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sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Depois do Leslie: no fundo, Nuno Osório, acabou por ser o "bode expiatório"...

João Ataíde é a autoridade máxima da Protecção Civil da Figueira da Foz
O Presidente Câmara Municipal, é a autoridade máxima da Protecção Civil da Figueira da Foz.
Todos sabemos o que aconteceu de 13 para 14 deste mês, noite da visita do Leslie.
O substituto, que seria o comandante dos Bombeiros Voluntários da Figueira da Foz, João Moreira, por ser o bombeiro mais graduado na ausência do comandante da corporação profissional, garantiu, na altura, que não teve “comunicação ou aviso prévio” da ausência de Nuno Osório e não assumiu, por isso, as funções, ficando a Figueira da Foz “oficialmente sem comandante de operações de socorro” (responsável por todos os bombeiros no terreno), durante várias horas, até ao início da manhã de domingo.
Por sua vez, o comandante operacional distrital [CODIS] de Coimbra da Autoridade Nacional de Protecção Civil, Carlos Luís Tavares, que na noite de sábado, em plena crise da tempestade Leslie, enviou para a Figueira da Foz meios de reforço de Aveiro e da Força Especial de Bombeiros, disse desconhecer que Nuno Osório tivesse abandonado as funções e que este deveria ter comunicado a ausência “e não o fez”.
O próprio presidente da Câmara da Figueira da Foz disse no passado dia 17 aos jornalistas, que o comandante dos Bombeiros Municipais que se demitiu “reconheceu que não tinha condições” para continuar, após se ter ausentado do comando nas horas seguintes à tempestade.
Nuno Osório, era comandante dos Bombeiros Municipais
da Figueira da Foz,  depois de um concurso público no
 qual ficou em primeiro lugar, desde Dezembro de 2011
No fundo, Nuno Osório, que também acabou por ser o "bode expiatório" de muita coisa que se passou, antes, durante e depois da noite de 13 para 14 do corrente, acabou de se demitir de funções de que já se havia demitido na noite do Leslie.

Porém, sabe-se, ele próprio o afirmou, que o presidente da câmara, também a autoridade máxima da Protecção Civil da Figueira da Foz, retirou-se às duas da manhã!
Alguém pediu a demissão do presidente da câmara da Figueira da Foz, também a autoridade máxima da Protecção Civil da Figueira da Foz?
Que eu tenha conhecimento, não. Por várias razões, nomeadamente de taticismo político dos partidos figueirenses....
Na Figueira, a discussão inédita sobre a possível demissão de um presidente de câmara teria de ser uma discussão sobre a salvaguarda da confiança dos cidadãos na dignidade das instituições.
João Ataíde vai-se manter no posto de presidente de câmara, depois do Leslie e da gestão que se seguiu - e vai continuar.
Por mim, a única mensagem de confiança que recebi da instituição que governa o meu concelho, é a de que posso estar seguro de que um político jamais será demitido por razões de gestão política.
Na Figueira, talvez um presidente de câmara possa ser demitido por razões criminais!.. 
Agora, um presidente de câmara ser demitido por ser inoperante nas funções em que o povo o investiu está fora de causa... 
É melhor esquecermos isso...
Na Figueira, cumpriu-se o habitual: a demissão de um responsável, neste caso Nuno Osório, "para que a culpa não morra solteira", foi o primeiro passo para que, de facto, a culpa venha a morrer solteira.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Figueira da Foz, uma cidade com tradições no ciclismo: de José Bento Pessoa à Figueira Champions Classic

A Figueira Champions Classic, corrida de ciclismo de estrada na Figueira da Foz, agendada para 12 de fevereiro, é a principal novidade no calendário de provas portuguesas de escalão internacional para 2023.

Esta prova, uma clássica de nível mundial, com a participação de grandes ciclistas oriundos de vários países, vai ter como palco o nosso concelho. A Figueira Champions Classic corre-se numa extensão de 190 quilómetros, com partida na zona do Relógio, na cidade da Figueira da Foz, e percorre as 14 freguesias.

Haverá cobertura televisiva, através da Eurosport, no dia 12  (com transmissão para mais de meia centena de países) e da CMTV.


Entre muitos outros, farão parte do pelotão da “Figueira Champions / Casino Figueira” dia 12 de fevereiro, Fabio Jakobsen e Kasper Asgreen.  A Soudal Quick-Step já confirmou a presença de ambos, tal como Remi Cavagna, um dos melhores contrarrelogistas do mundo, a par de Asgreen. 

Por parte da Team DSM, o ciclista alemão John Degenkolb é outro dos nomes já confirmados.

O neerlandês Fabio Jakobsen, actualmente um dos melhores sprinters mundiais, em 2022 provou o seu poderio ao sagrar-se Campeão Europeu de Estrada e será com essa camisola que vai desfilar nas estradas da Figueira da Foz. Múltiplo vencedor de etapas na Volta ao Algarve, fazem parte do seu palmarés vitórias na Vuelta e no Tour de France, assim como em outras corridas do circuito World Tour.

Kasper Asgreen é um ciclista todo o terreno e bastante vocacionado para as clássicas. Certamente terá uma palavra a dizer na “Figueira Champions / Casino Figueira”. Contudo, também se destaca no contrarrelógio, sendo campeão dinamarquês desta especialidade, sendo também  dono do título em estrada. Já venceu uma etapa na Volta ao Algarve e várias clássicas belgas, como é o caso da Volta a Flandres, em 2021.

O francês Remi Cavagna, também ele da formação belga, já conquistou o título de campeão francês em contrarrelógio, tal como em estrada. Do seu palmarés consta uma vitória de etapa na Vuelta e foi medalhado em Europeus de contrarrelógio.

Por sua vez, a equipa da Soudal Quick-Step que vem mostrar-se à Figueira da Foz fica completa com gregários como Tim Declercq, Dries Devenys, Casper Pedersen e Ilan Van Wilder, este último um jovem em quem os belgas depositam muita esperança para o futuro.

Por parte da Team DSM, o alemão John Degenkolb, também ele vencedor de etapas na Volta ao Algarve, é outro dos nomes confirmados na Figueira da Foz. Destacam-se vitórias deste corredor em etapas nas três grandes voltas – Giro, Tour e Vuelta –, bem como em dois dos cinco monumentos (Milão-São Remo e a Paris-Roubaix).


A Figueira é uma Terra  com tradições muito antigas no ciclismo.

Desde logo, o enorme e espantoso atleta, que foi o figueirense José Bento Pessoa, nascido a  7 de Março de 1874, campeão mundial e o maior ciclista de velocidade do seu tempo.

"No final do século XIX, o homem da Figueira tinha um carácter forte, independente, mas aberto às influências do estrangeiro.

A foz do Mondego, era um porto de mar aberto ao comércio internacional, o que propíciava a convivência com os povos mais evoluídos do Norte da Europa.

A Figueira, então uma pequena cidade com cerca de 5 000 habitantes, vai viver por volta de 1895, uma época áurea. Local privilegiado à beira mar plantado, a sua praia, então  "a mais bela de Portugal",  e a lhaneza da sua gente, atraem veraneantes de vários cantos da Península Ibérica. Nos meses de verão, isso é decisivo para o desafogo financeiro e novos conhecimentos que marcam o figueirense. Todavia, como tudo na vida, também tem um ponto menos positivo: a instabilidade e a incerteza profissional."


Não esquecer, porém, a importância da influência inglesa no desenvolvimento da Figueira do final do século dezanove, tanto a nível comercial, como desportivo. 

Um porto de mar que permitia a entrada dos maiores barcos comerciais de então, quase todos de pequeno calado, teria de receber a visita dos britânicos. 

Recorde-se: "o tratado comercial luso-britânco 1703, conhecido por Tratado de Metwen, nome do negociador inglês, permitiram a vinda de britâncos a Portugal e à Figueira. 

Havia permutas comerciais que englobavam os nossos vinhos e os têxteis ingleses."

É neste contexto, por influência dos povos do Norte da Europa, que os figueirenses começam a ver o desporto como uma necessidade. 

Surgem as regatas realizadas na foz do Mondego. Criam-se os primeiros Clubes:  Associação Naval Figueirense, Clube Ginástico e a Associação Naval 1º. de Maio.

No S. João de 1893, realiza-se um festival velocipédico. "O entusiasmo provocado pela prova leva à criação de mais uma colectividade: o Clube Velocipédico Figueirense, mais tarde designado por Ginásio Figueirense." 

Progressivamente, foi assim que a Figueira, rapidamente, se torna a terceira potência desportiva do nosso País. 

A par do remo e da canoagem, a vitalidade desportiva da Figueira, passa pela ginástica, esgrima, futebol, tiro, hipismo e ciclismo.


A bicicleta era, então, uma maravilha criada pelo Homem. Depois do balão de hidrogénio e do comboio (o irmão mais velho da bicicleta, como então se dizia) a bicicleta é encarada como a resolução dos problemas de locomoção do homem, relegando a tração animal para um plano secundário.  

É no contexto vivido no último quartel do século XIX na Figueira da Foz (porto marítimo e comercial aberto ao mercado internacional, estância balnear a crescer e a ter cotação a nível da Península Ibérica e, ainda, como potência desportiva a seguir a Lisboa e Porto), que nasce o desportista José Bento Pessoa. 

