O mundo que temos é este em que vivemos. Portanto: «não importa para onde tentamos fugir, as injustiças existem em todo o lado, o melhor é encarar essa realidade de frente e tentar mudar alguma coisa.» Por pouco que seja, sempre há-de contribuir para aliviar...
Carlos de Oliveira, de quem se assinala o centenário do nascimento (10.8.1921-1.7.1981) é um escritor que se afirmou como uma das quatro figuras de referência na lírica (a par de Jorge de Sena, Herberto Helder e Ruy Belo).
Primeiro que tudo,
Carlos de Oliveira
ainda foi um homem, o que não é
pouco, nem como
exemplo para os demais. Tendo nascido no Brasil, em Belém do Pará, Amazónia, onde estavam emigrados os pais, com apenas dois anos Carlos de Oliveira voltou para Portugal, tendo passado a infância na árida região da Gândara, tendo os caminhos e veredas da região sido mais do que transpostos, num certo sentido foram (re)criados na sua obra, de tal modo que Osvaldo Manuel Silvestre admite que seja impossível hoje falar-se da Gândara sem ter como referência capital a história que esta nos conta sobre aquele território.
Como escreveu outro poeta,
Manuel de Castro, «chama-se um
homem ao que sabe o que está
fazendo». A esse que em vez de se
servir dele para jogos de exibição,
realmente pode com o peso do seu
coração. Quando tantos apenas
obedecem ao seu egoísmo e o fazem com espalhafato, Carlos de
Oliveira, como lembrava no ano
da sua morte Eduardo Prado Coelho, odiava o espectáculo. Foi, por
isso, dando por si exilado do tempo que absorvia tudo ao redor. Vivia crescentemente exasperado
com tudo aquilo que já então se
pressentia, esta terra que se demarca pelo fim das primaveras,
como assinalou o filósofo Frédéric Gros, este mundo com as suas
desigualdades abissais, que assiste ao desmoronar dos seus alicerces naturais numa corrida suicidária para diante, enquanto nós,
entre a impotência da maioria e o
egoísmo demencial de alguns, de
uma irresponsabilidade letal, deixamos para trás um legado nauseabundo às gerações futuras.
Carlos de Oliveira talvez venha a ser o mais urgente dos poetas da nossa contemporaneidade, porque a sua
obra soube exprimir como mais
nenhuma outra o desafio que
hoje se impõe à arte e ao engenho humanos, isto se ainda for
intenção nossa a de resistir à era
da indecência para a qual fomos
atirados pelas condições de exploração imposta pelo regime
em que vivemos, com o enriquecimento hoje a fazer-se em detrimento da humanidade futura.
«E se a poesia é como queria
Maiakovski uma ‘encomenda
social’», lembra Carlos de Oliveira, «o que a sociedade pede
aos poetas de hoje, mesmo
que o peça nebulosamente,
não anda longe disto: evitar
que a tempestade das coisas
desencadeadas nos corrompa
ou destrua».
O combate político puro e duro não é, nem nunca foi, responder a ataques pessoais. A política, pura e dura, são os assuntos reais e concrectos, que têm a ver com as pessoas. As raízes da política encontram-se no poder e no seu exercício, na governação afinal de contas, assim como no discurso, nos argumentos usados com vista a alcançar o exercício do poder ou a justificar as opções defendidas. O ataque pessoal, baseado em suposições e intrigas, ao invés de se apoiar em factos, não tem como finalidade convencer, mas criar dúvidas e atrofiar o clima. Nestas autárquicas 2021, na Figueira, para certas candidaturas, a política pura e dura tem sido a da intriga, da suspeição, dos ataques pessoais, mesmo entre os pares dessas candidaturas, e respectivas respostas.
Isso,revela muito sobre a sociedade figueirense e sobre o que podemos esperar dela.
Há muitos anos que acompanho reuniões de Câmara e Assembleias Municipais na Figueira. Ainda na passada segunda-feira comecei a assistir, via internet, à reunião de Câmara. Não aguentei muito tempo... Já vi a Figueira mudar de políticos uma carrada de vezes. Salvo as raras excepções que apenas servem para confirmar a regra, tem sido para pior... Como em tudo na vida, quando a mudança é para pior, só resta um comentário: é f...
Cristo viveu, morreu e ressuscitou. Depois de ter ressuscitado, apareceu aos apóstolos que duvidaram...
