Esta é a opinião de RICARDO SANTOS |
"Era uma vez uma exposição de
fotografia que não se realizou.
Há que ter respeitinho.
É assim o meu país.
Somos muito respeitadores, muito
politicamente correctos, muito bons alunos, mas muito maus cidadãos.
Um bom cidadão compromete-se: escolhe, toma opções. Um bom cidadão
assume as suas posições: não é político, mas defende políticas,
abraça causas.
Mas há o respeitinho. E o respeitinho, que é uma subcategoria inferior do politicamente correto, diz-nos que temos de dizer sempre que sim, de baixa ar cabeça, de concordar. O respeitinho, meus senhores, é agrilhoar o pensamento e mostrar o rabo.
Vivemos numa sociedade em que as causas
dos outros são as nossas – não todos os dias, mas quando nos dá
jeito. Envolvemo-nos civicamente quando isso nos traz fotografias nos
jornais. Precisamos desesperadamente de nos mostrar, de parecer bem,
de dizermos ao mundo, mas a gritar para dentro, que somos gente. No
fundo, todos defendemos a nossa própria causa: lutar contra a
rejeição, ascender ao poder para poder rejeitar e não ser
rejeitado.
E é assim que chegamos a isto: a uma
cidade que tinha muitos problemas para resolver, mas que em vez de
homens tinha respeitinho. Respeitavam-se todos uns aos outros, mas os
problemas continuavam por resolver. Os problemas avolumavam-se e os
homens, sempre com muito respeitinho, iam dizendo que sim. Houve quem
passasse mal nesses tempos, mas sempre com muito respeitinho. Um dia,
quando os problemas eram tão graves que a vida dos homens se colocou
em perigo, o respeitinho não foi suficiente: foi preciso coragem.
E a coragem de enfrentar, de dizer que
não, não é para todos. Não se conquista com os votos. É uma
questão de carácter. Talvez, por isso, haja poucos heróis: os
heróis não têm respeitinho, têm atitude."