«A solução tem o carimbo de Frankfurt e é a primeira vez que se estreia na Europa. Matou-se um banco e nasceram dois irmãos: um está destinado a ter vida curta mas nasceu em berço de ouro; o outro será sempre um pária, que se vai arrastar por muitos e bons anos. (...)
A solução gizada e que tem a chancela do Banco Central Europeu e assenta no fundo de resolução, que todos os países da zona euro foram obrigados a criar, para que futuras insolvências de instituições financeiras não venham a ser pagas pelos contribuintes mas sim pelo sistema bancário como um todo. Contudo, o facto desse fundo só ter arrancado no final de 2012 faz com que tenha em caixa pouco menos de 400 milhões de euros. Ora o lindo e novo banco que hoje abriu portas ao público necessita de um capital inicial de 4,9 mil milhões de euros. Os 4,5 mil milhões que faltam virão do fundo de resgate, no valor de 12 mil milhões (dos quais ainda resta um pouco mais de metade), instituído no âmbito do programa de ajustamento de Portugal com a troika e deverão ser taxados a 8,5%, a mesma taxa de juro paga por BPI, BCP e Banif quando recorreram a esta linha de crédito. (...)
Parafraseando Durão Barroso e a sua popular expressão, agora só falta que alguém (ou vários 'alguéns') dê "uma pipa de massa" pelo Novo Banco, para que o Estado (ou melhor, os contribuintes) não acabem a pagar parte dos 4,9 mil milhões de dinheiros públicos que lá foram metidos para o pôr a funcionar. Sim, porque não haja ilusões. Isto é uma nacionalização. Esta magnífica solução privada só funciona porque há milhões de euros do domínio público lá metidos. Veremos, no final, se o Novo Banco é mesmo um lindo cisne, se o banco mau é mesmo mau, se o governador resiste à procela e se os contribuinte se safam de pagar mais um grande exemplo da excelência da gestão privada.»