domingo, 16 de junho de 2024

Os bufos de esquerda são tão irritantes como os beatos de direita

Luís Osório

«A democracia, com os seus mecanismos de regulação, existe para que nos possamos proteger de nós próprios. Se não existisse regulação matávamo-nos uns aos outros – em todas as formas. Sou de esquerda. Por acreditar na Igualdade, tanto como acredito na Liberdade – quando a esquerda prescindir de trabalhar para que todos os cidadãos possam ter igualdade de oportunidades, quando a esquerda abdicar de proteger os mais frágeis, então não haverá esquerda.

Não estará tudo perdido, mas sinto-me perdido. Não sei a que lugar pertenço. Antes era-me fácil: se entrasse num lugar com duas grandes mesas, uma com gente de direita e outra de esquerda, não hesitaria na mesa. 

Mas agora a mesa da esquerda é muito mais híbrida. 

Tem gente que aponta o dedo como os inquisidores, gente que persegue, que exclui, moralistas de merda. 

O problema dos radicais de esquerda é que não se distinguem dos radicais de direita. Uns porque são beatos, os outros porque são bufos. Uns porque são contra a liberdade por defeito, outros porque são contra a liberdade por excesso. 

Não gosto de uns e não gosto de outros. Seria perseguido por uns e seria perseguido pelos outros. Mas os de esquerda preocupam-me mais neste momento. Porque vêm da minha família ideológica e porque à força de uma pureza de costumes, tão próxima da Inquisição, vão ajudando a sedimentar um populismo que tanto criticam. Ao ouvir tantos gritos e tanto histerismo receio que um dia tenha de fugir para algum lado pois não pertencerei a lado algum.»

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