A apresentar mensagens correspondentes à consulta bairro novo ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta bairro novo ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

O Picadeiro: saudade é isto mesmo - “é tudo o que fica, depois de tudo morrer”

Com a devida vénia, fica arquivado neste blog/baú este excelente texto"onde Pedro Biscaia expressa gratidão ao Fernando e Isabel, pela criação de um lugar de memória e memórias".

"A sugestão do Zé Tomé e do João Damasceno, para que fosse eu a vir aqui testemunhar o apreço que todos temos pelo Fernando Grilo e pela Isabel João, pela sua aventura de quase 30 anos ao leme do Picadeiro, parece-me, no mínimo, inesperada e até, talvez, fora de contexto. Eu?... Eu que não sou de beber nem de comer, a quem o vinho provoca azia e as digestões são um processo difícil, o que é posso vir aqui dizer? Obviamente que não estou habilitado a comentar gastronomia ou enologia, os segredos da alquimia da confeção ou a seleção de castas adequadas a certas vitualhas.
Em boa verdade, dessas matérias não sei absolutamente NADA ! 
Todavia, o que facilita a missão de que fui incumbido, é a circunstância de ter conhecido e partilhado um lugar, que sempre foi muito para além do que um mero restaurante. Ali, à volta da mesa, todos aprendemos uns com os outros, num espaço de cultura que, tal como disse não sei quem, -“é o que fica, depois de tudo se esquecer”. O Picadeiro foi, provavelmente, o último herdeiro de uma rede de locais que ajudaram a construir a identidade da Figueira do sec. XX, nas tascas de raiz popular guardadas na memória coletiva da cidade, tais como o Púcaro e a Gaivota na Rua 10 de agosto, o Manel da Parreira e o Gato Preto, ali perto do Cais, o Barril na rua da República, o Barracão no Casal do Rato, o Socorro de Inverno na rua da Restauração, os Papagaios no mercado, o icónico 37 na rua dos Pescadores, a Adega Praia em Buarcos… estações de um roteiro iniciático de sociabilidade de várias gerações. E, além delas, as tabernas como o Feteira ou o Niza, a primeira preferida pelos marítimos e a segunda pelos estivadores ou ainda os cafés frequentados por tribos próprias, com clientes de condição social diversa e onde eram patentes as tendências políticas (mesmo às escondidas) clubísticas e sociais. A Nau era dos funcionários públicos, dos adeptos da Naval e, depois do 25 de abril, de ativistas de posicionamentos mais à esquerda. A Brasileira tinha a preferência dos apaniguados do Ginásio e do Sporting Figueirense e de uma elite pequeno-burguesa de bancários e comerciantes, da parte antiga da Figueira. O Café Brasil (conhecido por Zé do Lixo) era o apoio privilegiado dos passageiros das camionetas da rodoviária, que ali paravam. No Bairro novo, o Nicola, a Cristal, a Império, o Oceano ou o Europa tinham frequentadores diferentes entre si e todos eles eram diferenciados da clientela conservadora da Caravela. O Arnaldo era um poiso muito peculiar, onde se bebia e petiscava ao balcão e o anexo da Mercearia Encarnação era um recanto mais sossegado e discreto, no fim da tarde. Havia ainda, nas imediações da estação, a “Capela do Sol”, do Manuel Lopes, que tinha estatuto de santuário de tertúlia bairrista (mas com acesso restrito) e, na rua da República, o Café Paris, este, indicado para cavalheiros mais carentes de mimos e licores…
Neste roteiro de lugares, estava subentendido um código definidor de identidades específicas, um respeito por territórios conotados e, também, a procura dos que nos estavam mais próximos. Em todos eles, na sua diversidade, havia tertúlias quase sempre masculinas e, aos domingos, eram transformados em seletos salões familiares de galão morno e torradas com manteiga. Tudo isto eu o digo, apenas a escorropichar a memória do meu tempo *, sabendo que há quem o tenha estudado com profundidade e rigor. Por exemplo Guida Cândido (hoje reputada investigadora nesta área do saber) tem um estudo publicado, em 2014, pelo município da Figueira, sobre a célebre Tertúlia “Coração, Cabeça e Estômago” fundada por António Augusto Esteves, nos anos 30, e compartilhada por vultos figueirenses como Joaquim de Carvalho, Cardoso Marta, António Piedade, Mário Augusto e outros, cuja constituição e atividade cultural e gastrónoma, expressa em atas descritivas, vale muito a pena conhecer. Posteriormente, já nos anos 80, também existiu o Círculo de Gastronomia e Cultura da Região da Figueira, sob a égide de João de Lemos, Marcos Viana e Albarino Maia, em cujo estatuto se pode ler “Círculo porque todos são iguais, usufruem os mesmos direitos e deveres, todos ao redor da mesa partilham do mesmo pão (…) e Cultura porque gastronomia também é cultura”.  
Ora, o Picadeiro foi o seguidor desse espírito gregário e de convivência, para além do cuidado posto nas ementas de referência tradicional, graças a perseverança do Fernando e da Isabel, em parceria com as imprescindíveis cozinheiras, com destaque para a Cristina, e os sucessivos empregados como o Gervásio, o Renato, o Rafael ou o Marcos, que levavam até à mesa, travessas de apuradas tentações. Por isso, estes dois nossos amigos, para além de proprietários e gestores de um restaurante foram, implicitamente, agentes culturais e catalisadores da sociabilidade democrática figueirense, onde todos encontraram um acolhimento feito de qualidade, simpatia e descontração, numa pluralidade de género, idade ou condição. Nessa medida, foi um lugar de culto, um pára raios de amizades, um aconchego para algumas solidões, uma praça de intercâmbios, onde pontificaram figuras tutelares da mesa e da conversa, como o Mário Moniz Santos ou o Joaquim Gil que, lamentavelmente, já não estão aqui.
A própria escolha do nome do estabelecimento - Picadeiro - remete para o mais conhecido espaço público de sociabilidade da Figueira, o mais antigo segmento pedonal da rua Cândido dos Reis, outrora poeticamente denominada rua da Boa Recordação, a âncora do Bairro Novo de Stª Catarina, qual passerelle de acesso ao Casino Peninsular, quando este era um edifício digno e frequentado pelo glamour de veraneio e quando o espaço comum de circulação era respeitado, ao contrário da ocupação desenfreada que hoje lá vemos. E, curiosamente, o “Picas” fica na esquina da rua que evoca o Académico Zagalo, o jovem estudante que comandou a libertação do Forte de Stª Catarina do jugo napoleónico, em 1808, e a rua Dr. Francisco Dinis, homem de visão larga, que foi um dos fundadores da Companhia Edificadora Figueirense, no final do sec. XIX. Ou seja, está na confluência toponímica da ousadia, da liberdade, do empreendedorismo e do amor ao desenvolvimento da nossa terra. Ele há cada coincidência…!
O “Picadeiro” do Fernando e da Isabel, o nosso “Picas”, era, também, uma espécie de casa familiar comum, onde quase todos se conheciam, pelo menos de vista e onde perpassava uma solidariedade entre pares. No meu caso pessoal, posso confessar que todas as minhas namoradas tiveram que lá ir à amostra e com o intuito de que melhor entendessem o que as palavras e até os gestos, nem sempre conseguem explicar. Ora, esse estatuto de casa de família, íntima, acolhedora, despojada de formalismo, com as paredes cobertas de lembranças como um álbum de fotografias, era o que sabíamos que podíamos esperar do Picadeiro e por isso, o fazíamos, um bocadinho, coisa nossa. Eramos todos dali, como nunca o fomos de outros lugares onde nos sentámos à mesa para comer. Era o lugar a que sempre regressávamos, à espera de um sorriso conhecido (como no verso do Manuel António Pina “regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa”…), da graçola repetida, da novidade segredada, do picante da crítica figueirense, da lamúria do estado das coisas, da partilha do sentimento. Ali celebrámos vitórias e enterrámos derrotas, discutimos vinhos - eu não, claro… - vaticinámos resultados desportivos e eleitorais e sempre nos despedimos uns dos outros, até à próxima vez. Recomendávamo-lo a outros amigos e conhecidos, com palavras de confiança e até o atrevimento de sugerir que, quando lá chegassem, dissessem que iam da nossa parte.
Isto não tem preço ! Isto não consubstancia uma mera transação comercial !
O segredo do Fernando e da Isabel, na criação e sustento deste ambiente diferenciado e tão humano, esteve na paixão com que se entregaram ao seu projeto e o bom resultado foi o que se viu, com claro e indelével contágio em todos nós. Faz-me lembrar aquela história que conta que o jovem Kaiser Guilherme II da Prússia terá perguntado ao seu mestre de equitação, o que era mais importante: se a técnica, os arreios ou a montada. E este ter-lhe-á respondido: - a paixão do cavaleiro, Sire…a paixão; o resto vem tudo atrás!
Sim, foi um privilégio de vida passarmos pelo nosso “Picas”, porque ali cada um foi o que já era e o que recebeu dos outros e, assim tendo sido, aqui estamos a agradecer, com um sentido abraço, a quem foi nosso cúmplice na construção de amizades para a vida e nos proporcionou momentos de genuína felicidade.
Esse é o verdadeiro sedimento das coisas essenciais !
Ficamos agora, momentaneamente, despernados, com a bússola sem norte, talvez até com sentimento difuso de orfandade, mas… como cantava o Fausto “atrás dos tempos vêm tempos e outros tempos hão-de vir!”
Eis, como um gajo que de comida e bebida nada sabe, teve o desplante de vos servir esta caldeirada de afetos, com tempero de alegria, uma pitada de memória e um toque discreto de nostalgia.
*
E para acabar, parafraseando o Márinho, que de pequeno só tinha o diminutivo, digo agora:
“Ah meninos…!” vai um brinde à Isabel e ao Fernando!"

