Alfredo Pinheiro Marques, historiador e director do Centro de Estudos do Mar e das Navegações Luís de Albuquerque - CEMAR
"17 de Dezembro, é o dia que o autor destas linhas, Alfredo Pinheiro Marques, desde há muitos anos, baptizou como "o Dia do Destino Português", o dia que considera que deve ser comemorado todos os anos, e que, por isso, todos os anos, pontualmente, comemora…
É o dia em que, por acaso, se deu a coincidência de o destino de Portugal e da sua História ter feito coincidir, de maneira tristemente irónica, na mesma noite de 17 de Dezembro, dois momentos simbólicos e indissociáveis.
Nessa noite, em 17 de Dezembro de 1961, Sophia de Mello Breyner Andresen estava a escrever o seu poema acerca da figura do Infante Dom Pedro das Sete Partidas e de Alfarrobeira… (e da verdadeira origem dos célebres “Descobrimentos Portugueses”…?… e da verdadeira origem da Expansão Ultramarina Portuguesa no Mundo…?), e veio a ter que o deixar interrompido. Mas, mesmo assim, depois, publicou-o, em 1962, e fez questão de deixar lá escrito, em epígrafe, que esse era um poema que havia sido deixado interrompido (!)... e deixar lá escrita a razão por que havia sido deixado interrompido: a queda de Goa, ocupada pela União Indiana…
E o poema, de facto, veio a ser publicado com essa menção, expressa, que lá ficou para sempre.
Trata-se do poema "Pranto pelo Infante D. Pedro das Sete Partidas", acerca da figura mais significativa, e simbólica, e silenciada, da História de Portugal — mas… significativa e simbólica, infelizmente, da secular falência de Portugal... Da sua mentira e da sua insustentabilidade, e da sua injustiça, e do seu fracasso (desde há muito, muito, tempo…). O poema que, não por acaso, é também o que, nesse livro de Sophia, antecede o outro poema imediatamente seguinte, e indissociável, nesse mesmo livro: o "Pranto pelo Dia de Hoje”. Acerca do Presente e do Futuro possível para os Portugueses (então, em 1961… e… sempre…?). Acerca de “o gesto criador ser impedido”… e ”quem ousa lutar é destruído”… “por troças, por insídias, por venenos”…
Sophia de Mello Breyner Andresen estava a escrever o seu poema sobre o Infante Dom Pedro ao mesmo tempo que — nesse mesmo dia, nessa mesma hora, nessa mesma noite de 17 de Dezembro do ano de 1961… — se iniciou a derrocada e o fim do insustentável “Império Ultramarino Português” nascido da errada Expansão Ultramarina Portuguesa… Na Índia, e, logo depois, de seguida, em África.
O colonialismo africano português. O “Império” e o “imperialismo” errados — secularmente errados… desde há muito muito tempo… — devido à maneira errada como foi feita, desde 1495, essa Expansão Ultramarina Portuguesa: uma Expansão Ultramarina em termos feudais... senhoriais… Em vez de em termos modernos... comerciais…
A Expansão Ultramarina em termos errados, que, no século XX, teimaram em repetir, e manter, sempre, o Prof. Doutor Oliveira Salazar (da Universidade de Coimbra), e o seu Ministro da Educação, o "Professor" José Hermano Saraiva (o aluno de História que, já vinte anos antes disso, em 1941, tinha agredido [!] o seu próprio professor que lhe tinha feito o seu último exame e lhe tinha dado a sua medíocre nota de licenciatura…), e o seu Prof. Doutor Torquato de Sousa Soares (o catedrático de História e Director da História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra… e que até foi quem editou a "Crónica dos Feitos de Guiné" de Gomes Eanes de Zurara… mas que, por acaso, lá na sua terra, em Amarante, onde era latifundiário, se dava a coincidência de ser o informador que dava informações ao governo para depois a polícia política PIDE ir prender os oposicionistas…)… Todos juntos, os Profs. Doutores, e o Ministro da Educação que agredia professores, e o catedrático que era informador.
E… seria por acaso que este sábio professor catedrático da Universidade de Coimbra, Torquato de Sousa Soares, para além de dar essas informações lá na sua terra (e em Coimbra…), andou também, continuando as melhores tradições da sua escola, a proclamar, em Coimbra, do alto da sua cátedra conimbricense, que em Portugal nunca existiu o Feudalismo…?! …
Portugal é assim… (Portugal foi sempre assim…). Portugal é "especial"... E Coimbra é assim… É "sábia"… ("Conhecimento"…)
Gerações de alunos dessa Universidade ouviram isso, nos bancos da escola… durante décadas: "Em Portugal não houve Feudalismo"…
Em Portugal, a História serve para esconder a História…
Todos juntos, teimaram em manter, sempre… e mantiveram sempre. E teimaram em continuar a chamar-lhe, em pleno século XX — a essa Expansão Colonial Ultramarina errada, feita em termos feudais… —, “os Descobrimentos Portugueses” [sic]… Assim confundindo, e identificando, deliberadamente, os Descobrimentos Geográficos e a Expansão Colonial numa única realidade… Como se essas duas coisas, diferentes e sucessivas (e distintas entre si), fossem uma só coisa…!... (e não são…).