Nadou, remou, defendeu bolas no futebol, mas acabou por preferir a novidade dos velocípedes. Após as primeiras vitórias na Figueira da Foz, com apenas 20 anos de idade, José Bento Pessoa fica lançado no meio desportivo português, como um extraordinário atleta. 

O ciclismo, na altura, era um desporto de elite. Comprar uma bicicleta só estava ao alcance de uma minoria.  

José Bento Pessoa vai para Lisboa trabalhar para um comerciante com uma loja de bicicletas - Manuel Beirão de seu nome.

É a partir daí que Bento Pessoa tem a oportunidade de viver do ciclismo.

Profissionaliza-se. É inscrito na União Velocipédica Espanhola (não estava ainda fundada a União Velocipédica Portuguesa) e começa uma carreira que espantou Portugal e o Mundo.

Correu em Espanha, França (Paris) Bélgica (Gand), Suiça (Genebra), Itália (Turim) Alemanha (Berlim) e Brasil (Pará). 

Em Espanha, torna-se um ídolo: nas 68 corridas que lá fez, venceu-as todas. 

A 10 de Abril de 1898, no Velódromo de Genebra, na Suíça, perante 20.000 pessoas, bate o invencível campeão suíço Théodore Champion. Em Berlim a 8 de Maio de 1898, talvez o ponto mais alto da sua carreira, no decorrer do  Grande Prémio Zimmerman, à época a prova velocipédica mais importante da Europa, em honra de Arthur Augustus Zimmerman, vence o campeão do mundo Willy Arend. 

Quando as notícias das suas vitórias chegavam à sua terra, o entusiasmo dos figueirenses expandia-se em manifestações ruidosas e festivas: saíam as filarmónicas, a fachada do Teatro Príncipe iluminava-se, havia marchas, au flambeaux – uma loucura. 

Quando o campeão vinha descansar – meia Figueira ia festejá-lo. Chegou a ir da estação do caminho-de-ferro para casa aos ombros dos mais entusiastas. 

Em 1 de Setembro de 1901, os clubes ciclistas do país prestaram uma homenagem ao grande campeão. Para lhe ser entregue uma mensagem e um brinde, organizou-se a estafeta ciclista Lisboa-Figueira. 

José Bento Pessoa morreu na Figueira da Foz, a 7 de Julho de 1954.

A Câmara da nossa cidade, em 1955, prestou-lhe uma homenagem ao atribuir o seu nome ao Estádio Municipal.


Outro ciclista de envergadura e que atingiu grande nome no panorama velocipédico nacional, foi  António Alves Barbosa, um dos maiores desportistas figueirenses de todos os tempos.   

António Alves Barbosa nasceu em 24 de dezembro de 1931, na Fontela, freguesia de Vila Verde, concelho de Figueira da Foz.

Foi o maior ciclista português da década de 50 do século XX. 

Era filho de José Alves Barbosa, que foi contemporâneo e amigo de outro ciclista figueirense: o já atrás referido José Bento Pessoa, o melhor ciclista do mundo de 1892 a 1902.

Poucos recordarão a loja onde José Alves Barbosa alugava bicicletas, na actual Avenida 25 de Abril, na Figueira da Foz, junto do Grande Hotel, por debaixo da Piscina Praia. 

Em 1947, com 16 anos de idade, António Alves Barbosa iniciou-se no ciclismo, filiando-se na Associação de Ciclismo do Norte, como aluno. 

Começou a usar o nome do pai, tornando-se conhecido por ALVES BARBOSA. Em Portugal representou o Sangalhos. Em França a Rochet e a Rapha-Gitane. Em Espanha a Faema. Correu de 1949 a 1962. Foi 3 vezes vencedor da Volta a Portugal (1951, 1956 e 1958), 2 vezes Campeão Nacional de Fundo/Estrada (1954 e 1956), 5 vezes Campeão Nacional de Velocidade/Pista (1954, 1955, 1956, 1958 e 1959) e duas vezes Campeão Nacional de Ciclo-cross (1961 e 1962).

Participou 4 vezes na Volta a França, 3 na Volta a Espanha, 2 na Volta a Marrocos, 2 na Volta à Andaluzia, 2 no Paris-Nice e em muitas, muitas outras corridas no estrangeiro.

Foi o primeiro ciclista português a vencer três vezes a Volta a Portugal, em 1951, 1956 e 1958. É o ciclista com mais etapas ganhas na Volta a Portugal (Alves Barbosa 33; Cândido Barbosa 25 e Joaquim Agostinho 24).

Em 1951, com apenas 19 anos de idade, cometeu a proeza de vencer a Volta a Portugal com a camisola amarela do primeiro ao último dia.

Em 1956 ganhou a Volta a Portugal, triunfando em 10 das 23 etapas.

Em 1958, envergou a camisola amarela na 2ª. etapa da Volta a Portugal, entre Lisboa e Alpiarça. Nunca mais a despiu, como já tinha feito em 1951.

Na década de 50, provavelmente,  teria ganho todas as Voltas a Portugal, não fossem as mais diversas vicissitudes:

- Em 1952 foi impedido de participar porque estava a cumprir o serviço militar;

- Em 1953 e 1954 a Volta não se realizou;

- Em 1955 foi agredido por espectadores, perto da cidade do Porto, quando já era camisola amarela e ia ganhar a etapa e a Volta com um avanço significativo (desta forma perdeu para Ribeiro da Silva).

Ainda em 1955 obtém mais uma vitória no estrangeiro, na “Corrida 9 de Julho”, em São Paulo (Brasil), então a maior prova ciclista da América do Sul, que registou a participação de 500 concorrentes. 

Alves Barbosa disputou a Volta a França em 1956, 1957, 1958 e 1960 e a Volta a Espanha  em 1957, 1958 e 1961. Foi o primeiro ciclista português a ficar colocado nos primeiros dez da Volta à França.

O cinema aproveitou-se da sua popularidade. Em 1958, foi rodado o filme "O HOMEM DO DIA",  em que Alves Barbosa foi protagonista e motivo temático para captar um público que começava a fugir das salas de cinema para a recém-chegada televisão. 

Em 1961 iniciou uma carreira de treinador de ciclismo, no Sport Lisboa e Benfica.

De 1975 a 1978 e de 1989 a 1992 foi director técnico nacional da modalidade.

Alves Barbosa foi ainda comentador de ciclismo na rádio, na televisão e em diversos jornais. 

Em 1990 recebeu a medalha de mérito desportivo.

Em 2007 foi condecorado com a Medalha de Ouro da Juventude e dos Desportos de França.

Alves Barbosa faleceu no dia 29 de setembro de 2018.


A Volta dos Campeões, que se realizou a partir de 1931 e durou até atá à década de sessenta do século passado, é outro marco da relevância do ciclismo no concelho da Figueira da Foz

Teve como vencedores nomes famosos do panorama ciclista português: por exemplo, em 1932 José Maria Nicolau, ganhou a 2ª. edição da Volta dos Campeões. Em 1961, um ano antes de terminar a sua carreira, o vencedor foi o nosso Alves Barbosa. 


São inúmeras as chegadas da Volta a Portugal à Figueira da Foz.

Porém, a chegada à nossa cidade da  edição desta prova, em 1973,  ficou célebre.

Nesse ano, Joaquim Agostinho, na opinião de muitos, o maior ciclista português de todos tempos, cometeu, talvez, a sua maior proeza desportiva em Portugal. 

Aconteceu na etapa que trouxe a caravana voltista de Abrantes até à Figueira da Foz. Nessa etapa, que teve lugar ao sexto dia da prova, Joaquim Agostinho isola-se ao pelotão logo no início da tirada. Num autêntico contrarrelógio, de quase 200Km, finaliza uma das mais épicas etapas da Volta a Portugal, com 13 minuto de avanço sobre o pelotão.


A importância duma prova de um desporto que movimenta muita gente, como o ciclismo, ficou plasmada na reunião da Câmara da Figueira da Foz que aprovou,  por unanimidade, um apoio à realização de uma prova clássica internacional de ciclismo, em fevereiro de 2023.

Esse investimento, vai ser compensado, não só pela  “muitíssima gente”  que a  Figueira Champions Classiccidade vai trazer à ciade, como também pela promoção que a cobertura televisiva vai fazer em 11 e 12 de Fevereiro de 2023. 

NOTA DE RODAPÉ.

Bibliografia: José Bento Pessoa (Biografia) – Romeu Correia; A Bola; consultas bibliográficas de notícias da imprensa local existentes na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz e Figueira Champions Classic.

sábado, 15 de abril de 2017

A Figueira vai notar a ausência de Manuel Luís Pata

O Senhor Manuel Luís Pata, fotografado por Pedro Agostinho Cruz, em finais de outubro de 2013, no decorrer de um agradável café, acompanhado, como é habitual quando nos encontrávamos, de uma  empolgante  conversa sobre  o porto e a barra da Figueira, à mesa do Bar Borda do Rio, na Gala.
Com o falecimento de Manuel Luís Pata, "o responsável pelos livros que nesta cidade da Foz do Mondego, até hoje, foram publicados sobre a pesca longínqua do bacalhau e sobre os estaleiros da construção naval figueirense", a Figueira ficou mais pobre.

Foi um Homem que nunca abdicou de lutar.
Para além da luta que teve na década de 80 do século passado contra a construção da variante da Gala, do modo como implantada, liderou ou participou em muitas outras batalhas. Quase todas, se não mesmo todas, perdidas.