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Como não divulgo apenas a malta do PSD, cá vai a prosa de Luis Castro publicada esta semana no jornal "A Voz da Figueira"

AQUI? DORMIMOS I
Ao longo da Praça Nova passeavam com um andar compassado, n’uma demorada regulada, grupos de empregados; logistas; negociantes de vinhos e proprietários paravam ouvindo, com attenção de sensatez e assentimento insuspeito, algum que fallava e mostrava  gestos commedidos, pautados, de quem expõe uma ideia ou quer convencer. Um outro banco era occupado por famílias do povo, operários, velhos comerciantes aposentados, na passividade; pelas raparigas de trabalho com os seus trajes aceiados, do domingo, de cores vistosas, e creadas de gente rica guardando as creanças que brincavam, saltavam na calçada e nos bancos. A maior parte dos estabelecimentos em torno estavam fechados. Os caixeiros das duas lojas de moda, à esquina da rua das Flores, à porta, em pé, aborreciam-se, tinham bocados de conversas, dirigiam chalaças a alguma rapariga transeunte, ou a qualquer moça de cosinha, que voltava da fonte, ajoujada, vermelha pelo pezo do caneco cheio. No Café Central entravam e sahiam de quando em quando artistas, caixeiros, negociantes novos, no gasto domingueiro da chávena de café e da genebra, ou extravagancia das partidas de bilhar. Uns poucos barqueiros, catraeiros e algarvios dos cahiques de pescaria, vinham caminhando devagar, em direcção à taberna da esquina da rua Nova, falando soturnamente com o cachimbo ao canto dos beiços e as mãos atraz das costas. Da Ladeira do Monte desciam dois marinheiros inglezes bêbedos aos zigs-zags estonteados, cantando com uma voz berrada, mostrando os punhos fechados em attitudes de dar murros, seguidos e cercados pela garotada, que às vezes dava fugidas curtas, inesperadas, e gritava em apupos de boccas escancaradas.
Em baixo, no novo caes, quasi em frente da Praça parava o carro americano, despejando a gente que vinha de Buarcos, da praia e do Bairro Novo. Na esplanada ao pé da rampa, alguns serranos das barcas da Foz do Dão estavam encostados a umas pipas vasias. Um zelador municipal, o Caras Altas, policiava passeiando vagarosamente no lagedo da casa do Tribunal, olhando para uma parte e outra com uma posição lorpa de cabeça. Algumas famílias que habitavam as casas da Praça, enfastiavam-se à janella, com os braços pousados no parapeito, ou com a cabeça pezando sobre uma das mãos. (…)
Para baixo via-se uma pequena porção do paredão novo, as partes altas do theatro Príncipe D. Carlos, o guindaste das Obras Públicas pintado de encarnado, a doka onde oscillavam diminutamente amarados os hiates do costeiro, as rascas de Peniche, os cahiques do Algarve, os bateis dos carregamentos do porto e os barcos de transporte do Mondego. Depois, mais além, alastrava-se a largura esverdeada do rio, às vezes cortada pelos botes; avistavam-se os navios de maior lote, ancorados na estacada, com a bandeira da respectiva nacionalidade içada no topo do mastro da popa; mais adiante as marinhas do sal, d’um tom negro, onde se distinguiam parte dos depósitos rectangulares da água do mar; as casas caiadas, espalhadas irregularmente, das povoações de Lavos, Carvalhaes e Regalheiras, rodeadas de pinhaes e de uma vegetação escura; as habitações acanhadas e os moinhos da Galla; alguns denegridos casebres de madeira da Cova e uma grande porção do areal do Cabedello. A uma grande distância avultavam as estaturas enormes, d’uma cor pesada e triste, dos montes que se alongavam para as bandas de Leiria, apresentando uma perspectiva esfumada, um pouco nevoenta, que se ia azulando n’uma graduação insensível para o alto, e na direcção da Vieira branquejava uma larga e comprida tira da costa do sul.

Gaspar de Lemos, do romance inédito “A Filha do Senhor Silva”, transcrito do Almanach da Praia da Figueira para 1878-1879, 1º ano, p.168-170, rep. em "Ruas e Praças da Nossa Terra II", de Isabel Simões, in Revista Litorais, nº 4, Maio 2006.


