"A recente campanha de márquetingue lançada pla câmara Municipal da Figueira da Foz, que "inclui um novo logotipo para acções de divulgação turística", é o mais acabado exemplo de desfaçatez, cara-de-pau, falta de jeito, de graça e de ideias próprias que me foi dado assistir nos últimos tempos. Um autêntico caso clínico da mais cínica e disparatada palermice armada aos cágados. Elaborada por uma "empresa especializada", esta bizantina e patética campanha pretende demonstrar aos próprios figueirenses, em linguagem totalmente cifrada para estranhos, que "a Figueira é diversa" e que "acaba por ser de todos e para todos". A coisa atinge o cúmulo da bizarria porque, ao que li, parece que pretende ser de âmbito nacional. É um pouco como se, para promover as delícias do deserto, a Namíbia fizesse o marquetingue da coisa inteiramente em Khoisan (a língua local, aquela dos cliques).
Se o conceito e o argumento vos parecerem familiares, espero que se juntem a mim num lamento. É verdade que o plágio, a citação ou a cópia são formas de homenagem; Leonardo dizia mesmo aos seus pupilos: "copiai, copiai, meus lindos; copiar é já aprender".
Mas não há nada mais triste e humilhante do que ser-se homenageado por imbecis; e constrangedor, porque à custa do erário público."
Fernando Campos, via o sítio dos desenhos
António Agostinho, o autor deste blogue, em Abril de 1974 tinha 20 anos. Em Portugal havia guerra nas colónias, fome, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, nos livros, no teatro, no cinema, na música, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado. Havia medo. O ambiente na Cova e a Gala era bisonho, cinzento, deprimido e triste. Quase todas as mulheres vestiam de preto. O preto era a cor das suas vidas. Ilustração: Pedro Cruz
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