Em 1998-1999, tentou, sem êxito, salvar da destruição o último dos grandes navios de ferro bacalhoeiros da Figueira da Foz. Juntamente com os capitães locais, Álvaro Abreu da Silva e António Marques Guerra, foi um dos principais dinamizadores do movimento cívico que na Figueira da Foz defendeu o projecto, que foi torpedeado pela administração pública municipal (e, por isso, ingloriamente malogrado), de salvar da sucata o último de todos os navios bacalhoeiros figueirenses (o antigo "Sotto-Maior", depois chamado "José Cação"), para o transformar numa instalação museológica e assim dar um contributo para a criação do Museu do Mar local. Esse movimento foi lançado e apoiado também com a participação do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), mas não conseguiu vencer as resistências que lhe foram movidas.

Conforme recordou Alfredo Pinheiro Marques, "no ano anterior, em 1997, prontificou-se  para ser o primeiro a testemunhar (se fosse necessário) acerca da destruição dos seis  barcos de madeira antigos de pesca, adquiridos pelo erário público para fins museológicos (e estudados pelo próprio Arq. Octávio Lixa Filgueiras) mas que foram destruídos durante uma década no interior do Museu Municipal da Figueira da Foz." 

O projecto de criação do Museu do Mar da Foz do Mondego (o museu, desde sempre, desejado por tantos...) passou a fazer parte do essencial da estratégia do Centro de Estudos do Mar (CEMAR) desde a sua fundação na Figueira da Foz, em Janeiro de 1995: primeiro, apontando-se tal Museu para as antigas instalações da Fábrica de Conservas Cofisa em Buarcos  e, depois, em outros locais na cidade da Foz do Mondego e na sua margem sul (nomeadamente, com a inclusão desse navio, se ele tivesse sido salvo e musealizado, o que não veio a acontecer).
Tal projecto, pelo qual Manuel Luís Pata, no âmbito do CEMAR, lutou até ao fim, foi sempre inviabilizado. Quando um dia existir, se vier a exisitir, a memória e a contribuição de Manuel Luís Pata, terão de ser tidas em conta e ficarem devidamente registadas para memória futura.

Manuel Luís Pata, no decorrer de toda a sua vida, nunca deixou esquecer o antigo e meritório projecto, infelizmente fracassado, do porto oceânico de águas profundas no Cabo Mondego (Buarcos), do Com. Antonio Arthur Baldaque da Silva (1913). Esse projecto, se tivesse sido concretizado, teria dado à região da Figueira da Foz e de Coimbra o futuro que tal região não veio a ter. 
É sobejamente conhecida a sua luta contra o aumento do grande molhe norte do actual pequeno porto fluvial da Figueira da Foz (2006-2008), denunciando o que considerou ser mais um erro histórico que iria avolumar as situações de calamidade visíveis desde há décadas na região da Foz do Mondego, o que, infelizmente, veio a acontecer.
Os mortos na barra da Figueira e a erosão costeira a sul do estuário do Mondego são disso, infelizmente, a prova.

Em 2007, publicou no jornal "A Voz da Figueira" (25.10.2007), um artigo onde denunciava (e se declarou contra) a intenção abstrusa, daqueles que foram responsáveis pelo aumento do molhe norte do porto da Figueira, de colocar lá um "monumento aos figueirenses da epopeia do bacalhau" ("proibo que o meu nome e dos meus familiares falecidos sejam colocados em tal local aberrante" [sic])."
Manuel Luís Pata estava também frontalmente contra as obras na Praia da Figueira, outrora da Claridade, agora  da Calamidade.

Em Setembro de 2016, por ocasião da publicação do seu último livro, foi-lhe atribuída pela Câmara Municipal da sua terra natal, em vida, meritoriamente, a Medalha de Mérito do Município da Figueira da Foz (13.09.2016).
Lamentavelmente, já não viveu o tempo suficiente para a receber.
A Medalha de Mérito Municipal da Figueira da Foz, que lhe foi atribuída pela Câmara Municipal, irá ser entregue à Família do Senhor Manuel Luís Pata no próximo Dia da Cidade da Figueira da Foz, em 24 de Junho de 2017.

Manuel LuísPata vai fazer falta à Figueira.
Depois de tantos milhões gastos, para chegarmos aqui: "Requalificação do areal para aproximar a cidade ao mar"!..
Ouçam mas é quem sabe, por saber de experiência feita:
"... na pág. 8 do semanário “A Voz da Figueira”, de 13 de janeiro de 2016, com o anúncio da construção desta “milagrosa” obra onde irão gastar (estragar mais de 2,1 milhões de euros), fiquei perplexo!..
No entanto, os meus 91 anos não deveriam permitir que isso acontecesse! Mas, aparece sempre algo que nunca nos passaria pela imaginação.
Afinal: devemos aproximar a Cidade do Mar, ou o Mar da Cidade?
Insisto: devemos procurar a todo o custo aproximar o Mar da Cidade, como no tempo em que a Figueira era a Rainha das praias.
Leva-me a crer que quem tomou esta iniciativa desconhece que foi a “Praia da Claridade” que deu a grandeza e beleza à Figueira e não será esta “milagrosa” obra que irá repor essa condição!
Na realidade, o extenso areal existe e todos sabemos qual a razão e, mesmo sabendo, foi decidido acrescentar o molhe norte!
O resultado está bem visível e é lamentável! Pelo que li, o areal distancia o mar da cidade 40 metros em cada ano!
Julgo que todos sabemos - ou o que nos leva a crer, nem todos - que esta areia não pertence à Figueira e não deveria ali estar.

Enquanto não devolvermos ao mar as areias que lhe roubaram (e que lhe fazem falta) continuamos à sua mercê. O mar faz parte da natureza e o ser humano não tem poder para a dominar! Tem sim que a respeitar e, com inteligência, saber defender-se das fases nocivas.
Pelas razões que expus, terei, a contragosto e uma vez mais, de adicionar mais uma obra ao meu arquivo de obras “asnas” e gostaria que fosse a última, não porque na verdade já não terei muito mais tempo para o fazer, mas por deixarem de existir.
O mar deu brilho e riqueza à Figueira, à praia, à faina da pesca – com destaque para a do bacalhau -, grades secas, fábricas de conservas e indústria naval e a Figueira há muito lhe virou as costas."

Manuel Luís Pata, avisou em devido tempo, mas ninguém o ouviu...

Com as conversas que tive com este Senhor, aprendi muita coisa, nomeadamente que "o mar não gosta de cobardes".  E que "ao mar nunca se vira as costas".
O cuidado, o carinho, a dedicação,a perseverança e o bom gosto com que sempre defendeu a Aldeia, ao recordar a figura de Manuel Luís Pata, enche-me de um sentimento de gratidão para com este enorme covagalense e grande figueirense.
Como ele próprio me disse um dia, já lá vão quase dezasseis anos, “é pena que nem toda a gente entenda que na construção do futuro é necessário guardar a memória”.

Por me ter sido permitido viver esta dádiva, obrigado por tudo Senhor Manuel Luís Pata. 

terça-feira, 25 de agosto de 2020

CELEBRAR O DIA 24 DE AGOSTO E O LIBERALISMO, CONTRA O FEUDALISMO, NA FIGUEIRA DA FOZ DO MONDEGO

«O dia de hoje, 24 de Agosto, é um dia muito especial. Não somente por outras razões — e a menor delas não é seguramente o facto de ser o dia, de marés vivas (antigamente), que em Portugal é considerado como sendo "o dia de São Bartolomeu" ou "dia em que o Diabo anda à solta"… e por causa disso em São Bartolomeu do Mar, em Ponta da Barca, e em outros locais, as comunidades marítimas e fluviais o festejarem especialmente com rituais antiquíssimos que fazem parte da Cultura Popular Marítima Portuguesa — mas também porque esta data de 24 de Agosto é a data em que neste país ocorre a efeméride da revolução de 24 de Agosto de 1820… através da qual foi aqui instalado o Liberalismo, e assim se começaram a dar os primeiros passos decisivos (que, depois, ainda iriam ser muito demorados, dolorosos, e incompletos), para a ultrapassagem daquele que, desde sempre, e para sempre, foi, é, e continua a ser, o principal problema estrutural deste país que se chama Portugal, e da sua História: o Feudalismo… O regime senhorial-feudal caracterizado pelo senhorialismo económico monopolista e provinciano, pela feudalização jurídico-política, de tipo local, autenticamente vassálico, e que, muitas vezes, anedoticamene, ou tragicamente, chega a situações extremas, e ridículas, de caciquismo mafioso.

   
O senhorialismo feudal, típico do "Antigo Regime", desde a Idade Média, e que, neste país, secularmente periférico e subdesenvolvido, mesmo depois dessa revolução de 1820, tem deixado resquícios que têm demorado demais para serem totalmente ultrapassados.

E, hoje, 24 de Agosto de 2020, não se celebra só uma efeméride qualquer e igual a todas as outras, nos outros anos, rotineiramente (não é também somente a data do nascimento do grande escritor mundial, o argentino, de origem portuguesa, Jorge Luis Borges). Hoje, em 2020, celebram-se os duzentos (200) anos do 24 de Agosto de 1820.