AQUI? DORMIMOS II
Não há tempo para textos estruturados.
Desse mesmo tempo que perdemos no corredor (dos) congelados!
Quando demos, quando damos conta desse enregelamento que se instalou na cidade?
Dessa estrada da cidade que a circunda e afasta?
Quando percebemos que volteamos a cidade vezes sem conta?
Quando acaba esse poço da morte que diverte a cidade em vez de gente na feira?
Quando percebemos que, nisso e na internet, quase não nos encontramos, e que nas poucas vezes, quase já não nos conhecemos, nem temos vontade de conhecer.
Quando percebemos que não temos espaço nosso?
Que as praças e o centro escureceram abandonados, num piscar de olho de coruja.
Que a Rua da República se foi de uma ponta à outra e ninguém quer falar sobre isso em público.
Quando percebemos que aqui estimamos alguns e odiamos alguns, alternadamente, mas cada vez mais ninguém se tolera?
 Que rimos uns do outro sem pensar, essa dificuldade, e depois desaparecemos todos!
Que existem coisas entre o céu e a terra que jamais se alcançarão.
Vejamos: a situação financeira do nosso Município desagravou-se, parte substancial de dívida foi reduzida.
Grandemente por isto, e é importante, assistiu-se a uma dignificação da actuação e da posição da Câmara Municipal. Facto acentuado pelos tempos, marcados por uma conjuntura nacional de grave crise económica. 
Menos visíveis, muitos esforços e tempo foram gastos, ocorrendo tentativas, fracassos e sucessos na resolução do sem fim dos muitos “dossiers” pedregosos herdados de anteriores executivos.
Posto isto, esse anterior estado das finanças municipais e o resultado das eleições autárquicas, quase se afirma existir uma comunhão silenciosa entre eleitos e muitos eleitores, a quem, num eventual respeito mútuo emergido por uma tempestade, menos importasse o lustro do convés, e até o próprio rumo do navio, mas mais o naufrágio que se tomou por evitado. Como poderia ser de outra forma e o que acresce?
Acresceria dizer que é o mar morto, do nosso sal, do sal do Estado, do sal da União Europeia. Sal por ora.
Acresceria, não fossem as intrigas partidárias, mesmo muito discordando, ressalvar que governar cidades não há-de ser fácil. Que existem muitas promessas incumpridas, erros, inércia, medo de arriscar e, acima de tudo, desconhecimento, falta de visão e engenho. Que falta um mandato. Um rei que só enverga coroa vai nu?
Acresceria, não fossem as intrigas partidárias, mesmo muito discordando, ressalvar que opor-se a quem governa cidades não há-de ser fácil. Mas, como meros exemplos, o desígnio e a identidade da cidade é ser a praia que foi e tende a debater-se, nem a muito errada e dispendiosa obra da praia, que só nos afasta da solução ideal, mas… os parafusos. A Figueira Parques, única empresa municipal rentável à venda (o que nada deve fazer supor, mas antes analisar todos os dados) e tende a debater-se o estacionamento e os autos. Desordenamento do território, taxa de desemprego superior à média nacional, população jovem e indústria a abalar, centro da cidade morto, e nada de debate. E nada de pedir ou apresentar acção. Sem existir, fica fácil.
Acresce dizer que o poder astuto é deles e interpola para os outros.
Acresce, porventura e todavia, quase afirmar que existe, paralela e igualmente, outra gente silenciosa, talvez muita, perfazendo um tipo de inconsciente colectivo, que muito trabalha e luta na cidade. Que quer cá ficar. Que quer que os filhos fiquem cá. Que a vive, mas que pensa e sente não a viver plenamente. Que a quer mais e que lhe quer mais. Todos talvez mereçam mais.
Acresce e cresce gente que nos quis e quererá trazer certezas absolutas. De uma forma tão, mas tão fácil. E todos sabemos como são sedutoras, verdades e facilidades. Mas, talvez a única para as duas… estas não existem, jamais existirão.

terça-feira, 14 de janeiro de 2020

Da série, já que não há polícia... (2)

Parceria

"O anúncio de que a Câmara da Figueira pretende instalar um sistema de videovigilância nas zonas da cidade com mais movimento e afluência de turistas, a propósito dos tiros disparados contra a porta de uma discoteca do Bairro Novo, em dezembro último, deve motivar profunda reflexão, pelas questões éticas, técnicas, mas também económicas que coloca, como por exemplo as seguintes (telegraficamente expostas, por razões de espaço):- O sistema vai permitir o reconhecimento facial dos transeuntes? Vai captar som? Quem vai instalá-lo? Quem será responsável pelo armazenamento e tratamento dos dados? Qual o prazo de conservação das imagens/som? Caso haja uma falha, quem será considerado responsável?- Haverá informação relativa à localização das câmaras? Com que grau de especificidade?- A gravação remota será feita numa cloud na internet? As transmissões ficarão encriptadas? A sua reprodução será possível através de aplicações informáticas de uso comum?- Quanto vai custar a instalação? E a manutenção dos equipamentos?
Por outro lado, questiona-se a sua necessidade: a Figueira é suficientemente violenta para que se pense no assunto? As forças policiais não têm conseguido identificar os meliantes sem o recurso a estes mecanismos? Assim, embora percebendo que a videovigilância em espaço público possa ter um eventual efeito dissuasor, prefiro o policiamento de proximidade, ou comunitário, já em prática em algumas cidades do Canadá, EUA e Japão, por exemplo, o qual se baseia na parceria bem sucedida entre as populações e as forças de segurança, através de reuniões periódicas com associações de bairro, igrejas, clubes recreativos, escolas, comerciantes, etc. Ao nível político, deve salientar-se que o assunto foi apresentado na mesma sessão em que o atual Presidente prometeu para breve o novo coreto do jardim municipal, a requalificação da rotunda do Pescador, uma reunião com o ministro sobre a EN109, a elaboração da Estratégia Municipal de Saúde, uma candidatura a anfitriões dos Jogos do Mediterrâneo de 2023 e a aquisição de uma embarcação elétrica para fazer a ligação ao Cabedelo..."

Via Diário as Beiras

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Medidas propostas para o Orçamento camário de 20121 pela "oposição positiva"...

O teleférico a ligar as duas margens do estuário do Mondego, no que depender dos vereadores Miguel e Babo e Carlos Tenreiro, não vai ficar fora do próximo orçamento camarário. 
O sonho comanda a vida. 
Eu também ainda não desisti: vou continuar os estudos que me hão-de levar ao doutoramento no curso que ando a tirar há dezenas de anos: sonhador especializado.
O único muro intransponível é o que construímos em redor de nós próprios.

Lido na edição de hoje do Diário as Beiras
«Os vereadores Carlos Tenreiro e Miguel Babo, eleitos pelo PSD (o partido retirou-lhes a confiança política), apresentaram nove propostas para o Orçamento Municipal (OM) de 2021. O documento será votado na reunião de câmara de 2 de DEZEMBRO, antes de ser submetido a votos na Assembleia Municipal. 
As propostas vão desde o reforço das medidas de apoio à mitigação dos efeitos da pandemia, que incluem a reabertura dos postos médicos de Ferreira-a-Nova, Brenha e Borda do Campo, e apoio fianceiro à hotelaria, restauração e similares, até a acções de proteção do ambiente. Incluem, ainda, uma sala municipal de espetáculos no Bairro Novo, uma companhia profissional de bailado contemporâneo e gabinetes de estudo para a remodelação do Bairro Padre Américo, a constituição de um corpo de polícia municipal, a instalação de um teleférico entre as duas margens da foz e a cobertura do Coliseu Figueirense. Abordam, também, um serviço municipalizado de transportes

sábado, 9 de setembro de 2023

Ter teto não é ter casa

«O Luís pede que seja feito na Serafina o que foi feito no Bairro da Boavista. Ora, eu acompanhei do interior o realojamento das pessoas do Bairro da Boavista para o novo bairro social, assim como o de uma parte do Bairro do Zambujal. Lembro-me da alegria de quem vivia nas barracas, de quem tinha um teto, mas passou a ter uma casa. “Foi o melhor dia da minha vida”, disse-me o João, que viveu o realojamento como se fosse um prémio e não como o cumprimento de um direito. 

As casas eram grandes, bonitas, novas, assim como os elevadores, os espaços verdes, os equipamentos para as crianças, mas, aos poucos, vi também a degradação, a falta de manutenção, de acompanhamento. O mau funcionamento dos elevadores, os obstáculos para as pessoas com dificuldades de locomoção. A humidade nas casas, as canalizações defeituosas, os ratos, as baratas. Habitações que continuaram a ser tetos, mas que, aos poucos, se foram tornando menos “casa”.» 

sábado, 5 de novembro de 2022

O Cabedelo do Bairro dos Pescadores e do Cochim

Que não haja lugar para duvidas: a Figueira tem pessoas muito inteligentes.
Portanto, quando elogiam a prestação de alguns autarcas nas reuniões de câmara, sem sequer terem assistido ao evento, não é por serem pessoas desatentas ou estúpidas...
Contudo, tenho cá uma leve impressão que é para tentar fazer de muitos de nós ignorantes e estúpidos...

