Mesmo longe, há qualquer coisa que cheira mal,
muito mal mesmo, nesta história do estacionamento pago pelos utentes
do Hospital da Figueira.
Já
deu para perceber
de onde veio a ideia. Só ainda não deu para perceber de onde veio a
ideia de a Câmara se meter no assunto, tipo “tudo ao molho e fé
em Deus”.
Um
partido é (ou devia ser) um agrupamento ideológico, uma congregação
de pessoas - os militantes - em torno de um conjunto de ideais
fundamentais.
Deveria
ser apenas a elas que se respeitaria fidelidade. Nunca a pessoas,
direcções ou mesmo programas eleitorais.
Esses
vão e vêm numa mudança própria do regime democrático; as ideias
base, os princípios fundamentais, esses ficam no longo prazo.
A
meu ver, um militante tem o direito - diria até o dever - de
criticar uma dada direcção ou programa se achar que ele fere as
bases ideológicas do partido. Independentemente de haver ou não
eleições à porta.
Isto
seria o ideal; a realidade figueirense e portuguesa é outra
conversa.
Eu
quase que aposto que uma boa parte dos militantes do PS figueirense
não sabe quais os pilares ideológicos do seus partido; quase que
aposto que a maior parte está no PS por ser soarista ou socratista, aguiarista ou outra coisa qualquer de ocasião - não por ser, ou sequer saber, o que é ser socialista.
É
nisto que se transformaram os partidos políticos portugueses:
agrupamentos com base em fidelidades pessoais, quase sempre de
natureza clientelar, interesseira ou de divinização de um líder que se torna
inquestionável.
Agora,
temos Ataíde – isto é o poder!
Depois
de Aguiar, que teve um longo “reinado”, alguém se lembra dos
rostos ou dos nomes dos candidatos do PS que perderam 3 actos
eleitorais entre 1998 e 2009 na Figueira?
Neste
contexto, é perfeitamente natural que criticar uma direcção
partidária local signifique traição ou quebra de fidelidade. Mas
isso não é próprio de uma democracia.
A
maior prova é, talvez, o clima de silenciamento que acaba por gerar
e, em momentos infelizes, institui-lo oficialmente, como foi o caso
do bem sucedido caso do estacionamento pago no Hospital da Figueira
da Foz, sito na Gala.
Prova
evidente e completamente esclarecedora, foi o que se passou na
Assembleia Municipal, onde muita gente da bancada do PS local teve dobrar a cerviz para votar o “conforto” expresso ao presidente Ataíde!..
É certo que
ninguém é obrigado a estar num partido e que, se não concorda com
o seu modo de funcionamento, pode sempre sair. Mas,
talvez, seja mesmo isso que explique porque é que os partidos se
tornaram tão pouco interessantes (para usar um eufemismo) e porque é
que muitas pessoas de valor estão fora deles, enquanto lá dentro
acotovelam-se clientes à espera de favores.