E portanto o CEMAR (Centro de Estudos do Mar), com sede na Figueira da Foz do Mondego — embora sempre primacialmente vocacionado para outras matérias, de História e de Património Histórico Marítimo, que não as da História Política portuguesa e metropolitana — não poderia nunca deixar de aqui recordar esta data especialmente significativa, pois ninguém ignora, nem deve ignorar, que nessa revolução de 1820, e na consequente instauração do Liberalismo em Portugal, desempenhou um papel determinante um homem notável provindo desta cidade da Foz do Mondego, o jurista Manuel Fernandes Tomás. Como mostrou o Asssociado Honorário do CEMAR Capitão João Pereira Mano, no livro "Terras do Mar Salgado" que foi editado pela nossa associação científica, a família de Manuel Fernandes Tomás era uma família dos ambientes marítimos e comerciais da Figueira da Foz (vide Cap. João Pereira Mano, Terras do Mar Salgado. São Julião da Figueira da Foz - São Pedro da Cova-Gala - Buarcos - Costa de Lavos e Leirosa, Figueira da Foz: CEMAR, 1997).
   
É mesmo uma curiosa e significativa coincidência o facto de, na História de Portugal, para a afirmação da nacionalidade livre e responsável (o que, hoje, numa República, chamamos "a cidadania") — para a construção do Estado e para a reforma da sociedade no sentido da modernização e do Futuro (no foro decisivo, que é o jurídico-político e constitucional) —, terem tido reflexões teoréticas estruturantes, e papéis políticos determinantes, a quase quatro séculos de distância (!),  duas figuras históricas que, por acaso, se deu a coincidência de terem estado ambas ligadas a esta região, aberta, comercial e progressiva: no século XV o Infante Dom Pedro (1392-1449), Duque de Coimbra e Senhor de Buarcos, Montemor, etc., que governou o país e mandou promulgar as decisivas (civil e "constitucionalmente""Ordenações Afonsinas" de 1446; e no século XIX o jurista Manuel Fernandes Tomás (1771-1822), que nasceu na Figueira da Foz e foi um dos principais obreiros da decisiva (civil e "constitucionalmente") revolução de 1820.
   
O  primeiro foi o verdadeiro responsável não só pela reflexão filosófica e politológica pessoal que ficou consignada no "Livro da Virtuosa Benfeitoria" de c.1431 mas também pela pioneira e fundacional organização jurídica, sistemática e colectiva, que ficou consignada nas primeiras "Ordenações", em 1446; e o segundo, para além da sua acção organizativa e política, e ainda antes dela, foi também um jurisconsulto apontado para a modernização e racionalização do ordenamento jurídico português, e por isso o autor que produziu o "Repertorio geral ou índice alphabetico das leis extravagantes do reino de Portugal, publicadas depois das ordenações, comprehendendo também algumas anteriores que se acham em observância", em 1815.
   
Ambos por isso merecem ser evocados especialmente nesta cidade da Foz do Mondego (e têm-no sido), e os seus exemplos podem e devem ser aproximados (e ainda não o foram suficientemente), e é isso que, pela parte do CEMAR, hoje, aqui, se está a fazer. O exemplo de Fernandes Tomás, que a partir do Porto preparou uma revolução, e deu um futuro ao país, tem sido recordado, em termos cívicos e políticos, por quem tem obrigação de o recordar; e a figura do malogrado Infante Senhor de Buarcos que foi assassinado em Alfarrobeira, às portas de Lisboa (e, nessa ocasião, não por acaso, tinha aí consigo os Pescadores de Buarcos), tem sido sobretudo evocada pelo CEMAR (como nos compete, por sermos uma associação científica local apontada para o Património Cultural Marítimo desta região da Beira Litoral e Foz do Mondego).

Neste ano de 2020 — no ano que é, em números redondos, dos dois séculos da revolução e da Constituição Liberal de 1820 — espera-se que, portanto, sejam possíveis as celebrações, verdadeiramente significativas, que ainda venham a poder ser feitas, no decorrer do ano, e até ao seu fim, na sua cidade da Figueira da Foz, do jurisconsulto e homem político que aqui nasceu em 1771. Ao que parece, infelizmente, não veio a concretizar-se a ideia que havia sido proposta numa conferência de S.E. o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, realizada no Salão Nobre da Câmara Municipal da Figueira da Foz, promovida pelo seu anterior Presidente de Câmara (um jurista nascido nesta mesma cidade em que veio a ser autarca, depois de ser Juiz Desembargador no Tribunal da Relação de Coimbra, o Exº Senhor Dr. João Ataíde, entretanto precocemente falecido): a ideia de que esta cidade natal de Fernandes Tomás tomasse a dianteira, caminhasse nesse sentido, e trabalhasse para isso, e assim fosse a cidade em que viessem a ser centralizadas celebrações verdadeiramenete nacionais, e significativas, da figura do "Patriarca da Liberdade”.

Pela parte da nossa pequena associação científica privada — que nisso não poderia nunca ter especiais responsabiidades, ou capacidades, pela exiguidade dos nossos recursos (sempre sem querer receber e gastar dinheiro público) e por não ser essa a nossa vocação estatutária — aquilo que desde há muito temos praticado, e consideramos a nossa própria celebração do Liberalismo oitocentista, estando sediados na Figueira da Foz, foi a publicação (e a distribuição, gratuita, e generalizada, oferecidos a quem quer que no-los peça) dos dois grossos e sólidos volumes (tão grandes em dimensão quanto em qualidade, erudição, e interesse) da obra do nosso querido e saudoso associado Professor Hélio Osvaldo Alves, professor catedrático da Universidade do Minho, doutorado pelo University College da Universidade de Londres, presidente da Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos, etc., e que tivemos o prazer e a honra de ter como segundo presidente da Assembleia Geral do Centro de Estudos do Mar (sucedendo nessas funções ao também saudoso Dr. Luís de Melo Biscaia, vereador da Cultura da Câmara Municipal da Figueira da Foz, entretanto também ele já falecido).

A distribuição, gratuita e desinteressada, que desde há anos fazemos (e vamos continuar a fazer, para quem no-los peça) desses dois importantes volumes sobre História do século XIX que o CEMAR invulgarmente editou na Figueira da Foz (e que são, na carteira editorial global das dezenas de edições do CEMAR, algo de verdadeiramente único e excepcional, por não dizerem especialmente respeito à vocação estatutária desta associação apontada para o Mar e a História Marítima) é a nossa maneira de celebrarmos o Liberalismo oitocentista (a Revolução Francesa, e os seus reflexos em toda a Europa, em Portugal, e até mesmo em Inglaterra).

Estes volumes ainda hoje continuam a ser oferecidos a partir da Figueira da Foz.

A outra forma através da qual o CEMAR vai prestar o seu contributo para a celebração do Liberalismo, na Figueira da Foz, neste ano emblemático de 2020, vai ser através da manutenção do Encontro do Mar (embora, devido à pandemia da Covid 19, em teleconferência e emissão telemática, e não ao vivo e com público presente) que estava previsto, na culminação do ano, e na culminação dos Encontros do Mar, para o dia 12 de Dezembro de 2020, com o Professor José Adelino Maltez (do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa), sob o tema "(Re)Pensar a Regeneração de Há Duzentos Anos (1820-2020).

A celebração da memória do Progresso, desde a Idade Média — e o resgate da "maldição" dessa "memória" — têm sido, desde há vinte e cinco anos, um combate do Centro de Estudos do Mar nesta cidade da Figueira da Foz; e no que diz respeito à figura medieval do Regente da Coroa de Portugal que foi Senhor de Buarcos e deu a Portugal o seu primeiro código sistemático de leis — um momento, fundacional, da construção do Estado Português, contra o Feudalismo — esse combate vai continuar a ser travado, para futuro, no âmbito do processo para a definitiva e inadiável criação do Museu do Mar da Foz do Mondego nesta cidade. Um processo que, no entanto, continua numa situação incompreensível, sem que acerca dele existam quaisquer desenvolvimentos, pelos quais se continua a aguardar.

O combate pelo Progresso e pelo Futuro, nas regiões da Beira Litoral do antigo Ducado de Coimbra do Infante Dom Pedro e do seu neto e herdeiro político, o "Príncipe Perfeito" Dom João II (a quem o cronista chamou, logo no século XV, "próprio e verdadeiro coração da república"), é um combate que o CEMAR faz desde a sua fundação, em 1995, com a publicação, logo nesse primeiro ano, do livro de Alfredo Pinheiro Marques, A Maldição da Memória do Infante Dom Pedro e as Origens dos Descobrimentos Portugueses (Figueira da Foz: CEMAR, 1995).

