terça-feira, 12 de março de 2024

O sucesso eleitoral do Chega pode não ser conjuntural...

Imagem daqui
Nas eleições de domingo passado, o descontentamento crescente da população propiciou o caldo fértil e fácil para alguns navegarem a onda do populismo.
André Ventura, é um desses populistas, que fez parte do PSD por largos anos e que foi candidato desse partido em actos eleitorais, mas que fala como se nunca tivesse feito parte do sistema e diz aquilo que a generalidade da população quer ouvir.
Portanto, para abreviar numa frase curta: "chegou a nossa vez"

Porém, não é a primeira vez que um terceiro partido se aproxima dos 20%: tal já se tinha verificado em 1979 com o PCP, que obteve 18,8% dos votos e elegeu 47 deputados). E em 1985, com o PRD a conseguir 17,92 dos votos e a eleger 45 deputados. 

Todavia, desta vez, o caso parece-me diferente: o Chega integra-se num movimento transnacional da direita radical populista, que parece não ter nada de conjuntural. 
É possível, portanto, que este sucesso Chega signifique uma verdadeira alteração estrutural do sistema partidário em Portugal.
Para já, mesmo que não venha a entrar no Governo, o Chega vai obviamente condicionar politicamente o frágil Governo do PSD que pode sair destas eleições.

Neste momento, "os partidos democráticos e fundadores da democracia só podem combater o populismo de André Ventura e reverter o crescimento exponencial do seu partido se fizerem uma introspeção e deixarem de apontar o dedo a André Ventura, ao Chega e aos seus eleitores.

Não foi o 25 de Abril que falhou, quem falhou foi uma série de políticos que sobrepuseram os seus interesses pessoais aos interesses do país e não olharam a meios para atingir os fins.

 A partir de determinada altura, a política passou a ser apelativa para muitos que viram nela uma forma fácil de ganhar dinheiro, sem grande esforço e trabalho.
Assim, a política deixou de ser a nobre arte de governar o país e as autarquias e passou a ser a nobre arte de alguns se governarem. Daí o crescimento da corrupção e do nepotismo.
Na verdade, pessoas sem escrúpulos, sem vergonha, sem carácter, sem princípios e sem valores começaram a espalhar-se, qual gangrena, por vários órgãos do poder."
O resultado está aí: a poucos dias do 25 de Abril comemorar 50 anos, temos 50 deputados do Chega!

Sobre os  resultados das eleições de ontem,  Ricardo Paes Mamede escreveu no jornal Público um texto sóbrio e implacável nas ideias ao nível a que habituou quem gosta de o ler. 

"Crises, instabilidade e crispação: as origens da quebra do PS" é o título. Termina assim.
“(…) A generosidade com que pessoas e instituições endinheiradas financiam organizações políticas que apostam na crispação, sugere que uma parte dos ricos em Portugal já não tolera as opções de quem governou o país nos últimos anos, por muito moderadas que fossem. Não há aqui nada de novo: quando acham que a democracia lhes retira privilégios — sob a forma de impostos ou de direitos laborais que consideram excessivos —, alguns poderosos financiam o caos, dando poder a quem oferece ordem e “moderação”. Esperam com isso manter os seus benefícios. O problema, como a história mostrou muitas vezes, é que se arriscam a perder o controlo sobre o monstro que criaram.”

segunda-feira, 11 de março de 2024

"Médicos deviam cumprir dois anos no SNS"

Via Diário as Beiras: «cirurgião falava no ciclo de tertúlias dedicado a Mário Soares, promovido pelo Município da Figueira da Foz.
Eduardo Barroso defendeu que os médicos especialistas formados pelo Estado deveriam ter de cumprir pelo menos dois anos de serviço, “devidamente pagos”, no Serviço Nacional de Saúde (SNS) antes de irem trabalhar para o setor privado ou para o estrangeiro.
Por outro lado, o reputado cirurgião, que exerceu medicina no SNS e no privado, afirmou “sem preconceitos ideológicos” que “há lugar para todos”, isto é, para os cuidados públicos, privados e sociais. Todavia, ressalvou que só o SNS, de que é defensor, tem capacidade de resposta para atos médicos “complexos” e “doenças graves”

Como é que se lida com o Chega? A pergunta é agora remetida para o Presidente da República...

