António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
quarta-feira, 26 de abril de 2006
O tempo e a bicicleta
Houve tempo, em que o meu maior desejo era ter uma bicicleta.
Agora, que é tempo em que posso ter todas as bicicletas, não é uma bicicleta que quero.
Este é o tempo de querer a idade de poder ter uma bicicleta, quando não podia ter bicicleta nenhuma.
Em Portugal, houve tempo em que não se podia votar livremente.
Agora, que é tempo de democracia, sinto que é o tempo em que o meu voto não altera nada.
Mas, em Portugal, tem de ser sempre tempo de haver eleições livres.
Espero é poder chegar ao tempo em que o meu voto mude alguma coisa.
Será que chegarei a tempo de saber o que é esse tempo?
Gostaria de ter tempo para viver o tempo de vir a ser um velho sábio.
Seria então o tempo de conhecer o significado do tempo que leva uma vida.
Mas será que todos os velhos conseguem alcançar o significado do tempo que leva uma vida?
É certo que ainda não tenho tempo para ser velho, mas o tempo passa.
Entretanto, passou já tempo para pereceber que a luta contra o tempo está perdida.
Também já é tempo de saber que o tempo acontece rápido.
Tenho tentado que o meu tempo não seja uma corrida contra o tempo.
Gostaria de conseguir que o meu tempo fosse uma corrida com o tempo.
Entretanto, sei perfeitamente que já perdi muito tempo.
Mas será que todo o tempo perdido foi tempo inútil?
E terá acontecido que todo o meu tempo útil foi tempo ganho?
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7 comentários:
Exelente trabalho á que continuar a postar...
Parabéns pelo texto.
`´E mesmo para continuar a postar
Olá Tio Tó! Estou a gostar imenso do teu blog. Claro que reconheci a tua bicicleta... inconfundível...
Continua a colocar assuntos de interesse na tua "outra margem". Desta maneira também vou sabendo o que se passa na minha "terrinha" que apesar de tão longe, vejo-a aqui tão perto.
Beijinhos e... Parabéns.
Gostei imenso deste teu tempo, com todo o tempo que tens para nos dar...
e pralem de todo este tempo que já foi o teu tempo,tens ainda todo o tempo do mundo para nos ofertar...não desistas nunca do teu sonho, não desistas de sonhar e, quem sabe o tempo, te deixa o teu sonho concretizar!...
sem palvras...mas que belo texto...
Vive o tempo, amigo, que o tempo é!
Passará por ti como brisa de amparo, amigo.
Vive a vida, amigo, que o tempo será a vida por ti vivida.
Não lamentes o tempo que passa inexorável... Vive-O!
Liberta esse lamento ao tempo que passa e amansa a alma no caldo do tempo que, vivido fez de ti o Homem que és.
Esse tempo é teu, é nosso e de toda a humanidade.
Vive o tempo.
O tempo viverá em ti e para ti
...intemporalmente.
O resto ... é tempo que vai passando.
El Xino.
Hoje não será, seguramente o tempo da bicicleta mas não deixa de ser o teu tempo tornado em outro tempo, com outros sonhos, não menos bonitos de concretizar...
Feliz de ti que continuas a ter sonhos, cada vez mais arrojados e porque, em cada dia da tua vida tens sempre tempo para dar voz a esses sonhos...
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