A
mudança, porventura, lá para setembro, não vai mudar a vida na
Aldeia.
Como
não mudou em outubro do ano passado.
Na
Aldeia, estes últimos 6 meses deram para ver, a vida não muda assim tão facilmente...
O
que
mudou a vida – a minha vida – foram aqueles momentos que ficaram
gravados para sempre debaixo da pele, no lado esquerdo do peito.
Assim, de repente, recordo o
primeiro beijo, uma reconciliação, a perda irrevogável de alguém
que se ama, o momento em que consegui o primeiro emprego (mesmo a
ganhar uma ninharia – estávamos em janeiro de 1973...), uma
revolução ganha pelo povo nas ruas a cantar a pulmões cheios e
perdida pelo mesmo povo nas urnas, aquele concerto do Carlos do Carmo na primeira Festa do
Avante na antiga FIL, o nascimento da minha filha, alguns reencontros, alguns desencontros, inúmeras
desilusões...
No
resto do tempo, tenho tentado apreciar o essencial e descartar o
acessório.
Assim,
de repente, no futuro, gostaria ainda de poder recordar o jackpot no
euromilhões e, ao menos, um pôr-do-sol de verão com alguém que
tenha um abraço amigo, ternurento e quente, o que este ano não está
a ser fácil...
Quanto
ao resto: a vida na Aldeia vai continuar a fazer o seu caminho e
dispensa que eu me aborreça com isso...
Aliás,
como já escrevi em abril de 2010, aqui, quem
conheça, minimamente que seja, a história da Cova-Gala, sabe que
sempre foi uma aldeia pobre e periférica.
A
vida local, virada para o mar e para a América (eram até há poucos
anos atrás, as nossas grandes aventuras), ficou a dever-se, apenas,
à insustentabilidade de cá viver.
Foi
assim que, desde os finais do século XIX, nos atirámos para a
diáspora, que continua ainda hoje, embora agora para destinos mais
diversificados, mas que continua a levar alguns dos melhores para
longe.
A
falta de capacidade da Aldeia em gerar riqueza e bem-estar, tem
obrigado os covagalenses a deixar o torrão natal em busca do pão
noutras paragens – no país e no estrangeiro.
Qual
maldição, persegue-nos a incapacidade local, para construir uma
sociedade desenvolvida e evoluída, seja a que nível for - cultural,
social e económico.
A
acção dos políticos locais, nos últimos 20 e tal anos, teve em
vista – e conseguiu e vai conseguir... - manter o status quo duma
sociedade amorfa, descrente, pouco exigente, controlada em rédea
curta, por via de uma política de várias dependências.
Ser
cacique, como alguém me disse um dia numa conversa de café,
dá muito trabalho. Mas, só assim se mantêm a rédea curta e se
assegura a inércia que não permite a mudança do sistema de
funcionamento da vida na minha Aldeia.
S.
Pedro, vai continuar a ser o que é: uma mera entidade
administrativa. Não tem alma.
Cova
e Gala é
a nossa Identidade,
a nossa História,
a nossa Alma, aquela pequena terra que já foi mais de pescadores que não tem nome no mapa nem referência nas enciclopédias, mas vive, existe e pulsa, onde o «pato bravismo» já destruiu o que pôde – até o passado de que passa a vida a dizer-se defensor.