Na Figueira - creio que também por todo o país -, nas últimas 4 décadas, desenvolveu-se, generalizou-se e consolidou-se, a partir do próprio aparelho político de governação, um complexo e poderoso modelo de gestão do território.
O interesse privado foi - e continua a ser -  o motor. Ao interesse público ficou destinado o papel de assistir conformado, servil, passivo e, no limite, defensivo, ao desmantelamento da paisagem natural.
O ordenamento do território figueirense - creio que também por todo o país -, ficou refém dos interesseiros e manhosos apetites do mercado fundiário e imobiliário, o qual assenta essencialmente no valor do solo e nos exagerados direitos da propriedade.
As consequências do modelo podem ser vistas pelo resultado físico e do aspecto estético dos espaços intervencionados pelo poder nos últimos 40 anos.
A marginal oceânica é disso um triste exemplo. 

A construção dos denominados  Bairros de Pescadores, de carácter económico, foi uma das  realizações que mais impacto teve no contexto da “obra social das pescas”, de Salazar e Tenreiro, sob o lema “para cada família um lar”.
Destinados a acolher os  pescadores e as suas famílias, mediante o pagamento de rendas baixas, muitos destes bairros, senão mesmo a totalidade, foram construídos longe dos centros das localidades e longe dos próprios portos de pesca, possivelmente pela dificuldade em conseguir um terreno próximo dos locais de pesca, mas principalmente pela tentativa de “guetização” dos pescadores e suas famílias, fechando-os nas suas comunidades, evitando ao máximo o contacto com os “de terra” e a sua possível  dispersão.
Foi o caso do já desaparecido Bairro dos Pescadores da Cova-Gala, cujas primeiras 16 casas foram inauguradas em 1 de Maio de 1941.
Na altura, os terrenos  situados a seguir ao actual campo de futebol de S. Pedro, seguindo pela estrada que ficou soterrada – que na altura do Bairro dos Pescadores ainda não existia – para quem se dirija em direcção à praia do Cabedelo, ficavam, como convinha ao estado novo (a imagem sacada daqui demonstra-o perfeitamente), fora de portas. 
Conheci o Cabedelo do Cochim e do Bairro dos Pescadores, antes do Porto de Pesca ter passado para esta margem. Conheci o Cabedelo do campismo selvagem antes de ser possível ir lá de carro. Conheci o Cabedelo do campismo organizado. Nesse Cabedelo passei óptimos momentos - lá no tal “paraíso selvagem”.

Fui acompanhando o que foram fazendo ao Cabedelo, sobretudo depois de lá terem feito chegar os carros e a poluição.
Assisti à machadada final, quando a partir de 2020 fizeram o que fizeram ao Cabedelo.
Quero crer que quem fez o que fez ao Cabedelo com os milhões da Europa, nem uma fotografia conhecia do Cabedelo antigo.

Que sortudo que eu fui por ainda ter tido a possibilidade de aproveitar os últimos anos de paisagem natural no Cabedelo.
Ainda cheguei a tempo.
Esse privilégio ninguém mo vai roubar, faça o que faça no futuro ao Cabedelo.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Dr. Ruy Alves, um lutador



Nasceu em Coimbra e morreu, com 68 anos de idade, em 4 de Fevereiro de 1978, em Lemede.
Desde muito novo o Dr. Ruy Alves esteve ligado ao movimento democrático, lutando por uma sociedade mais justa.
Desde o tempo de estudante que se revelou, em actos concretos, um lutador antifascista. Em 1931, quando da quarta tentativa para derrubar o regime do ditador Salazar, estudante em Coimbra, integrou, empunhando o estandarte da Academia, a grande manifestação de apoio aos revoltosos da Madeira.
Depois da sua formatura em Farmácia exerceu funções em Chaves e em Vila Real de Santo António. Fixou-se na Figueira no final da década de 30 do século passado, tendo-se tornado uma figura conhecida e respeitada. Foi um cidadão interessado nos problemas da cidade e raros foram os acontecimentos registados no decorrer da sua permanência na Figueira de que não se tivesse inteirado, como estudioso atento, dando em jornais e tribunas a que tinha acesso, o seu contributo válido e esclarecido.
No Rotary Clube da Figueira da Foz, fez ouvir com frequência a sua voz em intervenções que revelavam conhecimento dos assuntos, como Homem detentor de uma vasta cultura.
No fascismo, foi vigiado pela polícia política, o que não o impediu de realizar reuniões na Farmácia Central, de que era proprietário. Foi, nessa mesma Farmácia, que teve lugar a reunião donde saiu a primeira Câmara após o 25 de Abril de 1974. Foi, igualmente, em instalações suas, o laboratório do Bairro Novo, em frente ao Café Caravela, que se realizou a primeira reunião do Movimento Democrático Português, na Figueira, a seguir ao 25 de Abril de 74.
No período que se seguiu à Revolução dos Cravos, o Dr. Ruy Alves manteve-se no MDP/CDE, onde foi elemento preponderante na Figueira. Foi aí, a seguir ao 25 de Abril, na militância do MDP, que o escriba se cruzou com a figura franzina, mas enérgica, do Dr.Ruy Alves e de outros figueirenses democratas ilustres, de que guardo gratas recordações, como, por exemplo, essa enorme Senhora que se chamou Alzira Fraga.
O Dr. Ruy foi sempre um Homem esclarecido e estudioso: formou-se em Farmácia e em Físico-Química pela Universidade de Coimbra; anos mais tarde, formou-se em Economia pela Universidade do Porto.
Muito mais haveria a dizer sobre tão importante figura. Todavia, para terminar, lembro que o Dr. Ruy Alves foi um dos fundadores do Barca Nova. A primeira troca de impressões para o aparecimento deste jornal teve lugar no seu apartamento na Avenida do Brasil, tendo por fundo a soberba paisagem do mar da Figueira e a Serra da Boa Viagem, os elementos da natureza que ele tanto amou na cidade onde viveu, trabalhou e lutou cerca de 40 anos.

sábado, 30 de dezembro de 2017

Um dos melhores comentários que li em 2017

"Deite-se o mamarracho a baixo,faça-se uma parceria publico-privada para Inglês ver,acabe-se com o Mercado Tradicional,e vão ver os Turistas de dentro e de fora a passear a torto e a direito no Bairro Novo.Aliás,é bem notório o fluxo dos estrangeiros no JUMBO,no LECLERC,e agora até no CONTINENTE,na procura das NOVAS OPÇÕES,sobretudo para lhe tirar fotografias como recordação,pois nos seus Países não há nada disso.Há...mas cuidado,a ZARA já anda a vender LOJAS,e no JUMBO o CINEMA rebenta pelas costuras com tanta gente.Sei lá,se calhar à semelhança do Mercado da Ribeira em Lisboa,faça-se aqui um MERCADO DO RIO,para mais comes e bebes,porque desconfio que o investimento no Caçarola 2,o funcionamento do Caçarola 1,o surgimento espaçoso do PARQUE DE DIVERSÕES como RESTAURAÇÃO,a reabertura do Nicola agora sob a batuta do MISTURA BRASIL,a CARAVELA,o EPANEMA,a BIJOU,a IMPÉRIO,os CHINÊSES,e muitos mais PEDACITOS que envolvem aquela zona nobre da cidade,não vão ser suficientes para o fluxo previsto,isto claro está,principalmente no OUTONO,INVERNO E PRIMAVERA.Há pois,e o CASINO DA FIGUEIRA,que de restauração até tem muito boas condições,e por estar sempre a abarrotar,mais justifica o tão ansiado MERCADO DO RIO.Já agora,destrua-se finalmente o JARDIM MUNICIPAL,e façam ali um Parque de Estacionamento para o novo CENTRO COMERCIAL,e pronto,repete-se:"O edifício o Trabalho, é o exemplo, mais do que acabado, do que resulta das megalomanias dos autarcas figueirenses de ontem, de hoje e, presumivelmente de amanhã...",....e desta vez é que é.Desculpem lá a simplicidade da minha visão e respetivos pontos de vista,mas no fundo só queria também chegar-me à frente na COISA. Opa estou de todo,que se faça um evento de MOSCAS no PALÁCIO SOTTO MAIOR,que não fica assim tão longe,e já que não se cria um MAGESTIC na Discoteca OCEANO,vão-se buscar os MÓVEIS DO SOTTO ás CAVES DO DOURO,e proporcionem visitas guiadas ao Turista,pois ouvi dizer que eles gostam muito...Há pois,coloquem os Elétricos a funcionar em direção à CÂNDIDO DOS REIS,e movimentem a Turistada para o TUBARÃO,SAGRES,BAR ESPANHOL etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc etc"