Antes de partir, mais uma vez, provou-lhes que era o Cristo vivo.
Vinte e um séculos depois continuamos a acreditar que Ele morreu para nos salvar e que um dia estaremos a Seu lado. A alguns de nós, discípulos e continuadores de S. Tomé, Cristo deixou a gigante tarefa de perpetuar a Sua doutrina, de repudiarmos o pecado, de praticarmos o amor em tempo de solicitações diversas.
De nós (os outros) espera-se que continuemos a perdoar, em tempo de feroz falsidade, em tempo de fome (de tudo, não só de pão...) e de pobreza, em tempo de equívocos e desencontros.
Em tempo difícil, da miséria mais completa que é a degradação do ser humano.
Não vale a pena martirizar-nos pelas nossa crises de fé, pela nossa falta de espiritualidade, pela nossa fraqueza face ao mundo materialista que nos rouba tempo para pensar, para a meditação, para o estudo, para a tertúlia, para estar com os outros - para estarmos atentos à melhor coisa que temos e que passa depressa: a vida.
A maioria anda a pescar em mares poluídos, escravos do trabalho pela sobrevivência, descrentes nos sistemas políticos e mártires dos sistemas económicos.
Somos os apóstolos pós-modernos que não herdaram sandálias nem óleos unguentos. Os reinterpretadores da passagem de Cristo pela Terra, que se recriminam por se sentirem abandonados.
No fundo, a maioria vive tolhida pelo temor que o Pai faça o log out.
A mim, em certos momentos, quem me dera poder e saber fazê-lo.
Para parar, para escutar, para ter tempo e disponibilidade para saber ouvir. E, sobretudo, para poder contemplar.
Descreio?.. Muito. Cada vez mais.
O meu desejo, nestes tempos sem tempo para o discernimento nem para a oração, era poder ser - à imagem de Francisco de Assis - «um instrumento de paz».
Contudo, é difícil fazer a paz, quando nos confrontam, nos insultam ou nos encorajam a aplaudir os senhores da guerra.
Todos os dias cansa. Hoje é dia para parar, reflectir e pensar.
Espero que para todos.
Fica uma oração. Por todos, mas sobretudo pela Figueira.
Oremos então.
«Onde houver ódio, que eu leve o amor, Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz! Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado. Compreender, que ser compreendido. Amar, que ser amado. Pois é dando, que se recebe. É perdoando, que se é perdoado.
E é morrendo, que se vive para a vida eterna.»
Façam um esforço. Tentem ficar em paz convosco próprios.
As eleições autárquicas na Figueira não podem ser encaradas pelo prisma anedótico dos “tesourinhos deprimentes”.
E já havia tanta coisa a explorar nesse campo....
As eleições autárquicas são importantes, também por serem um dos poucos momentos de respiração livre da política figueirense. Essa liberdade de respiração, já nos está a mostrar resultados reveladores sobre o “estado” político e democrático do concelho, que só podem incomodar os poderes estabelecidos Ainda falta um mês, mas tudo o que está acontecer já permite tirar algumas ilações. O ambiente político crispado e de hostilidade, vai ser responsável por uma parte das abstenções, o número de votos brancos e votos nulos.
Em 2021, mais uma vez, já aconteceu em 2009 na Figueira, teremos uma lista independente a concorrer à Câmara. Em 2021, merece ainda mais atenção, visto que os seus resultados eleitorais vão extravasar o terreno habitual dos independentes.
Temos Santana Lopes - e com possibilidades de ganhar. Continua a existir o argumento de sempre, que é o facto de muitos destes independentes virem dos aparelhos partidários. “Ressabiados” (uma típica acusação dos aparelhos partidários) que querem vingar-se de terem sido preteridos. Foi assim também em 2009. A verdade, porém, é que são reconhecidos como candidatos e os eleitores figueirenses, em 2021, com o seu voto, podem vir a dar uma lição à arrogância partidária.
O que se vai passar com estes ou outros independentes no futuro? Não se pode prever, para já, mas tudo indica que se podem tornar num factor permanente da vida local, variando a oferta política, e pressionando os partidos para terem mais cuidado com as suas escolhas. Quem vai perder, neste momento já é óbvio. E perde muito mais do que pensa. Perde nos anéis e nos dedos. A derrota do PSD vai ser gigantesca. A nível local e a nível nacional.
