sábado, 14 de setembro de 2024

A demagogia eleitoralista do Chega até já os patrões preocupa: CAP e Confederação do Turismo alertaram para falta de mão de obra e papel central dos imigrantes

Todos sabemos que o Chega, espalha falsidades sobre o real contributo dos estrangeiros e alimenta a perceção de que todos eles tiram partido do bem-estar social dos países. Um discurso utilizado maliciosamente porque é uma forma fácil de provocar medo e obter votos.
Vejamos o que se passa com a Segurança Social. Segundo o Chega, os imigrantes estão a beneficiar dos pagamentos feitos pelos nossos pais e avós, recebendo chorudas ajudas da Segurança Social. É exatamente o contrário, pois a diferença entre as suas contribuições e benefícios é bastante positiva para o Estado: os últimos dados de 2022 referem um saldo de 1,6 mil milhões de euros. A questão da imigração deve ser abordada - nisso o Chega tem razão -, mas com rigor e sem preconceitos, até porque Portugal está condenado ao envelhecimento. E se não fosse a chegada de estrangeiros, a inversão da tendência da natalidade não seria possível, conforme os últimos dados do INE.

“Cuidado, sem imigrantes não vamos a lado nenhum.” 
O alerta foi dado pelo secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Luís Mira, durante as jornadas parlamentares do Chega, em Castelo Branco — com a proposta de referendo à imigração do partido em cima da mesa —, tentando fazer ver aos 50 deputados que só os imigrantes podem resolver a falta de mão de obra em sectores como a agricultura, turismo, pescas e construção. “Tentei dar uma palavra para que o deputado Filipe Melo entendesse. Espero que tenham percebido”, disse ao Expresso o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros.
Quem conhece a realidade portuguesa, sabe que a falta de mão de obra  se arrasta há anos e só tem sido ultrapassada pela imigração.
Como disse Francisco Calheiros: “Acho que não há outra maneira de o fazer”.
Para isso, defendeu, será preciso incentivar a imigração e garantir um acolhimento digno dos imigrantes, criando “condições para que venham, não haja filas intermináveis nos serviços, que tenham habitação, contrato de trabalho e possam todas as condições para serem integrados”
Opinião partilhada por Luís Mira, que sublinhou que há uma “falta crónica” de trabalhadores e 40% da mão de obra agrícola já são imigrantes (64% asiáticos), sendo vital garantir o recurso a cidadãos estrangeiros para as colheitas. “Sem estas pessoas não é possível agir e aumentar a capacidade produtiva no interior do país, aumentar as exportações e continuar a crescer.” 
Cabe, desta forma, a Portugal mudar a “má imagem de acolhimento” de imigrantes, aqueles de que o país precisa e vai precisar mais, até porque a população está envelhecida.

"Nem mais um" imigrante, gritou-se num comício do Chega

Como alertou em Janeiro passado António José Gouveia"o Chega tem sabido explorar o medo daqueles que sofreram com a crise económica para apontar o estrangeiro como a ameaça real. E o mais grave é que pode arrastar os partidos da direita tradicional para esta dinâmica. É um discurso de ódio que, muito provavelmente, só serve para ganhar votos e carrega emocionalmente uma questão que deve ser acordada entre a direita e a esquerda."

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