Custodio Cruz, a propósito desta postagem,  via facebook

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A função do dinheiro, papel sujo, é mesmo esta: ser usado pelos políticos para manter a cidade limpa...

“O primeiro veículo 100% elétrico ao serviço da limpeza urbana na Figueira da Foz, de dimensões reduzidas, está apto a percorrer as mais estreitas vias, recolhendo lixo de papeleiras e efectuando lavagens na espaço urbano, sem poluição sonora ou química.
Pensado especialmente para a zona antiga da cidade, Bairro Novo e Vila de Buarcos, o novo veículo ligeiro de mercadorias, com o custo de 31.355€ (I.V.A. incluído), tem uma capacidade de 500 litros de água e uma autonomia de 80 quilómetros, características que permitem intervir no espaço público de forma discreta e eficaz.”   


Nota de rodapé.
Já entrámos em época baixa...
Que pena o veículo não ter vindo, pelo menos, 3 meses antes.
Esperamos que estejam reunidas as condições para que  no próximo verão não haja ruas nauseabundas e a tresandar a cheiro a urina!..

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Há dez anos foi assim

Em Lisboa e em muitas cidades a manifestação “que se lixe a Troika”, reuniu centenas de milhares  de portugueses. 

Via Jumento

"Depois de muitos portugueses terem visto os seus vencimentos cortados enquanto o horário de trabalho era aumentado arbitrariamente sem qualquer compensação ou negociação, sempre com a Troika a ser usada como espantalho ameaçador.

Curiosamente, a reação só surgiu depois de muita austeridade imposta aos funcionários públicos, quando se deu o golpe da TSU, perante a recusa da redução da TSU para os patrões enquanto era aumentada para os trabalhadores, o que equivalia a impor aos salários do setor privado os cortes já impostos no Estado.

Foi então que Vítor Gaspar, ministro das Finanças de Passos Coelho, que era apresentado como uma versão democrática do Salazar ministro das Finanças do Estado Novo, até tinha uma avozinha na Covilhã o que lhe dava um ar de ruralista, se lembrou de um golpe de magia, já que não aceitavam o golpe na TSU, levam com um corte nas pensões.

Uma medida que nos lembrava um velho anúncio da aguardente da Aldeia Vela, já que não há Aldeia Nova então sirva um pastel de bacalhau.

Os protestos serviram par uma explosão coletiva de sentimentos e na imagem vemos um cartaz em que se grita “não estamos a estudar para emigrar”.

Passaram 10 anos, a Geringonça foi aproveitando a continuação da austeridade e António Costa só não a prolongou mais porque os parceiros de governo se opuseram à devolução dos salários em pequenas prestações disso. A verdade é que a austeridade foi mantida e neste último ano até foi repostas de forma sub-reptícia, com a ajuda da inflação, que se traduziu num aumento de receitas ficais sem se ter de aumentar qualquer taxa de impostos.

Passados dez anos o cartaz faria sentido? Desconfio que agora o cartaz seria outro “Estamos a estudar porque queremos emigrar”.

Nota de rodapé.
Na Figueira foi assim: uma manifestação com largas centenas de pessoas percorreu as ruas e avenidas da Figueira, entre a Câmara e Esplanada Silva Guimarães, com passagem pelo Bairro Novo. 
Mais fotos aqui.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Rescaldo da passagem...

Depois de tudo o que hoje se passou em 2018. Depois de tudo o que se disse. Depois de tudo... Sinto-me muito bem! 
Foi uma passagem de ano magnífica. Não houve surpresa: a noite esteve agradável. A hotelaria tinha a lotação esgotada. E o cartaz de espectáculos, era a cereja em cima do bolo.
Havia Coimbra e Mira. Pois havia, mas, nem isso atrapalhou a Figueira... 



Até o presidente Ataíde andou na rua que eu vi. 
Em declarações  prestadas aos jornalistas na noite da passagem de 2018 para 2019, falou do passado recente e projectou o futuro próximo. 
O ano de 2018 ficará para sempre marcado pela tempestade “Leslie”, acontecimento que o autarca destacou. 2019 será o ano da conclusão de obras e lançamento de novos projectos. 2019 será marcado pela execução de obras como a requalificação do Cabedelo, a baixa da cidade e frente marítima de Buarcos e pela apresentação de novas candidaturas a fundos europeus, para acções materiais e imateriais, afirmou João Ataíde.
O presidente da autarquia adiantou também duas promessas importante: "em 2019, o abandonado Edifício O Trabalho poderá, enfim, ter um projecto de recuperação, segundo a vontade manifestada pelo fundo de investimentos que adquiriu recentemente aquele imóvel do Bairro Novo." E, finalmente,  "será dado um novo impulso ao moroso processo de candidatura do concelho a geoparque da UNESCO, tendo o Cabo Mondego como âncora."
2019 é um ano de promessas...
Voltando à noite da passagem de ano: eu, que estive na Figueira e no centro da avalanche de visitantes - Avenida 25 de Abril e Praça do Forte - vi gente, muita gente mesmo, mas não consegui ver que a Figueira tenha  registado uma das maiores enchentes de sempre.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

A pesada herança do edifício "O Trabalho”...