Os inimigos desse Progresso e desse Futuro são aqueles que, desde o princípio, nos séculos XV-XVI, sempre o foram (e já se instalaram cá na Beira Litoral para isso mesmo, para asfixiar estas regiões). Os seus expoentes principais são o senhorialismo, de tipo eclesiástico (mesmo quando dito "pós-moderno"… e sempre hipocritamente "intelectual"), da Universidade que foi trazida de Lisboa, juntamente com a criação da Inquisição, em 1536-1537, precisamente para asfixiar política e culturalmente, e oprimir económica e socialmente, estas regiões da Beira Litoral (intitulando-se, desde então, com o nome de "Universidade de Coimbra", e ao longo dos séculos seguintes semeando a ignorância, o reaccionarismo e a hipocrisia à sua volta), e o senhorialismo feudal e nobiliárquico de um ramo colateral da Casa de Bragança, o dos Duques de Cadaval (Condes de Tentúgal e Marqueses de Ferreira), que, desde o século XVI, foram instalados em Tentúgal e em Buarcos precisamente para asfixiarem todas estas regiões da Beira Litoral que haviam sido do Ducado de Coimbra, e ao longo dos séculos seguintes o fizeram sempre. E por isso não é de admirar que, depois, nas décadas iniciais do século XIX, essas duas entidades senhoriais e feudais, a Universidade dita "de Coimbra", instalada no antigo Paço da Alcáçova onde havia vivido o Infante Dom Pedro, e os Duques de Cadaval instalados no Paço de Tentúgal onde também havia vivido o autor da "Virtuosa Benfeitoria", fossem regionalmente os dois expontes máximos do reaccionarismo absolutista, caceteiro, e boçal, que em nome do Feudalismo tentou impedir o advento do Liberalismo em Portugal.

Os Duques de Cadaval, latifundiários e feudais em pleno século XIX, e por isso odiados pelas populações locais (quer pelos camponeses de Tentúgal, quer pelos pescadores de Buarcos), foram por fim desalojados pelo triunfo do  Liberalismo, e o antigo Paço do Infante Dom Pedro em Tentúgal (que ocupavam desde há três séculos!), por ser seu, incendiado pelas populações.

O outro exponte regional do Absolutismo caceteiro e reaccionário, a Universidade trazida de Lisboa juntamente com a criação da Inquisição em 1536-1537, e desde então já instalada em Coimbra desde há mais de dois séculos, e por isso auto-intitulando-se com o nome, abusivo e erróneo, de "Universidade de Coimbra", teve por fim nas primeiras décadas do século XIX que se conformar com o triunfo do Liberalismo que não conseguiu impedir (nem ela, nem o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra… ao qual, desde o princípio, sempre esteve umbilicalmente ligada, pela hipocrisia clerical e pela ignorância doutoral, apropriando-se ambos do nome da "Sophia" do Infante Dom Pedro, e a partir de Coimbra se digladiando feudalmente e judicialmente pela posse dos senhorios económicos da Beira Litoral, desde o castelo de Buarcos até Leiria, etc.).

E assim essa Universidade continuou pelo século XIX adiante, para na sua segunda metade sobre ela ser dito o que havia para ser dito, como merecia, por Antero de Quental e Eça de Queirós. E pela célebre frase, habitualmente atribuída a Guerra Junqueiro, sintetizando tudo.

O que essa Universidade continuou a fazer sempre — não por acaso… (e, assim, cobrindo-se de ridículo…) — foi continuar a ensinar, nos bancos das suas aulas de História e de Direito, ainda em pleno século XX (praticamente até à data de 25 de Abril de 1974…!), a curiosíssima concepção, tão reveladora, de que "em Portugal nunca existiu o Feudalismo"… [sic]…  Era, e continuou a ser, para sempre, a Universidade em que, em pleno século XX, a História poderia vir a ser ensinada, e dirigida (como veio), por alguém como Torquato de Sousa Soares…

Trata-se, aqui, em tudo isto (que é a História de Portugal…), de facto, da questão, de sempre, do Feudalismo e do Liberalismo. E, agora, estamos em 2020, duzentos anos depois.»

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Figueira da Foz: 140 anos de uma cidade com futuro

Passaram ontem 140 sobre a elevação da vila da Figueira da Foz a cidade. 
A efeméride foi assinalada com diversas cerimónias.
Foto via Município da Figueira da Foz
Pelas  9 horas e 30 minutos, com a presença de várias entidades civis, paramilitares e convidados, houve o hastear da bandeira nos Paços do Concelho pelo Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes,  a que se seguiu a deposição de uma coroa de flores na Estátua do Centenário, no Parque das Abadias.
Foram dois momentos de elevado simbolismo, no âmbito do programa comemorativo do 140º aniversário da Elevação da Figueira da Foz a Cidade.
Na oportunidade, em declarações aos jornalistas, Santana Lopes falou sobre a cidade que encontrou e aquela que espera deixar aos figueirenses. 
Citando o Diário as Beiras“Encontrei a Figueira de sempre”“Agora, temos de fazer aqui uma ligeira mudança. Estamos a tentar que a Figueira seja marcada pela instalação de um campus universitário [da Universidade de Coimbra] que permita pôr a Figueira no grupo das cidades com instituições científicas de relevo”.
Para Santana Lopes, depois de praticamente ter cumprido o primeiro ano do mandato, a instalação do campus universitário é de “uma importância extrema para o concelho”
“Quando sair, um dia, [quero] que a Figueira esteja num ranking mais alto, em matéria de investigação e de inovação, para quem queira investigar, não só nos domínios ligados ao mar, mas também à floresta e outros”.
Resumindo, Santana Lopes pretende “que a Figueira seja uma cidade de conhecimento e que receba o ano todo pessoas que a procuram por isso mesmo”. Contudo, deixou um alerta: “É um trabalho persistente, não é um trabalho de efeitos fáceis ou curtos, é um trabalho mais de fundo. Mas é neste trabalho em que estamos empenhados”.
A terminar as declarações que temos estado a citar via Diário as Beiras, Santana Lopes sublinhou que as próximas semanas serão de “decisões importantes” ligadas ao “relacionamento com o Governo e com a Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra.
Pelas 10h30, teve lugar a inauguração das obras de Requalificação da Escola Básica das Abadias, assinalada por três momentos: Descerramento da Placa de Inauguração e Placa de Financiamento; Intervenções da Directora do Agrupamento de Escolas da Zona Urbana, Prof. Bela Matos; da Delegada Regional de Educação do Centro, Cristina Oliveira; da Presidente de Junta de Freguesia de Buarcos e São Julião, Rosa Batista; da Presidente da CCDRC, Isabel Damasceno e do Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, Pedro Santana Lopes.
A terminar esta cerimónia teve lugar uma visita à Escola.
Imagem via Diário as Beiras

Foto: António Agostinho
Às 18h00, na Biblioteca Municipal Santos Rocha, foi inaugurada a Exposição Figueira Cidade 140 anos seguida de um recital com a cravista Joana Bagulho.
Miguel de Carvalho, Coordenador da Comissão de Cultura, responsável pelas Comemorações da Elevação da Figueira da Foz a Vila e a Cidade, na sua intervenção aludiu às características adjacentes a esta exposição enquanto sinónima da indispensável "preservação do património histórico-cultural", numa evocação de tempos idos, de paisagens, de ruas, de gentes, de vivências e de cultura.
A terminar o Dia do Município da Figueira da Foz, integrado no programa dos 140 Anos de Elevação da Figueira da Foz a Cidade, realizou-se no Grande Auditório do CAE, pelas 21h30, o espectáculo “Orquestra Filarmonia das Beiras" com a presença de Carlos Guilherme e Isabel Alcobia, e com a participação especial de Luís Pinto.
Com o CAE perto da lotação esgotada, a "Orquestra Filarmonia das Beiras" apresentou uma Gala Lírica com um programa com música de raiz espanhola e da tradição italiana. 
Dirigidos pelo Maestro António Vassalo Lourenço, o tenor Carlos Guilherme e a soprano Isabel Alcobia, mostraram o encanto das canções napolitanas e da tradicional Zarzuela.
Menção para a participação especial e sentida do tenor Luís Pinto, que interpretou "Para ti Figueira, com amor", melhor do que nunca.
Do programa fizeram parte obras de George Bizet, Ernesto de Curtis, G. Verdi, Francisco A. Barbieri, Agustin Lara, entre outros. 

sábado, 11 de dezembro de 2021

"Reconhecido relevante interesse público a ponte na Figueira da Foz que vai ocupar solos da REN"


 ... «uma ponte, apresentada há cerca de três anos como ciclável/pedonal (a permitir a passagem de uma ambulância em caso de necessidade) a ligar Alqueidão e Vila Verde, transformou-se em ciclável/automóvel, de apenas uma via alternada, a ligar Alqueidão e Lares, mas com semáforos “inteligentes” – ou seja, de um investimento de cerca 750 mil euros, passou-se para 3.4 milhões…»

