerda. Quando a variável era essa, tudo estava incerto para o Partido Socialista. Ela foi possível sim na sequência das previsões apontadas pelas sondagens, uma vitória de Rui Rio era possível, em articulação com a possibilidade de governação de direita em entendimento com o Chega. Estes dois factores foram determinantes na expressiva vitória. (…)
Há entre os eleitores do Chega o ódio mais profundo à governação de António Costa e é anunciado propósito do partido o pôr termo à governação socialista. Muito bem: ajudaram a obter a maioria absoluta do governo que queriam derrubar. E repare-se que, ao mesmo tempo que favoreceram a vitória do PS, conseguiram a sua própria vitória. (…)
Quando os eleitores votam sob pressão, ou para evitar um perigo, podem estar a abdicar da escolha fundamental: a da força política que melhor defenderá aquilo em que acreditam ou os seus direitos. Mais, os eleitores estão a assinar uma dura sentença aos partidos mais à esquerda. As escolhas políticas devem ser feitas em liberdade e essa liberdade não vai existir enquanto o partido Chega estiver entre nós. Está a ser pedido aos eleitores que assumam responsabilidades que não são suas. Está a ser-lhes pedido que comemorem a sua derrota. O “sistema” mantém o partido “anti-sistema” como possibilidade de voto e a vida política agita-se à volta dessa possibilidade. Diziam que não passará. Mas tem vindo a passar e a fazer-se sentir.
O combate às desigualdades é condição do bem-estar colectivo e do próprio desenvolvimento económico. Não existe crescimento económico assente na miséria de tantas pessoas. O que se passou no domingo não são boas notícias para a urgência deste combate.
A esquerda, à exceção dos que insistem na arqueologia das culpas pela falta de acordo no Orçamento de Estado, desejava e bem a vitória de António Costa. Não acredito que desejasse uma maioria absoluta socialista. Certamente não desejavam que a representação parlamentar do BE e do PCP fosse praticamente dizimada.
Vamos então a essa parte dos resultados: será vantajoso para o país que estes partidos tenham uma representação parlamentar tão diminuta? A história recente ensina que não. Estes são os partidos com a vocação de, em qualquer circunstância, defender primeiro os interesses dos trabalhadores. A sua história é a da luta contra as desigualdades sociais. Não faz sentido, num cenário complexo para tantas famílias, que a voz dos mais desfavorecidas tenha sido assim penalizada. A estratégia não pode passar por baixar a guarda nesta frente. A governação do Partido Socialista, sem o diálogo com esta esquerda, perde valor.
De quem é a responsabilidade? Podemos continuar a insistir nas demissões dos líderes partidários e, à semelhança do que já havia sido feito aquando do desentendimento da esquerda, a atirar culpas. Fala-se especialmente na demissão de Catarina Martins. Vejo uma mulher consistente, incansável e perseverante na luta que trava. Uma líder firme. Não vejo que moral têm as pessoas, sobretudo as que não fazem parte do partido e que não votam nele, de exigir a sua demissão. Com menos intensidade fala-se da liderança do PCP e adivinham-se novos cenários. Serão todos bons; agora que se conhece melhor o João Oliveira, grande revelação nesta campanha para quem esteve atento. Mas dificilmente encontrarão um homem como Jerónimo de Sousa. Há ali uma verdade e uma dignidade que não são comuns. Comparar o Jerónimo com os restantes homens é como comparar uma biblioteca com uma edificação.
É uma boa altura para olhar para dentro e ponderarmos a nossa própria avaliação e as nossas próprias falhas, que são imensas. Parar de sindicar demissões. Já bastam bem os que, entre nós, se demitiram no domingo passado. E, claro, é altura de felicitar o novo governo, de desejar e exigir que faça um bom trabalho e que dialogue de facto com estes partidos. A geringonça nasceu da sua vontade, a maioria absoluta do seu sacrifício. O domingo foi sangrento.
É boa hora para refletir. Refletir sobre domingo; se fomos uma solução ou se fomos um problema. A música costuma ser boa companhia mesmo que seja uma que não se goste muito.»
«O presidente da Câmara da Figueira da Foz disse hoje que o município está a trabalhar na anulação da adjudicação do projeto do complexo Piscina de Mar, que contemplava um hotel de 49 quartos e um novo edifício.
O complexo está concessionado à empresa Prime Hotels.
