Estado de emergência.
Num momento único para o país e para o mundo, com tudo suspenso por causa de um vírus, Fátima Campos Ferreira falou com o General Ramalho Eanes. Esta batalha exige "união", disse.
Veja ou reveja aqui toda a entrevista.
A direita, em geral, gosta de o recordar como um homem do 25 de Novembro de 1975...
Ontem, o primeiro Presidente da República eleito democraticamente por sufrágio universal e directo, deu uma lição de humildade e de discernimento.
Ramalho Eanes pode ser de direita. Mas é um português sério.
Recordo este episódio.
A importância ascendia a um milhão e trezentos mil euros. Foi um assunto cujos contornos conformam uma pequena vindicta política. Em 1984, foi criada uma lei "impedindo que o vencimento de um presidente da República fosse acumulado com quaisquer pensões de reforma ou de sobrevivência que aufiram do Estado." O chefe do Governo era Soares; o chefe do Estado, Ramalho Eanes, que, naturalmente, promulgou a lei.
O absurdo era escandaloso. Qualquer outro funcionário poderia somar reformas. Menos Eanes. Largos anos depois, em 2008, a discrepância foi corrigida. Propuseram ao ex- -presidente o recebimento dos retroactivos. Recusou. Mostrou ser um homem, cujo carácter e probidade sobrelevaram a calamidade moral que por aí se tornou comum. Reabilitou a tradição de integridade de que, geralmente, a I República foi exemplo. Num país onde certas pensões de reforma são pornográficas, e os vencimentos de "gestores" atingem o grau da afronta; onde súbitos enriquecimentos configuram uma afronta e a ganância criou o seu próprio vocabulário - a recusa de Eanes orgulhou e continua a orgulhar aqueles que ainda acreditam no argumento da honra.