Agora, via Notícias de Coimbra, que cita LUSA, ficamos a saber que  "o Governo reconheceu hoje como ação de relevante interesse público o projeto de construção de uma ponte sobre o rio Mondego, na Figueira da Foz, distrito de Coimbra, que prevê ocupar solos em Reserva Ecológica Nacional (REN)."
O despacho, dos gabinetes dos secretários de Estado da Descentralização e da Administração Local, e da Conservação da Natureza, das Florestas e do Ordenamento do Território, publicado em Diário da República, “reconhece como ação de relevante interesse público o projeto de construção de uma ponte sobre o canal central do rio Mondego na Figueira da Foz, no âmbito da Rota Ciclável Europeia Eurovelo – Rota da Costa Atlântica”.
O documento explicou que a Câmara da Figueira da Foz pretende concretizar a ponte, cuja “intervenção prevê a ocupação de 5.030 m2 de solos integrados” na REN, “nas tipologias ‘águas de transição e leitos, margens e faixas de proteção’ e ‘zonas ameaçadas pelas cheias’”.
No despacho destacou-se que a construção da ponte, inserida naquela rota, “pertencente à rede europeia de ciclovias”, vai permitir “a melhoria da mobilidade de velocípedes e pedonal”, mas também vai poder ser utilizada “por veículos ligeiros e de emergência”, assim como “uma relação mais próxima entre duas freguesias do concelho da Figueira da Foz, fomentando a coesão territorial entre as duas margens”.
Por outro lado, sustentou que, “face à natureza do projeto, não existe alternativa de localização que não afete espaços integrados em REN”, além de que “não contraria” o Plano Diretor Municipal.
Segundo o despacho, a Assembleia Municipal da Figueira da Foz “deliberou, por maioria, aprovar a declaração de reconhecimento de interesse público municipal do projeto” que “não se encontra sujeito a procedimento de avaliação de impacte ambiental”.
O projeto obteve parecer favorável condicionado da Agência Portuguesa do Ambiente, da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, das Infraestruturas de Portugal e da Direção-Geral do Património Cultural.
Acresce a “pronúncia favorável da Entidade Regional da Reserva Agrícola Nacional do Centro” e o “nada a obstar à concretização do projeto” por parte do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.
Já a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro também emitiu parecer favorável, “condicionado ao cumprimento das condições constantes dos pareceres das entidades consultadas e à implementação das medidas de minimização constantes do projeto”.
Os secretários de Estado Jorge Botelho e João Paulo Catarino determinam o reconhecimento como ação de relevante interesse público o projeto de construção da ponte, “condicionada à implementação das medidas de minimização constantes do projeto e ao cumprimento das medidas e pareceres das entidades consultadas e demais normas legais e regulamentares aplicáveis”.

Em março, a Câmara da Figueira da Foz anunciou a construção de uma ponte ciclável e pedonal com uma vertente rodoviária sobre o rio Mondego.
A construção da ponte envolve um investimento da ordem dos 3,4 milhões de euros e a construção da ciclovia entre Vila Verde e Alqueidão implica um investimento de cerca de dois milhões de euros.
O projeto permitirá a ligação a três ciclovias – a que liga Figueira da Foz a Coimbra (que por sua vez dá acesso à ciclovia do Dão) e à ciclovia entre Figueira da Foz e Montemor-o-Velho e Cantanhede e Mealhada.
A nova ponte terá uma única faixa de rodagem, com circulação alternada de automóveis, e uma faixa de ciclovia que servirá também para a circulação pedonal.
A ciclovia denominada “Eurovelo” vai ligar 43 países da Europa, incluindo Portugal, e, no caso deste projeto na Figueira da Foz, assegurará a ligação entre Cabo Mondego, Murtinheira, Praia de Quiaios, Lagoas de Quiaios, Tocha e Cantanhede.

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Operacionalidade no acesso ao parque de estacionamento do Hospital vai ser avaliada pela Autoridade Nacional de Protecção Civil

Na imagem, sacada daqui, vê-se o início da entrada de emergência: curva difícil e apertada à direita, de imediato mais curva difícil e apertada à direita, curva à esquerda e, finalmente, curva à direita. Isto, num percurso de acesso à urgência de cerca de 200 metros.
A partir de 4 de novembro de 2013, com um investimento feito pela Empresa Municipal Figueira Parques, cujo accionista maioritário é a Câmara Municipal da Figueira da Foz, o Hospital Distrital da Figueira da Foz foi metido dentro de um parque de estacionamento (sublinhe-se: o Hospital Distrital da Figueira da Foz foi metido dentro de um parque de estacionamento , não foi criado um parque de estacionamento para servir os utentes do Hospital...). 
Resultado: A PARTIR DE 4 DE NOVEMBRO DE 2013, OS UTENTES PASSARAM A PAGAR ESTACIONAMENTO NO HOSPITAL DA FIGUEIRA DA FOZ... 
Consequentemente, o acesso à saúde, na nossa cidade, com a colaboração do executivo camarário de maioria absoluta do Partido Socialista, ficou de mais difícil acesso e mais caro.

Para além disto, que já não era nada pouco, o facto do Hospital Distrital da Figueira ter sido colocado dentro de um parque de estacionamento, o novo sistema de acesso ao hospital distrital da Figueira da Foz criou um problema de Operacionalidade (aliás, detectado, em devido tempo, por um “Relatório da Proteção Civil municipal da Figueira")  que deveria ter sido enviado para avaliação de quem de direito:  a Autoridade Nacional de Protecção Civil.

Tal não aconteceu, porém.
Mas, ontem, o assunto foi levantado pela deputada da bancada do PSD na Assembleia Municipal da Figueira da Foz,  Ana Oliveira, que apresentou uma moção, sobre a acessibilidade dos meios operacionais ao hospital distrital da Figueira da Foz (utilização-tipo) na qual foi colocada a dúvida quanto à operacionalidade deste acesso para viaturas de socorro à utilização-tipo (UT) em causa, que foi aprovada com 12 votos a favor e 29 abstenções.

Dado o interesse, transcrevo o texto da moção apresentada pela deputada Ana Oliveira, aprovada na sessão da Assembleia Municipal da Figueira da Foz realizada ontem:

"Tendo em conta,
O parecer efectuado a 3 Março de 2014 pelo Serviço Municipal de Protecção Civil (SMPC), parecer solicitado pelos vereadores do PSD;
A resposta ao mesmo parecer por parte da Administração do Hospital Distrital da Figueira da Foz (HDFF) a 24 de Março de 2014;
As medidas de Auto Protecção do Plano de Segurança Interno do HDFF;
As características (dimensões) das Viaturas de combate a Incêndios por parte dos BMFF e BVFF;
O parecer técnico solicitado por mim, enquanto deputada Municipal, a um consultor técnico de segurança e protecção civil;
Constatando que as medidas de Auto Protecção do Plano de Segurança Interno do HDFF, nada referem em relação à operacionalidade do sistema de acesso ao mesmo, uma vez que este plano foi submetido em 2011 à Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC);
Que o sistema actual de acesso ao HDFF, apenas foi implementado em Novembro de 2013, não tendo parecer da ANPC. 
Neste sentido, vem a Bancada do PSD, propor à votação, o seguinte:
Que se envie de imediato à Autoridade Nacional de Protecção Civil, toda a documentação em anexo. No nosso entender, as vias de acesso à urgência médico-cirúrgica devem ser desimpedidas, assim como devem ser avaliados os acessos às viaturas de combate a incêndios ao referido hospital."

Ana Oliveira, na sua intervenção final sobre este assunto discutido na Assembleia Municipal da Figueira da Foz, afirmou que "como consequência do que esta Assembleia acabou de votar, a bancada do PSD recomenda, que até a ANPC emitir Parecer sobre a proposta anterior, que sejam desobstruídos todos os acessos ao HDFF."

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Encontros do Mar 2020 iniciaram-se com a presença do Almirante Doutor António Silva Ribeiro

"O convidado, neste primeiro Encontro, Almirante Doutor António Silva Ribeiro, é Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas Portuguesas, antigo Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, antigo Director do Instituto Hidrográfico da Marinha Portuguesa, Professor Catedrático Convidado do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP-UL), associado e membro do Conselho Consultivo e Científico do CEMAR na Figueira da Foz e na Praia de Mira desde 1997, Associado Honorário do CEMAR em 2017, etc..

O ciclo Encontros do Mar 2020, em celebração dos vinte e cinco anos da fundação do Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR (1995-2020), começou, desta maneira, com chave de ouro; e vai continuar ao longo de todo o ano de 2020, aos sábados à tarde, a partir das 15.00 horas, na Figueira da Foz do Mondego (Buarcos) e em outros locais.

Neste primeiro Encontro, o convidado -- para tal fim, o interveniente mais credenciado -- apresentou uma visão geral da relação de Portugal com o Mar, não somente de um ponto de vista histórico mas também de perspectivação do Presente e do Futuro, sob o ponto de vista estratégico, institucional, económico, social e cultural.
No informal mas vivo debate que se seguiu (no espírito que vai continuar a ser sempre o dos Encontros do Mar, em profícuas sessões de trabalho especializado), houve intervenções com contributos de vários dos presentes que neste dia se deslocaram para esse fim especialmente à Figueira da Foz (contributos não muito numerosos, mas muito qualificados, por muito qualificados serem os que nessa ocasião os proferiram), nomeadamente o Com. Armando Dias Correia (Marinha Portuguesa), Eng. João Paulo Craveiro (Coimbra), Eng. Paulo Gonçalves (ARL), Dr. Miguel Marques (PwC), Dr. Manuel Castelo Branco (ISCAC-Coimbra Business School), Alfredo Pinheiro Marques (CEMAR), Dr. Carlos Monteiro (CMFF), os Mestres Pescadores Manuel Gabriel e Alcino Clemente (Praia de Mira).
Entre a assistência contaram-se figuras como o Juiz Desembargador Luís Azevedo Mendes, Presidente do Tribunal da Relação de Coimbra, o Almirante Aníbal Ramos Borges, Director da Revista da Armada, Mestre José Festas, Presidente da Associação Pró-Maior Segurança dos Homens do Mar, etc..

