
Houve tempo, em que o meu maior desejo era ter uma bicicleta.
Agora, que é tempo em que posso ter todas as bicicletas, não é uma bicicleta que quero.
Este é o tempo de querer a idade de poder ter uma bicicleta, quando não podia ter bicicleta nenhuma.
Em Portugal, houve tempo em que não se podia votar livremente.
Agora, que é tempo de democracia, sinto que é o tempo em que o meu voto não altera nada.
Mas, em Portugal, tem de ser sempre tempo de haver eleições livres.
Espero é poder chegar ao tempo em que o meu voto mude alguma coisa.
Será que chegarei a tempo de saber o que é esse tempo?
Gostaria de ter tempo para viver o tempo de vir a ser um velho sábio.
Seria então o tempo de conhecer o significado do tempo que leva uma vida.
Mas será que todos os velhos conseguem alcançar o significado do tempo que leva uma vida?
É certo que ainda não tenho tempo para ser velho, mas o tempo passa.
Entretanto, passou já tempo para pereceber que a luta contra o tempo está perdida.
Também já é tempo de saber que o tempo acontece rápido.
Tenho tentado que o meu tempo não seja uma corrida contra o tempo.
Gostaria de conseguir que o meu tempo fosse uma corrida com o tempo.
Entretanto, sei perfeitamente que já perdi muito tempo.
Mas será que todo o tempo perdido foi tempo inútil?
E terá acontecido que todo o meu tempo útil foi tempo ganho?