Na sessão de hoje, a Câmara da Figueira da Foz aprovou a construção de uma residência assistida e hotel de cinco estrelas na Avenida Doutor Joaquim de Carvalho, com o presidente da autarquia a referir que aqueles edifícios “só podem valorizar aquela zona da cidade”.»
Ontem, numa entrevista à CNN, André Ventura analisou o resultado do Chega nas eleições legislativas. Explica o que quis dizer "Costa vou atrás de ti", frase que o líder do Chega disse no domingo depois de terem sido conhecidos os resultados eleitorais, revelou o telefonema que fez ao primeiro-ministro reeleito, disse que o PSD foi penalizado por afastar o Chega, felicitou-se pelos resultados que obteve em territórios de esquerda como o Alentejo e o Algarve e, pelos 9m14s, queixa-se que é vítima de quem acha que "há bons e maus no Parlamento". O Chega chegou ao sistema dizendo-se contra o sistema. Nesta entrevista já apareceu com uma linguagem moderada.
Vamos ver como vai ser o futuro do Chega sem ser o André... Afinal ele não queria atrás do Costa: "só quer fazer o que Rui Rio não foi capaz de fazer... Chamar o Governo ao Parlamento"!.. No fundo, "quer falar com o Costa e com o Governo".
"Geringonça fora, dia santo para os patrões: maioria socialista deve trazer alívios fiscais às empresas, defendem as confederações patronais.
A maioria absoluta do Partido Socialista (PS) de domingo fez com que os líderes das confederações patronais com assento no Conselho Económico e Social manifestassem ao Expresso a sua esperança em que, estando fora da equação os parceiros do PS na chamada ‘geringonça’, se volte a valorizar a concertação social como espaço para a produção de consensos.
E, com a pandemia a entrar (espera-se) na reta final, antecipam que possam voltar a ser debatidas propostas antes consideradas impensáveis pelos grupos parlamentares do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português (PCP) como eventuais alterações à Taxa Social Única (TSU) ou a redução das taxas de IRC."
A maioria absoluta inesperada do PS é fácil de explicar: a direita mudou e Costa venceu a sua esquerda com um "abraço de urso".
O voto útil da esquerda foi a chave para a vitória de António Costa. Depois da vitória inesperada de Carlos Moedas em Lisboa em 26 de setembro passado, “a esquerda mobilizou-se com receio de a direita ganhar”. A ideia que se foi formando nos últimos dias de campanha de existir uma “corrida taco-a-taco entre o PS e PSD” ajudou ainda mais o eleitorado de esquerda a querer dar a vitória a Costa. Funcionou o voto útil à esquerda. António Costa “agregou os votos” dos outros partidos, em especial dos antigos aliados de geringonça, Bloco de Esquerda e PCP. "A maioria do PS resultado do medo da direita pelos eleitores do Bloco e do PCP.
António Costa viu este acto eleitoral como um referendo ao seu Orçamentoe apostou nessa estratégia e no mesmo Orçamento. Ele não precisou de prometer muita coisa, apenas de falar na continuidade. Os 700 mil funcionários públicos que viram o governo de António Costa dar-lhes o descongelamento das carreiras com aumentos salariais mantiveram o voto que baloiça entre o "bloco central" nas várias eleições. António Costa disse que caso fosse derrotado se ia embora. Bipolarizou a campanha e as pessoas assumiram que “mais importante do que ganhar era a questão da esquerda e direita”. Esta questão de esquerda e direita tornou-se visível também em relação ao partido de André Ventura. “A ideia de que, caso o PSD ganhasse, para ter estabilidade precisava do Chega, também contribuiu” para reforçar a ideia de que a esquerda tinha de unir-se à volta de Costa. Foi o que aconteceu. Tudo se conjugou para ter corrido bem: as sondagens e a bipolarização foram decisivas para o voto útil no PS. Costa conseguiu ganhar votos aos partidos da esquerda. Rui Rio não o conseguiu à direita.
A direita está fragmentada. Embora o CDS tenha desaparecido do Parlamento, o Chega tornou-se a terceira força política do país e o IL a quarta. O apoio em 2015 ao PS foi bom para o PS, mas nunca seria bom para BE e PCP, que tinham ganho dimensão como oposição e partidos de protesto. Por isso, a geringonça acabou por ser um “abraço de urso” – uma expressão usada para referir um afecto que acaba por ser um dano. Definitivo para o PCP e o BE? Essa é uma incógnita que só o futuro esclarecerá.