Esta conferência do CEMGFA Almirante António Silva Ribeiro corresponde à que deveria ter sido proferida em primeiro lugar nesta cidade da Figueira da Foz no decorrer da vigência da grande exposição “O Infante Dom Pedro de Coimbra -- e de Buarcos (Foz do Mondego] — na História de Portugal”, organizada em 2019 pelo Tribunal da Relação de Coimbra, Brigada de Intervenção do Exército Português, Câmara Municipal da Figueira da Foz e Centro de Estudos do Mar, a qual esteve patente na Primavera desse ano no Palácio da Justiça de Coimbra (Tribunal da Relação), e se esperava que viesse a estar aberta ao público no Verão desse ano de 2019 na Figueira da Foz no edifício histórico da Casa do Paço, da Câmara Municipal da Figueira da Foz (e se esperava que tivesse sido por essa Câmara Municipal proposta para ser integrada na celebração do Dia da Marinha, na sua extensão à cidade da Foz do Mondego). Tal exposição, na sua conceptualização, acervos, etc., foi já em si mesma um primeiro contributo embrionário para a criação do Museu do Mar da Foz do Mondego (MMFM): a parceria desde 2017 a ser preparada entre a Câmara Municipal local e o Centro de Estudos do Mar, e com os possíveis apoios e colaborações da Marinha Portuguesa e do seu respectivo Museu de Marinha de Lisboa, etc.. Possíveis apoios e colaborações que, agora, não deixaram de ser mencionados pelo Almirante António Silva Ribeiro nesta sua conferência na Figueira da Foz em 18.01.2020, pois começaram a ser estudados entre a CMFF, o CEMAR, e a Marinha, no tempo em que ele próprio foi Chefe do Estado-Maior da Armada, em 2017, e quis então dispensar a sua esclarecida apreciação a esse assunto da criação de mais um museu significativo e dedicado ao mar em mais uma significativa cidade marítima portuguesa, como é a cidade da Foz do Mondego."

A sessão foi transmitida em directo, através do canal Centro de Estudos do Mar CEMAR TV - YouTube.
Ficam os vídeos.

Primeira parte [Introdução]:
Segunda parte [Intervenção]:
Terceira parte [Debate]:

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Uma ditadura pretensamente suave...

Imagem via
Díário as Beiras
O totalitarismo do politicamente correto nos media condiciona a liberdade de pensamento e de expressão e tem efeitos na decisão no momento de votar. 
Ninguém se surpreende já. Tem sido sempre assim e está a acontecer mais uma vez nestas eleições, no concelho da Figueira da Foz. 
Querem impor a unanimidade e voz única, neste caso a 3?
Quem pensa diferente tem de ser  silenciado, banido e justiciado?
Porventura sim. De outro modo, o povo descobre a realidade: os velhos reis continuam nus.
Esta atitude totalitária, encontra espaço na carenciada classe do jornalismo, especialmente dos  jornais impressos. 
O mundo pula e avança, mas há quem nos queira amarrar.

"A candidatura do PS à da Figueira da Foz marcou presença no Festival das Feijoadas promovido pela Comissão de Festas de São Pedro, no espaço de convívio do Portinho da Gala, na Cova-Gala," e é notícia de jornal.

"Isabel Coimbra é a candidata que Pedro Machado lançou para a Assembleia Municipal da Figueira da Foz", acontecimento que já havia tido o merecido destaque em devido tempo,  e é novamente notícia de jornal.

"Pedro Santana Lopes e Alda Marcelo, candidatos à câmara e à freguesia de Alhadas, respetivamente, visitaram o CRIA (Clube Recreativo de Instrução Alhadense), tendo sido recebidos pela direção, visitado as instalações e debatido sobre as necessidades do clube", e é notícia de jornal. 
Foto António Agostinho. CDU Figueira da Foz

Na passada sexta-feira a CDU Figueira da Foz realiza uma  reunião com a população de Brenha, que era para se ter realizado no edifício sede da antiga Junta de Freguesia, mas como compareceram cerca de 50 Brenhenses e para respeitar as normas da D.G.S., foi deslocada para o Clube União Brenhense, para debater  a problemática da extinta freguesia de Brenha, e não é notícia de jornal.


É assim, ao reduzir a divulgação da campanha eleitoral a três candidatos, que o jornalismo impresso que se pratica na Figueira da Foz contribui para o debate democrático no concelho?

sexta-feira, 23 de junho de 2006

A Figueira de “costas voltadas” para o Figueira.net. Até quando?




Há já sete anos que desenvolvo um site na Internet integralmente dedicado à Figueira da Foz em www.figueira.net e que é repositório de centenas de páginas e milhares de fotografias entre outros conteúdos (música, vídeo, livros, notícias, etc.). E tudo, claro está, a “transpirar Figueira da Foz por todos os poros”!Posso afirmar, sem pejo, e até prova em contrário, que a Figueira da Foz tem no Figueira.net um caso exemplar e único no panorama nacional de sites dedicados a uma cidade (e concelho). Porquê? Porque desconheço outro site (do género) que apresente a quantidade, qualidade, actualidade, interactividade e organização de conteúdos que o Figueira.net apresenta. Mesmo assim a Figueira da Foz continua de “costas voltadas” para o Figueira.net. Porquê? Porque:a) Dá-me a sensação que grande parte da sociedade civil local só se lembra do Figueira.net quando precisa e pensa que estas coisas se fazem sem esforço e sem despesa. Infelizmente, para eu poder fazer o Figueira.net, não me basta “estalar os dedos”.b) A maioria dos agentes económicos locais ainda não se apercebeu do grande potencial que apresenta a promoção comercial através de um site com grande audiência como o Figueira.net preferindo outros meios, digamos, mais tradicionais; até posso compreender isso mas faz-me alguma “espécie” sobretudo porque se apostassem no Figueira.net estavam automaticamente a apostar na Figueira da Foz.c) Ainda mais importante que a) e b), mesmo depois de todo este tempo e do trabalho desenvolvido em prol desta cidade e concelho, as entidades que representam oficialmente a Figueira da Foz (leia-se Câmara e Turismo) não foram capazes de investir um cêntimo que fosse no meu projecto. E porque haveriam de o fazer? Porque, com toda a imodéstia, considero que o Figueira.net já provou ser “o site da Figueira da Foz” (como muitos o chamam) e, depois, não é um “site qualquer”. Além disso, em sete anos, não custou um cêntimo aos contribuintes figueirenses.Que “insondáveis desígnios” impelirão a Câmara e o Turismo a ignorarem e a alhearem-se totalmente de algo como o Figueira.net? Por que será que nunca se interessaram em estabelecer, por exemplo, uma parceria? Por acaso recearão que o Figueira.net tenha “sarna”? O Figueira.net não é “sarnento” e mostra na Internet a Figueira da Foz, a quem quiser ver, aquém e além fronteiras, de forma ímpar e comprovada por centenas de pessoas que por lá passam todos os dias.Mesmo contando com o apoio de algumas empresas (é graças a elas que o Figueira.net ainda existe) a verdade é que estou, presentemente, a custear parcialmente, do meu próprio bolso, a manutenção do site. Como eu não mereço nem posso suportar “ad aeternum” esta situação só me resta lançar um repto: que Figueira da Foz deixe de estar de “costas voltadas” para o Figueira.net e me prove, a curto prazo e de uma vez por todas, que quer que eu continue a fazer o site. Se este repto cair em “saco roto” é muito provável que a Internet passe a ter muito menos Figueira da Foz, também a curto prazo. E se isso vier efectivamente a acontecer vamos ficar todos (sem excepção) a perder. Antes de terminar gostava só de alertar algumas mentes eventualmente menos esclarecidas que o objectivo desta carta é uma mera constatação de factos e não é, de todo, uma forma de me “bater” a qualquer “subsidiozinho”. Nunca o fiz, nunca o farei...
António Cruz

PS - Nada a acrescentar. A tua carta, equilibrada e explícita, fala por si.
Um abraço do António Agostinho

terça-feira, 30 de agosto de 2016

"A Verdadeira História de Portugal…" - Nota prefacial de Alfredo Pinheiro Marques, director do Centro de Estudos do Mar (CEMAR), no livro "A CONSTRUÇÃO NAVAL E A INDÚSTRIA BACALHOEIRA NA FOZ DO MONDEGO…"

De "altieiros" a "vareiros", mas sempre capazes de recomeçar navegações e pescas longínquas desde a Índia e o Brasil até ao Canadá e à Terra Nova, já desde os séculos XV-XVI (na chamada "Época dos Descobrimentos") existiram em Portugal navegadores e pilotos com o nome de família Luís (e, no século XVI, um deles, Lázaro Luís, em 1563, até foi também um cartógrafo… responsável pelo célebre atlas que hoje se conserva na biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa), e depois disso, mais tarde, nos séculos XVIII-XIX (na época da asfixia e da decadência marítima e económica portuguesa), existiram nos litorais desertos portugueses da Ria de Aveiro e Ovar, "sozinhos com Deus e o Mar", de São Jacinto e Ílhavo até aos areais da foz do Mondego, companhas da "Arte" (a pesca de arrasto para terra, com barcos em "meia-lua") chamadas com o nome de "companha dos Luises"
Não é portanto de admirar que, depois, nos séculos XIX-XX — na época em que, com novas tecnologias norte-americanas, a partir dos Açores e da Figueira da Foz (1885-1886), os Portugueses conseguiram recomeçar a fazer pescarias longínquas do bacalhau na Terra Nova (1886), e logo depois, também, a partir de Ílhavo, na Gronelândia (1931) —, uma vez mais se tenham afirmado como expoentes máximos e como exemplos paradigmáticos dessa faina árdua e heróica, quer como "primeiras-linhas", quer como contramestres (e, logo depois, também, como responsáveis mecânicos e motoristas dos lugres e outros navios já motorizados), homens de gerações sucessivas dessa mesma família "dos Luises". Antepassados e familiares próximos do nosso caro Amigo Senhor Manuel Luís Pata — ele próprio também descendente, pelo lado materno, dos Pata, outra das famílias dos primeiros patriarcas que no século XVIII vieram dos litorais da Ria de Aveiro e Ílhavo para fundarem as companhas da "Arte" na Cova, junto à foz do Rio Mondego (num dos exemplos da "diáspora dos ílhavos", ou da "colonização das areias do litoral português"… a diáspora a que o autor destas linhas prefere chamar "o humilde descobrimento marítimo de Portugal, pelos pescadores portugueses"…).