«Num belo dia de novembro, o Ministério Público decidiu brincar aos polícias e ladrões e fazer tombar um primeiro-ministro ainda não sabemos porquê. Quatro meses depois, temos um governo precário, um parlamento partido e a extrema-direita com quase 50 deputados. Obrigadinho, Lucília Gago. Luís Montenegro acabou a noite eleitoral de ontem como um vencedor derrotado e Pedro Nuno Santos falou como um derrotado vencedor. Pudera: o secretário-geral do PS livrou-se de ficar na posição impensada e quase impensável da AD. 
Montenegro propõe-se ficar com um governo sub-30%, diminuído e diminuto, governando com despachos, portarias e decretos-lei, cercado por uma oposição fortíssima, entre um PS que vai criticar cada palavra e um Chega que vai odiar cada vírgula. Dirá Marcelo que sim? E para quanto tempo? E para que resultado?
Não sabemos se Pedro Nuno Santos daria um bom primeiro-ministro, mas intuímos que dará um temível – e duplo - opositor: à AD e ao Chega. Vamos ter um Parlamento tonitruante e canibal, desordeiro e arruaceiro. Só que o problema não começa por ser esse: não será o mesmo Chega em versão XL. Porque o XL constrói um novo Chega.
É nisto que o Parlamento torce o rabo. Porque um milhão e cem mil portugueses podem até estar errados mas não podem ser ignorados. O Chega tem agora uma outra legitimidade para fazer exigências políticas e até para confrontar as três figuras cimeiras de Estado. Desprezar quase cinco dezenas de deputados eleitos é ignorar a sua própria derrota. Como é que se lida com o Chega? A pergunta é agora remetida para o Presidente da República.
A campanha serviu para rodar 360 graus e acabar como começou: com o receio que outra coisa não nasceria disto que não fosse o crescimento a galope da extrema-direita. Ei-la. Esse crescimento deve-se aos falhanços sucessivos de PS e PSD na governação, mas quem fez esta ocasião não foi o ladrão, foi o polícia. E nisso António Costa tem toda a razão: com umas eleições causadas por um Ministério Público que arrostou suspeitas mal fundamentadas sobre um primeiro-ministro, e um louco inimputável que decidiu guardar 75 800 euros em livros no Palácio de São Bento, vimos o desastre antes de ele acontecer. A campanha criou a ilusão de que talvez não viesse a ser tão mal. Foi pior.
Critiquei muitas vezes a governação de António Costa, que pouco fez além de subir o salário mínimo, descer os passes sociais e controlar as contas públicas, atirando dinheiro para cima do SNS sem o resolver e deixando a habitação e a educação paradas à chuva da degradação. Mas mesmo dois anos de maioria absoluta relapsa e decadente não se derrubam por linhas tortas – nem por processos judiciais sem fortes indícios. Só razões políticas teriam consequências políticas.»

AD e o adn da incompetência da "direita laranja"...

O PSD, nas legislativas de 2024 conseguiu a proeza de fazer uma coligação com nome e símbolo parecido ao de um partido já existente, mas que quase ninguém tinha dado por ele. Ao que o Gato Fedorento Ricardo Araújo Pereira mostrou na televisão da "direita laranja", próximo das eleições, formado por gente algo esquisita... 