Via Nelson Fernades
CONTRIBUTO (SEM CANDURA) PARA A COMPRENSÃO DO EDIFÍCIO “O TRABALHO”
"Volta agora a discussão sobre o edifício “O Trabalho”. E parece que mais uma vez se aponta como solução a compra do edifício pela Câmara, para depois demolir. Portanto a Câmara gastava na compra, na demolição e nas obras para utilizações futuras. E o proprietário recebia dinheiro pelo mono. E pelos antecedentes talvez pegue.
David Monteiro, num recente escrito dizia do edifício como centro comercial. “A ideia era interessante: um edifício no centro da Figueira, construído para albergar comércio, escritórios, estacionamento coberto e habitação. Para mais, estávamos no tempo da explosão das superfícies comerciais e a Figueira, evidentemente, não passou ao lado deste fenómeno”. Isto é, um dia alguém passou por ali olhou para aquele espaço e pensou. Aqui ficava bem um centro comercial. E vai daí construiu-se o edifício.
A análise de David Monteiro, e outras que tenho lido são de uma angelical candura. Porque há uma realidade subjacente que não é tão inócua quanto se pode pensar. Analisar o edifício “o Trabalho” isoladamente, sem o enquadrar no plano mais vasto da urbanização da Figueira da Foz do tempo é confundir a árvore com a floresta.
Dois pressupostos prévios. Não havia Plano Diretor Municipal, nem a Lei do Financiamento das Autarquias Locais estava em vigor. O autofinanciamento estava em voga, sobretudo através da venda de património. Para urbanização vendiam-se terrenos municipais, e autarquia que não tivesse terrenos vendia ar, através das construções em altura. Por outro lado o turismo de massas tinha os seus exemplos na Quarteira ou em Troia, pelo que a Figueira haveria que entrar na moda.
Sem falar das urbanizações dos subúrbios, (Tavarede, Vila Verde) ou na Encosta Sul da Serra da Boa Viagem, a malha urbana mais afetada foi a Marginal Oceânica, e, no seu seguimento a parte norte da Esplanada Silva Guimarães, e ainda o quarteirão do Hotel Portugal. A transformação da Marginal Oceânica iniciou-se com a construção do Hotel Atlântico, do lado sul, e depois de algumas vicissitudes, o edifício do J. Pimenta a Norte. Estes dois edifícios funcionaram como baliza para as cérceas. Assim estas, passaram então de seis andares para doze, e mais tarde completou-se a urbanização do gaveto na rotunda da Ponte do Galante, entre a rua de Buarcos e a Avenida 25 de Abril para sul. Com a urbanização do quarteirão do Hotel Portugal, e ainda com a “modernização” do edifício do Casino, ficou pronta a primeira fase da transformação que á época se desenhou para a Figueira da Foz.
Mas havia uma segunda fase que seria a Marginal Ribeirinha. Esta marginal envolvia a parte sul da Esplanada Silva Guimarães, o Mercado Municipal e os edifícios adjacentes, onde funcionava um colégio de freiras, casas de habitação e comércio. O edifício “o Trabalho”, e um outro prédio (o edifício Foz) situado no gaveto entre a rua da Liberdade e a rua Académico Zagalo, são a parte visível, deste projeto para a zona ribeirinha. Tal como para a Marginal Oceânica foram traçadas balizas a norte e a Sul, estes dois edifícios eram as balizas da urbanização virada á foz do rio.
Houve na realidade um contrato entre a Câmara e o promotor imobiliário, contrato esse que ainda hoje anda pelos tribunais, que envolvia a alienação do Mercado Municipal, cedendo a Câmara terrenos para a construção de novo mercado nos terrenos a norte do Parque das Abadias. Este, no seguimento da aquisição dos terrenos do mercado, adquiriu, por permuta, o colégio das freiras, (construindo o edifício da Casa de Nossa Senhora do Rosário na Rua José da Silva Ribeiro), e outros edifícios com limites no Passeio Infante D. Henrique e na Rua Francisco António Dinis.
Tal projeto foi inviabilizado porque os figueirenses se opuseram num movimento que abrangeu parte importante da sociedade da época, e obrigou a Câmara a abortar tal plano. Com efeito o Bairro Novo ficou praticamente sem residentes, o Casino alterou a sua oferta, o espaço para atividades terciárias foi exagerado, e o modo de estar dos “banhistas” alterou-se por completo. E do ponto de vista estético, estes prédios, incluindo o Casino obviamente, e também o posterior edifício da Ponte do Galante, noutra era, são daqueles que nenhum arquiteto reivindica a paternidade.
Em resumo, o edifício “O Trabalho” é o remanescente de uma urbanização abortada que compreendia mais cinco edifícios no espaço do Mercado Municipal e outro, ou outros, na parte do Passeio Infante D. Henrique.
Se deve ir abaixo ou não, confesso que não sei. Mas que não deve haver injeção de dinheiros públicos, não! Que o Hotel Atlântico é um caso de remodelação de sucesso, é! Que o proprietário deve ser o responsável pela solução, deve! Que enquanto não encontrar a solução deve ser bem sobrecarregado com IMI, e com a fiscalização severa do estado de conservação do prédio, deve!"
Nota.
Depois de ler, atentamente, como sempre, Nelson Fernandes, na minha opinião, o melhor membro político que passou pela Assembleia Municipal figueirense, continuei com uma dúvida.
Ana Carvalho, sábado passado, no Diário as Beiras, sobre este assunto começou assim a sua crónica. Passo a citar:
"Antes de se apresentar uma solução, há que perceber um pouco da situação do malfadado edifício “O Trabalho”.
Este edifício obteve aprovação do projecto em 1987, em reunião de câmara com 5 votos a favor de vereadores de todos os partidos, PS, PSD, PRD e PCP, tendo a obra sido finalizada em 1992."
Será que isto tem algum fundamento histórico? Citando Miguel Almeida, este é "um Edifício que é um Trabalho"!

terça-feira, 5 de maio de 2020

Uma pesada herança que poderia ser uma janela de oportunidade...

"O “Edifício o Trabalho” é o típico caso de um investimento privado que se tornou num problema público a resolver com dinheiro dos contribuintes. Ninguém quer aquele patrimônio, tornou-se um ativo tóxico.
Um imóvel construído na década de 80 do século passado, inicialmente um centro comercial que nunca foi bem-sucedido e que acabou num edifício devoluto fonte de inúmeros problemas, desde janelas a cair até abrigo de vagabundos. É agora propriedade de um fundo de investimento que segundo notícias de abril de 2019 estaria à venda no OLX por 5,7 milhões de Euros (pasme-se!). Que se saiba ninguém quer comprar o edifício. E há ainda os detentores de contratos (lojas,…) que procuram acordos com os proprietários aumentando certamente a litigância à volta do edifício.
A autarquia em 2017 afirmava que a solução passaria por demolir o imóvel, com pagamentos aos comerciantes e suportando os custos da demolição. Assumindo que a Câmara vai investir no espaço, defendo que deverá abrir um concurso de ideias que vise em última analise atrair residentes para aquela zona.
Podem ser apartamentos com rendas controladas para jovens que tanta falta fazem no centro da cidade. Por duas razões, há pouquíssima oferta e é cara (um T1 custa decente custa mais de 300 Euros) para os bolsos dos jovens e estudantes, sendo necessário apoiar quem quer viver nesta zona da cidade. Pouco útil será criar habitação sazonal que perpetuará a sazonalidade do Bairro Novo.
Outras ideias mais arrojadas podem e devem aparecer.
Objetivo fundamental de qualquer intervenção deverá ser a sustentabilidade ambiental do edifício, remodelado ou novo. Um modelo de inteligência e uma referência de intervenção moderna é imperioso, desde a introdução de coberturas verdes, jardins verticais até à produção da sua própria energia e uma pegada de carbono zero.
Interessa ver no edifício “O Trabalho” uma oportunidade para fazer diferente e sair de um certo atavismo que caracteriza muitos projetos atuais."
Via Diário as Beiras

terça-feira, 11 de abril de 2023

Casino vai realizar obras de remodelação e modernização

Via Diário as Beiras"Diferendo entre a SFP e o Estado deverá ser solucionado ao abrigo de um novo quadro legal, já que a atual legislação não será esclarecedora em relação aos casos em que a concessão foi renovada ao detentor da licença de jogo".

«A Sociedade Figueira Praia (SFP) vai realizar obras de remodelação e modernização do Casino Figueira. A empreitada, que incidirá no interior e no exterior do edifício, situado no Bairro Novo, será faseada durante dois anos e não interromperá a atividade. As últimas obras de remodelação do Casino Figueira realizaram-se entre 2003 e 2004, conferindo um aspeto arquitetónico mais contemporâneo ao imóvel. 
Este é o mais antigo casino da Península Ibérica, anteriormente designado Casino Peninsular. A remodelação só avançará depois de a SFP e o Estado ultrapassarem o diferendo relacionado com a renovação da concessão. O que está em causa é a exigência, por parte do Governo, do pagamento de três milhões de euros até 2025, valor que o concessionário da licença de jogo considera exagerado. Aquando do lançamento do concurso público internacional para a concessão dos casinos em Portugal, o Estado não terá tido em conta os casos em que o concessionário foi o único concorrente, como aconteceu com o Casino Figueira. A este, o Governo reclama o pagamento de três milhões de euros, valor que, segundo fonte ligada ao processo, não constaria do caderno de encargos. Assim sendo, a SFP considera que os anos de 2023 e 2024 terão de ter outro enquadramento legal. E outros valores, inferiores aos tais três milhões de euros reclamados pelo Governo. 
O Casino Figueira, como acima referido, concorreu à renovação da concessão sem concorrência, tendo-lhe sido renovada por um período de 15 anos, com possibilidade de prorrogação por outros cinco. 