Secular e heróica aventura… Trágica, e marítima… Uma aventura feita de coragem e de sal, de necessidade e de sorte, pobreza e solidão, acaso e vento, esforço e determinação.

Só a título de exemplo, diga-se que no fatídico ano de 1938 — no ano em que tantos homens e navios se perderam — quando, no dia 10 de Maio, a bordo do lugre-motor "Trombetas II" (da Lusitânia Companhia Portuguesa de Pesca, da Figueira da Foz), nove homens foram levados borda fora por uma súbita vaga assassina, e sete deles desapareceram para sempre, três dos mortos eram da família de Manuel Luís Pata (eram o seu tio paterno João Luís, o seu tio materno Manuel Maria Pata, e um seu primo, sobrinho de sua Mãe). E, desses nove homens arrastados pela vaga assassina, os dois náufragos que, nesse dia, apesar de tudo, desesperadamente, ainda puderam ser resgatados ao mar e à morte certa, foram salvos pelo próprio contramestre do navio, Joaquim Maria Luís (o Pai de Manuel Luís Pata), e pelos seus outros dois irmãos que também iam a bordo, e que sobreviveram, Francisco Luís, e Armando Luís (os outros dois tios paternos de Manuel Luís Pata).
Iam a bordo quatro irmãos… E um deles não pôde ser salvo.

Esse tio Francisco Luís, veterano de dezoito campanhas, viria a ser depois, ele próprio, a partir de 1939, o contramestre do lugre "Lusitânia", o outro grande navio da empresa figueirense do mesmo nome (e o primeiro a ser motorizado em Portugal, em 1932). E, depois disso, Francisco Luís viria a ser contramestre de outros mais navios dessa mesma empresa, a mais significativa e longamente instalada na Figueira da Foz. Mas em 1958 sofreu uma trombose, no mar, ao largo da Terra Nova, e não houve dinheiro para o repatriarem imediatamente para um hospital em Portugal.
E o outro seu tio, Armando Luís, veterano de vinte e duas campanhas, viria a ser em 1946 o contramestre do lugre-motor "Ana I", da Sociedade de Pesca Luso-Brasileira, da Figueira da Foz, navio em que já em 1943 e 1944 tinha navegado (quando o seu jovem sobrinho Manuel Luís Pata também embarcou, como motorista, fazendo o seu próprio baptismo de mar na Terra Nova).

Quanto ao Pai de Manuel Luís Pata, Joaquim Maria Luís, já antes em 1934 havia sido o contramestre desse mesmo navio "Lusitânia" (o melhor da companhia do mesmo nome, e recentemente motorizado); e em 1944 veio a sê-lo também do "Ana I", da Luso-Brasileira (levando a bordo o seu próprio irmão Armando, como pescador, e o seu próprio filho, como motorista); e em 1946 veio a sê-lo igualmente do "João Costa", também da Luso-Brasileira, etc, etc. Depois da tragédia em que perdeu o irmão mais novo, João Luís, em 1938, Joaquim Maria Luís nunca mais quis embarcar com o mesmo capitão do "Trombetas" em que havia sido contramestre. Foi um dos melhores homens do mar da Figueira do seu tempo, requisitado por vários navios, capitães e companhias.

E ainda havia mais um outro irmão — o qual em 1938 não ia a bordo do segundo "Trombetas" da Lusitânia (e por isso não participou da tragédia) —, Manuel Luís, o qual já em 1935 havia sido contramestre do majestoso lugre-motor de quatro mastros "José Alberto", o grande navio da Sociedade de Pesca Oceano que veio a ficar como o mais emblemático dos navios da Figueira da Foz, e que era comandado pelo capitão figueirense João de Deus junior (João Deivas), de ascendência originária dos Açores e de Buarcos. E o homem do leme que, no dia 10 de Maio de 1938, apesar de também ferido pela onda assassina, aguentou firme… e assim salvou o navio… era um primo do contramestre…

É isto a História — a verdadeira História… — de Portugal…

Filho e sobrinho dos contramestres dos mais célebres veleiros da Foz do Mondego nos anos 20-30-40 do século XX (e ele próprio, nas décadas de 40-50, responsável das máquinas de novos navios motorizados figueirenses entretanto surgidos), Manuel Luís Pata fez depois disso a sua vida de mar, durante os anos 60, em Moçambique (acreditando no sonho africano que então na sociedade portuguesa foi cultivado); e voltou a Portugal, nos anos 70, com esse sonho desfeito (como tantos outros); e a partir dos anos 80-90 abalançou-se a ter a coragem — uma outra forma de coragem… —de fazer aquilo a que na sua cidade da Figueira da Foz quase ninguém mais se atreveu (só ele e o seu conterrâneo João Pereira Mano): reunir os elementos para a História Marítima da região da Figueira.

O Senhor Manuel Luís Pata publicou em 1997, 2001 e 2003 os seus três volumes em que coligiu notícias, referências escritas e testemunhos orais, textos, comentários e recordações pessoais, sobre a Figueira da Foz e a Pesca do Bacalhau, e publicou um livro de memórias do Zambeze (2008); e eis que, por fim, agora (em 2016) — uma vez mais numa edição preparada pelo próprio Autor (e uma vez mais com a colaboração editorial que pela parte do CEMAR-Centro de Estudos do Mar tivemos e temos o prazer e a honra de lhe prestar) — publica ainda mais um livro seu… Um livro no qual agora retoma muitos dos elementos contidos nos seus três volumes anteriores sobre a Figueira da Foz e a pesca longínqua do bacalhau, mas, desta feita, apontando-se mais especificamente para a realidade dos estaleiros e das construções navais levadas a cabo na Foz do Mondego para servirem a esse tipo de pesca longínqua, outrora tão significativa nesta região, e depois tão decaída.

Com efeito, nas últimas décadas do século XIX (a partir do seu [re]início em 1885-1886), articulada com os círculos dos Açores e da Nova Inglaterra (costa leste dos E.U.A.), foi a Figueira da Foz (nela se incluindo Buarcos e a Cova-Gala) que se cotou como a praça pioneira, dominante, e mais significativa, da (nova) Pesca Longínqua do Bacalhau que veio a ser praticada pelos Portugueses. Só na década de 30 do século XX (e depois, mais ainda, nas décadas seguintes, devido ao cada vez maior estrangulamento do seu impossível porto fluvial) a Figueira perdeu essa sua primazia quantitativa e qualitativamente (uma primazia que Ílhavo e a Ria de Aveiro herdaram, e que honrosamente logo depois avolumaram, cada vez mais e mais, de maneira esmagadora, ao longo do século XX). A própria Atlântica acabou por se transferir para o Tejo (Seixal). Só a Lusitânia (e os seus Estaleiros Navais do Mondego, entretanto criados em 1941) se manteve na Figueira. Tudo mais faliu. Incluindo até, com o tempo, a Oceano (cujo último navio figueirense foi para a sucata… e não conseguimos salvá-lo, em 1999… e cujos antigos estaleiros Foznave, em 2015, acabaram abandonados, roubados, vandalizados).

Extraordinário erro histórico, o de em 1913, quando a frota bacalhoeira da Figueira da Foz liderava a nível de Portugal inteiro (!), não se ter avançado para a construção do porto oceânico de águas profundas em Buarcos (Cabo Mondego) que então foi proposto pelo figueirense Com. Antonio Arthur Baldaque da Silva (ele próprio, talvez não por acaso, o especialista de construção de portos com verdadeira viabilidade e também, ao mesmo tempo, o especialista, com verdadeira competência e verdadeira sistematicidade, da Etnografia e da Tecnologia das comunidades dos pobres Pescadores Portugueses)… Extraordinário erro histórico…! Erro de funestas e trágicas consequências para o futuro da cidade da Foz do Mondego, da região de Coimbra e da Beira Litoral, e de Portugal inteiro.

Já o escrevemos, e aqui o repetimos. Se a Figueira da Foz tem reunidos os elementos para a sua História Marítima nos séculos XIX-XX, deve-o à Cova-Gala (São Pedro): deve-o ao Capitão João Pereira Mano, e ao Senhor Manuel Luís Pata. E nós tivemos o extraordinário prazer, e orgulho, em ter sido o Centro de Estudos do Mar (CEMAR) que esteve na publicação dos seus livros, desde 1997.

Alfredo Pinheiro Marques
(Centro de Estudos do Mar - CEMAR)