Indo direito ao assunto: a incompetência fez a coligação AD perder pelo menos dois deputados (Vila Real, onde o ADN teve 2.958 votos. Em 2022 havia tido 0- zero!; e em Coimbra, onde o ADN teve 2.421 votos. Em 2022 tinha tido 0 - zero!). Ou seja, eliminou os ganhos da tal coligação. 
António Leitão Amaro, disse no painel da RTP que deram conta do acontecido desde a semana passada, quando começaram os votos antecipados... 
É esta malta que vai governar e enfrentar os problemas dos portugueses e de Portugal nos próximos 4 anos?..
O Marcelo tem aqui mais uma bela bota para descalçar... 

domingo, 10 de março de 2024

Eleições legislativas 2024: o "partido da esquerda da nossa direita", foi derrotado pelo "partido da direita da direita"?!..


Neste momento, ainda está tudo (ou quase...) por definir. Porém, a confirmarem-se as projecções anunciadas na abertura dos telejornais das 20 horas, estamos perante o seguinte cenário: o "
partido da esquerda da nossa direita", foi derrotado pelo "partido da direita da direita"
Com a vitória  da "direita laranja", a derrotada "direita rosa" vai ter tempo para as necessárias "reflexões e renovações"Sobretudo, o PS vai ter tempo "de se livrar da tralha socratista que ainda por lá anda e manda" para preparar a alternância.
É isto que o Povo quer há quase 50 anos. É isto que o Povo tem há quase 50 anos.
A extrema-direita não cresceu por acaso: o descontentamento causado pelas políticas levadas a cabo pela "direita laranja" e pela "direita rosa" foi o caldo que cozinhou o prato que temos. 
O momento, ao que parece, é de mais uma ilusão oferecida pelos (novos/velhos) "salvadores de um país imaginário, que é Portugal, onde o socialismo nunca existiu nem aconteceu".
vida continua. E a luta também.
Para já o Sporting deu três secos ao Arouca.
Amanhã, o Marcelo que descalce a bota...

Iolanda é a grande vencedora do Festival da Canção 2024

Via RTP
«Natural de São Pedro de Cova Gala, na Figueira da Foz, mudou-se para Lisboa aos 17 anos, mas já aos 14 dava os primeiros passos na escrita. Tentou como porta de entrada atuações em bares e concursos de talentos nacionais, mudou-se para Londres, onde estudou Songwriting na BIMM, Universidade de Sussex. A publicação Rimas e Batidas prevê que será “uma das próximas grandes divas da música feita em Portugal para a próxima década”. »

Quer saber qual é o seu local de voto?

É fácil: 

1. basta ir à página do recenseamento eleitoral, e pesquisar.

2. enviar um sms (gratuito) para 3838, com o texto com «re», espaço, número do Bilhete de Identidade ou Cartão de Cidadão, espaço, data de nascimento (no formato AAAMMDD). Exemplo: re 1234567 19740425.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Faltava a "cereja em cima do bolo" da AD...

Uma foto de Eduardo Gageiro no Dia da Mulher

 

Foto: Eduardo Gageiro

As fotografias de Eduardo Antunes Gageiro contam a história deste país. Como poucos, captou o pulsar da revolução de Abril, o festejar da liberdade, o fim da guerra colonial, a consagração de direitos essenciais dos cidadãos e as transformações socioeconómicas no nosso país. Os seus olhos viram muito.  E nós, que sorte, com as fotografias que tirou, é como se víssemos um pouco também através deles. Foi o único fotógrafo do mundo a fotografar os terroristas que sequestraram os atletas israelitas da aldeia olímpica nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972.

Serviço encerra no dia 1 de abril

 Via Diário as Beiras

Afinal não há crime?

Via Revista Visão

"O Ministério Público admitiu não ter indícios de crime nos casos do lítio e do hidrogénio. A Procuradoria-Geral recusa revelar quem ordenou investigação a António Costa, mas todos os caminhos apontam na direção de Lucília Gago."

Para ler melhor clicar nas imagens.

