Caso das gémeas: Rebelo de Sousa filho, um activo tóxico do pai
«Era uma vez um primeiro-ministro muito fraquinho a que chamavam socialista e que ficou muito aborrecido por ter conseguido uma maioria absoluta, quando estava desejoso de ir para a Europa, essa região distante de Portugal, não em quilómetros mas em euros.
Era uma vez um presidente da República que vivia obcecado com a popularidade, tão carregado de opiniões, que se tornou incontinente, desejoso de estar dos dois lados da política, comentador-político ou político-comentador. Este mesmo presidente da República tinha sido constitucionalista e declarou, apesar disso, que a demissão do primeiro-ministro implicaria a queda do governo, com base num argumento próprio de um comentador e impróprio de um constitucionalista.
Era uma vez uma investigação inconsistente que deu ao primeiro-ministro a oportunidade de se demitir em direcção à Europa, demissão aproveitada pelo presidente que deu ouvidos ao comentador e ignorou completamente o constitucionalista, que uma pessoa não é obrigada a ouvir as vozes todas que tem dentro de si.
Pelo meio, um antigo ministro, que já tinha procurado emprego como comentador, voltou muito depressa à política para ser primeiro-ministro e acabou na oposição e um antigo chefe parlamentar que estava na oposição chegou a primeiro-ministro.
No ano em que o 25 de Abril comemora cinquenta anos, cinquenta amantes do 24 de Abril chafurdam na Assembleia da República.
Continuemos à escuta.»
O Município da Figueira da Foz promove, hoje, pelas 21H30, na Biblioteca Pública Municipal Pedro FernandesTomás, um encontro com Rita Marnoto, estudiosa da obra do Poeta, docente universitária e comissária das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís Vaz de Camões. A sessão, com entrada livre, tem moderação de Teresa Carvalho, professora e crítica literária, e conta com a colaboração do Grupo Experimental Pateo das Galinhas.
Sabemos que o PSD e o PS não queriam o assunto discutido na A.R. através de Comissão de Inquérito. Procuraram impedi-la, mas o Chega impôs a sua realização.
Há direitos não questionáveis e há silêncios ensurdecedores.
Foi o caso de ontem. Penso que não existirá um único português com dúvidas quanto à origem da cunha que permitiu a tramitação do processo de nacionalidade, marcação de consulta urgente e aprovação imediata da administração do medicamento, tudo em tempo recorde.
E também já percebemos todos (ou quase todos), à semelhança da alteração do voo TAP, que era prática política nos gabinetes dos Secretários de Estado, agradar a Sua Excelência, o que terá acontecido também neste caso.
O Tribunal Constitucional já limitara os danos políticos, o MP veio agora garantir que os arguidos podem ficar em silêncio, esvaziando a Comissão Parlamentar de Inquérito e conhecendo os prazos de actuação da Justiça portuguesa, este caso será atirado para as calendas.
A Comissão de Inquérito poderia ter terminado ontem, pois o que dali vai sair já está mais do que esclarecido na opinião pública.
Quem conhece um pouco de história italiana (nem precisa de ser intelectual), sabe que o padrinho nem precisava dar uma ordem: bastava uma manifestação da vontade para que alguém se prestasse a satisfazê-la...