Pagos 120 milhões em impostos 

Nos últimos 20 anos, coincidentes com o período da anterior concessão, o Casino Figueira, detentor da única licença de jogo da Região Centro (Espinho, embora pertença ao Distrito de Aveiro integra a Área Metropolitana do Porto), pagou 120 milhões de euros de impostos. No entanto, o retorno para a região, em termos de investimentos do Estado, é reduzido, como defendem o presidente da Câmara da Figueira da Foz, Santana Lopes, e a administração da SFP. 
Santana Lopes disse, recentemente, aos jornalistas, à margem da reunião de câmara, onde anunciou que a SFP e a tutela da Economia ainda não chegaram a acordo, que está disponível para, com os seus homólogos de regiões com casino, reivindicar ao Governo montantes de investimentos com maior correspondência com os impostos pagos pelas salas de jogos. “Acho que o Estado tem a obrigação de devolver mais [dos] impostos que recebe das regiões onde eles são gerados”, defendeu Santana Lopes. 
A Figueira da Foz tem direito a verbas resultantes das contrapartidas da zona de jogo, mas trata-se de valores residuais face à contribuição fiscal do Casino Figueira.»

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

o legado de Ataíde – o ataidismo e o triunfo da pessegada

o que vale a pena ser feito vale a pena ser feito bem
Nicolas Poussin
"A Figueira da Foz é, infeliz e consabidamente, uma cidade bastante pobre no que diz respeito ao património de arte pública. O pouco que tem de inegável qualidade estética deve-se mais à acção voluntariosa de alguns, poucos, cidadãos do que a iniciativa dos poderes locais instituídos - o caso, por exemplo, do pequeno busto em bronze de David de Sousa, de Leopoldo de Almeida, com arranjo arquitectónico do arquitecto Carlos Ramos, iniciativa de alguns amigos do músico. Ali, à entrada do Bairro Novo, a dimensão escatológica do desprezo público que os figueirenses votam à Arte e à Memória sublima-se no relvado fronteiro, emblematicamente transformado pelo uso num verdadeiro cagódromo canino.
A estátua de Manuel Fernandes Tomás, na praça Nova, é aliás a única excepção e a única de dimensão verdadeiramente monumental (três metros de altura de bronze sobre um pedestal também imponente). Apenas tornada possível por uma subscrição popular (em 1907, para a qual contribuiu, dizem, o próprio rei D. Carlos), desencadeada por quatro operários cujos nomes ainda lá estão, em letras de bronze, sobre a pedra do pedestal. Inaugurada em 1917, a estátua não é a habitual imagem majestática de um seráfico legislador ou de um estadista triunfante mas sim a de um revolucionário em acção, toda inconformismo, movimento e inquietação; a mesma inquietação que movia os quatro operários que a encomendaram e que inspirou a ousada sensibilidade do portuense Ferreira de Sá, um notável e quase esquecido escultor a quem posteriormente não chegaram as encomendas do Estado Novo e que morreu amargurado em 1959 porque nunca lhe permitiram sequer que ensinasse nas Belas-Artes.
Mas existe ainda, claro, o exuberante pelourinho da Praça Velha; o admirável memorial modernista a João de Barros, do arquitecto Alberto Pessoa; o busto solene de António Santos Rocha, de Raul Xavier, agora nas Abadias e, ainda de Leopoldo de Almeida, dois frizos em baixo-relevo sobre as portas da Caixa Geral de Depósitos; e dois painéis em pastilha de vidro: o de António Lino, no Tribunal, e o de Zé Penicheiro, em notório estado de degradação, na companhia das águas. Convenhamos no entanto que é muito poucochinho, e pobrezinho, mesmo para uma cidade com apenas cento e trinta anos. - Ah!, existe ainda uma soberba peça do meu amigo João Sotero, que ele, num achado genial, deu a forma de um totem a que chamou “desleixo” e que representa precisamente, com desencantada ironia, e algum sarcasmo bastamente escarninho, esta relação dos figueirenses com o seu espaço público comum...

A verdade é que o figueirinhas não gosta de História, prefere a anedota. Não aprecia o Belo, nem o Misterioso, nem o Único, nem o Autêntico - deleita-se com o bonitinho, o vulgar, a réplica, o sentimental. Detesta ópera mas adora telenovela. Abomina o que é excepcional, transcendente, elevado. Prefere tudo ao seu nível: banal, literal, raso, acessível. É a esta pitoresca estética do acessível que os poderes locais tentam agradar.

... a Figueira, um case-study da arte pública; ou vá lá, da decoração de exteriores. Hão-de cá vir sharters de especialistas para estudar o fenómeno...
...Isto parece que muda aos três."
"Mas", constata Fernando Campos e eu concordo, "a pessegada é que nunca mais acaba."

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A praga das obras mal feitas

Há poucos meses, decorria o mês de agosto, véspera de eleições autárquicas, e João Ataíde era um autarca orgulhoso com a inauguração das obras da zona envolvente do Forte de Santa Catarina.
A intervenção – disse na ocasião João Ataíde, às dezenas de pessoas que assistiram à inauguração - contribui para “devolver à Figueira a excelência de outros tempos”.
Recorde-se, que esta intervenção que visou “recuperar a relação do espaço urbano edificado, em particular do Bairro Novo, com o rio a praia e o mar, através da criação de novas áreas de fruição pública, onde os figueirenses, o comércio e o turismo, mas também todos aqueles que visitam a nossa cidade, ganham um novo espaço atrativo e de qualidade numa zona nobre da cidade", teve um orçamento de 3.902.757,68 euros, sendo 85 por cento daquele montante financiado pelo Programa Operacional Regional do Centro (Mais Centro) e os restantes 15 por cento financiados pelas contrapartidas prestadas ao Estado, decorrentes da prorrogação do prazo de concessão do jogo.
Neste momento, passam cerca de 5 meses depois da inauguração, que aconteceu no passado dia 14 de agosto, e o lago que envolve o Forte de Santa Catarina vai ser intervencionado, para rebaixar o piso, “dois ou três centímetros”, na zona mais alta.
Esta obra, pelo que acabei de ler no DIÁRIO AS BEIRAS, segundo o vereador Carlos Monteiro, “destina-se a evitar o desperdício de água com a ondulação”.
Para quem não sabia, como era o meu caso, está assim justificado o facto de o lago estar sem água há cerca de um mês.
As obras, pelos vistos, atrasaram-se, mas, espera-se, os trabalhos deverão começar nas próximas semanas.
Neste momento, ao que se sabe, a autarquia está a concertar com o empreiteiro que fez as obras da regeneração urbana os detalhes do rebaixamento do piso, adianta ainda o autarca.
Já estão a ver quem vai pagar esta intervenção que visa corrigir o que foi mal projectado, ou mal executado: os do costume, nós, via Câmara da Figueira da Foz.
Pelos vistos, sair do ciclo em que temos vivido, no País e na Figueira,  de anos e anos de leviandade política, falsidade política, loucura e desnorte políticos é um trabalho, duro, que nos cabe a todos.
Por isso, os nossos olhos deveriam estar  atentos a quem resiste...

quinta-feira, 4 de julho de 2019

AVISO

Com o novo figurino, os produtores transformam a Figueira da Foz numa “cidade-festival”, mantendo o cartaz principal na Praia do Relógio. Os espaços públicos associados ao cartaz são a praça do Forte, Bairro Novo, Torre do Relógio, Esplanada Silva Guimarães e praça Afonso de Albuquerque. Os espectáculos fora do recinto do festival são grátis, graças à parceria da Braver com a autarquia. O festival, que se realiza na Figueira da Foz desde 2013, está garantido até 2024.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Da série, já que não há polícia... (3)

Ficaremos mais seguros?