A 5ª. Coluna de Miguel Sousa Tavares: tanta verdade sobre a actualidade

Esta intervenção de Miguel Sousa Tavares, no jornal da noite, o
ntem na TVI, merece ser ouvida e vista. 
Para o fazer basta clicar aqui.
Todos os assuntos tratados são de uma actualidade indiscutível.
O primeiro assunto é do âmbito da política nacional e tem a ver a queda do governo de António Costa. Em véspera das eleições de dia 10, ainda o Ministério Público não informou os portugueses sobre o que de errado fez o ex-primeiro ministro, de que é acusado, que indícios existem contra ele, etc. Aliás, a revista Visão publicou, também nessa data, um artigo em que revela que o próprio Ministério Público não tem indicios de crime, nos dois casos que levaram às buscas que deram origem ao comunicado que fez cair o Governo: “Ao fim de quatro anos de investigação e milhares de escutas telefónicas, o Ministério Público (MP) admitiu não ter a certeza de que foram praticados crimes nos casos do lítio e do hidrogénio, assim como noutras situações que envolvem antigos ministros, como João Galamba e João Matos Fernandes. Quando separaram as investigações por processos autónomos, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) assumiram estar ainda por «comprovar a existência de indícios da própria ocorrência de crime» naquelas duas situações, o que carecerá de análise necessariamente mais demorada”. (Visão, 07/03/2024). 
Miguel Sousa Tavares pergunta: como pode a justiça fazer cair um governo sem ter nada de sólido e concreto para acusar o chefe e outros membros do governo?! Um golpe de estado para levar o Chega e companhia ao poder? Quem sabe. 
O segundo assunto é o horror dos crimes que Israel está a cometer na faixa de Gaza, nomeadamente contra crianças. Miguel Sousa Tavares compara, os crimes de Israel aos crimes dos nazis contra os judeus nos campos de concentração e no gueto de Varsóvia. 
O terceiro assunto é sobre a guerra na Ucrânia e sobre as loucas decisões belicistas dos líderes europeus, com Macron à frente, que querem aumentar as despesas com armamento à custa do definhamento do estado social, e que ainda sonham com a possibilidade de derrotar a Rússia e sacarem-lhe os seus vastos recursos. Não é preciso ser muito sagaz, nem muito inteligente, para saber que atacar a Rússia equivale a desencadear a III Guerra Mundial. Contudo, é para esse cenário de morte e destruição do planeta que os líderes europeus nos estão a conduzir. 
Vejam o vídeo. Miguel Sousa Tavaresdas, com quem discordo muitas vezes, é das poucas vozes que ainda vai tendo espaço, na comunicação social de larga audiência, para expressar, de quando em quando, algum ruído nas narrativas dominantes.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Projeto da terceira piscina de água salgada abortou

A Câmara da Figueira da Foz desistiu da terceira piscina de água salgada na praia, que deveria entrar em funcionamento no próximo verão, por questões financeiras. A decisão foi anuncida pelo presidente Pedro Santana Lopes.

Via Diário as Beiras

Figpesca promoveu protesto: acção juntou cerca de 30 embarcações e várias dezenas de pescadores e armadores

 Via Diário as Beiras

Em Portugal, o debate político pré-eleitoral nunca tinha sido assim...

"«Quantos há?, quem ganhou?, quem perdeu?» Em Portugal, o debate político pré-eleitoral nunca tinha sido assim. Confrontos duelizados e curtos, moderados por jornalistas que deixaram correr toda a imoderação, atropelos e insultos, com perguntas a suportar narrativas pré-existentes em vez de servirem o debate esclarecedor, sempre em busca do espectáculo sensacionalista. Cultura de derby, com intermináveis antevisões de cada «jogo», com flash interviews mal este terminava e a que se seguiam espaços de comentário infindáveis, nos estúdios de todos os canais, todos eles disciplinadores da opinião. Comentadores, jornalistas, editores e directores de media comprazeram-se em dar notas a quem perdeu e quem ganhou, usando de uma linguagem, de um tom e até de uma gestualidade que até há pouco tempo eram próprios das conversas privadas entre amigos. A indistinção entre o pessoal e o público chegou, em Portugal, ao comentário político mediático.