E a hipocrisia salazarista fez (continuou a fazer…) dessa identificação abusiva o essencial da História de Portugal. Para assim justificar e legitimar as suas guerras ultramarinas africanas.
A hipocrisia salazarista que continuou para sempre (comemorando, infindavelmente, os "Descobrimentos" [sic]…), e ainda hoje, em Portugal, cinquenta anos depois de 1974 (!), é considerada como fazendo parte do senso comum e do óbvio… Os “Descobrimentos” e o “Império” [sic] são a mesma coisa (!)…
O Doutor Oliveira Salazar (Universidade de Coimbra) e, com ele, o seu Infante Dom Henrique, reinam… ainda hoje... em Portugal…
O dia 17 de Dezembro é o dia em que, portanto, todos os anos, para sempre… se deve “celebrar" (embora, na verdade, ninguém queira celebrá-la…[!] e, bem pelo contrário, tantos a queiram sim silenciar… e continuar a escondê-la para sempre…) a coincidência de, por acaso, esse poema de Sophia de Mello Breyner Andresen estar a ser escrito ao mesmo tempo que se dava a entrada inevitável dos soldados indianos em Goa… O início do fim do insustentável “Império” que os Doutores de Coimbra (e o Ministro da Educação agressor do seu próprio professor...) queriam teimar em manter, chamando-lhe “os Descobrimentos” [sic]… em vez de navegarem com os “Ventos da História"… (embora bem soubessem que essa manutenção iria ser impossível, para os soldados portugueses, por muito tempo…).
A coincidência que Sophia de Mello Breyner Andresen, significativamente, deixou expressa, como epígrafe, para sempre, no seu poema. É isso a História, a sério. Mas teve que ser feita por uma Mulher, Poeta… E não pelos Doutores, e Ministros, e Catedráticos.
A História, em Portugal, teve que ser feita por uma Mulher, e Poeta.
De facto, neste país, sempre existiram Doutores, e Ministros, e Catedráticos a mais… De anedota… Ganhando e gastando o dinheiro público (enquanto os pobres, secularmente, tiveram sempre que emigrar, para poderem sobreviver, e ir viver dignamente no estrangeiro). Doutores, e Ministros, e Catedráticos de anedota. Nos anedóticos "milieus" universitários, culturais e "científicos" portugueses.
O “Império” português, na verdade, acabou nessa noite de 17 de Dezembro de 1961… Embora os Doutores ainda tenham querido continuar a teimar… e tenham querido continuar a mandar aos soldados portugueses que fossem morrer, e matar, durante mais treze (13) anos… em vez de fazerem política, e arranjarem uma solução inteligente… que é para isso que deveriam servir os doutores e os políticos, e os intelectuais, e os epistemólogos, e os académicos… (os que não vão para as guerras… por serem muito inteligentes, e especialistas de encontrar soluções inteligentes…).
17 de Dezembro é, portanto, todos os anos, o "DIA DO DESTINO PORTUGUÊS"… (segundo Alfredo Pinheiro Marques…). No país que foi destruído, secularmente ("pelo mundo em pedaços repartido"…) pelas ambições coloniais erradas e insustentáveis das suas elites feudais.
O Infante Dom Pedro de Coimbra, o das "Sete Partidas do Mundo" e de Alfarrobeira, bem tinha avisado… logo no princípio… logo em 1436: "não perder boa capa por mau capelo, pois era certo perder-se Portugal, e não se ganhar África"… Ora aí está a razão porque esse homem tinha que morrer, e ficar maldito, e ser feito desaparecer (ele, e a sua Memória futura…), para sempre, na História de Portugal… ELE TINHA RAZÃO…
E o que foi feito, secularmente, foi o errado; e o resultado foi o previsível.
Em Portugal reina, como sempre, a sem razão…
E valeria a pena perguntar, hoje (como já em 1961): não seria melhor os Portugueses criarem para si próprios outro “Dia de Hoje”, diferente, para o seu Futuro…? Um Futuro sem “o gesto criador ser impedido”… e ”quem ousa lutar é destruído”… “por troças, por insídias, por venenos”…
Em Mira, em 1996, no dia em que erguemos a primeira estátua do Infante Dom Pedro (a primeira estátua do homem que, no seu tempo, recusou que lhe erguessem uma estátua em vida…) colocámos-lhe lá, gravado na pedra, esse poema de Sophia de Mello Breiner Andresen. O poema que, por isso, aí ficará, desde esse dia, tão simbólico para a História de Portugal, em que, em Mira, a terra dos Tavares, foi erguida a primeira estátua do homem de Alfarrobeira. Para sempre, gravado na pedra. "
Pranto pelo Infante D. Pedro das Sete Partidas
Nunca choraremos bastante nem com pranto
Assaz amargo e forte
Aquele que fundou glória e grandeza
recebeu em paga insulto e morte
Pranto pelo Dia de Hoje
Nunca choraremos bastante quando vemos
O gesto criador ser impedido
Nunca choraremos bastante quando vemos
Que quem ousa lutar é destruído
Por troças por insídias por venenos
E por outras maneiras que sabemos
Tão sábias tão subtis e tão peritas
Que não podem sequer ser bem descritas

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