"Saúdo calorosamente todos os leitores, nestes primeiros dias de um novo ano que todos ansiamos feliz. Confesso que quando recebi o tema para a coluna da semana senti um misto de perplexidade e alguma incompreensão: “A autarquia vai instalar videovigilância em ruas com maior fluxo de pessoas. Concorda com a medida?” É óbvio que nada tenho contra as tecnologias, muito especialmente quando elas se destinam a facilitar a vida dos cidadãos e dar-lhes maior “conforto”. Mas, curiosamente, veio-me à ideia o mundo algo “às avessas” da Alice de Lewis Carroll. Os responsáveis políticos do município, em termos de Câmara Municipal, muito têm insistido na tecla de que a cidade é um sítio seguro e confiável. Nesta assertividade, têm frequentemente sido corroborados pelas forças de segurança, facto que a todos deixa sossegados. Mas, voltando à medida, que será sempre bem-vinda e um acréscimo valioso na valoriza-da segurança de pessoas e bens. Pergunto-me se não seria melhor começar esta implantação nas zonas exactamente “inversas” ao proposto: nos sítios mais isolados, nomeadamente à noite, naturalmente mais vulneráveis a assaltos e outras malfeitorias. Quem não sente um friozinho na barriga se tiver de fazer, a pé, toda a Rua da República, depois da meia-noite?! Perfeitamente desconfortável e um tanto assustador! O mesmo diria das zonas mais antigas da cidade, S. João do Vale e arredores. Por aqui já vive muito menos gente do que em tempos passados, mas tal acrescenta preocupação, porquanto mais sozinhos, mais expostos a episódios indesejáveis! No Bairro Novo central, chamemos-lhe assim, há maior afluxo de pessoas, por norma, especialmente porque aí se concentram os espaços de entretenimento. Sei que a “noite” é um factor de intranquilidade em zonas assim, especialmente a entrar na madrugada. Mas não se me afigura, para já, razão suficiente para a instalação de vigilância, isto se é por aqui que se vai começar. Bom mesmo seria, seria mesmo óptimo, que houvesse um reforço de efectivos policiais circulando. Ficaríamos todos muito mais reconfortados!"

Via Diário as Beiras

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

Vem aí o depois da Figueira das hiper-mercearias...

Recordo-me da Gala e Cova, no tempo em que os moradores se abasteciam diariamente em pequenas mercearias ou no  Mercado improvisado da Remígo Falcão Barreto, onde os pequenos agricultores das freguesias vizinhas, tinham um sítio para esgotar os seus produtos.
Na Aldeia onde cresci, havia 3 ou 4 tabernas e um café na Gala e outro na Cova, que eram pontos de encontro que proporcionavam uma socialização informal e espontânea que punha em contacto os homens de diferentes gerações. 


A Figueira era então uma  cidade com lugares cheios de vida colectiva onde se reproduziam velhos costumes pré-capitalistas, como a comunicação directa e livre entre as pessoas.
Quem não se recorda das multidões a fazer "piscinas" no Picadeiro?
Depois, fomos assistindo ao desmoronamento progressivo do Bairro Novo e à reconfiguração capitalista da geografia e da sociedade urbana, num processo que, como um terramoto, abalou e destruiu a Figueira, cidade e concelho,  tal como a conhecíamos. 


O que se perdeu não foi apenas a parte visível: as redes de convívio, solidariedade e partilha. Foi também o acesso a uma paisagem repleta de história, essencial para a construção da memória, bem como a uma sólida vida cultural, ancorada nessa paisagem e construída ao longo de gerações em torno da cultura vivida nas colectividades, cafés, tabernas e ruas.


Quando a mercadoria vedeta da sociedade do espectáculo, o automóvel,  atingiu no imaginário colectivo o estatuto de  símbolo maior de prosperidade e emancipação individual, começou a ser posto em prática um novo desenho das cidades.
Estas foram integradas numa ampla rede de mobilidade - as circulares externas na Figueira são um exemplo -  ao mesmo tempo em que nas periferias surgiam pólos comerciais, empresariais e residenciais, totalmente subordinados ao automóvel. 


As velhas cidades, sem condições para a circulação e o estacionamento em massa, tornaram-se rapidamente obsoletas. Habitá-las deixava de constituir uma vantagem para a maioria da população, dado que toda a oferta, à excepção da cultural, se transferira para fora delas.
Foi assim que, no espaço de uma geração, se desertificaram as cidades deste país.
A Figueira, entre tantas outras, embora com algum atraso, sem dar por ela, também  está a sucumbir à nova organização capitalista da geografia urbana, com o shopping, o hipermercado e o automóvel à cabeça de um vasto território que, pela primeira vez na história urbana, não incluía lugares que promovessem o convívio nem a  partilha.
Neste momento, na Figueira, o que se reproduz é o egoísmo,  a divisão, a passividade.
O que restava da Figueira, que a minha geração conheceu, está a ser pulverizado perante os nossos olhos.

Mas, se há  trinta anos era lucrativo arruinar as cidades, transferindo as suas dinâmicas de emprego, habitação ou comércio para novos locais fabricados à pressa na periferia onde, sem obstáculos, o capital mais rapidamente encontrava formas eficazes de se multiplicar, agora esse mesmo capital pretende reocupar as ruínas que ele próprio gerou – e onde se haviam entretanto instalado formas de vida minoritárias, por vezes marginais.


Com a redescoberta burguesa dos encantos da velha cidade, subitamente investida de prestígio e glamour, tornou-se urgente encontrar estratégias para a sua requalificação e revalorização.
Encontramo-nos agora numa fase da configuração capitalista do território urbano em que as cidades reentraram em grande na agenda do investimento público.
É  que está a acontecer na Figueira. E não só na área do turismo, dado que as transformações radicais da oferta comercial visam também os residentes locais.
Depois da Figueira das hiper-mercearias vem aí a Figueira dos shoppings...

domingo, 29 de novembro de 2015

Na Figueira, os campeões de xadrez dão-se mal ao circular junto dos peões...

Segundo o DN, o vencedor da edição deste ano do Festival Internacional de Xadrez da Figueira da Foz foi espancado, numa rua da nossa cidade, na madrugada de hoje, domingo.
Na sequência dos ferimentos sofridos, em circunstâncias que estão por apurar, o vencedor da prova, Timur Gareyev, de 27 anos de idade, residente em Los Angeles, nos EUA, foi transportado para o hospital da Figueira da Foz pelas 4 horas da manhã.
O campeão ficou com "a cara muito maltratada".
Depois da cerimónia de encerramento e entrega de prémios do IX Festival Internacional de Xadrez da Figueira da Foz, ao início da noite de sábado, Timur Garayev saiu do hotel onde estava alojado, para passear sozinho pela cidade, tendo sido agredido por desconhecidos, numa rua do Bairro Novo, zona de vida nocturna, no centro da cidade.
Segundo o que li no facebook, quem chamou a PSP, foi o vereador do Turismo João Portugal.
Timur Gareyey, grande mestre, começou a noite figueirense a ganhar no xadrez, mas terminou-a a perder com os peões no Blackjack...
Fica o registo de mais um belo cartaz de promoção turística da nossa cidade nos órgãos de comunicação social de circulação nacional e internacional...