Os resultados eleitorais nas autárquicas de 2021 já estão a deixar à beira de um ataque de nervos alguns candidatos da área do habitual "arco do poder". Verdadeiramente interessante vai ser constatar se vai ter efeitos internos na partidocracia, que quer no PSD quer no PS, é hoje um factor de perversão da democracia na Figueira...
Por esta e por outras igualmente graves, ao Dr. Machado já pouco deve faltar para também ele, em desespero, ter de dar o seu mergulhinho, não no Tejo, mas no Mondego. Triste, mas não exactamente uma surpresa...
Recordar Manuel Fernandes Thomaz, um figueirense que«fez à Pátria mui relevantes serviços, e morreu pobre»é uma obrigação de todos nós.Porém, a meu ver, não deve ser apenas no dia 24 de agosto de cada ano: hoje e sempre, "...vale a pena celebrar a liberdade, relembrar a biografia deste figueirense ímpar da História, a dimensão do corajoso e impoluto lutador pela liberdade, um homem livre, honrado e de bons costumes. O seu exemplo persiste e serve de referência ..." [palavras proferidas por José Guedes Correia. Jornal O Figueirense, 27/08/2010, p. 14]
A Figueira é uma terra cruel. Foi preciso morrer na miséria e na amargura para, postumamente, reconhecerem o devido valor a Manuel Fernandes Tomaz...
Vamos andar uns anos para trás. Recuemos a sábado, 26 de maio de 2018. A Câmara Municipal da Figueira da Foz ia iniciar a obra relativa à 1.ª Fase do que chamou “Requalificação do Núcleo Antigo da Figueira da Foz”, com o objectivo principal, de acordo com o que publicitou, de “proteger o ambiente e promover a eficiência dos recursos”. Esta fase do projeto, orçada em €3.721.966,58, teve um apoio financeiro da União Europeia (PEDU) de € 2.615.000,00, sendo a contrapartida municipal de €1.106.966,58, durando no mínimo, até maio de 2019 (dois anos de obras). No dia anterior, uma sexta-feira de manhã, a Concelhia da Figueira da Foz do PSD, realizou uma conferência de imprensa na praça general Freire de Andrade.
Imagem via Diário as Beiras
O evento serviu para criticar o projecto de requalificação daquela zona do casco velho da baixa da cidade. Na opinião dos socialdemocratas, a intervenção urbanística que o executivo camarário socialista se preparava para iniciar naquele local, iria prejudicar o comércio tradicional e criar constrangimentos no trânsito. Passaram os dias, as semanas, os meses, os anos. A requalificação da Baixa figueirense tem sido um calvário, principalmente para os comerciantes com estabelecimentos na zona. Alguns, há muito, que estão desesperados. Já faliu o empreiteiro, já houve mudança de empreiteiro e estamos em pandemia (o covid tem costas larguíssimas). Tudo aconteceu. Até o inaudito: intervenção foi condicionada pela alegada descoberta de uma nova galeria subterrânea, identificada por arqueólogos, numa zona da cidade em que proliferam antigos ramais e cisternas de águas, referenciados em estudos desde os finais do século XIX. Quem não teve culpa, seguramente, foi a Câmara Municipal da Figueira da Foz. Os culpados foram os políticos que lá estão desde 2009. E que podem continuar, se os figueirenses assim o quiserem a partir de 26 de setambro de 2021. E, quem sabe, num dos cenários possíveis, com a ajuda deste PSD de Carlos Machado/Ricardo Silva. O mundo dá tantas voltas. E a política, na Figueira, também...
(Recordo, só por mera curiosidade, os primeiros cinco nomes da lista PSD à Câmara Municipal nas eleições de 26 de setembro próximo: Pedro Machado, Ricardo Silva, Cristina Quadros, Augusto Marques, António Albuquerque).
Entretanto, recuemos de novo a sábado, 26 de maio de 2018. Na opinião da concelhia do PSD da Figueira da Foz, esta obra era exemplificativa da forma como estava a ser dirigido o concelho: "sem estratégia, sem auscultação das populações, sem a preocupação de melhorar o nível de vida das populações, sem criar atrativos para os empresários instalados ou que se queiram instalar com vista à criação de emprego, o qual tanta falta faz aos nossos jovens, não promovendo também a consequente fixação de mais população no nosso concelho."