O esvaziamento da política e a sua substituição por debates decalcados dos formatos e lógicas do comentário futebolístico não foi imposto, no período que antecedeu as eleições legislativas de 10 de Março, por um partido da extrema-direita às televisões portuguesas, como alguns gostam de dizer (lembrando as origens da visibilidade pública do seu protagonista). Não foi sequer imposto pelas «redes sociais», tantas vezes criticadas pelos jornalistas como o lugar onde se desenvolvem as lógicas que o jornalismo se orgulharia de recusar. Foi imposto pelas televisões portuguesas, serviço público incluído, a todos cidadãos que nelas procuraram informar-se. Isto é particularmente grave porque é nas televisões que a maioria dos portugueses continua a informar-se, como as audiências destes debates voltaram a mostrar. Enquanto não são ainda visíveis todos os estragos que o sistema mediático está a causar à democracia, importa compreender porque ocorre esta mudança profunda e quem beneficia com ela.

Em contexto de pré-campanha eleitoral, as televisões mantiveram uma das características mais antidemocráticas que há muito caracteriza a sua informação, agora não tanto (por alguns dias) através da exclusão pura e simples de parte do espectro político do espaço televisivo, mas através da sua presença na programação em condições desiguais de visibilidade e através da sua submersão num mar de comentário estreitado, acantonado à direita («se nos debates foi sensível a argumentos de esquerda, os «comentadores» já lhe explicam como estão errados», parecia ser o lema dos espaços de comentário). Essa característica, todos o sabem, é a falta de pluralismo, de um pluralismo que deve ser entendido, como lembrava o jornalista e professor Fernando Correia neste jornal já em 1999, «como uma abordagem isenta e equilibrada dos partidos políticos, mas também das correntes ideológicas, das camadas sociais, das diferentes regiões, etc.» (1).

A falta de pluralismo já existia no tempo em que o negócio dos media assentava na publicidade, sendo mesmo uma peça fundamental do «consenso sedativo» que facilitou a imposição do pensamento único neoliberal numa democracia jovem, que ainda estava a consolidar peças-chave do seu projecto de justiça social (leis laborais, mínimos salariais, Segurança Social, Serviço Nacional de Saúde (SNS), escola pública…). Hoje, a falta de pluralismo persiste, mas com um novo rosto: adaptou-se a um modelo de negócios dos media que, não podendo já contar com as receitas publicitárias para se sustentar, enveredou por um «jornalismo» cada vez mais reduzido a informação-espectáculo, «conteúdos» fragmentários, imediatos, superficiais, emocionais; E nada plurais. O seu objectivo é agora o «dissenso lucrativo» (2), sem sequer reflectir, e muito menos assumir as suas responsabilidades, sobre os danos que esta viragem causa ao Estado de direito democrático e social.

Empurrar todas as dimensões da informação para as lógicas dos duelos de morte, em busca da mobilização de públicos muito polarizados para o «jogo-espectáculo» em que o debate político é transformado, não tem apenas como consequência o esvaziamento da política. Dito de outro modo, este esvaziamento não significa um vazio de escolhas políticas – apesar de favorecer o aparecimento de uma grande quantidade de «indecisos», no pólo oposto dos «mobilizados». Significa antes que a formação e expressão das escolhas políticas é constrangida e redireccionada.