— “A Alemanha na Europa 2024 – Da hegemonia relutante ao vazio político”
«Hoje, perante a indiferença, o conformismo e a complacência, e em muitos casos a promoção nazi-fascista, por parte dos grandes e pequenos poderes políticos e de uma boa porção da sociedade civil, interrogo-me:
“ao fazer algum tipo de analogia entre a criação deste transe coletivo, quase irracional, que se está a viver e que se vê crescer de forma assustadora, e o transe colectivo que levou Hitler ao poder, não estará a Europa a ser como o pobre animal deste quadro, que cegamente e ingenuamente julga caminhar em direção à luz quando, na verdade, caminha para a morte?” (período por mim adaptado, partindo de um texto de Adão Cruz)
Não se pense porém que o problema que atravessamos resulta da má política do país A ou B ou C, não é isso, o problema fulcral é o modelo neoliberal que estrutura toda a Europa e desde há décadas. A União Europeia está toda ela como está, ou seja, em franca decomposição, e o texto de Tooze reflete essa mesma realidade crua e dura. Olhando para fora da União Europeia, vejamos o que nos diz um importante Conservador britânico, Victor Hill, sobre o que se na passa no Reino Unido:
“Há poucas hipóteses de os serviços públicos britânicos melhorarem consideravelmente até ao final do outono. As listas de espera do Serviço Nacional de Saúde (NHS) continuam a ser de quase 7,5 milhões de pessoas; e a polícia foi aconselhada a não prender criminosos porque as nossas prisões estão literalmente cheias. Prevalece uma sensação de deriva e de declínio, com poucas expectativas de que um governo trabalhista seja capaz de inverter a situação. De facto, há muitos indícios de que o povo britânico não está particularmente encantado com o Partido Trabalhista de Sir Keir Starmer, enquanto despreza os Conservadores. Em termos eleitorais, é o oposto do MasterChef. Os eleitores são convidados a provar não o prato mais delicioso da ementa, mas o menos revoltante.” (Victor Hill, As eleições gerais no Reino Unido foram muito mal planeadas , 31 de maio de 2024)
Se adicionarmos aos problemas resultantes de um modelo (des)estruturante, o modelo provadamente falhado da União Europeia e desde há décadas, a incompetência que grassa por todos os escalões profissionais e políticos de qualquer um dos países na Europa, a começar por Portugal, percebemos que a situação está a ficar explosiva. O caricato é-me dado hoje por um canal televisivo, questionando Bugalho quanto à sua ambição de querer ser ou não, primeiro-ministro no futuro. A lembrar Kafka, o seu conto que, salvo erro, se chama O homem do leme. Até onde descemos na espiral da ignorância e da estupidez em que até se coloca a hipótese de alguém que tendo o paleio de um fala-barato ou de um troca-tintas possa, por isso mesmo, chegar a primeiro-ministro!»
Júlio Mota
Responsável pelo programa económico do Chega nas legislativas de 2022 diz que o líder e fundador “é agora o maior factor de risco para a implosão do partido”. Acusa-o de “não dar protagonismo a ninguém” e promover “desorientação ideológica”.
«A democracia, com os seus mecanismos de regulação, existe para que nos possamos proteger de nós próprios. Se não existisse regulação matávamo-nos uns aos outros – em todas as formas. Sou de esquerda. Por acreditar na Igualdade, tanto como acredito na Liberdade – quando a esquerda prescindir de trabalhar para que todos os cidadãos possam ter igualdade de oportunidades, quando a esquerda abdicar de proteger os mais frágeis, então não haverá esquerda.
Não estará tudo perdido, mas sinto-me perdido. Não sei a que lugar pertenço. Antes era-me fácil: se entrasse num lugar com duas grandes mesas, uma com gente de direita e outra de esquerda, não hesitaria na mesa.
Mas agora a mesa da esquerda é muito mais híbrida.
Tem gente que aponta o dedo como os inquisidores, gente que persegue, que exclui, moralistas de merda.
O problema dos radicais de esquerda é que não se distinguem dos radicais de direita. Uns porque são beatos, os outros porque são bufos. Uns porque são contra a liberdade por defeito, outros porque são contra a liberdade por excesso.
Não gosto de uns e não gosto de outros. Seria perseguido por uns e seria perseguido pelos outros. Mas os de esquerda preocupam-me mais neste momento. Porque vêm da minha família ideológica e porque à força de uma pureza de costumes, tão próxima da Inquisição, vão ajudando a sedimentar um populismo que tanto criticam. Ao ouvir tantos gritos e tanto histerismo receio que um dia tenha de fugir para algum lado pois não pertencerei a lado algum.»
João Miguel Tavares, via jornal Público
«Com a eleição do comentador Marcelo, o conceito de político activo e inactivo tornou-se cada vez mais fluido, e nas últimas legislativas tivemos Marques Mendes e Paulo Portas a fazer campanha pela AD durante a semana e a comentar em canal aberto ao fim-de-semana. De seguida, vimos o jornalista Sebastião Bugalho saltar directamente dos estúdios da SIC para cabeça de lista da AD — não me espantaria que um dia destes regressasse como comentador e eurodeputado.»
«... há certos tipos de milagre nos quais não acredito: as profissões de jornalista e de político nunca deixarão de ser divergentes, conflituosas e incompatíveis enquanto o trabalho dos primeiros for vigiar a acção dos segundos. Convidar políticos para conselheiros de um canal de notícias faz tanto sentido quanto convidar directores de jornais para o Conselho de Ministros.»
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