Com efeito, o jogo de «dar notas» aos representantes dos partidos após cada debate permite reforçar uma narrativa, pré-estabelecida, sobre quem deve ou não governar, quem é ou não «realista» e «credível», quem «quer resolver os problemas» e quem «não os resolve apenas por ideologia», quem «quer mais mercado» e quem «quer mais Estado». Não é ainda o jornalismo de «guerras culturais» a que estes processos têm conduzido noutros países, mas é já um compromisso claro com todas as características do neoliberalismo que está disponível para o ultraliberalismo, seja ele mais ou menos autoritário e conservador. Já é uma negação do confronto democrático entre diferentes projectos de sociedade. Como? Começa-se por invisibilizar e ilegitimizar as propostas das esquerdas que contestam esses projectos; a seguir apresenta-se as propostas neoliberais como ideologicamente neutras, sem se ser questionado sobre as escolhas que encerram; e acaba-se a obscurecer o mais possível a verdadeira natureza do projecto neoliberal com uma suposta luta do «mercado» pela «libertação do Estado», quando na verdade o que nele está em causa é que o Estado reconfigure as políticas públicas no sentido de canalizar cada vez mais receita e recursos das missões sociais (serviços públicos, empresas estratégicas…) para interesses privados (estes sim, subsidiodependentes e protegidos do risco).

Esvaziar a política é também nunca questionar as consequências das tais propostas que apresentam como «realistas» e capazes de «solucionar os problemas» – desde os «cheques-cirurgia» e as parcerias público-privadas na saúde até às reduções fiscais e incentivos a proprietários, empregadores e grandes fortunas. «Meter um golo ao socialismo», como afirmam uns, ou «limpar Portugal», como acrescentam outros, implica sempre, nestes projectos (sejam eles mais ou menos autoritários e retrógrados), aprofundar as políticas que acabam nos cortes austeritários, no disparar do desemprego e da emigração (em particular dos jovens), em crises económicas, em transferências acrescidas de rendimentos do trabalho para o capital e dos poderes públicos para os negócios privados. Implica sempre afastar mais as classes populares, e até as classes médias, das suas expectativas de uma vida melhor, de recuperação de poder de compra, de contratos mais estáveis, de serviços públicos mais robustos, de habitação que possa pagar, de transportes públicos e de cultura acessíveis, de uma transição energética e climática justa.

Mas a narrativa repetida por jornalistas e comentadores nos media é que este caminho, destrutivo para a maioria da população, seria afinal «sensato», «realista» – o «único», até. Tudo o mais são esses «indecisos» para os quais «já não há paciência!; precisam mais do quê, de beijinhos?», ouvimo-los dizer. Tudo o mais são essas classes populares que, em vez do sofrimento social que sentem, em vez de olharem para os projectos políticos que os media silenciam, deviam era votar nos liberais-ligeiramente-menos-extremistas e deixar-se de votos «irracionais» ou, noutra versão, «estúpidos». Sem surpresa, transformar o debate político em jogo e espectáculo não conseguiu manter, ao menos, o que de melhor tem, tantas vezes, «a festa do jogo»: ser uma celebração das classes populares, esse território social tão ausente da representação mediática. Não sobrou sequer a compreensão das suas escolhas, das suas incertezas, expectativas e angústias, mas apenas a irritação e o insulto, os intuitos disciplinadores. Para que nada mude para estas classes, a não ser que seja para pior?"

Sandra Monteiro, Neoliberais e media contra AbrilLe Monde diplomatique - edição portuguesa, março de 2023

(1) Fernando Correia, «Concentração “à portuguesa”», Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Novembro de 1999.  

(2) A expressão «do consenso sedativo ao dissenso lucrativo» é de Serge Halimi e Pierre Rimbert, em «Um jornalismo de guerras culturais», Le Monde diplomatique – edição portuguesa, Novembro de 2021.

quarta-feira, 6 de março de 2024

Duvidas havia?...

"Os comentadores políticos nas televisões aumentaram 47% nos últimos oito anos, de 53 para 78, a maioria é de direita e apenas um quarto são mulheres, revela um estudo do MediaLab do ISCTE que será divulgado na quinta-feira. 
Em oito anos, registou-se "um maior predomínio de número de comentadores com posicionamento político à direita" nas televisões, passando de 22 em 2016 para 37 em 2023, concluiu o MediaLab, centro de investigação do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL) focado na comunicação em espaço público."

 Via Diário de Notícias

Ventura revelou as "forças vivas do PSD"

Videio sacado daqui